"Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança..." (Ataulpho Alves)
30 junho 2019
Ao calor do sol
29 junho 2019
Talvez ainda mais belo
“Pateando escava o chão,
ufano de sua força,
e se lança ao encontro das armas.
Ri-se do medo, nada o assusta,
e não recua diante da espada.
Sobre ele ressoam a aljava,
a lança faiscante e o dardo.
Com ímpeto e estrondo devora a distância
e não para, ainda que soe o clarim.
Ao toque da trombeta ele relincha!
Fareja de longe a batalha,
os gritos de mando e os alaridos” (Jó 39,21-25).
Abrindo a Sagrada Escritura e lendo no Antigo Testamento a descrição que Deus faz de alguns animais, percebemos que poeta, ou pintor algum, conseguiu cantá-los ou pintá-los de modo tão vivo e esplêndido.
Era preciso o olho de Quem os criou para inspirar tais descrições majestosas. O nosso talvez não esteja educado para ver o belo, ou só vê o belo de um certo setor da vida humana, e da natureza, porque não educamos a alma.
A moça do campo, embora sempre em contato com a natureza rica dos sinais de Deus, veste-se nas cores mais excêntricas quando vai à cidade, numa desarmonia que fere a vista. Para ela, o belo é isso e as melhores obras de arte não valem muito, se não nada, porque não as entende.
Mas, aos olhos de Deus, o que será mais bonito? A criança que te fita com olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida natureza e tão vivos, ou a jovem que resplandece como o viço de uma flor recém-desabrochada, ou o idoso encarquilhado e encanecido, já alquebrado, quase inapto a tudo, talvez tão somente à espera da morte?
O grão de trigo, tão promissor, quando, mais tênue do que um fio de erva, agarrado aos grãos irmãos, envolvendo e compondo a espiga, espera amadurecer e desvincular-se, só e independente, na mão do agricultor ou no seio da terra, é belo e cheio de esperança!
Mas é igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros, por ser melhor, para, enterrado, dar vida a outras espigas, ele que, a esta altura, traz a vida. É belo, é o eleito para as futuras gerações das messes.
Mas, quando enterrado, emurchecendo, reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre, apodrecendo, para dar vida a uma plantinha, diferente dele, mas que dele contém a vida, talvez seja ainda mais belo.
Belezas diversas.
Contudo, uma ainda mais bela do que a outra.
E a última, a mais bela.
Deus verá assim as coisas?
Aquelas rugas que sulcam a fronte da velhinha; aquele caminhar recurvo e tremulante, aquelas poucas palavras, densas de experiência e sabedoria; aquele doce olhar de menina e mulher ao mesmo tempo, porém mais bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não conhecemos.
É o grão de trigo que, apagando-se, está prestes a se acender para uma nova vida, diversa da de antes, em novos céus.
Penso que assim Deus veja as coisas, e que o avizinhar-se do Céu seja de longe mais atraente do que as várias etapas do longo caminho da vida que, no fundo, só serve para abrir aquela porta.
