15 julho 2017

A vocação - Chiara Lubich aos jovens


Caríssimos todos e, de modo especial, queridas e queridos jovens! Estamos aqui reunidos nesta maravilhosa Casa de Deus para uma jornada de reflexão sobre um assunto que nos diz respeito a todos: a vocação.
            Eu também estou aqui para tratar convosco este tema tão importante, com o desejo de comunicar-vos alguma idéia nova.
            A vocação. Mas o que significa esta palavra?
            Num sentido lato, a vocação pode ser definida por: a inclinação para uma função, uma determinada profissão, uma missão ou qualquer coisa que uma pessoa se sente chamada a exercer para o bem comum[1]. “Quero ser médico, arquiteto, enfermeiro, juiz, professor, político, jornalista, etc., para ser útil à sociedade”.
            No campo religioso, por sua vez, a vocação significa: o chamamento que Deus dirige - por uma sua iniciativa de amor (porque ama) - a uma pessoa ou a um povo para o tornar partícipe da Sua vida e confiar-lhe uma missão por vezes especial mas que se insere sempre num horizonte amplo que é transformar a humanidade em família de Deus.
            Para explicar melhor: Deus é Amor e demonstra esta sua qualidade ao chamar (a palavra "vocação" vem do verbo "vocare" em latim, que significa "chamar") uma pessoa ou um povo a partilhar com Ele a sua vida (perfeita) e a desempenhar um papel específico, particular, que visa - todavia - a grande missão de Jesus: fazer de todo o mundo uma única família.
            A vocação é, pois, um chamado e, como tal, aguarda uma resposta.
            Todos ouvimos falar de muitos chamados, feitos por Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Chamados esses, a que foi dada a resposta: a de Abraão, por exemplo; ou de Moisés, dos 12 Apóstolos, de São Paulo...
            Também sabemos reconhecer chamados ainda hoje presentes na Igreja de Deus, como a vocação ao sacerdócio, ou a uma vida religiosa, ou a dar-se totalmente a Deus, através dos Movimentos eclesiais modernos, na virgindade ou no matrimonio.

O Chamado

Hoje pediram-me para refletir sobre uma vocação especial, que é a minha.
Como podem intuir, não é fácil falar em público de certas coisas, mas vou fazê-lo com simplicidade, esperando que vocês gostem, e unicamente para dar glória a Deus.
Para a descrever, tenho de recordar o período em que ela se manifestou.
            Como todas as vocações, a minha também é a vocação de uma pessoa convidada, primeiro, a partilhar com Deus a sua vida, no esforço de me aperfeiçoar (“Sedes perfeitos”, disse Jesus); e, depois, a colaborar para fazer da humanidade uma única família.
            No princípio eu não sabia absolutamente nada do que me haveria de acontecer na vida, nem tinha projeto algum.
            De fato é Deus que chama; é Ele que escolhe, como disse: “Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). E fez assim também comigo. Embora eu fosse fraca e frágil como muitas como todas as jovens daquele tempo, Deus foi atuando o seu plano pouco a pouco.
Mas ainda antes que Ele me chamasse, a minha vida tinha-se constelado de muitos pequenos episódios, que eram provavelmente sinais de um chamado de Deus.
Vou contá-los, porque tenho a certeza de que também todos vocês tiveram fatos belos na vossa vida, ainda  crianças... Uma pequena inspiração, uma idéia, uma intuição, uma boa leitura, uma palavra de alguém querido, que era diferente da rotina da vida quotidiana. Por isso queria convidar-vos (depois de os contar) a refletir e ver também vocês como Jesus vos amou. Tenho a certeza de que é assim.
            Eu ainda era pequena (tinha seis ou sete anos) e, com algumas religiosas, ia fazer a adoração ao Santíssimo Sacramento. Eu sentia-me impelida a fixar a Hóstia Santa e a dizer-lhe: “Dá-me a tua luz! Dá-me o teu amor!”. E recordo que era tão forte este desejo do seu amor que eu não tirava os olhos da Hóstia Santa, até que a certa altura eu via a hóstia toda escura e todo o resto à volta, branco. Eu não sabia que, depois, na minha vida o Senhor me iria dar luz e amor, que inundaram o meu coração e o de muitas outras pessoas.
            Este foi um pequeno episódio, um pequeno sintoma. Depois houve outros e cheguei aos 18 anos.
            Eu gostava muito de filosofia, mas tinha um desejo, quase uma santa curiosidade: eu queria conhecer Deus. Quem será? Como será? Que terá a ver comigo? Que terá a ver com os outros? Que terá a ver com a história? Eu dizia: a única coisa a fazer é freqüentar a Universidade. Vou à procura de uma Universidade Católica, esperando que me ensinem alguma coisa. Mas a situação financeira da minha família não me permitiu entrar nessa universidade. Recordo que eu estava num quarto, com a minha mãe, e me pus a chorar, desconsolada. Eu pensava: “Nunca poderei conhecer Deus; nunca o poderei conhecer!” A minha mãe tentava consolar-me, mas era inútil. Até que no fundo do coração tive a impressão de ouvir Alguém que me dizia: “Vou ser Eu o teu Mestre”.
            Depois, alguns anos depois: cinco ou seis anos depois, quando Deus mandou este carisma ao mundo, percebi que Ele me começava a instruir acerca das coisas de Deus.
            Chegaram os 19 anos e fui convidada, com outras estudantes, a ir a uma cidade, que se chama Loreto, e fica no centro da Itália. Diz-se que a casa de Nossa Senhora, de São José e do Menino Jesus foi transportada para ali – dizem – durante as cruzadas. Fica dentro de uma igreja que parece uma fortaleza.
Eu escapava do curso de estudantes católicas e corria sempre para aquela "casinha". Estava toda enegrecida pelas velas. E ali, coisa estranha! logo que me ajoelhava, assim, sentia-me esmagada por uma coisa muito forte, como pelo divino. E chorava. Eu dizia: “O Menino Jesus talvez tenha atravessado este quarto; Nossa Senhora talvez tenha cantado neste lugar e estas paredes terão ouvido a sua voz. São José talvez tenha posto estas traves...”. E quanto mais pensava nisso, mais me sentia invadida por uma profunda comoção.
Foi ali que percebi pela primeira vez qual era a minha estrada. Compreendi que estava a nascer na Igreja uma estrada nova de consagração a Deus, para as jovens e para os rapazes, para casais, para sacerdotes. E o que seria essa estrada? Uma repetição da Sagrada Família de Nazaré, onde no meio de dois virgens vivia Jesus.
Essa é a vocação ao focolare: virgens, moças ou rapazes, ou sacerdotes, com Cristo no meio deles, pois Ele disse: “Onde dois ou mais estão unidos no meu nome, eu estou no meio deles”.
            Eu voltava sempre àquela casinha, sempre que podia!
            No último dia eu estava no fundo da igreja e percebi, não sei como, que me haveria de seguir uma multidão de virgens.
            Passemos a outro episódio, sempre nesse ano.
            Fazia muito frio em Trento. Na nossa família éramos: três irmãs, um irmão, a mãe e o pai. Era preciso ir comprar leite a uma localidade que ficava longe, a mais de um quilometro, com aquele frio!... A minha mãe nunca me dizia para fazer estas coisas, porque queria que eu estudasse. Então disse à minha irmã: “Podes ir tu?”. “Ah, mãe, tenho tanto frio!”. Disse à outra: “Vais tu?”. Ela também tinha frio. Então eu, feliz por poder fazer um ato de amor (recordem este detalhe: um ato de amor!), disse: “Vou eu, mãezinha!”. E saio com a garrafa vazia, para ir comprar o leite.
Quando chego a meio do caminho, paro, com a impressão... Eu não via com estes olhos. Era como uma impressão da alma: como se o Céu se abrisse e uma voz me dissesse: “Dá-te toda a mim!”.
            Depois, falei com o meu confessor, que me deixou logo ser totalmente de Jesus.
Entretanto eu conhecia algumas amigas. Logicamente eu tinha uma tamanha alegria, que não a conseguia conter e contei-lhes tudo e elas decidiram: “Nós queremos ir contigo, Chiara”. Eram as primeiras da multidão de virgens.
  
