"Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança..." (Ataulpho Alves)
24 dezembro 2021
O que significa o Natal pra você
08 dezembro 2021
Escolher Deus significa escolher Jesus Abandonado
06 dezembro 2021
Entrevista a Chiara de Josè Maria Poirier
05 dezembro 2021
A história dos balõezinhos
03 dezembro 2021
NO TREM DO TEMPO
O único tempo que nos pertencia era o momento presente. O passado já era passado; o futuro, não sabíamos se chegaria a existir. Dizíamos então: o passado não existe mais; coloquemo-lo na misericórdia de Deus. O futuro não existe ainda. Vivendo o presente, viveremos bem também o futuro, quando este se tornar presente.
Como é insensato — dizíamos — viver pensando no passado, que não retorna, ou no futuro, que talvez nunca venha a existir e que é imprevisível!
Citávamos o exemplo do trem. Assim como um viajante, para chegar ao seu destino, não fica caminhando para frente e para trás no trem, mas permanece sentado no seu lugar, da mesma forma nós devemos permanecer fixos no presente. O trem do tempo vai por si.
E, presente após presente, chegaríamos ao momento do qual depende a eternidade. Amando a vontade de Deus no presente com todo o coração, toda a alma, todas as forças, poderíamos cumprir, por toda a nossa vida, o mandamento de amar a Deus com todo o coração, toda a alma, todas as forças.
01 dezembro 2021
Renovar a doação a Deus
29 novembro 2021
Jesus abandonado
28 novembro 2021
O amor recíproco
25 novembro 2021
Muitas vezes o amor não é amor
Giordani e a família
23 novembro 2021
Acima de tudo, revesti-vos do amor
22 novembro 2021
Uma contradição
11 novembro 2021
Qual a escolha certa?
Castel Gandolfo, 12 de janeiro de 1988
Aproxima-se para nós a idade da escolha para a nossa vida. Como podemos fazer para entender qual é a escolha certa? Como distinguir a vontade de Deus das nossas fantasias e dos nossos desejos?
Diria que vocês devem ser iluminadas pelo íntimo de vocês. É preciso que seja Jesus que lhes diga qual será o caminho de vocês: casarem-se, entrarem para o convento ou para o focolare1, dedicarem-se à arte ou à política. E não vocês. E, para serem iluminadas, devem amar. Portanto, continuem a viver o Ideal, viver o Ideal, viver o Ideal. Foi assim que fiz: procurava amar, amar, e Jesus me chamou; senti fortemente que Ele queria isso. Portanto, amem, amem, amem, sigam em frente, vivam o Ideal, e Ele iluminará vocês e as fará entender seus caminhos. E depois, aconselhem-se também com alguém que possui mais experiência, porque pode ser que vocês tenham receio de confundir as fantasias com o chamado de Deus. […]
Então, duas coisas: viver o Ideal e pedir conselhos a pessoas um pouco mais maduras que já fizeram as próprias escolhas, para que ajudem vocês a diferenciar bem se o que têm no íntimo vem da fantasia ou se é justamente a vontade de Deus.
04 novembro 2021
A sua escolha
Além disso, aquela circunstância guardava uma mensagem para nós: Jesus Abandonado apresentava-se pela primeira vez, para que o escolhêssemos, ou melhor, para que Ele nos escolhesse, para que nos convidasse a ser suas discípulas: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16).
Portanto, Ele se colocava à frente de uma multidão de gente que, conosco, o seguiram, o seguem e o seguirão.
E não tivemos dúvidas.
Foi um chamado forte e decisivo, o seu.
02 novembro 2021
A maior dor
Mas, quase simultaneamente, vemos que, ao adjetivo “crucificado”, vem juntar-se um outro: “abandonado”.
O que significa isto? Como se deu a manifestação de Jesus Abandonado como vocação específica nossa?
Em 24 de janeiro de 1944, um sacerdote nos dissera que a maior dor de Jesus foi quando gritou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mt 27,46; Mc 15,34).