28 junho 2019
Sombras da sua grande dor
Ele nos atraía a si, e o descobríamos em cada dor física, moral ou espiritual: eram uma sombra da sua grande dor. Sim, porque Jesus Abandonado é a figura do mudo. Não sabe mais falar, não sabe mais o que dizer: “ et nescivi ” ( Sl 73[72],22). É a figura do cego, não vê; do surdo, não ouve. É o cansado que se lamenta. Parece à beira do desespero. É o faminto… de união com Deus. É a figura do traído, do desiludido. Mostra-se fracassado. É medroso, está desorientado. Jesus Abandonado é a escuridão, a melancolia, o contraste, é figura de tudo aquilo que é estranho, indefinível, que parece monstruoso porque é um Deus que grita por ajuda!… É a falta de sentido. É o só, o desamparado… Mostra-se inútil, descartado, chocado…
26 junho 2019
Jesus Abandonado nas primeiras cartas
As cartas que circulavam entre as primeiras focolarinas, muitas das quais conservadas até hoje, traduzem a veemência do amor por esse grande ideal, amor completamente desinteressado que o Senhor pusera em nosso coração. Aliás, elas já faziam prever os frutos que Jesus Abandonado, amado e vivenciado, poderiam produzir. Estava escrito numa delas:
No cumprimento da vontade de Deus que se concentra no amor de Deus e do próximo, a ponto de sermos consumados na unidade, encontraremos a cruz em que nos devemos crucificar. Não temamos! Pelo contrário, alegremo-nos! É a nossa meta! Jesus precisa de almas que saibam amar assim: que o escolham, não pela alegria que o fato de segui-lo traz, não pelo Paraíso que nos prepara e pelo prêmio eterno, não para nos sentirmos tranqüilos. Não. Somente porque a alma sedenta do verdadeiro amor quer consumar-se com a Alma dele, com aquela Alma divina, atormentada até a morte, obrigada a gritar “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” Temos uma vida só, e além do mais, breve. Depois, o Paraíso. Depois, sempre com Ele. Seguiremos o Cordeiro aonde quer que vá! Não nos cause medo o sofrer. Pelo contrário. Mas busquemos o sofrer que a vontade de Deus nos oferece; […] aquela vontade de Deus que é amor recíproco: o Mandamento Novo, a pérola do Evangelho! Em nome de Jesus, peçamos ao Eterno Pai a graça de que se apresse a hora de sermos todas uma coisa só, um só coração, uma só vontade, um só pensamento. […] E Deus viverá entre nós: haveremos de senti-lo. Deliciar-nos-emos com a sua presença, e Ele nos dará a sua luz, inflamar-nos-á com o seu amor!
25 junho 2019
O exame
Se fosses estudante e viesses a saber, por acaso, as perguntas do exame de fim de ano, tu te sentirias um felizardo e prepararias bem as respostas. A vida é uma prova e, no final, ela também deverá passar por um exame. Mas o infinito amor de Deus já disse ao homem quais serão as perguntas: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber” (Mt 25,35). As chamadas obras de misericórdia serão a matéria do exame, aquelas obras em que Deus vê se o amamos realmente, tendo-o servido no irmão. Talvez seja por isso que o Papa, com frequência, simplifica a vida cristã, ressaltando as obras de misericórdia. E nós fazemos a vontade de Jesus se transformamos a nossa vida numa contínua obra de misericórdia. Afinal, não é difícil nem muda tanto o que já estamos fazendo. Trata-se de elevar cada contato com o próximo a um plano sobrenatural. Qualquer que seja a nossa vocação: de pais ou de mães, de agricultores ou de funcionários, de deputados ou de chefes de Estado, de estudantes ou de operários, temos continuamente, durante o dia, ocasião direta ou indireta de dar de comer aos famintos, de instruir os ignorantes, de suportar as pessoas molestas, de aconselhar os indecisos, de rezar pelos vivos e pelos mortos. Uma nova intenção a cada gesto nosso em favor do próximo, seja ele quem for, e cada dia da vida servirá para preparar-nos ao dia eterno, entesourando bens que a traça não corrói.
