O Movimento começou com este grande nome que
resumiu toda a sua vida: Deus!
Deus – a Trindade – mostrou-me como o sol no alvorecer
de um mundo que reencontrava a paz depois do fragor da guerra; e ofereceu a
nós, seus filhos, uma vida mais divina do que aquela que já levávamos, mais
cristãmente coerente, mais íntegra.
Outras jovens tinham sido chamadas, em lugares,
tempos e circunstâncias diversas ao mesmo ideal. Entre estas recordávamos com
freqüência Clara de Assis.
“ Filha, o que desejas?” - perguntou-lhe Francisco quando ela, aos
dezoito anos, fugira de casa para seguir o Senhor. “Deus!” - respondeu.
Deus, esta única, infinita realidade, devia
resumir também para nós, sob o impulso da graça, todas as nossas aspirações,
num desejo ardente de sermos fiéis a ele por toda a vida, como foram os santos.
Deus, portanto, e nada mais, pois qualquer outra
pessoa ou coisa teria diminuído o encantamento do chamado divino.
Deus, que para nós foi logo, desde o primeiro instante,
sinônimo de amor: o Amor!
Assim o apresenta a Escritura: “Deus é Amor”.
Deus, tudo para nós. Deus Amor. Foi uma grande
novidade para a nossa rotineira vida
espiritual, uma novidade tão grande que operou uma verdadeira conversão.
Antes, de fato, embora procurássemos ser boas
cristãs e estar na graça de Deus, vivíamos como órfãs, como pessoas que tinham
pai e mãe, mas... somente terrenos. Depois, tendo conhecido de um modo novo
Deus Amor, sentimo-nos mais conscientemente filhas do Pai que está nos céus. E
duma certa maneira pudemos repetir com Francisco de Assis: “ Não mais pai
Bernardone, mas Pai nosso que estais nos céus”.
Ia-se delineando para nós uma relação entre céu e
terra, um novo acorde entre filhos e Pai. Foi o desenvolver-se de uma nova fé.
Não se tratava somente da fé no seu amor; por isso, nada nos parecia mais
adequado para a vida que estávamos iniciando do que a frase: “E nós acreditamos
no Amor”. Esta fé no amor de Deus por
nós, cada um de nós, por todos, pela humanidade inteira, iluminou toda a nossa
futura existência.
Deus nos amava! Ele era o nosso criador. Era quem
nos sustentava momento por momento. Ele o tudo!... Nós não teríamos nenhum
sentido no mundo se não fôssemos uma pequena chama desta Chama infinita – amor
que responde ao Amor.
E pareceu-nos tão sublime a dignidade a que nos
elevara, tão alta e imerecida a possibilidade de ama-lo que repetíamos: “Não se
trata de dizer: Devemos amar a Deus; mas: “Oh! Poder-te amar, Senhor...
poder-te amar com este pequeno coração!”.
E nos esforçamos para ser coerentes. Com o passa
dos dias, das semanas, dos anos, pareceu-nos que ele não quisesse deixar-se
vencer em generosidade.
De fato, talvez porque, como afirma a Escritura, “ a quem me ama, manifestar-me-ei”,
aos poucos Deus foi-nos revelando os tesouros semeados por ele próprio aqui na
terra, por amor a nós, e a sua presença única e multíplice neste lugar de
exílio à espera do céu, presença que nos esclareceu sempre mais como é infinito
o seu amor e como são inumeráveis os recursos da sua paternidade. Indicou-nos onde
encontrá-lo, para nos assemelharmos a ele e de que maneira possuí-lo; em
suma, indicou-nos de que modo e com que meios poderia nascer ou amadurecer a
união das nossas almas com ele e dele com as nossas almas.
E não nos chamou para viver num mosteiro, nem em
clausura, mas onde mais reina o príncipe do mundo e dominam as trevas: “Pai,
não peço que os tires do mundo, mas que os preserves do mal”.
Descobrimos, então, como crianças ao abrir os
olhos, que a vinda de Deus sobre a terra por nosso amor mudara radicalmente o
mundo: ele tinha ficado.
Caminhando ou viajando, não éramos atraídas pelo
que acontecia ao nosso redor embora bonito e interessante. A própria Roma, por
exemplo, não nos atraía só por seus maravilhosos monumentos e pelas preciosas
relíquias. Os eles que ligavam o nosso caminhar por ele no mundo eram Jesus nos
tabernáculos que encontrávamos.
De tal forma que cada Igreja que víamos da janela
de um trem se tornava “casa” para a nossa alma.