A resposta

            Podem imaginar o que aconteceu dentro de mim quando, naquela manhã, às seis horas, na igreja, sozinha me consagrei a Deus, mediante um sacerdote, logicamente. Eu tinha uma única idéia: “Desposei Deus! Desposei Deus! Espero tudo dele nesta vida!”.
            Decorria a Segunda Guerra Mundial. Um dia houve um bombardeamento [bombardeio] terrível sobre Trento. A minha casa foi atingida e, com os meus pais, fugimos para um bosque.
            Estávamos ali, estendidos no chão, ao relento, enquanto ao longe se viam as chamas. Recordo apenas uma coisa daquela noite. Recordo que tinha entendido que, na madrugada seguinte, eu teria de fugir com a minha família para a montanha, mas eu já não o podia fazer. As minhas companheiras significavam uma coisa importante para mim. Eu compreendia que Deus tinha começado uma obra sua. E ali, olhando para o céu, recordo duas únicas palavras: estrelas, que vi percorrer todo o firmamento de noite. Nunca tinha visto. E lágrimas, ao pensar que teria de deixar a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos, eu, que era naquele momento a única que os ajudava financeiramente.
            Então eu rezava e dizia: “Diz-me a tua vontade”. Deus fez-se um comigo e repetiu-me uma frase que eu aprendera no liceu. Em italiano significa: “O amor vence tudo!”. Em latim era: “Omnia vincit amor”.
“Como?”, disse. “Deve vencer também isto?” Percebi que era mesmo assim.
            Voltamos a casa, que estava toda em ruínas, e o meu pai deu-me a sua bênção.
            Depois encaminhei-me para a cidade, toda destruída: com as árvores arrancadas, o hospital todo em ruínas... e, por entre os escombros, fui à procura das minhas companheiras: estavam todas salvas.
            Então procuramos um pequeno apartamento, onde morar. Nós não sabíamos, mas era o primeiro focolare.
            Logicamente a guerra continuava. Tínhamos de correr para os abrigos e não podíamos levar nada conosco, porque não havia tempo. Mas eu levava comigo apenas um Evangelho pequeno e abríamo-lo... Por uma luz especial aquelas palavras, que tínhamos ouvido tantas vezes, pareceram-me novas, revolucionárias, únicas, universais, feitas para toda a gente, eternas: para todos os tempos. Começamos a ler.
            Outra coisa que tínhamos era a força de as pôr em prática. Líamos: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19, 19). Mas quem é o próximo. Ah, sim! É aquela velhinha que mal consegue chegar ao abrigo. Vamos ajudá-la. Ah, sim. É aquela senhora com cinco filhos, que não sabe como levá-los a todos para o abrigo. Vamos levá-los ao colo. Ah, sim. É aquele doente, nosso vizinho, que não pode escapar para o abrigo. Vamos ter com ele, levar-lhe os remédios, tratar dele.
            Líamos: “Cada vez que tiverdes feito estas coisas..., a Mim o fizestes” (Mt 25, 40). Mas como? Jesus considera feito a ele o que fizermos aos outros?
            Por causa da guerra, havia pessoas feridas; sem roupa, nem casa; com fome e sede... Então cozinhávamos panelões de sopa e íamos distribuí-la. Juntávamos tudo o que tínhamos.
Líamos: “Pedi e ser-vos-á dado” (Mt 7, 7; Lc 11, 9).
            Conto-vos o primeiro episódio, que já deu a volta ao mundo, pelo menos do nosso mundo, do Movimento.
            Encontro um pobre, que me diz: “Dá-me um par de sapatos nº 42”. Eu penso: “Onde é que posso achar um par de sapatos? Para mais, nº 42!”. Entro numa igreja e digo a Jesus no sacrário: “Dá-me um par de sapatos nº 42 para ti, naquele pobre”. Saio da igreja e passa uma jovem com um embrulho na mão. Entrega-me. Digo: “O que é?”. Abro-o: era um par de sapatos nº 42. Então é verdade!...
            Então a nossa mentalidade começa a mudar. Vemos que o que Jesus promete, se realiza. O que Ele diz é verdade!
Naturalmente destes episódios no Movimento, que tem 55 anos, aconteceram aos milhões, em todos os pontos da terra.
            Líamos ainda: “Dai e dar-se-vos-á” (Lc 6, 38)/.
            Uma manhã, tínhamos em casa algumas maçãs, umas três ou quatro. “Dai!”. Então, ao primeiro pobre que bateu à porta: “Toma estas maçãs”. Fechamos a porta. Durante a manhã um senhor oferece-nos um saquinho de maçãs. Mas vêm outros pobres; tinham fome e nós só tínhamos as maçãs. “Dai e dar-se-vos-á”. Damos o saquinho de maçãs e ainda no mesmo dia, à tardinha, vemos chegar o pai de uma de nós com uma mala cheia de maçãs... O Evangelho era verdadeiro! Jesus mantinha ainda hoje as suas promessas.
            Logicamente, nós ficávamos tão contentes, tão cheias de entusiasmo, que contávamos a todas as pessoas que encontrávamos nos abrigos ou lá fora estas experiências formidáveis, que iam passando de boca em boca. E dizíamos: “Se os Apóstolos gritavam: "Cristo ressuscitou!", nós podemos dizer que Cristo está vivo!”. E, quando o encontravam uma vez, nunca mais o podiam esquecer.
            Em todo o caso estávamos sempre diante da morte; podíamos morrer de um momento para outro.
            Então uma de nós pensou: “Haverá uma Palavra do Evangelho que agrade de modo especial a Jesus? Gostaríamos de a viver, pelo menos nos últimos momentos que temos de vida”.
            O Evangelho respondeu-nos: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.” (Jo 15, 12)./
            Então nós, éramos seis ou sete jovens, pusemo-nos em círculo e dissemos umas às outras: “Eu estou disposta a morrer por ti”; “Eu estou disposta a morrer por ti”; “Eu estou disposta a morrer por ti”. Todas por cada uma.
            Logicamente Jesus não nos pediu um amor assim tão grande, a ponto de morrer, mas pedia-nos outras coisas, pequenas ou grandes. Não sei. Recordo que eu tinha dois casacos. Dei um deles, porque era suficiente um. Tinha luvas; dei-as a quem serviam. O mesmo faziam as outras. Púnhamos em comum os bens materiais e os bens espirituais.