Invasão de amor
O mundo está cheio de insatisfeitos, porque o homem não acertou a fonte de sua felicidade. O astro brilha no céu e a Terra subsiste porque eles se movem; o movimento é a vida do universo. O homem só é plenamente feliz quando aciona e não deixa morrer o motor de sua vida: o amor. Mesmo quem se julga feliz porque contraiu um bom matrimônio, porque recebeu uma herança, porque vive de luxo, de esporte, de divertimentos, cedo ou tarde sente vazios na alma, infalíveis. Por outro lado, o infeliz, a quem a vida tudo parece negar, se começa a amar, possui mais do que o rico e goza, na terra, a plenitude do Reino dos Céus. É uma verdade. É uma realidade. A humanidade enlanguesce em busca de paz , espera, constrói para poder usufruir, mas, quando seria o tempo, se entristece com a perspectiva da morte que desejaria jamais chegasse. Os filhos de Deus são os filhos do amor! Combatem com uma arma que é a vida mesma do homem. A sua luta está em recompor na ordem pessoas e sociedades, para que aquelas brilhem mais do que as estrelas, e estas componham constelações imorredouras, nos páramos eternos do Deus dos vivos. Se o homem visse os homens como Deus os vê, teria uma sensação de horror. Porque até os melhores, os que se elevaram com a arte ou a ciência acima do comum, cultivaram apenas uma parte do espírito, deixando o resto atrofiado. Só o amor em uma alma, só Deus em uma alma pode nela dilatar o fulgor, com equilíbrio de partes. Uma alma que ama é, no mundo, um pequeno sol que transmite Deus. Uma alma que não ama, vegeta, é pouco da Igreja, nada de Maria, antítese de Cristo. O mundo precisa de uma invasão de amor, e isto depende de cada um. É o homem, o homem na graça de Deus, o depositário desse precioso elemento. Morre todo dia um número incontável de homens: inclusive os grandes, e deles pouco resta. Passa um santo para a Vida eterna — despertando, quando o Senhor o chama, para a idêntica vida de antes, transformada — e dele todos falam. Sua memória passa de geração em geração e seu exemplo é seguido por muitíssima gente. Diante daquele leito onde jaz um corpo e não mais uma pessoa, ninguém consegue entender a morte; mas, ao contrário, todos sentem o que é a Vida. O amor não morre e, porque serve, faz ser rei.
24 junho 2019
Não há espinho sem rosa
Que dor pensar que a vida de muitíssimos homens não é vivida! Não vivem porque não veem. E não veem porque olham o mundo, as coisas, os familiares, as pessoas, com seus próprios olhos. Ao passo que, para ver, bastaria seguir cada acontecimento, cada coisa, cada homem, com os olhos de Deus. Vê quem se insere em Deus, quem, sabendo ser Ele “Amor”, crê em seu amor e raciocina como os santos: “Tudo o que Deus quer e permite é para minha santificação”.
Por isso, alegrias e dores, nascimentos e mortes, angústias e júbilos, fracassos e vitórias, encontros, amizades, trabalho, doenças e desempregos, guerras e flagelos, sorrisos de crianças, carinhos de mães, tudo, tudo é matéria-prima de nossa santificação.
Em torno do nosso ser, gira um mundo de valores de toda espécie, mundo divino, mundo angélico, mundo fraterno, mundo amável e também mundo adverso, dispostos por Deus para nossa divinização, que é o nosso verdadeiro fim.
Neste mundo, cada um é centro, porque lei de tudo é o amor.
E se, para o equilíbrio divino e humano da nossa vida, devemos, por vontade do Altíssimo, amar, amar sempre o Senhor e os irmãos, a vontade e a permissão de Deus, os demais seres — quer saibam, quer não — servem, movem-se em sua existência, por nosso amor. De fato, para aqueles que amam, tudo concorre para o bem.
Com os olhos toldados e incrédulos, não vemos, com muita frequência, que cada um e todos foram criados como um dom para nós e nós como um dom para os outros.
Mas, assim é. E um misterioso vínculo de amor liga homens e coisas, conduz a história, dispõe o desígnio dos povos e dos indivíduos, no respeito pela mais alta liberdade.
Depois de algum tempo, porém, em que a alma, abandonada em Deus, tomou como lei “acreditar no amor” (cf. 1Jo 4,16), Deus se manifesta e ela, abrindo novos olhos, vê que colhe novos frutos de cada provação, que se segue uma vitória a cada batalha, que brota um sorriso novo, sempre novo, de cada lágrima, porque Deus é a Vida que permite o tormento, o mal, por um bem maior.