E quando tínhamos a possibilidade de visitar algum
santuário, ou a Terra Santa, que viu nascer e morrer o Salvador – lugares estes
que desejávamos nunca mais deixar – quem dava alento ao nosso caminhar era Jesus
na Eucaristia, presente me todas as partes do mundo, presente da mesma
maneira tanto na capela de uma aldeia como na majestosa catedral duma
importante cidade: ele, luz aqui e ali acendida pelo seu amor; conforto para
jovens, pobres e ricos, cultos e ignorantes: Irmão universal, o mesmo para
todos, que enxugava as lágrimas, que revigorava os corações, que dava o seu
Espírito aos que vivessem segundo a sua lei.
Não era, portanto, tão mau assim o mundo! Jesus
Eucaristia tornava-o um enorme convento e se oferecia à fome de divino que pode
surgir em cada um de nós.
E ainda mais: cada irmão – a colega de classe, o mendigo, a mulher da
feira, o deputado, a criança, o doente – sob a ação da graça, mudemos a
reconhecer e amar em cada próximo um membro do Corpo místico, Cristo nele. E
aconteceu então que todo aquele que podia impedir o caminho rumo a Deus se
tornava uma porta para encontrá-lo.
Os livros santos tinham prometido: “ Passamos da
morte à vida porque amamos os irmãos”. E quanto mais se amava Cristo em todos,
com o despojamento de si mesmo, mais o coração se plenificava de divino; mais
facilmente, à noite, durante a oração, o Senhor nos fazia senti a sua doce
presença na alma. Esta foi uma experiência que nos fez entender o quanto é
agradável a Deus a caridade e como o amor fraterno é a flor do Evangelho.
Havia também irmãos nos quais Deus não devia se apenas
amado, mas também obedecido. Tratava-se de pessoas que de um modo especial o representavam: os nossos superiores
eclesiásticos, os bispos, os assistentes, escolhidos com mão amorosa pela Igreja.
Eram os pastores e nós as ovelhas.
E o efeito nas nossas almas e em toda a Obra, produzido por
este esforço de viver como filhos de Deus na Igreja, esposa de Cristo, como
ramos junto à videira, foi este: com o tempo, pareceu-nos que a própria Igreja
palpitasse nos nossos corações, capazes somente de sentir com ela e de
participar das suas lutas e vitórias, desejosos até mesmo de derrama o próprio
sangue, unicamente pelo triunfo da Igreja.
E depois: Deus no nosso meio. Durante os
primeiros dias, quando nos esforçávamos por atua as palavras de Jesus: “Onde
dois ou três estão unidos no meu nome, aí estou eu no meio deles”, parecia
que o céu nos envolvesse, que o paraíso
estivesse no nosso meio. Jesus retornava espiritualmente entre nós, irmãos
nele, e, como Emaús, acendia os corações com uma chama que o mundo não
conhecia, fazendo empalidecer homens e coisas, pondo em evidência somente o que
é grande, belo e bom perante Deus.
Jesus entre os cristãos nos parecia um templo que
podia erguer as colunas – os corações dos seus filhos – em toda parte, e
oferecer o bálsamo de um tabernáculo espiritual, tanto numa rua barulhenta como
nas terras pagãs supersticiosas ou num cárcere de perseguição.
Jesus é sempre vida e plenitude, alegria e
paraíso, guia e mestre – o nosso amor recíproco podia ser a poderosa causa que
o O tornava presente. Dizíamos entre nós: ! Se colocarmos vários pedaços de
madeira entrecruzados e os acendermos no cimo de um monte, aquele fogo será
visto de noite por todos os habitantes do vale e resplandecerá como uma estrela
caída na terra; mas se dispusermos os nossos corações em unidade, amando-nos
como ele nos amou, teremos o próprio Fogo, o Amor entre nós, e poderemos ser
instrumentos de Deus para muitas almas”.
Deus, portanto encontrado na Eucaristia, amado no irmão,
obedecido nos superiores, Deus espiritualmente presente no meio de nós. E Deus,
infinito, que habita pela graça no nosso coração finito. Era necessário
ajudá-lo a reinar com a sua majestade, a destruir o nosso eu e a
transformar-nos nele.
E, ainda, Deus nas Escrituras, colhido e
meditado sob ação do Espírito e a orientação da Igreja: a Escritura, fonte
inesgotável da qual hauriram e hão de haurir a vida, até o fim do mundo, todos
aqueles que o querem amar; a Escritura, que também Maria Santíssima, a nossa
mãe, meditava. Desejávamos imitar Maria, que ficou no mundo, e como ela
tornar-nos portadores de Deus aos irmãos, portadores de Deus no mundo.
Deus, Deus, Deus em qualquer lugar e sempre, a preencher o
vazio deixado pelo pecado e superabundantemente
plenificado pelo sangue de Jesus. Deus que é Amor: este Ideal é o
objetivo e finalidade da nossa vida de focolarinos.