            Isto para vos dizer em que contexto nasceu a minha vocação. Foi assim que tudo começou e depois continuou por 55 anos. E Deus formou uma obra grande! Temos de o dizer para a sua glória! Atualmente está difundida por todo o mundo, em 182 nações e tem milhões de aderentes.
            Quando o Santo Padre me vê, diz-me: “Vocês são um povo!”. Então, consoante o número, compara-nos com o Líbano, ou com outras nações.
            Agora o Santo Padre menciona o Movimento dos Focolares como uma das expressões significativas do aspecto carismático da Igreja. E, como nós, muitas outras pessoas aqui presentes, que fazem parte de outros maravilhosos movimentos eclesiais.

Queridas e queridos jovens, e todos os que estão aqui, este foi o princípio da minha história, da minha vocação. Mas, como sabemos, Deus chama de muitas maneiras.
Chama muitas pessoas a exercer funções e missões especiais: por exemplo chama jovens (como acenamos) à sublime vocação do sacerdócio, a ser outros Cristo; chama homens e mulheres a fazer parte dos diversos canteiros floridos da Igreja, que são as Famílias Religiosas, para enriquecer constantemente a Esposa de Cristo com o perfume das mais esplêndidas virtudes.
            Chama homens e mulheres, membros dos Movimentos eclesiais atuais, a dar-se a Deus individual e comunitariamente, ou a compor famílias exemplares, quais pequenas Igrejas.
            Recordem: Ele chama a qualquer idade. Chama também as crianças, também os mais pequeninos; chama em todos os pontos da terra.
            Mas como se faz para descobrir a própria vocação?
            Por experiência devo dizer-vos que geralmente é necessária uma disposição particular. Dado que o chamamento de Deus é um ato de amor da sua parte, quando Ele encontra amor nas almas, sente-se mais livre de chamar. Então: o que é preciso fazer para ouvir a voz de Deus? É preciso amar, mas com o verdadeiro amor. Se assim fizermos, facilitamos o papel de Deus.
            E, quem já conhece a sua vocação, encontrará no amor o modo melhor para a realizar.
            Mas, como vos dizia, é necessário o verdadeiro amor. Falei dele há dois dias em Aachem, mas queria repetir, porque é tão importante o amor verdadeiro, que, se o vivermos, desencadeamos no mundo uma revolução, que é a revolução cristã.
            O verdadeiro amor tem quatro qualidades: ama a todos, porque Jesus morreu por todos; Maria é mãe de todos.
Portanto um amor verdadeiro não está ali a ver se um é simpático ou antipático, jovem ou velho, branco ou preto, alemão ou italiano, de uma religião ou de outra; amigo ou inimigo. O verdadeiro amor ama a todos. Experimentem vivê-lo. Experimentem! As pessoas estão habituadas a amar os amigos, os pais, os parentes; tudo coisas ótimas. Mas amamos realmente todas as pessoas? Experimentem! Experimentem! É a revolução. Porque os outros não percebem e perguntam daí a pouco: “Por que fazes assim? Por que gostas de mim? Por que me deste a caneta? Por que me passaste aquele texto? Porquê?”.
            “Porque quero amar a todos”. Então começa o diálogo entre nós, católicos, com os outros de outras Igrejas, ou de outras religiões. Começa um diálogo, porque desperta o interesse nas outras pessoas. Portanto vocês, jovens, sobretudo, recordem que o primeiro ponto do verdadeiro amor é amar a todos.
Segundo ponto: ser os primeiros a amar. Quando Jesus veio à terra, nós não O amávamos; éramos todos pecadores. Ele amou-nos primeiro. Temos de ir ter com todos sem esperar que nos amem. Amar porque nos amam: não! Temos de ser os primeiros a amar!/ Este é aquele amor que o Espírito Santo derramou no nosso coração; é o mesmo amor que existe na Santíssima Trindade, de que participamos, mas que temos de pôr em prática.
Depois é preciso (como daquela vez que na igreja pedi os sapatos nº 42)... ver Jesus em todos, porque ele disse: “No juízo final o exame será este: "A mim o fizestes". O que fizermos de bom e o que fizermos de mau, infelizmente.”
Amar a todos, ser os primeiros a amar. Terceira coisa: ver Jesus no próximo.
            Mas não deve ser um amor platônico, sentimental. É um amor concreto e, para isso, é preciso – como diz São Paulo - “fazer-se tudo para todos”, fazer-se um com quem sofre, com quem está contente, e partilhar alegrias, dores, dificuldades. Partilhar.
            Então: amar a todos, ser os primeiros a amar, ver Jesus e, depois, amar concretamente. Isto é o que podemos fazer nós: encher o nosso coração do verdadeiro amor. O chamamento é a parte dele, não a nossa; é dever dele.