Entende que o caminho de Jesus não culmina na Via Crucis e na morte, mas na Ressurreição e na Ascensão ao Céu.
Então, o modo de observar as coisas com jeito humano descora e perde sentido, e o amargor não envenena mais as alegrias fugazes de sua vida terrena. Para ela, nada diz o provérbio cheio de melancolia: “Não há rosa sem espinho”, mas, pela onda da revolução de amor em que Deus a envolveu, vale precisamente o contrário: “Não há espinho sem rosa”.
22 junho 2019
Eu te encontrei
Eu te encontrei em tantos lugares, Senhor! Senti teu palpitar no silêncio altíssimo de uma igrejinha alpina, na penumbra do sacrário de uma catedral vazia, no respiro unânime de uma multidão, que te ama, e enche as arcadas de tua igreja de cantos e de amor. Eu te encontrei na alegria. Falei contigo além do firmamento estrelado, enquanto à noite, em silêncio, voltava do trabalho para casa. Procuro-te e tantas vezes te encontro. Mas, onde sempre te encontro é na dor. A dor, uma dor qualquer, é como o toque da campainha, que chama a esposa de Deus à oração. Quando surge a sombra da cruz, a alma se recolhe no sacrário do seu íntimo e, olvidando o tilintar da campainha, te “vê” e contigo fala. És Tu que me vens visitar. Sou eu que te respondo: “Eis-me aqui, Senhor, eu te quero, eu te quis”. E, neste encontro, minha alma não sente a própria dor, mas fica como inebriada do teu amor, repleta de ti, impregnada de ti; eu em ti, Tu em mim, para que sejamos um. Depois, reabro os olhos para a vida, para a vida menos verdadeira, divinamente aguerrida, para conduzir a tua batalha.
Se numa cidade se ateasse fogo
Se numa cidade se ateasse fogo em vários pontos, ainda que um fogo brando, mas que resistisse a todas as intempéries, em pouco tempo a cidade ficaria incendiada.
Se numa cidade, nos mais diferentes pontos, se acendesse o fogo que Jesus trouxe à terra, e esse fogo, graças à boa vontade dos habitantes, resistisse ao gelo do mundo, teríamos em breve a cidade acesa de amor de Deus.
O fogo que Jesus trouxe à terra é Ele mesmo, é caridade, aquele amor que não só une a alma a Deus, mas as pessoas entre si.
De fato, um fogo sobrenatural aceso significa o triunfo contínuo de Deus em almas a Ele doadas e, porque unidas a Ele, unidas entre si.
Duas ou mais almas, fundidas no nome de Cristo, que não só não têm medo nem vergonha de se comunicarem recíproca e explicitamente o seu desejo de amor a Deus, mas que fazem da unidade entre si em Cristo o seu ideal, são uma potência divina no mundo.
E, em cada cidade, essas pessoas podem surgir nas famílias: pai e mãe, filho e pai, nora e sogra; podem se achar nas paróquias, nas associações, nas agremiações humanas, nas escolas, nos escritórios, em toda parte.
Não é necessário que já sejam santas, porque Jesus o teria dito; basta que estejam unidas em nome de Cristo e jamais venham a faltar a essa unidade.
Naturalmente, estão destinadas a ficar por pouco tempo duas ou três, porque a caridade é difusiva por si mesma e aumenta em proporções desmedidas.
Cada pequena célula, acesa por Deus num ponto qualquer da Terra, espalhar-se-á necessariamente e a Providência distribuirá essas chamas, essas almas-chamas, onde lhe aprouver, a fim de que o mundo seja restaurado em muitos lugares ao calor do amor de Deus, e recupere a esperança.
Mas há um segredo para que essa célula abrasada se espalhe até se tornar tecido e vivifique as partes do Corpo Místico: é que aqueles que compõem essa célula se lancem na aventura cristã, que significa: fazer de cada obstáculo um trampolim; não “suportar” a cruz, não importa que faceta tenha, mas aguardá-la e abraçá-la, minuto por minuto, como fazem os santos.
