31 dezembro 2016

Vida trinitária


      No Movimento, desde os primórdios tínhamos entendido que a fidelidade ao amor mútuo, vivido segundo o modelo de Jesus crucificado e abandonado (eis aí o “como”!), desembocaria na unidade segundo a vida da Santíssima Trindade.

      “Sabe até que ponto nos devemos amar?” — perguntamo-nos um dia, sem que, até então, tivéssemos conhecido o Testamento de Jesus — “Até nos consumarmos em um.” Como Deus, que, sendo Amor, é Trino e Uno.

      É exatamente “a lei do Céu” — escrevi eu então — “que Jesus trouxe à terra. É a vida da Santíssima Trindade que nós devemos procurar imitar, amando-nos entre nós, com a graça de Deus, como as pessoas da Santíssima Trindade se amam entre si”.

      E o dinamismo da vida intratrinitária é o mútuo e incondicional dom de si, é a total e eterna comunhão (“Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu” [Jo 17,10]) entre Pai e Filho no Espírito.

      Portanto, percebemos que Deus imprimira no relacionamento entre os homens uma realidade análoga. “Senti” — escrevíamos ainda — “que fui criada como um dom para quem me estava próximo e quem me estava próximo foi criado por Deus como um dom para mim. Como o Pai na Trindade está todo para o Filho e o Filho está todo para o Pai.” E “a relação entre nós é o Espírito Santo, a mesma relação que existe entre as Pessoas da Trindade”.



30 dezembro 2016

O primeiro dever

      De uma conferência telefônica

      Castel Gandolfo, 29 de abril de 1999

      Um dia, eu, como espero outros, havia-me proposto, como Jesus diz e quer, a “rezar sempre” [cf. Lc 18,1], oferecendo a Ele cada ato, precedido por um “Por ti”. Com a graça de Deus, tinha sido particularmente fiel a esse compromisso. De modo que, como conclusão do dia, perguntei a Deus numa conversa com Ele se estava satisfeito comigo ou, caso não estivesse, que me corrigisse.
      Tive a impressão de perceber a sua resposta no fundo do coração, que pode ser expressa assim: “O teu modo de viver hoje, oferecendo a Deus cada ato teu com um ‘Por ti’, foi sem dúvida do meu agrado, mas poderia ser muito bom também o modo de qualquer um que segue uma espiritualidade individual. Tu és chamada para outra coisa. De ti, quero algo diferente. Tua vocação requer que coloques, acima de tudo, como base de cada ação tua, embora oferecida com um ‘Por ti’, o amor mútuo com tuas irmãs e teus irmãos. Por isso, tua primeira obrigação deve ser: estar sempre disposta a dar a vida por eles, para que a unidade triunfe”.
      Entendi a lição.
      Certamente, depois de tantos anos de vida espiritual, eu havia procurado, inclusive naquele dia, viver o Mandamento Novo, mas não como minha primeira obrigação.
      Então, procurei logo quem estava perto de mim, disposta a estar pronta a morrer também por ele, por ela e, portanto, a assumir todos aqueles comportamentos coerentes de modo a poder oferecer a Jesus, baseada unicamente nisso, cada ato com um ‘Por ti’.
      São mais de cinquenta anos que digo a mim mesma e digo a vocês que a “norma das normas”, portanto, também a regra básica para poder rezar, é a unidade.
      Mesmo assim, é necessário sempre reavivar no coração essa obrigação nossa, é necessário sempre recomeçar. […]
      Façamos todo o esforço para não esquecer isso, ou melhor, para não esquecer Aquele que deve preceder cada coisa. É Ele a grande novidade que somos chamados a oferecer ao mundo.
      Que honra poder viver essa vocação! Que plenitude de alegria!



29 dezembro 2016

O pão de cada dia

"O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”      (Mt 6,11)      
 

Hoje. Tu queres mesmo que vivamos a teu modo, Senhor!       

Mas quem, no mundo, quem vive o hoje e só para o hoje, entregue ao futuro como os passarinhos livres, para os quais Tu provês o que comer e vestir?       

Viver para o hoje simplifica, mas também aterroriza o nosso ser humano, que preferiria entregar-se a um amanhã seguro. No entanto, o amanhã poderia não existir… e Tu, Senhor, nos queres vigilantes, pois nos chamarás a ti numa hora e num dia para nós desconhecidos, e não podes contradizer-te.       

Dá-nos, então, a graça de viver bem cada dia que dispuseste, pela vida que nos resta.