            Houve em Roma recentemente um congresso de criancinhas. Eram muitas. Depois voltaram para casa. Tinham aprendido a amar segundo aquilo a que chamamos "a arte de amar", que se encontra no Novo Testamento.
Alexandra, uma menina, chega a casa na Venezuela e a mãe pergunta-lhe: “O que fizeste?”, “Muitas coisas, mãezinha. Porém, sabes? Quando eu tinha de falar, não consegui, porque dentro de mim uma voz disse-me alto: "Dá-me a tua vida"”. Era o chamado.
            Nós ficamos admiradas com o fato de um chamado de uma criança tão pequena. Falamos com muitas outras. Naquele congresso 37 crianças tinham sido chamadas ou com estas palavras ou no silêncio, mas perceberam que Alguém as chamava.
            E isso porquê? Porque Alexandra e as suas amigas tinham amado.

            Caríssimos jovens, Deus não deixa de chamar, sobretudo se amarmos. Cabe a nós responder e compor, com a nossa vida, o maravilhoso e divino desenho que Deus previu para cada um de nós em vista do bem de todos.

            Terminei o meu discurso, mas permitam-me ainda uma palavra.
            Sabem o que significa colocar Deus no primeiro lugar? Quer Ele nos chame a consagrar-nos a Ele, quer nos chame a formar uma bela família? Colocar Deus acima de tudo na vida significa encontrar já aqui na terra a felicidade. E é o que desejo a todos vocês!
            Aspirem às coisas do alto! Temos uma vida só! Não se repete: convém usá-la bem. 


Obrigada!

14 julho 2017

A “Via Mariae”: em cada etapa um dom de Deus

“A Via Mariae é mais resultado da ação de Maria em nossa alma ou fruto do nosso próprio esforço?”

Algumas vezes se pensa que somos nós a fazer a ‘Via Mariae’, isto é, se pensa que é possível dizer: “Agora vou começar a viver este ponto, ou aquele outro ponto”. 
Não é assim . Em cada sua etapa, a ‘Via Mariae’ é um dom de Deus. É ele, que naquele determinado momento da nossa vida, nos faz estar em determinada etapa. Naturalmente em proporção à nossa correspondência; mas é um dom de Deus. Nós não podemos, por exemplo, dizer: “Agora quero viver a Desolada. O que devo fazer para isso?” Deus nos coloca no estado de ‘Desolada’ e nos faz viver assim. E um dom seu.
Entenderemos logo isso se, por exemplo, pensarmos na etapa da anunciação. O encontro com o Ideal não foi um fruto nosso, foi um dom de Deus. E assim todas as outras etapas.
Comunicar as nossas experiências aos outros é, sem dúvida, fruto da nossa correspondência, mas fazer ver o fio de ouro que liga a vida — fato pelo qual a experiência que contamos não são apenas palavras, mas algo vivo que produz efeito nas pessoas — é um dom de Deus.
Em resumo, é Deus quem nos coloca nesta ou naquela etapa, não somos nós, não podemos fazê-lo.
Aquilo que devemos fazer é viver o Ideal. De fato, mediante esta espiritualidade subimos de degrau em degrau através das etapas da ‘Via Mariae’. Portanto, vivemos a espiritualidade e não tanto a ‘Via Mariae’: é Deus quem nos coloca naquela determinada etapa, pouco a pouco, à medida em que vivemos o Ideal.

E quanto mais intensamente o vivermos, mais rapidamente estaremos nas etapas seguintes.

13 julho 2017

Carta de Chiara - Conclusão

E hoje, em sintonia com a nova vontade de Deus que nos foi expressa pela Igreja na pessoa do Papa João Paulo II na véspera de Pentecostes 1998, na Praça de São Pedro, eu digo: alarguem este espírito de família a todos os Movimentos e Comunidades eclesiais existentes; ofereçam o amor de vocês a todas as famílias religiosas que conosco representam o aspecto carismático da Igreja; não hesitem em oferecê-lo generosamente a Cristo que vive em todos aqueles que representam o seu aspecto institucional, para que a “Igreja-comunhão” seja uma realidade no Terceiro Milênio. E não esqueçamos aqueles que estão fora da Igreja, no mundo, pelo qual Jesus se encarnou e que nós somos chamados a incendiar.
O carisma da unidade do Movimento sempre nos orientou, a propósito de todos os aspectos da nossa vida, a pensar — por modo de dizer — em grande estilo. Isto é, a considerar, por exemplo, a saúde não só física, mas também espiritual, não só pessoal mas também coletiva.
De fato, nós ligamos a este assunto realidades espirituais como a presença de Jesus em meio e a Santíssima Eucaristia.
Jesus em meio, porque a perfeita saúde da nossa alma depende da sua presença entre nós. A nossa típica espiritualidade exige que se alcance a saúde espiritual em companhia. Como homens e cristãos somos o que devemos ser só estando em relação com os outros. É a inter-relação, o amor ao próximo que nos faz ser plenamente nós mesmos, ou seja, outro Jesus. Por isso, para podermos dizer que somos sadios espiritualmente e completos, perfeitos, realizados, na plenitude da alegria, devemos amar os irmãos até fazer com que Jesus esteja entre nós.
Unimos este aspecto também à Santíssima Eucaristia não só porque é causa da nossa ressurreição, na qual veremos aperfeiçoada e perpetuada a saúde espiritual e física, mas também porque é por ela, pela Eucaristia, que nos tornamos concorpóreos e consangüíneos com Cristo; é ela que nos transforma no Cristo que recebemos, que nos faz ser Cristo e é assim a nossa saúde espiritual.
Comecemos, então, o novo ano Ideal em todo o Movimento cuidando com atenção da saúde física e espiritual nossa e de todos, para a glória de Deus e para o

bem de muitos.

