06 maio 2021

A unidade na família

A unidade na família. É possível? Sobre Jesus abandonado e a bússola*
Publicado em 30/08/2017

A unidade na família. É possível? Esse foi o tema de uma série de artigos, chegamos ao último. Para melhor compreensão sugiro que leiam os anteriores (A unidade na família. É possível? Sobre unidade*  e A unidade na família. É possível? Sobre família*). 

No caminho refletimos sobre unidade e família, mas agora nos deparamos com a pior de todas as compreensões que é entendermos o motivo e o meio para vivermos a unidade na família dentro da perspectiva cristã. 2017 o Movimento dos Focolares trás o tema do Jesus abandonado em toda a sua perspectiva de formação. Nossa recém Mariápolis em Santa Isabel nos clareou sobre o Jesus abandonado. A unidade só é possível para quem entende o Jesus abandonado. Primeiro no morrer para a própria vontade, de vivermos para um projeto e não por nós e nem pelos filhos. O projeto é Cristo! e Este, o qual seguimos tem seu marco referencial, seu rito de passagem na cruz, no abandono. Só existe ressurreição na perspectiva da Cruz. Querer viver o Cristianismo sem a dor do abandono é viver uma religião das nuvens, da prosperidade e da glória. Mas a unidade é uma opção de vida que exige de cada um no seio familiar uma perda. A cada dia é preciso morrer na minha vontade. Lógico que precisamos respeitar as diferentes etapas de cada indivíduo e também as maturidades e a faixa etária. Não se pode esperar de uma criança que só dá se primeiro receber a mesma reposta e entendimento do adulto que só recebe se primeiro dá. Cabe aos pais a arte de vivenciar no cotidiano o abandono de nossas vontades para fazer acontecer a unidade. Neste processo poderemos ter mais chance de que o ambiente familiar exista sempre na dinâmica da unidade. Sabemos que nessa sociedade liquefeita, conforme nos aponta Bauman, em que o indivíduo vale mais do que o coletivo, os relacionamentos são descartáveis e os valores são substituídos pelo consumo. Onde ter, vale muito e o ser é apenas um discurso publicitário para acentuar o vigor individual do cidadão capaz, de sucesso e feliz. Neste ambiente fica muito estranho e às vezes soa muito louco a ideia de um Jesus abandonado, aquele que se faz pobre, aquele que é morto em uma cruz. Eu mesmo vivi isto por ocasião da Mariápolis 2017 quando tentei convencer uma doutora da universidade, solteira, a ir viver uns dias de unidade muito interessante. Ela me pediu o link para se inscrever mas no momento que viu o tema Jesus abandonado retornou para mim dizendo que preferia ir para o forró das Dunas de Itaúnas, e disse: “ Nossa, você me disse que seria um lugar de alegria, de trocas mútuas e achei interessante. Mas me parece que vocês estão indo lá para sofrer.” 

Bauman faz uma percepção da evolução dos tempos lembrando que no passado os Judeus trouxeram a imagem dos mártires (morte na cruz), depois o ocidente a noção dos ídolos (vencedores nas guerras) e agora temos as celebridades (Neymar na França). E para as famílias liquefeitas (de liquidificador), Bauman lembra que no passado, dava-se a vida pela religião, depois dava-se a vida pelas nações e agora os pais dão a vida pelos filhos. Tudo de bom para eles e morte aos pais e morte à família. 

Mas como podemos ter elementos de luz e força para nos superarmos e conseguirmos usar o Jesus abandonado como meio de promovermos a unidade na família? 
Chiara Lubich nos lembra: “Portanto, a primeira coisa, entender que sem morrer não há nada de divino, vocês nunca construirão nada, nem cidades novas, nada. Segundo, saber que aquilo que Deus nos manda, nos manda porque é necessário.” (22/06/81)

Enfim, Igino Giordani, um dos homens que Chiara Lubich nomeou co-fundador da obra Movimento dos Focolares, em seu lindo livro “Diálogo de fogo” nos lembra: “eu sozinho não me movo. Mas eu e tu iremos até o fim do mundo”. Aqui é a certeza que pela unidade vamos chegar aos nossos objetivos. A minha família com a sua família nos faz mais fortes, pois estamos engrenados nesta missão evangelizadora: “Até os confins da terra”, um confim sem fim. Para que não nos percamos no caminho, precisamos de uma bússola, um norte. Sabendo que o caminho se faz caminhando dia após dia, ano após ano.  A cada dia como os lírios no campo. A cada dia sem deixar de olhar para a bússola e percebermos como estamos no caminho, se de fato continuamos na direção correta, conforme a escolha que fazemos que é nosso Jesus abandonado . E para isso Chiara Lubich nos deixou uma palavra de referência: 

Atentos à bússola 
"Portanto, apontemos fixamente a bússola para Jesus abandonado e permaneçamos fieis a Ele. De modo que, pela manhã, ao despertarmos, apontamos nossa agulha para Jesus abandonado com nosso “eis-me aqui”, do qual lhes falei anteriormente. Depois durante o dia, de vez em quando, vamos dar uma olhada; observarmos se estamos sempre na rota certa para Jesus abandonado. Se não estivermos, corrijamos a rota com uma nova “eis-me aqui” e o sucesso da viagem não ficará comprometido." (Chiara – 05/01/1984)


*Texto apresentado em 20/08/2017 no encontro das Famílias Novas – Nova Venécia/ES

Autor:
Gerson Abarca Psicólogo Psicoterapeuta - CRP: 16-598 Psicólogo graduado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP – Assis – 1990); Especialista em: Psicologia Clínica e Psicologia Educacional, ambas pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia); Especialista em Desenvolvimento Humano e Gestão de Pessoas (MBA – Fundação Getúlio Vargas). Escritor e assessor da TV Canção Nova para temas da psicologia.

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