28 dezembro 2016

Deus

O Movimento começou com este grande nome que resumiu toda a sua vida: Deus!
Deus – a Trindade – mostrou-me como o sol no alvorecer de um mundo que reencontrava a paz depois do fragor da guerra; e ofereceu a nós, seus filhos, uma vida mais divina do que aquela que já levávamos, mais cristãmente coerente, mais íntegra.
Outras jovens tinham sido chamadas, em lugares, tempos e circunstâncias diversas ao mesmo ideal. Entre estas recordávamos com freqüência Clara de Assis.
“ Filha, o que desejas?”  - perguntou-lhe Francisco quando ela, aos dezoito anos, fugira de casa para seguir o Senhor. “Deus!”  - respondeu.
Deus, esta única, infinita realidade, devia resumir também para nós, sob o impulso da graça, todas as nossas aspirações, num desejo ardente de sermos fiéis a ele por toda a vida, como foram os santos.
Deus, portanto, e nada mais, pois qualquer outra pessoa ou coisa teria diminuído o encantamento do chamado divino.
Deus, que para nós foi logo, desde o primeiro instante, sinônimo de amor: o Amor!
Assim o apresenta a Escritura: “Deus é Amor”.
Deus, tudo para nós. Deus Amor. Foi uma grande novidade  para a nossa rotineira vida espiritual, uma novidade tão grande que operou uma verdadeira conversão.
Antes, de fato, embora procurássemos ser boas cristãs e estar na graça de Deus, vivíamos como órfãs, como pessoas que tinham pai e mãe, mas... somente terrenos. Depois, tendo conhecido de um modo novo Deus Amor, sentimo-nos mais conscientemente filhas do Pai que está nos céus. E duma certa maneira pudemos repetir com Francisco de Assis: “ Não mais pai Bernardone, mas Pai nosso que estais nos céus”.
Ia-se delineando para nós uma relação entre céu e terra, um novo acorde entre filhos e Pai. Foi o desenvolver-se de uma nova fé. Não se tratava somente da fé no seu amor; por isso, nada nos parecia mais adequado para a vida que estávamos iniciando do que a frase: “E nós acreditamos no Amor”.  Esta fé no amor de Deus por nós, cada um de nós, por todos, pela humanidade inteira, iluminou toda a nossa futura existência.
Deus nos amava! Ele era o nosso criador. Era quem nos sustentava momento por momento. Ele o tudo!... Nós não teríamos nenhum sentido no mundo se não fôssemos uma pequena chama desta Chama infinita – amor que responde ao Amor.
E pareceu-nos tão sublime a dignidade a que nos elevara, tão alta e imerecida a possibilidade de ama-lo que repetíamos: “Não se trata de dizer: Devemos amar a Deus; mas: “Oh! Poder-te amar, Senhor... poder-te amar com este pequeno coração!”.
E nos esforçamos para ser coerentes. Com o passa dos dias, das semanas, dos anos, pareceu-nos que ele não quisesse deixar-se vencer em generosidade.
De fato, talvez porque, como afirma a Escritura,  “ a quem me ama, manifestar-me-ei”, aos poucos Deus foi-nos revelando os tesouros semeados por ele próprio aqui na terra, por amor a nós, e a sua presença única e multíplice neste lugar de exílio à espera do céu, presença que nos esclareceu sempre mais como é infinito o seu amor e como são inumeráveis os recursos da sua paternidade. Indicou-nos onde encontrá-lo, para nos assemelharmos a ele e de que maneira possuí-lo; em suma, indicou-nos de que modo e com que meios poderia nascer ou amadurecer a união das nossas almas com ele e dele com as nossas almas.
E não nos chamou para viver num mosteiro, nem em clausura, mas onde mais reina o príncipe do mundo e dominam as trevas: “Pai, não peço que os tires do mundo, mas que os preserves do mal”.
Descobrimos, então, como crianças ao abrir os olhos, que a vinda de Deus sobre a terra por nosso amor mudara radicalmente o mundo: ele tinha ficado.
Caminhando ou viajando, não éramos atraídas pelo que acontecia ao nosso redor embora bonito e interessante. A própria Roma, por exemplo, não nos atraía só por seus maravilhosos monumentos e pelas preciosas relíquias. Os eles que ligavam o nosso caminhar por ele no mundo eram Jesus nos tabernáculos que encontrávamos.
De tal forma que cada Igreja que víamos da janela de um trem se tornava “casa” para a nossa alma.
E quando tínhamos a possibilidade de visitar algum santuário, ou a Terra Santa, que viu nascer e morrer o Salvador – lugares estes que desejávamos nunca mais deixar – quem dava alento ao nosso caminhar era Jesus na Eucaristia, presente me todas as partes do mundo, presente da mesma maneira tanto na capela de uma aldeia como na majestosa catedral duma importante cidade: ele, luz aqui e ali acendida pelo seu amor; conforto para jovens, pobres e ricos, cultos e ignorantes: Irmão universal, o mesmo para todos, que enxugava as lágrimas, que revigorava os corações, que dava o seu Espírito aos que vivessem segundo a sua lei.
Não era, portanto, tão mau assim o mundo! Jesus Eucaristia tornava-o um enorme convento e se oferecia à fome de divino que pode surgir em cada um de nós.
            E ainda mais: cada irmão – a colega de classe, o mendigo, a mulher da feira, o deputado, a criança, o doente – sob a ação da graça, mudemos a reconhecer e amar em cada próximo um membro do Corpo místico, Cristo nele. E aconteceu então que todo aquele que podia impedir o caminho rumo a Deus se tornava uma porta para encontrá-lo.
Os livros santos tinham prometido: “ Passamos da morte à vida porque amamos os irmãos”. E quanto mais se amava Cristo em todos, com o despojamento de si mesmo, mais o coração se plenificava de divino; mais facilmente, à noite, durante a oração, o Senhor nos fazia senti a sua doce presença na alma. Esta foi uma experiência que nos fez entender o quanto é agradável a Deus a caridade e como o amor fraterno é a flor do Evangelho.
Havia também irmãos nos quais Deus não devia se apenas amado, mas também obedecido. Tratava-se de pessoas que de um modo especial  o representavam: os nossos superiores eclesiásticos, os bispos, os assistentes, escolhidos com mão amorosa pela Igreja. Eram os pastores e nós as ovelhas.
E o efeito nas nossas almas e em toda a Obra, produzido por este esforço de viver como filhos de Deus na Igreja, esposa de Cristo, como ramos junto à videira, foi este: com o tempo, pareceu-nos que a própria Igreja palpitasse nos nossos corações, capazes somente de sentir com ela e de participar das suas lutas e vitórias, desejosos até mesmo de derrama o próprio sangue, unicamente pelo triunfo da Igreja.
E depois: Deus no nosso meio. Durante os primeiros dias, quando nos esforçávamos por atua as palavras de Jesus: “Onde dois ou três estão unidos no meu nome, aí estou eu no meio deles”, parecia que  o céu nos envolvesse, que o paraíso estivesse no nosso meio. Jesus retornava espiritualmente entre nós, irmãos nele, e, como Emaús, acendia os corações com uma chama que o mundo não conhecia, fazendo empalidecer homens e coisas, pondo em evidência somente o que é grande, belo e bom perante Deus.
Jesus entre os cristãos nos parecia um templo que podia erguer as colunas – os corações dos seus filhos – em toda parte, e oferecer o bálsamo de um tabernáculo espiritual, tanto numa rua barulhenta como nas terras pagãs supersticiosas ou num cárcere de perseguição.
Jesus é sempre vida e plenitude, alegria e paraíso, guia e mestre – o nosso amor recíproco podia ser a poderosa causa que o O tornava presente. Dizíamos entre nós: ! Se colocarmos vários pedaços de madeira entrecruzados e os acendermos no cimo de um monte, aquele fogo será visto de noite por todos os habitantes do vale e resplandecerá como uma estrela caída na terra; mas se dispusermos os nossos corações em unidade, amando-nos como ele nos amou, teremos o próprio Fogo, o Amor entre nós, e poderemos ser instrumentos de Deus para muitas almas”.
Deus, portanto encontrado na Eucaristia, amado no irmão, obedecido nos superiores, Deus espiritualmente presente no meio de nós. E Deus, infinito, que habita pela graça no nosso coração finito. Era necessário ajudá-lo a reinar com a sua majestade, a destruir o nosso eu e a transformar-nos nele.
E, ainda, Deus nas Escrituras, colhido e meditado sob ação do Espírito e a orientação da Igreja: a Escritura, fonte inesgotável da qual hauriram e hão de haurir a vida, até o fim do mundo, todos aqueles que o querem amar; a Escritura, que também Maria Santíssima, a nossa mãe, meditava. Desejávamos imitar Maria, que ficou no mundo, e como ela tornar-nos portadores de Deus aos irmãos, portadores de Deus no mundo.