12 julho 2017

TENDE CORAGEM: EU VENCI O MUNDO!

Não é preciso ir muito longe para encontrar remédio e solução para as fumaças que contaminam a atmosfera do mundo. O Evangelho é a saúde eterna e quem, em nome dele e por ele, até morre, desaparecendo, mesmo em nossos dias, talvez ignorado por todos, vive.

Esse, porque amou e perdoou, defendeu e não cedeu, é um vitorioso e, como tal, é acolhido nos páramos eternos.

Mas o Evangelho não há de ser apenas a regra da nossa morte; deve ser o pão cotidiano da nossa vida.

Passando pelas ruas de cidades tradicionalmente católicas, muitas vezes vem a tentação de duvidar da fé das pessoas. Afinal, nós sabemos quantos, também na nossa Itália católica(1), perderam o senso de Deus. E isto se vê, se sente, se sabe; e o cinema e o teatro, a televisão e a moda, a pintura e a música e os jornais o atestam.

Às vezes, certas situações nos deixam estarrecidos e uma sensação de desânimo nos assalta, vendo adultos e inocentes imersos num mundo tão pouco cristão... É quando a fé – se ainda vive em nosso coração – nos sugere uma palavra de Jesus, daquelas eternas. E, atônitos, ficamos convictos e iluminados. Certos, sobretudo, de que aquela sua palavra tem a atualidade de sempre. E nasce no coração a esperança de que, nutrindo-nos dela, não só o nosso espírito encontrará defesa ao ataque contra o mal que nos circunda, pelo bem daqueles que amamos e desejamos ver salvos.

“Tende coragem: eu venci o mundo!”(Jo 16,33).

Quando o tédio, a apatia ou a revolta ameaçam enfraquecer a nossa alma no cumprimento da vontade divina, devemos ir além. Com Jesus é possível que o homem novo viva constantemente em nós, e as nuvens de fumaça do mundo que refreiam a nossa alma se dissiparão.

Quando a antipatia e ódio nos induzirem a julgar ou detestar um irmão nosso, deixemos Cristo viver em nós e, amando, não julgando, perdoando, venceremos.

Quando nos pesam na alma situações que há anos se arrastam na família, na comunidade de trabalho – pequenas ou grandes desconfianças, ciúmes, invejas, tiranias – devemos desempenhar a função de pacificadores e mediadores entre as partes adversárias e recompor a unidade entre os irmãos em nome de Jesus, que trouxe esta idéia à terra, como a verdade, pedra preciosa do seu Evangelho.

Se nos cerca um mundo, como o político ou social, calejado por paixões, por carreirismo, esvaziado de ideais, de justiças e de esperanças, não nos deixemos sufocar. Devemos confiar e não abandonar sobretudo o nosso posto e o nosso empenho: com Quem venceu a morte, pode-se esperar contra toda esperança.

  

(1) A Itália é um país tradicionalmente de grande maioria católica

11 julho 2017

UM AMOR QUE UNE CÉU E TERRA

Do diário 
      13 de dezembro de 1968


      Quando algum amigo nosso, ou parente, parte para a Eternidade, dizemos que “faltou”, consideramo-lo desaparecido.

      Mas não é assim. Se raciocinarmos deste modo, que tipo de cristãos somos? E onde está a fé na Comunhão dos Santos?

      Nenhum daqueles que entram no seio de Deus está perdido, porque, se alguma coisa tinha realmente valor no irmão, que agora teve a vida transformada, mas não tirada, essa era a caridade. Sim, porque tudo passa. Com a cena deste mundo, passam até as virtudes da fé e da esperança. A caridade permanece.

      Ora, o amor que nosso irmão nos dedicava, o amor verdadeiro porque radicado em Deus, esse amor perdura. E Deus não é tão pouco generoso conosco a ponto de nos tirar o que Ele mesmo nos havia dado.

      Agora, Ele no-lo dá de outra maneira. E aquele irmão, aqueles irmãos continuam a nos amar com uma caridade que agora não sofre mais altos e baixos, mas cresce. […]

      Não, nossos irmãos não estão desaparecidos. Eles estão do lado de lá, como se tivessem saído de casa para ir a outro lugar e, por isso, não os consideraremos desaparecidos.

      Eles estão na Pátria Celeste e, por meio de Deus em quem estão, podemos continuar amando-nos mutuamente, como o Evangelho nos ensina. Então, a Comunhão dos Santos será cada vez mais uma realidade e viver essa realidade da nossa fé haverá de preparar também a nós para o grande dia, com toda a simplicidade, pois quem possui Deus como único tesouro na vida não deve temer a morte: ela é apenas a porta para uma posse maior Dele.


10 julho 2017

Um amor que seja visto

      De uma conferência telefônica 
   Rocca di Papa, 11 de maio de 1989

      Há uma palavra que Deus com certeza repete constantemente a todos nós. […] É a palavra que pronunciou quando [o Movimento] nasceu; que dirigiu a todos nós quando nos chamou, um por um, para esta nova vida e que não cessa jamais de nos lembrar, porque é nela que encontramos a nossa identidade. É por ela, vivida, que o Movimento encontra e reencontra sempre sua verdadeira natureza.

