Tínhamos uma bússola para acertar a vontade de Deus: era “a voz” dentro de nós, a voz do Espírito. “Ouça aquela voz!” era uma exortação nossa. E, naqueles tempos, falar de “voz” era arriscar passar por hereges, do mesmo modo que não era fácil para os leigos falar de Evangelho, nem de amor. Habituamo-nos a ouvir “aquela voz” para conhecer a vontade de Deus.
Tempos depois, entendemos um dos motivos pelo qual Deus criou o focolare. A presença de Jesus em meio a nós era como o alto-falante que ampliava a voz de Deus – fazendo-nos ouvi-la mais claramente – dentro de cada um de nós. No focolare – dizemos – estamos entre dois fogos: Deus em nós e Deus em meio a nós. Ali, naquela fornalha divina, formamo-nos e treinamos para ouvir e seguir Jesus. E não é, por acaso, o pensamento de são Paulo que, para se entender a vontade de Deus, é bom estar inserido numa comunidade cristã onde Cristo vive (cf. Fl 1,9-10)? […].
Enfim, conforme uma distinção que se fazia na época, distinguíamos a vontade de Deus significada e a de beneplácito.
Por vontade de Deus significada entendia-se o que se sabia ter de fazer: viver a Palavra de Deus, observar os Mandamentos, os preceitos, os deveres do próprio estado de vida. Ao passo que, por vontade de Deus de beneplácito, se entendia o que podia acontecer e não era previsto: um encontro, um infortúnio, uma ventura, uma situação.
Nossa aplicação era cumprir com toda a perfeição a vontade de Deus significada, mas com a elasticidade de quem sabe mudar de rota assim que Deus manifesta um seu querer diferente.
E observávamos entre nós as que eram mais propensas a cumprir um ou outro tipo de vontade de Deus e se constatavam méritos e defeitos disso. […]
Quem era mais propensa a seguir a vontade de Deus significada, descuidando a de beneplácito, era levada a não ouvir a voz da consciência que a alertava sobre o novo querer de Deus, portanto, a viver com pouca intimidade com Ele, a não se dar a Ele com todo o coração, e, mesmo acreditando estar apegada aos próprios deveres, na prática, estava apegada a si mesma.
Quem era mais propensa a seguir a vontade de Deus significada, descuidando a de beneplácito, era levada a não ouvir a voz da consciência que a alertava sobre o novo querer de Deus, portanto, a viver com pouca intimidade com Ele, a não se dar a Ele com todo o coração, e, mesmo acreditando estar apegada aos próprios deveres, na prática, estava apegada a si mesma.
Ao contrário, quem seguia mais de bom grado a vontade de Deus de beneplácito conhecia melhor a poesia do Evangelho e sabia descobrir mais rapidamente a linha de ouro da providencial mão de Deus em todas as coisas. Mas, às vezes, ajudada pela fantasia, acreditava ver Deus em toda a parte e mostrava a vida evangélica de modo aventuroso e romântico demais, tirando dela o que nela existe de mais belo: a normalidade de uma vida sobrenatural, simples, não artificial nem excessiva, pura e harmoniosa, como é a natureza, como é Maria.
Aqui está então toda uma aplicação para ser realmente aquilo que Deus queria no momento presente, para captar, momento por momento, o desígnio de Deus para cada um de nós.
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