Deus, Deus, Deus em qualquer lugar e sempre, a preencher o vazio deixado pelo pecado e superabundantemente  plenificado pelo sangue de Jesus. Deus que é Amor: este Ideal é o objetivo e finalidade da nossa vida de focolarinos.                     

27 dezembro 2016

Este Deus desconhecido

            Quando o barquinho da vida faz água e a tempestade o ameaça, pronunciamos um nome que aflora aos lábios de quem sofre, até mesmo no derradeiro suspiro: mãe.
            Não denota sempre a mãe terrena; aliás, para a pessoa um pouco familiarizada com as coisas eternas, significa Maria.
            Isto é tão real que, freqüentemente, “mãe” é o grito dos corações de Deus nos momentos da provação. “Mãe”!
            Eis aqui o segundo milagre de amor, depois da redenção: um Deus encarnado e uma Mãe para todos.
            Nela, toda a esperança para o cristão.
           
Muitas vezes ocorre-nos perguntar: como fez Maria para viver na terra, sem perder, nas longas agonias do seu coração traspassado, chamar uma,  Mãe? E o enxerto direto de seu espírito com Deus mostra o esplendor único, a grandeza, a singularidade daquela que é “elevada mais do que criatura”. Deus – sem dúvida – como para nós, e bem mais, foi o consolo do seu coração.
             É possível que ela amasse alguém que lhe configurasse com mais propriedade – como para nós ela mesma, Maria – a identificação com o amor? Imagino que algo parecido e mais, infinitamente mais, do que encontramos em Maria, tenha ela – em sua labuta terrena a serviço do Pai, ocupando-se do filho - encontrado repouso e refrigério, força e audácia, capacidade de viver, quando outras mortes a teriam esmagado, n’Aquela que sustentou a Igreja em sua época e em toda as épocas: o Espírito Santo.
             O Espírito Santo, este Deus desconhecido, que, em nossa prestação de contas final, perceberemos, com infinito pesar, não termos talvez suficientemente amado, e venerado, e agradecido.

            Ele, a alma do corpo místico de Cristo, a firmeza dos mártires de todos os tempos, a fluência das águas vivas de todo sábio, a luz dos enviados de Deus, a certeza dos papas, o mestre dos bispos, o amigo dos ministros, o perfume das virgens.

Ele conviveu com a imaculada encontrando as suas delícias em plasmar, escondido,  a flor das flores, e Maria, n’Ele e por Ele, elevou o anseio traduzido pelo coração humano com o doce termo “Mãe” à altura mesma de Deus.