Na época, ao contrário, o pensamento corrente entre os cristãos era que fora a dor sentida no Getsêmani. Mas nós, tendo uma grande fé nas palavras do sacerdote porque ministro de Cristo, acreditamos que a dor do abandono fora a dor máxima.
Por outro lado, sabemos hoje que essa convicção está-se tornando patrimônio comum da teologia e da espiritualidade.
O encontro com aquele sacerdote foi uma circunstância extrínseca, mas — constatamos isso agora — era a resposta que Deus dava a uma prece nossa, quando, fascinadas pela beleza do seu Testamento, nós, primeiras focolarinas, todas unidas, havíamos pedido a Jesus, em seu nome, que nos ensinasse a realizar a unidade, que Ele rogara ao Pai antes de morrer.
31 outubro 2021
O livro dos livros
E que o Crucificado se tenha manifestado bem cedo na vida das primeiras focolarinas com a necessidade de imitá-lo, para concretizar o nosso amor a Deus, no-lo atestam alguns conceitos de uma carta minha, datada talvez de 1944.
Mando para vocês um pensamento que sintetiza toda a nossa vida espiritual: Jesus crucificado!
Tudo está aqui.
É o livro dos livros.
É a síntese de todo saber.
É o amor mais ardente.
É o modelo perfeito.
Proponhamos que ele seja para nós o único ideal da vida.
Foi ele quem arrebatou são Paulo a tamanha santidade…
Nossa alma, carente de amar, ponha-o sempre diante de si em cada momento presente.
Não seja sentimentalismo o nosso amor.
Não seja compaixão exterior.
29 outubro 2021
Quem é o amor?
Um precedente da nossa história.
Não havia ainda o primeiro focolare. Nem eu conhecia ainda a primeira de minhas companheiras. Eu era professora. Um dia, aproximou-se de mim uma pessoa muito atuante, uma dirigente de um grupo de jovens que ela conseguira atrair para a religião com encontros recreativos, músicas, histórias divertidas. Perguntou-me se eu podia fazer uma palestra para eles. Respondi afirmativamente.
“Sobre o que você vai falar?”, perguntou-me. “Sobre o amor”, disse. “E o que é o amor?”, prosseguiu, curiosa. “Jesus crucificado”, respondi.
Talvez tenha sido essa a primeira vez em que falei d’Ele, em minha vida de futura focolarina.
Naquela época, até em ambientes notoriamente fiéis à religião, como aquele de onde todas nós provínhamos, não era comum ouvir-se falar de amor. E muito menos acreditar que o Crucificado, que atrai todos a si, fosse uma arma válida para o apostolado, inclusive neste século.
Mas — confesso — até hoje não sei quem me pôs nos lábios aquela definição do amor.
27 outubro 2021
Como a Igreja
Foi exatamente no abandono de Jesus na cruz que, desde o início do Movimento, Deus concentrou a nossa alma e foi nesta dor e por esta dor, ponto culminante da Paixão, que o nosso Movimento se desenvolveu.
Os fatos se desenrolaram como vou explicar; entretanto, é possível fazer uma constatação desde já: as linhas da grande história da fundação da Igreja, de certo modo, também se encontram na história do nosso Movimento, que é Igreja, feitas as devidas proporções. É uma obra, a nossa, que tem a fisionomia de sua Mãe, como afirmou João Paulo II em agosto de 1984: “Vejo que seguis de modo autêntico aquela visão da Igreja, aquela definição que a Igreja deu de si mesma no Concílio Vaticano II” (João Paulo II, 1984, p. 25).
Sabemos que o ponto de partida da salvação do gênero humano foi o amor de Jesus pelo Pai. Esse amor estimulou Jesus a cumprir o que o Pai desejava, isto é, a fazer a vontade do Pai. Mas a vontade do Pai se resumia praticamente em amar os irmãos e Jesus deu sua vida por amor a eles: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13), dissera Ele.
Ora, se observarmos o nosso Movimento, vemos que ele também parte de um desejo de amor: amar a Deus, redescoberto como Amor, como Pai, nos primeiros dias de nossa história.