      Essa palavra é “Amai-vos uns aos outros”.

      É a vocação de todo cristão, mas, poderíamos acrescentar, particularmente nossa.

      Nestes dias, as palavras que se diziam dos primeiros cristãos fizeram-me pensar: “Vejam como se amam e estão prontos a morrer um pelo outro” [Tertuliano, Apologético, 39,7].

      Portanto, via-se que cada um estava pronto a morrer pelo outro. Talvez isso dependesse do fato de que, naqueles tempos de perseguição, não era raro o caso de alguém se oferecer para morrer em lugar do outro. Resta, contudo, o fato de que se via entre os cristãos essa medida de se amarem.

      Geralmente, não se chega a exigir de nós a morte física. Mas, é preciso estarmos prontos. Cada ato de amor mútuo nosso deve fundamentar-se nisso.

      E então, o que fazer nestes dias? 

      Aumentemos a temperatura de nossa caridade mútua. Que até mesmo um simples sorriso nosso, ou um gesto, ou um ato de amor, ou uma palavra, ou um conselho, ou um elogio, ou uma correção na devida hora, dirigidos aos irmãos, revelem a nossa prontidão em morrer por eles. Que se veja o nosso amor, não por vaidade, certamente, mas para nos garantir a arma poderosa do testemunho.

09 julho 2017

Uma lei impressa em cada coração

“Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7,12).

Amemos assim cada próximo que encontramos no correr do dia.
Imaginemos estar na sua situação e tratemo-lo como gostaríamos de ser
tratados em seu lugar.
A voz de Deus que mora dentro de nós haverá de nos sugerir a expressão de amor adequada a cada circunstância.
Ele está com fome? Estou com fome eu — pensemos. E demos a ele de comer.

Sofre injustiça? Sou eu que a sofro!

Está nas trevas e na dúvida? Sou eu que estou. E lhe digamos palavras de conforto, e dividamos com ele suas angústias, e não nos demos sossego enquanto ele não se sentir iluminado e aliviado. Nós quereríamos ser tratados assim.
É um portador de deficiência física? Quero amá-lo até quase sentir em meu corpo e em meu coração a sua deficiência, e o amor haverá de me sugerir o recurso certo para fazer que se sinta igual aos outros, aliás, com uma graça a mais, pois nós cristãos sabemos o valor do sofrimento.

E assim com todos, sem discriminação alguma.


08 julho 2017

Um só é bom


            “Seja feita a vontade de Deus” é uma expressão que, na maior parte dos casos, os cristãos proferem nos momentos de dor, quando não há mais o que fazer e, diante do inevitável fracasso de tudo o que se pensava, se almejava e se queria, vindo à tona a fé, se aceita o que Deus estabeleceu. Mas, não é só assim que deve ser feita a vontade de Deus. No cristianismo, não existe apenas a
“resignação cristã”.
A vida do cristão é um fato que tem raízes no Céu, além de tê-las na terra.
Por sua fé, o cristão pode e deve estar sempre em contato com Alguém que conhece a sua vida e o seu destino. E este Alguém não é desta terra, mas de outro mundo; e não é um juiz desapiedado ou um soberano absoluto, que só exige o serviço. É um Pai. Alguém portanto, que é Pai porque está em relação com outros, neste caso com filhos, filhos adotados pelo Único Filho que com ele habita por toda a eternidade.
Portanto, a vida do cristão não é nem pode ser determinada somente pela sua vontade e pelas suas previsões. Infelizmente, muitos cristãos acordam pela manhã na melancolia do tédio, que o dia que desperta trará.
Lamentam-se de muitas coisas passadas, futuras e presentes, porque são eles que traçam o programa de sua vida. E este desígnio, fruto da inteligência humana e de previsões mesquinhas, não pode satisfazer plenamente o homem, ávido de infinito. Eles se substituem a Deus, ao menos no que lhes diz respeito e, como o filho pródigo, uma vez tomada à parte que lhes cabe, desperdiçam-na como querem, sem o conselho do pai, sem a integração na família.
Muito freqüentemente nós, cristãos, somos cegos que abdicamos da nossa dignidade sobrenatural, porque repetimos de fato no Pai-Nosso, quem sabe todos os dias: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”; mas não entendemos o que dizemos, nem fazemos, nós ao menos, o que imploramos.
Deus sabe e conhece o caminho que deveríamos trilhar em cada instante de nossa vida. Para cada um ele fixou uma órbita celeste em que o astro de nossa liberdade deveria girar, se ele se abandonasse a quem criou o astro.
Órbita nossa, vida nossa que não contrasta com a órbita de outrem, com o caminho de bilhões de outros seres, conosco filhos do Pai, mas se harmoniza com eles num firmamento mais esplêndido que o estelar, porque espiritual. Deus deve manobrar a nossa vida e arrastá-la numa aventura divina que nos é desconhecida, em que, espectadores e, há um tempo, atores de admiráveis desígnios de amor, damos, momento por momento, o tributo de nossa livre vontade.
            Podemos dar! Não: devemos dar! Ou, pior ainda: conformamo-nos em dar!
Ele é Pai e, portanto, é amor. É o Criador, o nosso Redentor, o Santificador. Quem melhor do que Ele conhece o nosso bem?
“Senhor, seja feita, sim, seja feita, agora e sempre, a tua vontade divina! Seja feita em mim, nos meus filhos, nos outros, nos filhos dos outros, na humanidade inteira.
Tem paciência e perdão para conosco, cegos que não compreendemos e obrigamos o Céu a permanecer fechado e a não derramar sobre a terra os seus dons, porque, olhos cerrados, dizemos com a vida que é noite e o Céu não existe.
Arrasta-nos pelo raio de tua luz, de nossa luz, aquela que o teu amor estabeleceu quando nos criaste por amor.
Força-nos a dobrar os joelhos, a cada minuto, em adoração à tua vontade, a única boa, agradável, santa, nova, rica, fascinante, fecunda; a fim de que, quando chegar a hora da dor, possamos ver também, para além dela, o teu amor infinito. Possamos, plenos de ti, possuir os teus olhos, já aqui na terra, e observar, do alto, o divino bordado que fizeste para nós e para nossos irmãos, em que tudo resulta numa trama esplêndida de amor. E que se atenue do nosso olhar, ao menos um pouco, a visão dos nós que a tua misericórdia, temperada em justiça, carinhosamente atou, lá onde a nossa cegueira rompeu a tua vontade.
Seja feita a tua vontade no mundo e a paz na terra descerá segura, pois os anjos já no-lo disseram: ‘Paz na terra aos homens que ele ama!’ (Lucas 2,14).
E, se Tu disseste que um só é bom, o Pai, uma única é a vontade boa: a do teu Pai.