26 dezembro 2016

A palavra

Hoje gostaríamos de lhes falar sobre a Palavra de Deus.
“Compreendemos que o mundo tem necessidade de uma terapia de Evangelho. Somente a Boa Nova pode devolver-lhe a vida que lhe falta. E é por isso que vivemos a Palavra de Vida... é por isso que a encarnamos em nós, a ponto de nos tornarmos palavras vivas...”
Assim expressa Chiara Lubich a intuição fundamental que levou os membros do então nascente Movimento dos Focolares a escolher uma frase do Evangelho, comentá-la e vivê-la durante um determinado tempo. Esta prática permaneceu como uma constante e um alicerce da vida dos membros do Movimento.
Não se trata de refletir sobre uma palavra do Evangelho, apenas, e nem mesmo de medita-la, ms, sim de passar à ação, de pô-la em prática em todas as circunstâncias da vida quotidiana, com a convicção de que as palavras de Jesus são “espírito e vida” e uma única palavra do Evangelho posta em prática, pode tornar-se o ponto de partida para a reevangelização de uma vida inteira.
Chiara exprime essa certeza, dizendo: “Bastam umas poucas letras e algumas regras gramaticais para se saber ler e escrever; entretanto, quem não as conhece permanece analfabeto a vida toda. Da mesma forma, as poucas frases do Evangelho são suficientes pra formar, dentro de nós, o Cristo”.
E foi assim que a “palavra de vida” com seu comentário foi recopiada, mimeografada, impressa, mês após mês, a fim de que cada membro do Movimento, cada pessoa que desejasse vivê-la pudesse tê-la à mão, na bolsa, na mesa de trabalho, à cabeceira da cama – em qualquer lugar que lhe parecesse útil, para poder lembrar-se dela, impregnar-se dela, para que vivê-la se tornasse quase um reflexo.
Assim, são hoje distribuídos e vividos no mundo milhares de exemplares da Palavra de Vida.
A expressão “palavra de vida” é tirada de são Paulo, quando diz: “Vós sois portadores da Palavra de Vida” (cf Fl 2,16)
Outro traço característico dos membros do Movimento é o comunicarem uns aos outros a vida suscitada pela palavra. Da mesma maneira que os cientistas, tendo experimentado uma hipótese em laboratório, comunicam uns aos outros os resultados, a fim de contribuir para o progresso da ciência, assim também os que põem em prática a “palavra de vida” compartilham as “experiências” que realizaram ao vivê-la. Não se trata de divulgar sua vida, de comprazer-se com o êxito alcançado, mas de fazer com que outros participem da mesma luz.
Aliás, as experiências assim comunicadas têm seus traços característicos: são circunscritas no tempo, como uma breve história em que Deus atua e se revela. São como um estímulo dirigido a cada um.
Elas mostram que a vida não se divide: ela se desenvolve nas pequenas ações, tanto quanto nas grandes, animando a todos, desde o deputado até à mãe de família, conservando sua originalidade e sua força.
Leonardo nos conta, por exemplo, uma sua experiência sobre a Palavra de vida:
“Indo para a cidade percebo que estou com pressa. Não sei o porque, mas arrastado pelo trânsito intenso nas avenidas, me comportava como todos que recusam em dar a precedência. Tenho a fisionomia tensa. Num certo momento, me lembro da Palavra de vida. Então, em meio às filas de carros, me descontraio, sorrio a uma pessoa que se volta para mim, dou a precedência a um outro, acelero menos na partida, e aos poucos me sinto mais eu mesmo, mais em Deus, calmo, sereno. O tempo já não me oprime e consigo viver o momento presente com intensidade.”
Assim também Marlene:
«Nestes dias minha cunhada estava internada no hospital e algumas vezes fui visitá-la.  No mesmo quarto havia uma velhinha, à qual ninguém dava ouvidos. Numa das primeiras vezes que fui ao hospital, ela começou a chamar-me. Queria ir atendê-la, mas todos, também a minha cunhada, procuravam dissuadir-me: "Não dê importância. É uma velha meio louca e faz assim o dia inteiro".
Estava para me sentar um pouco amedrontada, mas depois lembrei-me da Palavra de vida do mês, onde Jesus dizia: “Tudo aquilo que fizeres ao menor dos meus, a mim o fizeste”. Era como se uma voz me dissesse: "Vai e faz aquilo que te é pedido". Levantei-me, aproximei-me da velhinha superando uma certa repugnância porque estava com as mãos sujas. Faço aquilo que me pede e lhe trago uma bacia com água para que possa lavar as mãos. Depois de ter se lavado, ela tocou nos meus braços e me disse: "Obrigada. Você lavou as mãos de Jesus".
Fiquei surpresa com as suas palavras, mas experimentei uma grande alegria e a confirmação da certeza de que Jesus está presente em cada homem.”
Queremos concluir com uma exortação de Chiara que nos ajudará a viver a Palavra durante este mês:
“Nós vivemos, umas após outras, numerosas palavras da Sagrada Escritura, de tal forma que elas permanecem em nós como um patrimônio indelével. Nossa missão é viver a palavra no momento presente e todos nós podemos vivê-la, seja qual for a nossa vocação, idade, sexo, condição, porque Jesus é a luz para todos os homens deste mundo. Com este meio tão simples, podemos evangelizar nossas almas e, com elas, o mundo...
Sejamos Evangelhos vivos, palavras vividas, outros Jesus. Assim o amaremos verdadeiramente e imitaremos Maria, a mãe da Luz, do Verbo, a Palavra viva,
Não temos outro livro que não seja o Evangelho, nem outra ciência, nem outra arte. É nele que está a vida! E aquele que a encontrar, não morrerá.”


25 dezembro 2016

Um Natal perene

Dezembro de 1955  

Caríssimos, 

impelidos por diversas circunstâncias, tivemos a ideia de viver todo mês uma Palavra de Vida. Pareceu-nos que esta prática, que desejamos que seja o mais regular possível e gostaríamos que empenhasse seriamente a nossa vontade, é sugerida também pela próxima festividade que todos os cristãos aguardam com alegria: o Natal. Nesta festa tão importante, queremos confirmar a nossa fidelidade a Deus, oferecendo algo concreto. E nada nos parece mais do seu agrado do que lhe oferecer a nossa alma de modo totalitário, para que Ele imprima nela a Sua imagem e a Sua fisionomia, para que imprima nela a Sua vida. Jesus, como demonstra o Evangelho, tem um modo de raciocinar, de amar, de querer especificamente Seu, único, e tão superior ao nosso modo de viver, também nosso, como cristãos, que em todos os tempos Ele deixará que se extraia do Evangelho "algo" que servirá para a humanidade daquela época, e de século em século esse "algo" vai parecer tão novo e revolucionário que teremos a impressão de que antes quase foi ignorado. Queremos adotar este modo de viver de Jesus. E nada parece mais oportuno para atingir o objetivo do que, de vez em quando, enxaguar a nossa alma no Evangelho. A consequência é que cada vez mais vamos nos parecer com Jesus. E qual é o modo mais esplêndido e concreto para festejar o Natal do que fazê-lo renascer em nós, em benefício da humanidade? Será um Natal perene o ano todo e além. Estamos certos de que Deus vai ficar contente com o nosso esforço e ficamos felizes em pensar que em meio a tantas trevas, que obscurece o mundo, em meio a tanta confusão e alucinação, produzida por falsas ideologias que enganam os homens e ameaçam triturar inclusive porções do Corpo Místico, nada poderá ser mais eficaz do que levar a luz evangélica viva em nós e ao nosso redor. Se Deus falou em Jesus, devemos ter fé de que aquelas Palavras contêm o fogo por Ele mencionado e o explosivo divino para vencer o mundo. [...]

