22 junho 2019

Se numa cidade se ateasse fogo


      Se numa cidade se ateasse fogo em vários pontos, ainda que um fogo brando, mas que resistisse a todas as intempéries, em pouco tempo a cidade ficaria incendiada.

      Se numa cidade, nos mais diferentes pontos, se acendesse o fogo que Jesus trouxe à terra, e esse fogo, graças à boa vontade dos habitantes, resistisse ao gelo do mundo, teríamos em breve a cidade acesa de amor de Deus.

      O fogo que Jesus trouxe à terra é Ele mesmo, é caridade, aquele amor que não só une a alma a Deus, mas as pessoas entre si.

      De fato, um fogo sobrenatural aceso significa o triunfo contínuo de Deus em almas a Ele doadas e, porque unidas a Ele, unidas entre si.

      Duas ou mais almas, fundidas no nome de Cristo, que não só não têm medo nem vergonha de se comunicarem recíproca e explicitamente o seu desejo de amor a Deus, mas que fazem da unidade entre si em Cristo o seu ideal, são uma potência divina no mundo.

      E, em cada cidade, essas pessoas podem surgir nas famílias: pai e mãe, filho e pai, nora e sogra; podem se achar nas paróquias, nas associações, nas agremiações humanas, nas escolas, nos escritórios, em toda parte.

      Não é necessário que já sejam santas, porque Jesus o teria dito; basta que estejam unidas em nome de Cristo e jamais venham a faltar a essa unidade.

      Naturalmente, estão destinadas a ficar por pouco tempo duas ou três, porque a caridade é difusiva por si mesma e aumenta em proporções desmedidas.

      Cada pequena célula, acesa por Deus num ponto qualquer da Terra, espalhar-se-á necessariamente e a Providência distribuirá essas chamas, essas almas-chamas, onde lhe aprouver, a fim de que o mundo seja restaurado em muitos lugares ao calor do amor de Deus, e recupere a esperança.

      Mas há um segredo para que essa célula abrasada se espalhe até se tornar tecido e vivifique as partes do Corpo Místico: é que aqueles que compõem essa célula se lancem na aventura cristã, que significa: fazer de cada obstáculo um trampolim; não “suportar” a cruz, não importa que faceta tenha, mas aguardá-la e abraçá-la, minuto por minuto, como fazem os santos.

      Quando ela chegar, dizer: “Era esta, Senhor, a que eu queria! Sei que estou na Igreja militante, onde é preciso lutar. Sei que me espera a Igreja triunfante, onde te verei por toda a eternidade. Aqui na terra, prefiro a dor a qualquer outra coisa, porque, com tua vida, Tu me disseste que ali está o verdadeiro valor”.

      E, tendo dito sim ao Senhor, a alma deve viver plenamente o momento que segue, não pensando em si, em seu sofrer, mas no dos outros; ou nas alegrias dos outros, das quais deve partilhar; ou nos fardos dos outros, que deve ajudar a carregar; ou no cumprimento dos seus deveres, aos quais — por vontade de Deus, para que sejam elevados como contínua oração — deve ser dirigida a atenção de toda a mente, o afeto de todo o coração, todo o vigor da própria força.

      É esse o pequeno segredo com que se constrói, pedra sobre pedra, a cidade de Deus em nós e entre nós. E nos insere, ainda na terra, na vontade divina que é Deus, eterno presente.

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