Também para nós, esse amor se traduzia e se traduz em fazer a vontade de Deus, que se resume no Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).
25 outubro 2021
O apostolado como culto
Mas, pensando ainda nos primeiros cristãos, vemos que para eles o apostolado era, e de um modo especial, um culto.
Paulo diz: “Deus, a quem sirvo em meu espírito, anunciando o Evangelho do seu Filho, é testemunha…” (Rm 1,9).
Anunciando o Evangelho, o apóstolo faz a vontade de Deus e se oferece como vítima.
Anunciando o Evangelho, o apóstolo faz ainda um verdadeiro sacrifício, oferecendo a Deus os convertidos por ele, que aparecem como vítimas transformadas pelo Espírito Santo de “carnais” em “espirituais” (cf. Rm 15,16).
Muitas vezes, eles eram chamados “primícias” (termo usado geralmente para o culto): “Nós, porém, sempre agradecemos a Deus por vós, irmãos queridos do Senhor, porque Deus vos escolheu como primícias” (2Ts 2,13).
Não é talvez este o culto característico, que também o nosso Movimento eleva a Deus?
No fundo, a ação da nossa Obra não é senão converter-nos e reconverter-nos a Deus, e converter e reconverter muitas e muitas pessoas.
Também nós temos, em nós e em muitos, vítimas espirituais e primícias a oferecer a Deus no mundo inteiro.
Portanto, sintamo-nos felizes porque a nossa vida, toda a nossa existência, vivida segundo as linhas que nos foram dadas por Deus e são abençoadas pela Igreja — vontade de Deus para nós — é um culto contínuo, que oferecemos a Deus, é expressão genuína do sacerdócio real que nos investe a todos.
1 “(E) naquele momento tudo se inverte. Em Jesus, a vontade humana, como no Getsêmani, consente. “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.” Desaparece o abismo do desespero como uma gota de ódio irrisória no abismo infinito do amor. A distância entre o Pai e o Filho não é mais o lugar do inferno, mas do Espírito” (Bartolomeu I, 1994, p. 7).
2 “Tudo está consumado”. [N.d.T.]
3 Remetendo “explicitamente nas mãos do Pai divino o eterno vínculo de união que a Ele o unia, o Espírito Santo”, Jesus experimenta “até o fim o abandono completo também po r parte do Pai”, morre “nas trevas extremas abandonadas pelo Espírito” (Balthasar, 1969, pp. 30-48).
23 outubro 2021
Sacerdotes também nós
Mas o fato de o Apóstolo falar de sacrifício vivo e de culto espiritual significa que também nós somos sacerdotes, daquele sacerdócio “real” conferido a todos os cristãos no Batismo.
De fato, Pedro exorta:
Também vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual, dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo. (1Pd 2,5).
E o Apocalipse diz dos cristãos: “serão sacerdotes de Deus e de Cristo” (20, 6).
Na verdade, cada cristão é sacerdote em Jesus, porque a unidade já foi restabelecida, o acesso a Deus não se reserva mais ao sumo sacerdote uma vez por ano, como no Antigo Testamento, mas a todos os batizados, que se tornaram “uma raça eleita, um sacerdócio real” (1Pd 2,9).
O culto que o Pai quer de nós é um culto espiritual (“sacrifícios espirituais”, diz Pedro), como Ele quis do próprio Jesus.
A oferenda consiste — segundo Paulo — em se transformar e se renovar na mente, “a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus” (Rm 12,2).
Discernir qual é a vontade de Deus para fazê-la.
Fazer aquela vontade de Deus, a que também o nosso Movimento dá tanto relevo, como expressão do nosso amor a Deus.
21 outubro 2021
A parte que nos cabe
Mas, para usufruir de tanta graça, o homem também deve fazer uma pequena parte. Antes de mais nada, deve aceitar na fé este dom de Deus, que lhe é transmitido no Batismo. Nele, fomos mortos e sepultados com Cristo. E, por ele, ressuscitaremos4.