07 julho 2017

UM PEQUENO CHOQUE ESPIRITUAL

Castel Gandolfo, 20 de fevereiro de 2003

      Esses dias, peguei um livro que me presentearam, que talvez vocês também conheçam. Seu título é O segredo de Madre Teresa, de Calcutá (Gaeta, 2002). Abro-o no meio, onde fala de “mística da caridade”. Leio esse capítulo e outros. Mergulho com grande interesse naquelas páginas: tudo o que se refere a essa próxima santa interessa-me pessoalmente. Durante anos, ela foi uma amiga minha preciosíssima.

      Logo me vem à mente, muito claro, o radicalismo extremo de sua vida, de sua vocação sem meias medidas, que impressiona, e quase que amedronta, mas, sobretudo, estimula-me a imitá-la naquela dedicação peculiar, radical e sem meias medidas que Deus me pede. De fato, cada carisma é uma flor maravilhosa, única, que não se repete, diferente dos outros como, aliás, madre Teresa pensava. Quando tínhamos ocasião de nos encontrar, ela me repetia: “O que eu faço você não pode fazer. O que você faz eu não posso fazer”.

      Movida por essa convicção, tomo nas mãos o nosso Estatuto, convicta de que lá encontraria a medida e o tipo de radicalismo de vida que o Senhor me pede. Abro e, logo na primeira página, tomo um pequeno choque espiritual, como que causado por uma descoberta do momento (e são quase sessenta anos que o conheço!). Trata-se da “norma das normas, a premissa de qualquer outra regra” da minha e da nossa vida: gerar – assim se expressava o Papa Paulo [VI] – e manter, primeiro e acima de tudo, inclusive nos grandes empreendimentos, inclusive nos compromissos extraordinários, inclusive nos sucessos para o Reino, manter Jesus entre nós com o amor mútuo.

      Porque, entendo logo, este é o meu e o nosso dever mais importante, especialmente hoje.


06 julho 2017

O NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS INUNDAÇÕES

Síntese (Carla C)

Via Skype de Recife – no Congresso Inundação da saúde.
Mariápolis Ginetta – 30 de julho de 2016 – 08 – 11.

·        Premissa
Cada grande carisma tem uma potencialidade não somente religiosa. O carisma de Chiara Lubich não é somente uma espiritualidade, mas contém outras dimensões; tem uma força de penetração nas realidades humanas, sobretudo na cultura, nas instituições, nas estruturas culturais.
Essa outras dimensões que nascem de um carisma tem dois autores:
- O Espírito Santo que inspira o fundador: é um dom que vem do Alto:
- O próprio fundador, que está situado na história, que vive imerso nas realidades humanas e acolhe a inspiração para responder aos desafios e às exigências da sociedade.
- Por exemplo: A EdC nasceu aqui no Brasil ao deparar-se de Chiara com as problemáticas, os desafios da sociedade brasileira e a acolhida das inspirações que vinham do Espírito Santo.

·        Como Chiara deu vida às Inundações = diálogo com a cultura.
Nasceu aqui no Brasil em 1998. Importante levar em consideração o contexto para entender o valor desse nascimento. Chiara tinha estado um mês na Argentina onde veio em relevo com grande visibilidade o aspecto cultural e inter-religioso, através dos vários reconhecimentos públicos e, sobretudo por meio dos grandes meios de comunicação: mais de 90 jornais e revistas representadas na entrevista coletiva. Por 4 vezes a TV nacional mandou em onda uma mensagem de Chiara por ocasião das festividades da Páscoa. Chiara sentiu uma grande alegria pelo que estava acontecendo. Para os argentinos uma verdadeira guinada, abria-se uma nova página.
No Brasil outros eventos públicos. Chiara adoece, outros dão continuidade no parlamento e na Universidade Católica de Pernambuco. Naquela ocasião Chiara escreve uma carta a todo o Movimento. Uma carta que passou para a história. É fundação das Inundações.
·        Nascem para responder a uma exigência manifestada através de pessoas que tinham se distanciado do Movimento e feito carreira na sua própria profissão, mas com o Ideal estampado dentro delas. A exigência de permear com a luz do Ideal o mundo das profissões, das disciplinas, o mundo da cultura, dando dignidade científica, através da relação entre Ciência e Sabedoria, entre a Ciência e a luz do Carisma.
Chiara estava chamando a dar um outro passo, abrir um outro diálogo: com o mundo da cultura. Uma fronteira nova.
Trata-se de elaborar à luz do carisma, da espiritualidade, conceitos novos, uma nova doutrina.
·        Não partindo do nada mas do
o   Conhecer bem a herança doutrinal, histórica do âmbito no qual cada um está imerso. É a base sobre a qual trabalhar.
·        Trata-se de reler a própria disciplina com os olhos do carisma, entrar na disciplina, descobrindo e colocando em luz os valores que já existem. Renovar, completar.
·        Conhecimento e vida. Duas palavras chaves da Inundação da cultura.
O que Chiara entendia era uma elaboração de pensamento, ideias, conceitos que incidam na vida; a realidade, as ações e as mesmas ações por sua vez influem sobre o pensamento.

·        Por que é um diálogo?
Porque é um percurso, um caminho que se faz juntos com as pessoas daquele determinado mundo, não do Movimento, que mostram um interesse, com as quais se construiu um relacionamento.

