22 dezembro 2016

A Velhice

Existe um escrito muito antigo num dos nossos livros de espiritualidade que explica também o conceito que no Movimento se tem da velhice.
Mas, aos olhos de Deus, o que será mais bonito? A criança que te fita com olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida natureza e tão vivos, ou a jovem que resplandece como o viço de uma flor recém-desabrochada, ou o ancião (...) quase inapto a tudo, talvez tão-somente à espera da morte? O grão de trigo, tênue mais do que um fio de erva, agarrado aos grãos irmãos que compõem a espiga, à espera de amadurecer e de desvíncular-se, só e independente (...), é belo e cheio de esperança!
Mas é igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros por ser melhor, para, enterrado, dar vida a outras espigas. (..) É belo, é o eleito para as futuras gerações das messes. Mas, quando enterrado, emurchecendo,  reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre apodrecendo, para dar vida a uma plantinha, diferente dele. mas que a ele deve a vida, talvez seja ainda mais belo.
Belezas diversas. Contudo, uma mais bela do que a outra.

E a última, a mais bela.
Deus verá assim as coisas?
Aquelas rugas que sulcam a fronte da velhinha; aquele caminhar recurvo e tremulante, aquelas palavras curtas, densas de experiência e sabedoria; aquele olhar doce de menina e mulher ao mesmo tempo, porém mais bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não conhecemos. (...)
Penso que Deus veja assim as coisas, e que o avizinhar-se do Céu seja de longe mais atraente do que as várias etapas do longo caminho da vida que, no fundo, só serve para abrir aquela porta.[1]

Sobre a velhice nós pensamos assim e ponto final.


[1] Chiara Lubich. «Talvez ainda mais belo”. Em: op. cit. p. 115-116:

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