30 maio 2021

Todos têm acesso à santidade

Rocca di Papa, 31 de janeiro de 1969

Um sacerdote pergunta a Chiara Lubich: como ser convicto de ter escolhido Deus e ser coerente com esta escolha?

Chiara indica aquilo que deve pautar o nosso dia: a vontade de Deus vivida no presente, como um caminho para todos e que dá imensa alegria.

Somente Maria, a Mãe que ama todos os filhos, poderia nos oferecer tal segredo de santidade.

(…) “Como ter certeza de ter escolhido Deus e ser coerente com esta escolha nas atitudes de cada dia?

Chiara: (…) Podemos ter certeza somente daquilo que vivemos no presente:, agora, eu quero esta vontade de Deus, quero me encontrar com estes sacerdotes, que Maria ama tanto, que Deus ama tanto. Eu quero estar aqui? Sim, quero, com todo o coração! Eu o quero! Mas se neste momento me dissessem: “Chiara, você pode escolher agora: morrer e ir imediatamente para o Paraíso com Jesus e Maria, com todos os membros do Movimento que estão na Mariápolis celeste, com todos os santos, com todos os anjos; porém, não é esta a vontade de Deus. É uma vontade sua. O que você escolhe?” Eu escolho estar aqui com os senhores, porque escolho a vontade de Deus. (…)

(…) Desde que comecei a viver assim, naturalmente recomeçando, recomeçando a cada momento, como sabem, eu entendi que a frase: “o justo peca sete vezes”, quer dizer uma infinidade de vezes, porque estamos sempre fora da vontade de Deus; estamos fora da vontade de Deus, mas é preciso fazer sempre a vontade de Deus. Como experiência própria, eu poderia dizer que a alma estaria sempre em festa se, teoricamente, vivesse não só confirmada em estado de graça, mas confirmada neste estado de união com Deus; estaria sempre em festa, seria o dia inteiro de Deus. Este é um dos aspectos.

Outra experiência que fiz vivendo assim, e digo isso para evidenciar a importância das ações diárias, é que cada ato, o menor deles, como por exemplo, lavar-se, vestir-se, pegar um papel, arrumar uma coisa, encontrar uma pessoa… se torna solene, tudo se torna solene. É maravilhoso, porque esta é uma estrada feita para todos; e realmente deve ter sido sugerida por Maria, porque a mãe… Maria é mãe de todos: dos sacerdotes, dos leigos, das mulheres, dos homens, das crianças, dos idosos, de todos. Ela é a mãe de todos nós, porque é a mãe da Igreja; por isso ela nos indicou um caminho feito para todos. O fato de ela nos ter sugerido um caminho tão universal, que pode ser dado a todos, me enche de felicidade. Os senhores poderão dizer a todas as pessoas: “Você pode viver deste modo”. É algo muito simples, mas que contém tudo (…), contém a realidade de Jesus, caminho, verdade e vida. Como ter mais do que isso! Estar no presente, viver a sua vontade e a sua vontade, entendemos… contém Deus.

Ontem, por exemplo, entendi algo novo. O Evangelho dizia: sejam vigilantes. E me perguntei: “Quem consegue ser vigilante? Quem vive o presente”. Outro dia ouvi que precisamos ser fiéis. Quem é fiel? Quem vive o presente. Quem sai do presente não consegue mais ser fiel. Descubro cada vez mais que, na simplicidade deste caminho, está contida a plenitude…completa. Tanto é verdade que ontem eu disse à Brunetta, que mora comigo: “Você sabe o que é a simplicidade de Deus?”, e ela respondeu: “Não”. “A unidade de Deus”, “Ah, sim, é sempre esta, sempre esta, é um mistério, o mistério de Deus Uno, mas o que existe no Um, o que existe?”

Ora, este caminho tão simples, tão simples, pode ser vivido por todas as crianças, os sacerdotes, as jovens, os homens, as pessoas casadas. É possível oferecer a todos este caminho para a santidade… Todos podem vivê-lo, basta que o desejem, porque não são mais eles que vivem, é Deus que vive neles. Não sei como explicar, mas pensar nisso me dá até mesmo uma sensação de deslumbramento, de tanta alegria. Sinto uma imensa alegria por ter recebido de Maria o segredo da santidade, de uma santidade popular, universal para todo o povo de Deus. Encontramos aqui o caminho que o Concílio deseja, ou seja, que a santidade deve ser para todos e não se limitar apenas aos conventos, a certas categorias de pessoas. E isso é algo extraordinário. Não sei se os senhores entendem. Uma coisa é dizer: “Você pode se santificar num estado de perfeição”; então seja um frade, uma freira, etc. Outra é poder dizer a todos: existe um caminho no qual você pode se santificar; você, que talvez não possa ir à igreja porque as circunstâncias não o permitem; você, que vive além da Cortina de Ferro1, onde não pode ter contato com os sacerdotes; você, que está preso, pode se santificar vivendo bem a vontade de Deus, perdendo tudo: a liberdade, se alguém estiver numa cadeia; o contato com a Igreja, se alguém vive além da Cortina… Você pode.

Isso é algo realmente extraordinário. Somente Maria podia inventar algo deste tipo. Somente Maria. Só uma mãe que ama a todos e a cada um pessoalmente. Somente ela. Eu não consigo explicar isso de outra forma. É fantástico, é fantástico, é extraordinário. Não sei se os senhores entendem. (Aplausos)

Também porque a simplicidade é uma das coisas mais difíceis de ser entendida, não é verdade? Porque é unidade, é misteriosa.

Portanto, como é possível? Primeiramente é preciso escolher Deus; e depois colocar-se neste caminho (…).

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