Quando ela chegar, dizer: “Era esta, Senhor, a que eu queria! Sei que estou na Igreja militante, onde é preciso lutar. Sei que me espera a Igreja triunfante, onde te verei por toda a eternidade. Aqui na terra, prefiro a dor a qualquer outra coisa, porque, com tua vida, Tu me disseste que ali está o verdadeiro valor”.
E, tendo dito sim ao Senhor, a alma deve viver plenamente o momento que segue, não pensando em si, em seu sofrer, mas no dos outros; ou nas alegrias dos outros, das quais deve partilhar; ou nos fardos dos outros, que deve ajudar a carregar; ou no cumprimento dos seus deveres, aos quais — por vontade de Deus, para que sejam elevados como contínua oração — deve ser dirigida a atenção de toda a mente, o afeto de todo o coração, todo o vigor da própria força.
É esse o pequeno segredo com que se constrói, pedra sobre pedra, a cidade de Deus em nós e entre nós. E nos insere, ainda na terra, na vontade divina que é Deus, eterno presente.
20 junho 2019
É inconcebível
É inconcebível, é extraordinário, é algo que se grava sempre mais profundamente em minha alma o teu ficar ali em silêncio no sacrário. Vou à igreja de manhã, e lá te encontro. Corro para a igreja ao sentir que te amo, e lá te encontro. Passo ali por acaso, ou por hábito, ou por respeito, e lá te encontro. E toda vez, Tu me dizes uma palavra, me retificas um sentimento, vais, na realidade, compondo com notas diversas um único canto, que o meu coração sabe de cor, e me repete uma palavra só: eterno amor. Ó Deus! Melhor não podias inventar. Aquele teu silêncio em que o bulício de nossa vida amortece, aquele palpitar silencioso que toda lágrima enxuga; aquele silêncio… aquele silêncio, mais sonoro que uma angélica harmonia; aquele silêncio que à mente traz o Verbo, ao coração doa o bálsamo divino; aquele silêncio em que toda voz se reconhece canalizada, toda prece ressoa transformada; aquela tua presença arcana… Ali está a vida; ali, a espera; ali, o nosso pequeno coração repousa, para retomar sem trégua o seu caminho.
O tempo escapa-me veloz
O tempo escapa-me veloz, aceita a minha vida, Senhor! No coração te guardo, é o tesouro que deve guiar os meus passos. Tu, segue-me, vela-me, é teu o amar: exultar e sofrer. Ninguém recolha um suspiro. Oculta em teu sacrário eu vivo, trabalho para todos. O toque da minha mão seja teu; só teu o timbre da minha voz. Neste trapo que sou, retorne teu amor ao mundo árido, com a água que jorra abundante da tua chaga, Senhor! Clareie a divina Sapiência a tristeza sombria de tantos, de todos. E Maria resplandeça.