24 dezembro 2016

Uma nova estação

29 de junho de 1948

O destino da árvore frutífera dá um pouco a imagem do homem que frutifica na sua estação fecunda. Até quando floresce, ao redor da árvore há cantos e trinos, zéfiro e sol;
e quando amadurece suas maças, a natureza inteira, orgiástica, envolve-a de calor. Depois, os agricultores retiram-se aos refeitórios, aos tinelos e aos celeiros e, após algumas palpitações de vida e cores no outono, penetra o frio silêncio, sob o céu cinzento, donde as folhas, como últimas lágrimas, caem na terra seca. E assim acontece ao homem quando superou a idade de maior rendimento. Desilusões e amizades caem, como as folhas, e o silêncio sobem de todos os lados, a paisagem se entristece e ele permanece sempre a contemplar, mudo espectador, o avanço de sua própria ruína.


Da mesma forma, como naquele frio e naquela solidão, a árvore prepara a nova primavera, concentra calor e seiva, assim o homem pode fazer daquele afastamento invernal de amigos e de forças a concentração de um vigor pleno de uma nova existência: utilizar aquele abandono dos homens para aderir a Deus, preencher aquela perda de humanidade com a graça divina. E então, dentro do silêncio agigantado pela ingratidão e avareza, sobre a velhice descamada e fria, pode encher-se do calor de Deus, ascender interiormente enquanto declina externamente: dar aos homens um fruto que não se conta na economia, mas se calcula na teologia. No inverno do homem começa a primavera de Deus.

21 de junho de 1965
O tronco torna-se sempre mais desfolhado, nu. Desaparecendo as flores, cortados os frutos (quem os comeu?...), caíram às folhas, romperam-se os ramos. Humanamente, haveria lugar para o desespero.
Divinamente, ao invés, podemos ter esperança poIs que esta diminuição é uma diminuição do homem a fim de que Deus nele cresça: sempre há compensação — há quase a teandria[1] — mas à parte de Deus cresce anelando fazer-se tudo, até que chegue o dia em que não existas mais; existe Ele, e te tomas parte d’Ele, e do nada te fazes tudo.




2 de janeiro de 1960
Com o passar dos anos, os velhos, em muitos casos, retornam á religião ou se tornam mais religiosos. Esta evolução é chamada involução, este progresso, regresso, senilidade. No entanto, é um aviso instintivo da aproximação de Deus, ou melhor, da casa.
Da árvore caem as folhas, o tronco abre os ramos para o céu; recebe água, é envolta pela névoa, ferida pelos raios; olha para o alto, não mais iludida com a folhagem, não mais iludida com aquilo que passa, já habituada, prelibando o que permanece. A minha pessoa morada de Maria, situada na sua vontade, recolhe-se, sempre mais, à morada do amor Eterno, cuja obra-prima é a Mãe.

24 de agosto de 1960
Aparece nos jornais, com freqüência, que algum velho — quase sempre aposentado — sobe ao sétimo andar e dali se jogam no vazio para pôr fim à vida. Ou, mais exatamente, à solidão que sofria, a doença dos velhos, criaturas arrancadas da massa para o isolamento, do rumor para o silêncio.
É uma solução lógica, embora errada.
A velhice é uma reviravolta critica, decisiva: a fase de preparação para o encontro com o Tudo, com o Eterno, com a Beleza: o encontro com o calor da juventude que não morre. É um período de evolução que chamam involução; de progresso que chamam regresso; de juventude do espírito que chamam senilidade.
O mal-estar físico e moral denota a inquietude diante da proximidade de Deus. Nessa idade avançada, a existência humana aparece como uma árvore no inverno. Ao cair das folhas, o tronco abre os ramos nus e secos para o céu e recebe água, nuvens e raios sem nenhum amparo. Mas, livre do ornamento do verde, olha direto para o alto, não mais iludido pela folhagem nem por aquilo que, florescendo de repente, cresce e morre.
E habitua-se a conversar com o céu, a sondar as nuvens, explorar as estrelas, percebendo, aos poucos, um mundo novo sem rumores e aparências.

23 de junho de 1958
Ao observar, cheio de pena, o cair das folhas (ilusão de fama, poder e amizade) da árvore da minha vida, neste outono que caminha para o inverno, percebo, melhor, que a solidão, sempre mais profunda e densa, que me rodeia é causada para efetuar um encontro amoroso mais intenso com Deus: a alma encontra finalmente tempo e conforto para estar com o Esposo. Chamam — esta — solidão, de aproximação da morte, mas é um encaminhamento para a vida. Agora, finalmente, posso deixar a minha alma escutar o Espírito Santo, conviver com os anjos e bem-aventurados, unir-se a Cristo, unir-se a Deus. E Deus é a vida. Antes, inúmeras distrações e interrupções impediam a passagem do espírito divino, que é a Vida; agora, a união, aos poucos, torna-se constante. Aprendo e preparo a vida do paraíso.
Sempre quis atingir Deus porque sempre tive fome de vida. No entanto, mesmo ao aproximar-me d’Ele, como válvulas, intercalava os meus estudos, as minhas amizades, os meus hábitos. Freqüentemente comprazia-me neles, parava diante das criaturas e dos fantasmas, sacrificava o essencial ao acessório, o divino ao humano.


15 de novembro de 1957
Estou chegando ao outono da vida: os últimos frutos foram colhidos e consumidos, as últimas folhas levadas pelas ondas frias do vento. Bem sei que a juventude interior resiste fortificada pelas provações. A carência de afetos e contentamentos vindos dos homens a temperaram e quase a aguçaram, proa que avança rumo ao mistério. De tal maneira que a flor fecha-se ao anoitecer da vida para reabrir-se na eternidade.

