Mas, não seja Jesus visto na vida do cristão apenas como modelo a ser imitado.
Jesus crucificado é o sacrifício.
Como todos sabemos, no Antigo Testamento costumavam-se oferecer sacrifícios a Deus com o derramamento do sangue de animais. Eles tanto serviam para purificar os homens de seus pecados, como para uni-los à vontade de Deus.
No Antigo Testamento, o sangue era sinal de vida e a vida é sempre do agrado de Deus. Portanto, imolando-a — e o sangue era a expressão exterior desse ato — prestava-se culto a Deus.
Contudo, esses sacrifícios não passavam de uma sombra do que deveria ser o sacrifício no Novo Testamento (cf. Hb 10,1).
Eis, de fato, Jesus, o Cordeiro de Deus, que derrama o seu sangue, sim, uma vez para sempre, dando com isso a sua vida, porém segundo o que está escrito na Carta aos Hebreus:
Ao entrar no mundo, Ele afirmou: Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui, […] eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade. (Hb 10,5-7)
O sacrifício daquele corpo, do Homem-Deus, é fazer a vontade de Deus.
O sacrifício de Jesus, portanto, realiza e leva à perfeição o sentido mais profundo e interior dos sacrifícios do Antigo Testamento.
Na verdade, doando o seu sangue, apesar de divino, não faria ainda tudo o que estava na vontade do Pai.
Ele, que era Deus, era a Vida.
Portanto, devia morrer, de certo modo, também como Deus: derramar um sangue espiritual, divino, dar de si Deus em si 4
1 Cf. Is 53,7, segundo a Vulgata latina.
2 “Mas o mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos, partamos daqui!” (Jo 14,31).
3 “Tendo dito que Cristo é o caminho, e que para segui-lo é preciso morrer à mesma natureza tanto nas coisas sensíveis como nas espirituais, quero explicar agora como se realiza isto a exemplo de Cristo; porque é Ele nosso modelo e luz” (João da Cruz, 1996, p. 206).
4 “Deus não tem para si a sua divindade como um presa, como o ladrão agarra a bolsa, mas Ele se dá. A glória da sua divindade está no fato de que Ele pode ser ‘altruísta’” (Barth, 1969, pp. 174-175).
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