19 junho 2019
Amar a todos tomando a iniciativa
18 junho 2019
A Palavra contém Deus
16 junho 2019
Estava enfermo
Vi um homem numa enfermaria de hospital, engessado. Tinha o tórax e um braço, o direito, imobilizados. Com o esquerdo, defendia-se para fazer tudo… como podia. O gesso era uma tortura, mas o braço esquerdo, embora mais cansado à noite, fortalecia-se trabalhando por dois. Nós somos membros uns dos outros e o serviço recíproco é nosso dever. Jesus não só nos aconselhou isso, Ele mandou. Quando servimos alguém pela caridade, não pensemos que somos santos. Se o próximo está sem ação, devemos ajudá-lo, e ajudá-lo como ele mesmo se ajudaria, se pudesse. Do contrário, que cristãos somos nós? Se mais tarde, chegada a nossa vez, precisarmos da caridade do irmão, não nos sintamos humilhados. No dia do juízo final ouviremos Jesus repetir: “Estava doente e me visitaste” (Mt 25,36), estava preso, estava nu, estava com fome… Jesus gosta de se esconder justamente no sofredor, no necessitado. Portanto, sintamos também naquela hora a nossa dignidade e agradeçamos de todo o coração a quem nos ajuda; mas, reservemos o agradecimento mais profundo a Deus, que criou o coração humano caridoso; a Cristo que, proclamando com seu sangue a Boa Nova, sobretudo o “seu” mandamento, levou um número sem fim de corações a se desdobrarem em ajuda mútua. Com este mandamento, Jesus distinguiu os cristãos de todos os séculos daqueles que não entraram ainda em sua Igreja. Se nós, cristãos, não manifestamos essa característica, somos confundidos com o mundo e perdemos a honra de ser considerados “filhos de Deus”. E — como insensatos — deixamos de usar a arma, talvez mais forte, para testemunhar Deus em nosso ambiente, gélido em razão do ateísmo, paganizador, indiferente e supersticioso. Que o mundo, atônito, possa contemplar um espetáculo de concórdia fraterna e diga de nós — como dos que gloriosamente nos precederam: “Vede como se amam”.
Levante sua cabeça
LEVANTE sua cabeça! Não fique triste! Por que vai aborrecer-se, pelo que disserem de você? Por quanto tempo continuará queixando-se, reclamando? Vamos, levante sua cabeça e siga à frente! Você é filho de Deus! Caminhe seguro, porque aqueles que falam de você vão ficar parados atrás, sem progredir. E quando eles perceberem, você já progrediu tanto, que eles o perderam de vista...
15 junho 2019
Fique calmo
MANTENHA-SE calmo e sereno. Confie na Força Cósmica que enche todo o universo, inclusive sua própria pessoa. Focalize sua confiança em Deus que habita dentro de você e dentro de todas as criaturas. Liberte-se do medo, caminhe com segurança e procure ouvir as palavras de orientação, dita das, no mais profundo de seu coração, por Deus que habita dentro de você.
11 junho 2019
Otimismo
MANTENHA elevado seu otimismo na vida!
Quem possui o coração cheio de amor, nada teme!
Arrasta todos os vendavais da vida, com um sorriso nos lábios.
Procure amar a todos e a tudo, mesmo aqueles que o fazem sofrer, e você se estará tornando perfeito, como o Pai Celestial, que dá a todos, sem distinção bons e maus, justo e injustos as mesmas oportunidades de salvação.
09 junho 2019
Não queira
Não queira enriquecer à custa de outra pessoa.
Tudo o que é seu, por direito divino, lhe há de chegar às mãos, na hora oportuna: nem mais cedo do que deve, nem com atraso.
Na hora exata, você receberá aquilo que merecer.
Portanto, trabalhe confiante no Pai, pois não cai um fio de cabelo de sua cabeça, sem a permissão d'Ele.
08 junho 2019
Obras que perduram
Fazer bem o que Deus quer no presente e fazer como Deus quer, segundo o seu método, a sua dialética, é, por exemplo, preparar o que deves dizer com toda a ajuda do Espírito Santo que está em ti, e depois colocá-lo à prova no fogo do amor mútuo com os irmãos, para que morra, e se decomponha, e renasça da unidade (e isto requer tanto saber “perder”, quanto humildade); é, enfim, submetê-lo à apreciação da autoridade para que seja podado. Então, aquele discurso permanece e se multiplica, e aquilo que poderia causar algum bem só a uma pessoa e depois se perder, causa e continuará causando o bem a muitos.
Essa atividade no presente traz um senso de plenitude, porque é vida de Jesus que vive em nós.