6 de dezembro de 1957
Se a existência física é uma combustão, façamos do nosso corpo um turíbulo onde se versa, sem trégua, o incenso da oração. Assim, por um outro aspecto, é a união do humano e do divino, do corpo e do espírito; sempre uma projeção da unidade, do Homem-Deus. Todo ato de caridade derramado sobre aquelas brasas há de acender uma chama. Toda dor que nos for oferecida produzirá cinza e será uma consumação, como a chama do altar, se todo o amor, o sofrimento — o sofrimento transformado em amor
— for destinado para onde a gravitação o transporta: ao Amor Eterno. A química torna-se suporte da mística. Dá-se à natureza a possibilidade de libertar-se, abre-se a sua boca à oração. Também a matéria e as células foram criadas para voltar ao Criador.

26 de fevereiro de 1957
Têm razão quando comparam o ciclo da existência com o ciclo das estações. Ela é como a árvore que cresce, floresce e frutifica enquanto entre seus ramos, os pássaros fazem seus ninhos. Depois vem a má estação, os trabalhos e o tempo, e desfolha os ramos e os resseca: até que o divino podador os poda. Poda e reduz a planta ao essencial: a uma cruz.


15 de novembro de 1957
Caem as folhas e os frutos, e nas ervas secas do chão floresce outra primavera. Na solidão dilatada pelo próximo inverno, Deus aparece, aproxima-se, e com Ele, o relacionamento se torna mais íntimo e imediato. Na medida em que perdemos na economia humana, adquirimos na economia divina. As criaturas se distanciam para que eu me enlace ao Criador. Não encontro amor para encontrar o Amor.
A estação findará, findará também a ação com a reação dos homens, quando, finalmente, estiver com Deus. Nele não há mais história, que é um registro do tempo, quase uma crônica fúnebre. Na eternidade, a vida é pura e plena porque se desenvolve em unidade com Deus. E Deus está além do tempo com suas estações, frutos e folhas.
Vista assim, a existência é uma árvore que cresce para o céu a fim de florescer na eternidade. Estações e tragédias, desilusões e sofrimentos são podas. A árvore cresce sob uma amarga chuva (água e sol, o pranto) para mondar-se, até tornar-se pura haste elevada da terra ao céu.
A vida não é senão um processo de amadurecimento pela purificação que a dor traz. Quando amadurece, é Deus quem colhe o fruto, transplantando a árvore ao paraíso.

24 de junho de 1960
O amor é a linfa que faz a flor crescer. No homem, alimenta a liberdade; a vida no amor revela-se como um desenvolvimento na liberdade: processo de libertação. Somos de tal maneira ligados aos nossos limites, como galhos ao tronco, que quando estes aos poucos, vão sendo podados, parece-nos uma perda, mas na verdade é um ganho.
(Diário de Fogo Igino Giordani, 1980)




1.         Teandria, no seu sentido original, diz respeito à “natureza humano-divina de Jesus”: no texto:             o “humano no divino”. (n.d.t.)

23 dezembro 2016

100%


Todos sabemos que o nosso ideal pode ser definido com uma só palavra: amor.
O amor é toda a nossa vida, O amor é a alma da nossa oração, do nosso apostolado, de todas as expressões da nossa existência.
O amor é também a saúde de nossa vida espiritual individual, assim como o amor recíproco é a nossa saúde enquanto comunidade, enquanto Corpo místico de Cristo. Quando amamos, nada nos falta, nos encontramos “inteiros”, diante de Deus, quer gozemos de boa saúde, quer estejamos doentes.
Mas, amar quando gozamos de saúde é fácil. E fácil amar a Deus e aos irmãos. Amar quando estamos doentes é mais difícil.
Porém, nunca na vida, como nestes dias, eu vi realizado este nosso “dever-ser”: amar na doença. Poucas vezes vi alguém realmente doente, do qual no entanto se pudesse dizer: “Como esta pessoa é sadia!”
Como vocês devem imaginar, tenho ido visitar Marilen[1], no Centro Mariápolis, onde está passando estes dias “especiais” da sua doença. E minha impressão é de que ela é uma pessoa realmente sadia, completamente sadia. Certamente que não é mais sadia no físico, mas é sadia na alma.
            Isto porque, quando nos consagramos a Jesus Abandonado, podemos aderir com o coração e com a vontade, às suas visitas numa medida mais ou menos completa que pode ir de 20%, 50%, 70% a 100%.
Marilen adere 100%! A sua vida é um continuo “por Ti, Jesus!”, o que significa que oferece tudo a Ele por nós, por esta Obra de Deus.
Quero lhes comunicar este maravilhoso exemplo de Marilen, a fim de poder fazer a mim mesma e a vocês a seguinte pergunta: E justo que uma pessoa, mesmo encontrando-se em momentos tão difíceis de sua vida terrena, viva com tanto empenho o matrimônio de sua alma com Jesus Abandonado, enquanto nós, com mais saúde física, vivemos com mediocridade a nossa “tensão à santidade”? Será que devemos esperar que Deus nos mande provações especiais, daquelas que nos fazem chegar ao limite de nossas forças, para nos decidirmos a amá-Lo de modo total?
Não. Iniciou-se o sexto ano da nossa Santa Viagem, e devemos vivê-lo com todo o entusiasmo.
Alguém me disse que considerará este ano como se fosse o primeiro. Eu o aconselharia a considerá-lo como se fosse o último, isto é, como o ano em que nos decidimos definitivamente, diante de Deus, se seremos santos ou não.
Mas, se quisermos considerá-lo assim — e quem pode garantir-nos que não será mesmo o último? -, não podemos perder mais tempo! Todos nós temos o Espírito Santo no coração e conhecemos suas exigências e indicações. E Ele que nos diz: Agora é preciso amar Jesus Abandonado, nesta dor, neste cansaço. Nesta outra situação devemos preferi-Lo vivendo uma virtude, como o amor fraterno, por exemplo. Nesta outra, ainda, devemos escolhê-Lo num aspecto da Obra, da Igreja ou da humanidade. Devemos cumprir o propósito de amá-Lo dia após dia, sempre, até os 100%, como a Marilen. E, como ela, antes de cada ação, devemos repetir: “Por Ti, Jesus!”
Se uma vida assim tão comprometida nos causa medo — o demônio é capaz de fazer tudo para nos desencorajar —, recordemo-nos, como Marilen, da frase de Jesus: “A cada dia basta o seu afã” (Mt 6,34). Amemos, portanto, aquele aspecto de Jesus Abandonado que encontramos hoje, a cada momento. Para o amanhã teremos outras graças.
Deste modo poderemos acumular dias totalmente plenos, consagrados a Ele e com os quais construiremos a nossa santidade.
Se, porém, fracassarmos, se O trairmos, se nos bloquearmos, saibamos que também por trás de todas estas circunstâncias existe o seu vulto.
Que no fim de cada dia possamos responder a nós mesmos, ou melhor, a Jesus, que nos interroga no fundo do coração sobre o andamento do dia: “Hoje foi bom, foi 100%!”
Desse modo, vivemos também a Palavra de Vida do mês: “Sereis minhas testemunhas...
Abraçando 100% Jesus Abandonado, o Ressuscitado resplandece em nós e entre nós e dá testemunho.
Estamos de acordo? Façamos como Marilen! Que nesses 350 dias que faltam para terminar este ano, ao fim do dia, possamos sempre dizer:
“Hoje também foi 100%!”.