Além disso, Deus nos deu também um corpo para que, por meio dele, lhe obedeçamos.
Uma obediência que significa cumprir a sua vontade, já que fomos santificados e transformados em irmãos de Jesus.
Daqui provém a nossa possibilidade de fazer também da nossa vida um sacrifício.
Paulo assim se expressava:
19 outubro 2021
Jesus Abandonado, mestre da unidade
No abandono, Jesus é mestre de unidade, da unidade divina.
O Estatuto do Movimento dos Focolares, documentando uma longa experiência de vida, diz que os membros da Obra,
… em seu empenho para atuar a unidade, amam com predileção — e procuram viver em si mesmos — Jesus crucificado que, no auge de sua paixão, ao gritar: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Mt 27,46), fez-se artífice e caminho da unidade dos homens com Deus e dos homens entre si.
17 outubro 2021
Jesus Abandonado, nosso irmão
No abandono, reduzindo-se Jesus, por assim dizer, a um simples homem, torna-se nosso irmão. Mas, sendo Deus, elevou a nossa convivência a uma fraternidade sobrenatural, fez-nos um com Ele: “Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17,23).
Pois, tanto o Santificador quanto os santificados, todos, descendem de um só; razão porque não se envergonha de os chamar irmãos. (Hb 2,11)
Também nós notamos muitas vezes que Jesus, após a ressurreição, chamava os seus discípulos de irmãos.
“Não temais! Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galiléia” (Mt 28,10).
#ChiaraLubich
15 outubro 2021
Jesus Abandonado, o Redentor
No abandono, Jesus é a figura mais autêntica, mais genuína, mais plena, mais expressa do Redentor. Aqui a redenção tem o seu ápice.
Diz Pasquale Foresi:
Jesus Abandonado é o símbolo, é o sinal, é a indicação precisa dessa redenção. Mesmo que a redenção se tenha processado em todas as dores espirituais e físicas de Jesus, a dor maior, a que simboliza toda a redenção, teve lugar no momento em que Ele sentiu a separação do Pai. Naquele instante Ele reuniu a humanidade ao Pai.
Portanto, pode-se ver em Jesus Abandonado a dor típica com a qual se consumou a redenção do gênero humano. (Foresi, 1988, pp. 56-57)
No Horto, Jesus se preparava para cumprir a redenção. A sua ressurreição é fruto de sua morte física, mas sobretudo espiritual.
13 outubro 2021
Assim nasce a Igreja
Tendo-nos gerado naquele grito, aqui nasce a Igreja, o povo novo.
Aqui é dado o Espírito Santo.
O Espírito Santo que, como Deus, unia Jesus ao Pai.
E, no abandono, se obscurece em Jesus o vínculo com o Pai.
Diz Chardon:
Sendo o Espírito Santo o verdadeiro Paráclito, isto é, o perfeito Consolador […], produz internamente na alma [de Jesus] uma cruz mais desastrosa [… do que aquela exterior] com a suspensão de suas maravilhosas consolações. (Chardon, 1895, pp. 262.264)
É o preço do dom que o Espírito Santo nos faz, como vínculo que une todos os homens com Jesus e entre eles, formando o Corpo Místico de Cristo, o Cristo total.
É no abandono que o sacrifício de Jesus manifesta todo o seu caráter interior, espiritual, divino.
Dissera Ele à samaritana que se aproximava a hora, e era aquela, em que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e verdade (cf. Jo 4,23).
11 outubro 2021
Jesus crucificado: o sacrifício
Mas, não seja Jesus visto na vida do cristão apenas como modelo a ser imitado.
Jesus crucificado é o sacrifício.
Como todos sabemos, no Antigo Testamento costumavam-se oferecer sacrifícios a Deus com o derramamento do sangue de animais. Eles tanto serviam para purificar os homens de seus pecados, como para uni-los à vontade de Deus.
No Antigo Testamento, o sangue era sinal de vida e a vida é sempre do agrado de Deus. Portanto, imolando-a — e o sangue era a expressão exterior desse ato — prestava-se culto a Deus.
