É um mistério, portanto, este abandono, mistério do qual pode ter certa compreensão quem vive a Espiritualidade da Unidade fundamentada justamente tanto no abandono de Jesus, como na unidade, que Ele pede ao Pai na sua oração-testamento: que “todos sejam uma coisa só” (cf. Jo 17,21).
Quem vive assim sabe que, depois que a unidade se realiza entre alguns, eles se distinguem, para se unirem posteriormente em uma unidade nova, mais plena.
Por exemplo, para resolver um problema num encontro qualquer do Movimento, reunimo-nos, estabelecendo, antes de tudo, a presença de Jesus em meio a todos, a fim de encontrar a solução, com o Seu auxílio. Depois nos deixamos e cada um, enriquecido por aquela comunhão, parte para pôr em prática o que foi visto. Em outra ocasião, haveremos de nos reunir novamente, com uma união que sentiremos mais plena, para nos separarmos mais tarde, e assim sempre.
Este é — parece-nos — um modo de viver entre os homens aqui na terra, segundo a Santíssima Trindade.
O que o Pai faz com Jesus-Deus é, portanto, distinção, uma ação de amor.
Para Jesus-Homem ela se revela divisão, e é dor porque é ação de justiça. Como Ele se fez um com a humanidade pecadora, sente na sua humanidade a distância de Deus.
Chardon escreve:
Deus, o Pai celeste, serve-se dos algozes e dos demônios para o martírio exterior de seu Filho, enquanto se reserva ser a causa imediata de sua paixão interior […].
Quando Ele mesmo [o Pai], sem o intermédio de suas criaturas…, quais instrumentos adequados para fazê-lo sofrer, aplica-se em ser não tanto o princípio de cruz, mas a própria cruz de seu Filho, […] Ele lhe esconde a sua qualidade de Pai, mas também a de Deus, no aspecto em que faz as torrentes das doçuras de sua bondade fluírem, então Jesus não mais o chama de seu Pai, mas de seu Deus. (Chardon, 1895, pp. 256-257)