[1] Maria Helena Holzhauser, uma das primeiras companheiras de Chiara, que naquela ocasião se encontrava gravemente enferma.

22 dezembro 2016

A Velhice

Existe um escrito muito antigo num dos nossos livros de espiritualidade que explica também o conceito que no Movimento se tem da velhice.
Mas, aos olhos de Deus, o que será mais bonito? A criança que te fita com olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida natureza e tão vivos, ou a jovem que resplandece como o viço de uma flor recém-desabrochada, ou o ancião (...) quase inapto a tudo, talvez tão-somente à espera da morte? O grão de trigo, tênue mais do que um fio de erva, agarrado aos grãos irmãos que compõem a espiga, à espera de amadurecer e de desvíncular-se, só e independente (...), é belo e cheio de esperança!
Mas é igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros por ser melhor, para, enterrado, dar vida a outras espigas. (..) É belo, é o eleito para as futuras gerações das messes. Mas, quando enterrado, emurchecendo,  reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre apodrecendo, para dar vida a uma plantinha, diferente dele. mas que a ele deve a vida, talvez seja ainda mais belo.
Belezas diversas. Contudo, uma mais bela do que a outra.

E a última, a mais bela.
Deus verá assim as coisas?
Aquelas rugas que sulcam a fronte da velhinha; aquele caminhar recurvo e tremulante, aquelas palavras curtas, densas de experiência e sabedoria; aquele olhar doce de menina e mulher ao mesmo tempo, porém mais bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não conhecemos. (...)
Penso que Deus veja assim as coisas, e que o avizinhar-se do Céu seja de longe mais atraente do que as várias etapas do longo caminho da vida que, no fundo, só serve para abrir aquela porta.[1]

Sobre a velhice nós pensamos assim e ponto final.


[1] Chiara Lubich. «Talvez ainda mais belo”. Em: op. cit. p. 115-116:

21 dezembro 2016

SAÚDE

O nosso corpo é um dom de Deus. Às vezes no mundo a ele se dedica tempo até demais e não por ser uma dádiva de Deus, é claro.
Porém, quantas vezes nós nos descuidamos dele; e somos pessoas a serviço de Deus e consagradas!
No entanto, a vida que levamos no Movimento, por exemplo, foi muito bem organizada pelo Espírito Santo. Basta ler os nossos Estatutos e regulamentos. Porém, que dificuldade se nota para aplicá-los. O ativismo está sempre à espreita e quer comandar. E é a saúde que leva a pior.
Consola, mas não justifica, o fato de que inclusive os santos quase sempre arruinaram a própria saúde, como Santo Inácio de Loyola, embora isso lhes tenha servido de lição para organizar bem a vida de seus filhos.
Não prestar ao corpo os cuidados devidos, produz um desequilíbrio entre o que se dá ao espírito, e foi utilizado pela razão e pela alma, e o que se dá ao corpo, muitas vezes tratado como um burro de carga, que é contentado só de vez em quando.
Estes pensamentos, na nossa história, foram com freqüência objeto de preocupação em relação a nós mesmos e aos outros. Eis o que diz um trecho de diário de muitos anos atrás.
Hoje compreendi que estas férias devem ser mesmo férias. Tenho a impressão de que a vontade de Deus as deseja assim. (...)
Porém, gostaria que os focolarinos que descansam fizessem o mesmo. Que eles organizem o dia com tudo aquilo que faz bem à saúde: esquecer (de certo modo) o Movimento; manter vivas (...) e bem feitas as práticas de piedade; depois, passeios, ginástica, remar no lago, se houver, jogos ao ar livre ou ao redor da mesa à tarde; escolher um bom livro para ler, ver documentários ou filmes sadios e repousantes.
Tudo isso ordenado com um bom sono e sem horários muito rígidos; relax também diário e boa alimentação. Tudo isso porque (...) Deus nos pede (...) para conservarmos bem este corpo enquanto ele quiser, prontos a oferecê-lo a ele quando nos chamar.
Todavia, o que mais ajuda a saúde é a vida sempre ordenada. Foi assim que os vários fundadores pensaram.

Na Regra dos Josefinos de São Murialdo está escrito assim:

A serenidade da vida comunitária é favorecida
(...) por uma sábia organização que garanta a
cada irmão tempo para a oração, o trabalho, o
estudo e o descanso.