Contudo, esses sacrifícios não passavam de uma sombra do que deveria ser o sacrifício no Novo Testamento (cf. Hb 10,1).
Eis, de fato, Jesus, o Cordeiro de Deus, que derrama o seu sangue, sim, uma vez para sempre, dando com isso a sua vida, porém segundo o que está escrito na Carta aos Hebreus:
Ao entrar no mundo, Ele afirmou: Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui, […] eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade. (Hb 10,5-7)
O sacrifício daquele corpo, do Homem-Deus, é fazer a vontade de Deus.
O sacrifício de Jesus, portanto, realiza e leva à perfeição o sentido mais profundo e interior dos sacrifícios do Antigo Testamento.
Na verdade, doando o seu sangue, apesar de divino, não faria ainda tudo o que estava na vontade do Pai.
Ele, que era Deus, era a Vida.
Portanto, devia morrer, de certo modo, também como Deus: derramar um sangue espiritual, divino, dar de si Deus em si 4
1 Cf. Is 53,7, segundo a Vulgata latina.
2 “Mas o mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos, partamos daqui!” (Jo 14,31).
3 “Tendo dito que Cristo é o caminho, e que para segui-lo é preciso morrer à mesma natureza tanto nas coisas sensíveis como nas espirituais, quero explicar agora como se realiza isto a exemplo de Cristo; porque é Ele nosso modelo e luz” (João da Cruz, 1996, p. 206).
4 “Deus não tem para si a sua divindade como um presa, como o ladrão agarra a bolsa, mas Ele se dá. A glória da sua divindade está no fato de que Ele pode ser ‘altruísta’” (Barth, 1969, pp. 174-175).
09 outubro 2021
Os santos e a cruz
Por estar muito próximo ainda da passagem de Jesus pela terra, Inácio, bispo de Antioquia, interpreta ao pé da letra as palavras “toma a tua cruz” no caminho para o martírio, e escreve aos Romanos:
Pedi para mim apenas a força interior e exterior, para que eu não só diga, mas queira ser cristão; não só seja chamado, mas de fato o seja. […] Então, quando o mundo não puder mais ver o meu corpo, serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo. […] É agora que começo a ser um verdadeiro discípulo. Que nenhuma coisa visível ou invisível me impeça de obter a posse de Jesus Cristo! Fogo, cruz, encontro com as feras, dilaceramentos, esquartejamentos, deslocamentos de ossos, mutilações dos membros, trituração de todo o corpo, os mais perversos suplícios do diabo caiam sobre mim, contanto que alcance a posse de Jesus Cristo. […] Ouvi, antes, o que agora vos escrevo, pois é na plenitude da vida que exprimo meu desejo ardente de morrer. Minhas paixões humanas foram crucificadas, não há em mim fogo para amar a matéria. Não há senão a “água viva” que murmura dentro de mim e me diz: “Vem para o Pai”. (Aos Romanos, 1985, pp. 22-23)
Os santos, que são os cristãos realizados, apreenderam o segredo, o valor da cruz.
A propósito, assim diz Grignion de Montfort:
A Sabedoria, enquanto espera o grande dia do seu triunfo no Juízo Final, quer a cruz como distintivo e arma de todos os eleitos. Com efeito, não acolhe filho algum que não a tenha como distintivo, nem recebe discípulo algum que não a traga na fronte, sem enrubescer; no coração, sem desgosto; e nos ombros, sem arrastá-la ou rejeitá-la […]. Não aceita soldado algum que não a empunhe como uma arma para defender-se e atacar, para desbaratar e esmagar todos os seus inimigos. Grita para eles: “Tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33) […]. Eu, o vosso chefe, venci o meus inimigos com a cruz, e vós também o fareis por meio deste sinal! (Grignion de Montfort, 1990, pp. 204-205)
#ChiaraLubich
07 outubro 2021
Jesus, modelo para os cristãos
Desde aquele tempo feliz em que Cristo viveu, morreu e ressuscitou, Ele tornou-se o Caminho, o modelo para cada um de nós.