·        Requisitos para trabalhar nas Inundações
o   Paixão, sentir uma vocação na vocação porque exige muito trabalho, sofrimento, constância, continuidade, diligência.
o   Ter uma bagagem cultural
o   Conhecer e viver o Ideal
o   Levar adiante tudo com Jesus no meio. Esta é a novidade das Inundações. Desde que conhecemos o Ideal certamente procuramos fazer com que penetrasse nos nossos ambientes profissionais, mas Jesus no meio nos dá uma luz, uma força que não a temos sozinhos. Ainda: Aquilo que testemunha essa novidade é Jesus em meio. Isto é fundamental.

·        Relação entre as Inundações e Sophia (resposta a uma pergunta).
Chiara não deu vida a sinônimos. Entre as duas realidades deve existir sinergia, assim como com Humanidade Nova e outras realidades da Obra. Mas cada uma tem uma precisa identidade.
·        Sophia é uma universidade. É um trabalho acadêmico de construção do pensamento com dentro o programa da Universidade.
·        O diálogo com a cultura possui um horizonte mais amplo. Sai da academia, vai procurar o diálogo com os mais distantes.

ü Exemplo: a experiência do socialOne – elaborado durante anos, o amor "ágape", transformado em conceito social, em paradigma capaz de analisar e promover as relações sociais.
Depois se abriu o diálogo, com sucesso, com vários sociólogos, entre os quais se encontra um dos maiores em nível internacional.

·        As Inundações possuem essa vocação: abrir as portas, entrar no vasto mundo da cultura.
           



05 julho 2017

Coração da humanidade

Narra a Escritura que bastaram à Serpente poucas palavras para induzir a mulher ao pecado e a ele arrastar, atrás dela, o gênero humano.

“Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal” (Gn 3,4-5). E ela acreditou.

O fenômeno de então repete-se de quando em quando com tonalidade diversas, mas, de qualquer modo, tem em comum o lisonjear e transferir o gênio feminino – sempre dedicado e, portanto mais propenso às coisas grandes, até mesmo no erro – para um plano diferente do seu.

Também hoje, na balbúrdia de mil vozes que exaltam ora uma, ora outra deformação do pensamento, uma tendência infiltrou-se e avançou muito: conceber e fazer a mulher entender – tendo na base o dolo – que “serás como o homem”.

Procura-se exaltá-la para depois precipitá-la no abismo do absurdo, após tê-la defraudado daquilo que realmente constituía a sua beleza.

A mulher não precisa dar ouvido a essas vozes desafinadas para cantar aquilo que o criador nela imprimiu e que é insubstituível.

Houve uma vez respeitabilíssima, a do papa Pio XII, o qual, além dos sobrenaturais, aliava em si a idade do sábio e um entendimento secreto e profundo com Nossa Senhora. Ele, lapidarmente, definiu a mulher – e creio que ninguém no mundo jamais tenha chegado a tanto – como “obra-prima da criação”.

Basta isto para dizer o amor de Deus para com o sexo feminino.
Mas a mulher será uma obra-prima se realmente for mulher.
Em seu ser - mulher está a certeza de cada atributo seu.

A mulher é meiga, a mulher tem o coração palpitante de religiosidade, talvez porque, mais do que o homem tem o sentido e a constância no sacrifício, na dor, na qual, em última análise, o Evangelho se concentra como último passo para o amor.    

Como mãe, e mãe santa, ela é o instrumento primeiro, benéfico, insubstituível, não só de ensinamento retos, mas de união entre os corações dos filhos que, para compor uma sociedade eficaz e produtiva, sã e saneadora, amanhã, de nada melhor precisarão do que perpetuar nela a união fraterna, base de toda paz duradoura. 

A mulher deve ladear o marido em uma posição aparentemente secundária, mas é como a sombra de uma escultura que lhe confere relevo e vida. Através dela, se for realmente mulher, depois esposa, e depois mãe, o homem conhecerá o seu limite ao lado de um anjo que lhe mostrará com a maternidade o que sabe operar o Senhor, o Criador, o Dispensador de todo bem.

Em tempos como os atuais, saturados de ateísmo e de aniquilamento do espírito, a mulher, com o seu natural instinto para Deus, com sua perene vocação para o amor, com sua perspicácia nas coisas e nos fatos, pela qual dá àquelas e a estes sabor e sentido, tem uma missão de primeira grandeza na renovação e recuperação da sociedade.

E por realiza-la. Homens e mulheres, quando crianças, são criados e instruídos em seu regaço.

Dela muito se espera hoje para a renovação da sociedade. Esta carência de Deus, este descaso que d’Ele se faz, esta luta aberta contra Ela, pode transformar-se amanhã numa expectativa, permitida pelo Céu, de uma grande época, triunfo de Deus, onde Ele, Majestade infinita, estará na boca de todos, no coração de todos, inspirador das mais belas artes, mentor nas mais altas descobertas, veia de poesia eterna, acorde de um canto novo.

Após o temporal vem a bonança e quiçá o arco-íris.
Esta aridez forçada, este ter privado o homem do elemento vital e vivificador, faz esperar e talvez prever um tempo não longínquo, em que a glória de Deus haverá de fulgir e os homens dirão uns aos outros com consolação e no pranto: “Onde estão os tempos em que Deus era esquecido ou até mesmo era proibido falar d’Ele?” E acrescentar-se-á: “Tinha razão Pio XII quando, olhando para o futuro, previa uma nova primavera”.

Se as mulheres tiverem feito sua parte, poderão dizer: “Quando a mulher é outra Maria, quer dizer, virgem, mãe, esposa, pranto, paraíso, mas sobretudo “portadora de Deus”, pode fazer muito por todos, porque a mulher, se é mulher, é o coração da humanidade”.

03 julho 2017

Estude a sua personalidade

Estude sua própria personalidade.

De nada nos valerá o conhecimento de todas as ciências do mundo, de tudo o que está fora de nós, se não conhecermos a nós mesmos.

Estude sua alma, que é seu verdadeiro eu, que se reflete em sua personalidade exterior. Nosso corpo é projeção de nossa alma.

Conheça a si mesmo, para viver uma vida consciente e feliz.