E nós temos os sete aspectos que ordenam a nossa vida.


20 dezembro 2016

Vigilância

Para amar a Deus é necessário cumprir a sua vontade.
Mas a sua vontade mostra-se momento por momento.
Pode exprimir-se por circunstâncias alheias, pelas próprias obrigações, pelos conselhos de pessoas sensatas ou que nos representam Deus.
Ou mesmo por um imprevisto doloroso, ou alegre, ou desagradável, ou indiferente.
Quem a compreende é o espírito atento, a alma vigilante.
Não é à toa que o Evangelho fala com tanta freqüência em vigilância.
E é justamente o Evangelho que concentra o homem no presente quando manda pedir ao Pai o pão só para "hoje", não querendo que ele se preocupe com o futuro, quando convida a carregar a cruz de "hoje" e lembra que basta o afã de "cada dia". É ainda o Evangelho que adverte: "Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus" ( Lc 9,62). Para nos habituarmos a viver bem o momento presente, nós cristãos devemos saber esquecer o passado e não nos preocupar com o futuro.
Isto é sabedoria elementar, já que o passado não mais existe, e o futuro existirá quando se tornar presente.
Catarina dizia: "A fadiga que passou não mais a temos, pois que o tempo se foi; a que está por vir não a temos, pois não estamos certos de ter o tempo".
Os grandes e os santos conhecem esta norma.
Acostumam-se a discernir a voz de Deus entre as diversas vozes interiores.
E, neste exercício contínuo, o discernimento torna-se cada vez mais fácil, porque a voz se robustece e se amplifica.
No começo, talvez não seja tão fácil.
Então, com perfeito abandono em Deus, é preciso acreditar em seu amor e cumprir com decisão aquela que acreditamos ser a sua vontade e com a confiança de que, se não for, Ele nos colocará de volta no trilho certo.
E também, no caso de à vontade de Deus se mostrar clara, como quando ela convoca a um trabalho que deve durar horas, sempre há a tentação a vencer, um escrúpulo a banir, uma preocupação a se colocar no coração de Deus, pensamentos estranhos a afastar e anseios diversos para renunciar.
Viver o presente é uma idéia e uma praxe extraordinariamente rica.
Viver o presente insere a nossa vida terrena no curso da vida eterna, já desde agora.

19 dezembro 2016

Nova compreensão de Maria

Vivendo a vontade de Deus, tivemos uma nova compreensão de Maria. Nela admirávamos a criatura mais perfeita que vivera sobre a terra, pois fez somente a vontade de Deus.
Se para nós, fazer a vontade de Deus significa “viver Jesus”, era também de uma certa maneira “reviver Maria”. Era esta a melhor maneira de lhe demonstrarmos nossa devoção e sermos filhos seus.
Suas palavras: “Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), tornaram-se também nossas.Meditemos de novo a nossa vida à luz da sua vida e viveremos com ela para sermos todos de Jesus.

18 dezembro 2016

Por meio de Maria

É por meio de Maria que devemos ir a Jesus.
Devemos aprender a conversar com ela como se conversa com a mais terna mãe, como a mais exigente guia, como a mais eficaz advogada. E, portanto, expor a ela as nossas questões.
A unidade, a obediência a um líder exige amor para que a unidade seja verdadeira, obediência sólida e construtiva. O amor se alimenta com o conhecimento.
É preciso meditar sobre os enormes privilégios da nossa Mãe. A meditação destes fará mais ágil a nossa confiança na sua onipotência por graça, na sua intercessão; será mais fácil estimar os seus conselhos e suas diretrizes.
É na imitação de Maria, nos diversos momentos da sua história, que alcançaremos o cumprimento do desígnio de Deus para nós.

17 dezembro 2016

Meu sentimento

"Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto,
Mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas
renúncias e loucuras, alguém me valoriza
pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons sentimentos
que a vida proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
que é meu sentimento...
e não brinque com ele."

16 dezembro 2016

Vida


Não coma a vida com garfo e faca.

Lambuze-se!
Muita gente guarda a vida para o futuro.
Mesmo que a vida esteja na geladeira, se você não a viver, ela se deteriorará.
É por isso que tantas pessoas se sentem emboloradas na meia-idade.
Elas guardam a vida, não se entregam ao amor, ao trabalho, não ousam, não vão em frente.
Não deixe sua vida ficar muito séria, saboreie tudo o que conseguir:
as derrotas e as vitórias, a força do amanhecer e a poesia do anoitecer.
Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz você precisa aprender a gostar de si, a cuidar de si e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.

15 dezembro 2016

Poeminha sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

14 dezembro 2016

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia... 

A vida assim, jamais cansa... 
Viver tão só de momentos 
Como estas nuvens no céu....
E só ganhar, toda a vida, 
Inexperiência... esperança...  
E a rosa louca dos ventos 
Presa à copa do chapéu. 
Nunca dês um nome a um rio: 
Sempre é outro rio a passar.  
Nada jamais continua, 
Tudo vai recomeçar! 
E sem nenhuma lembrança 
Das outras vezes perdidas, 
Atiro a rosa do sonho 
Nas tuas mãos distraídas...

13 dezembro 2016

Prometo

Prometo buscar o amor dentro do seu coração,
Prometo cultivá-lo,
Prometo lhe dar consolo quando precisar.
Prometo te amar,
Fazer dos problemas
Momento insignificantes.
Prometo te dar apoio,
Compreensão.
Te prometo acima de tudo
A minha amizade.
Prometo estar sempre do seu lado.
Prometo encontrar seus sorrisos
E enxugar suas lágrimas.
Prometo ficar acordado
Velando por teu sono.
Prometo que vou buscar todas
As formas para lhe fazer feliz.
Prometo que as estrelas serão suas
E a lua será nossa...
São milhões de promessas
De um Verdadeiro
Amor sem limites,
Que jamais terá fim
"PROMETO..."