Como Jesus, o cristão deve amar o Pai e, por isso, fazer a sua vontade, a Ele submeter-se. E a vontade de Deus para o cristão é que ele também chegue à glória, à felicidade, pelo caminho da cruz, como Jesus.
Ele mesmo é quem nos ensina como segui-lo. De fato, diz a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23).
Seguir Jesus é, antes de mais nada, uma renúncia. É o renunciar a si mesmo, que não queremos entender no mundo de hoje, na ilusão de existir um cristianismo sem dificuldades. Mas a doutrina de Jesus é clara e forte: não é de modo algum a falta de freios morais! Paulo diz:
“Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cupidez, que é idolatria” (Cl 3,5), porque aspirar às coisas ter-renas é conduzir-se como “inimigos da cruz de Cristo” (Fl 3,18).
Seguir Jesus quer dizer também tomar a própria cruz cada dia.
Jesus alude a cada dor de cada dia: que sejam aceitos todos os pequenos sofrimentos diários. Mas ao nos exortar a tomar a nossa cruz, deu sentido e valor também ao nosso padecer.
Lembro quão grande foi a minha impressão em Jerusalém, ao nos mostrarem no Calvário o furo onde foi plantada a cruz de Jesus. Joelhos por terra, aniquilada quase em adorador reconhecimento, só uma idéia me veio à mente: se não tivesse havido esta cruz, todas as nossas dores, as dores de todos os homens não teriam tido um nome.
Mas, “Cristo não mostra apenas a dignidade da dor”, diz Paulo VI. “Ele lança a vocação para a dor… convoca a dor (inclusive a nossa) para sair da sua desesperada inutilidade e, se unida à sua, tornar-se fonte positiva de bem” (Paulo VI, 1964, p. 212).
#ChiaraLubich
05 outubro 2021
JESUS CRUCIFICADO
Jesus crucificado!
O que dizer? Como falar d’Ele de modo apropriado?
É homem como nós, e sabemos disso. Mas é também Deus. E é amor. Veio entre nós por uma obra que a todos nós diz respeito, que toca cada um pessoalmente. Ele nos criou, no entanto arruinamos o dom que nos deu e que deturpamos continuamente. Com a vida, herdamos as lágrimas, o sofrimento e, ao final dela, a morte, a anulação aparente de tanta experiência feita.
Mas eis que Ele entende a situação dos homens, conhece as lamentáveis vicissitudes de sua história, tem compaixão deles e desce à terra, carregando sobre si tudo o que o homem devia suportar. “Deus não quer que o homem se perca” (cf. Jo 6,39) e o salva. Portanto, Jesus sofre e morre pelo homem.
Com o homem, conosco, e como nós morre e depois… ressurge.
“Era necessário” (cf. Mc 8,31), diz Jesus quando se aproxima a hora do padecimento. Mas era necessário o quê? E para quem?
Ele assumira ser necessário encarnar-se, sofrer e morrer por nós, porque é amor!
Eis a vocação extraordinária do Homem-Deus, totalmente diferente, o oposto daquela a que os homens em geral aspiram.
Veio para “dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28).
Tudo fora predisposto pelo Pai. Jesus se sujeita. Mas, como diz Isaías sobre o Servo do Senhor que se ofereceu porque quis1, Jesus quer a vontade do Pai. Ele a quer porque antes de tudo ama o Pai 2.
E a este amor o Pai corresponde com o seu poder e realiza um ato, que jamais realizara depois da Criação, isto é, a “Nova Criação”: a ressurreição.
Por meio dela, também o corpo de Jesus, “fraco” e passível de dor e de morte, transfigura-se, glorifica-se (cf. 2Cor 13,4), pronto para subir à direita do Pai.
Assim, o Homem-Deus abre a porta da Trindade para os homens redimidos.
#ChiaraLubich
03 outubro 2021
Palavra de Vida - Outubro de 2021
Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus». (Rm 8, 28)
A Palavra que queremos viver este mês é tirada da carta do apóstolo Paulo aos Romanos. É um texto longo e cheio de reflexões e ensinamentos. Foi escrito antes da sua viagem para Roma, em preparação da visita àquela comunidade que Paulo ainda não conhecia pessoalmente.
O capítulo oitavo, de modo particular, põe em evidência a vida nova segundo o Espírito e a promessa da vida eterna para os indivíduos, os povos e todo o universo.
Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus.
Cada palavra desta frase é densa de significado.
Paulo proclama, acima de tudo, que, como cristãos, conhecemos o amor de Deus e estamos conscientes que cada experiência humana faz parte do grande projeto de salvação que Deus tem para nós.
Tudo – diz Paulo – concorre para a realização desse projeto: os sofrimentos, as perseguições, os fracassos e fragilidades pessoais, mas sobretudo a ação do Espírito de Deus no coração das pessoas que o acolhem.
O Espírito recolhe e faz seus os gemidos da humanidade e da Criação (1), e esta é a garantia da realização do projeto de Deus.
Da nossa parte, é preciso responder ativamente a este amor com o nosso amor, confiando-nos ao Pai em todas as necessidades e dando testemunho da esperança nos novos Céus e na nova Terra (2) que Ele prepara para aqueles que colocam n’Ele a sua confiança.
Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus.
Como acolher, então, na nossa vida pessoal, quotidiana, esta proposta tão forte?
Chiara Lubich sugere-nos: “Antes de tudo, nunca nos devemos deter na aparência puramente exterior, material, profana das coisas, mas acreditar que cada acontecimento é uma mensagem de Deus para nos exprimir o seu amor. Veremos, então, como a vida – que nos pode parecer semelhante a um tecido visto à lupa, do qual vemos apenas uns nós e fios confusamente entrelaçados – é uma realidade bem diferente: é o desígnio maravilhoso que o amor de Deus vai tecendo, com base na nossa fé. Em segundo lugar, devemos, em cada momento, entregar-nos de forma total e confiante a este amor, tanto nas pequenas como nas grandes coisas. Melhor ainda: se soubermos entregar-nos ao amor de Deus nas circunstâncias comuns da vida, Ele dar-nos-á as forças necessárias para confiarmos n’Ele também nos momentos mais difíceis, como podem ser uma grande provação, uma doença ou o próprio momento da nossa morte. Experimentemos, então, viver desta forma. Não por interesse – isto é, para que Deus nos manifeste os seus planos e nos console – mas unicamente por amor. Vivendo assim, veremos como esta entrega confiante é fonte de luz e de paz infinita, para nós e para muitos outros” (3).
Confiar-se a Deus nas escolhas difíceis, como no caso que nos contou a O. L. da Guatemala: «Trabalhava como cozinheira num lar. Passando pelo corredor, ouvi uma velhinha a pedir água. Arriscando infringir as normas que me proibiam de sair da cozinha, levei-lhe com afeto um copo de água. Os olhos daquela idosa iluminaram-se. Depois de ter bebido metade do copo, apertou-me a mão: “Fica comigo dez minutos”. Expliquei-lhe que não devia, que arriscava ser despedida. Mas aquele olhar… Fiquei. Ela pediu-me para rezar com ela: “Pai nosso…”. E, por fim: “Canta alguma coisa, por favor”. Veio-me ao pensamento: “Não levaremos nada connosco, somente o amor…”. Os outros utentes olhavam para nós. A senhora estava feliz e disse-me: “Deus te abençoe, minha filha”. Pouco depois apagou-se. De qualquer forma, fui despedida por ter saído da cozinha. A minha família está longe e até precisa do meu apoio, mas eu estou em paz e feliz: respondi a Deus e aquela senhora não fez sozinha a passagem mais importante da sua vida».
Letizia Magri
1) Cf. Rm 8, 22-27.
2) Cf. Ap 21,1.
3) C. Lubich, Palavra de Vida de agosto de 1984, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 299.