E se Jesus vive em nós, realiza obras que perduram. Se, por outro lado, não fizeste infelizmente as coisas bem, ou as fizeste pela metade, “perde-as” no Coração de Jesus com a máxima confiança, com a consciência de quem sabe que todo momento da vida é bom para morrermos (e talvez morramos com as coisas feitas de modo imperfeito), mas também com a confiança de quem sabe que o Coração de Cristo só te quer amar com fatos e, por isso, quer preencher as lacunas, esconder dos outros os teus disparates e perdoá-los, pois se assim faria uma mãe, muito mais, portanto, faria aquele Coração!
Então, também aqui a saciedade: tudo está feito, tudo está consumado.
07 junho 2019
A fonte secreta
No congresso da Fundação Suíça para a Família
Lucerna (Suíça), 16 de maio de 1999
Cristo chegou àquele momento passando por uma gama de sofrimentos devastadores: o medo angustiante, a traição e o abandono dos seus, um processo injusto e maquinado, a tortura, a humilhação, a condenação à cruz, pena capital reservada aos escravos e que talvez nós hoje não consigamos avaliar na sua crueldade destruidora da pessoa e da sua memória.
No fim, aquele grito inesperado e que deixa entrever o drama do Homem-Deus, "por que me abandonaste?". É o ápice das suas dores, é a sua paixão interior, é a sua noite mais escura. Ele, que tinha dito: "Eu e o Pai somos uma coisa só" vive a trágica experiência da falta de unidade, da separação de Deus. E isso porque, por amor do homem, tomou sobre si todo o negativo, todo o pecado da humanidade.
Naquele abandono, sinal último e maior do seu amor, Cristo atinge a extrema anulação de si mesmo e reabre aos homens o caminho da unidade com Deus e entre eles. Naquele "por quê?", que ficou para Ele sem resposta, todo grito do homem encontra resposta. Não é semelhante a ele o angustiado, o só, o fracassado, o condenado? Não é uma imagem Dele cada divisão familiar, entre grupos e entre povos?
Não é a figura de Jesus abandonado quem perde, por assim dizer, o sentido de Deus e de seu desígnio sobre a humanidade, ou quem não acredita mais no amor e aceita em seu lugar qualquer substituto? Não existe tragédia humana nem fracasso familiar que não estejam contidos na escuridão do Homem-Deus. Com a morte Ele já pagou tudo; assinou um cheque em branco, capaz de conter a dor e o pecado da humanidade que existiu, que existe e que existirá.
Com essa tremenda experiência, quase como grão de trigo divino que apodrece e morre para nos restituir a vida, ele nos revela inclusive a verdade do maior amor: ser capazes de dar tudo de nós, de nos tornarmos nada pelos outros. Escreve von Balthasar: "O sinal de Deus que anula a si mesmo, fazendo-se homem e morrendo no mais completo abandono, explica porque é que Deus aceitou (...) tudo isso: correspondia à sua natureza manifestar-se como amor incomensurável". 2
Por meio daquele vazio, daquele nada, voltou a jorrar a graça, a vida de Deus ao homem. Cristo refez a unidade entre Deus e a Criação, recompôs o desígnio, fez homens novos e, por conseguinte, famílias também novas.
O grande evento do sofrimento e do abandono do Homem-Deus pode, portanto, tornar-se o ponto de referência e a fonte secreta capaz de transformar a morte em ressurreição, os limites em ocasiões para amar, as crises familiares em etapas de crescimento. Como? Se olharmos com olhos somente humanos o sofrimento, as possibilidades são duas: ou vamos terminar numa análise sem saída, porque a dor e o amor fazem parte do mistério da vida humana; ou então procuramos remover este empecilho incômodo, que é o sofrimento, fugindo para outras direções. Mas se acreditarmos que por trás da trama da existência está Deus com o seu amor e se, fortalecidos por esta fé, percebermos nos pequenos e grandes sofrimentos do dia a dia, nossos e dos outros, um aspecto da dor de Cristo crucificado e abandonado, uma participação na dor que redimiu o mundo, será possível compreendermos o significado e a perspectiva até mesmo das situações mais absurdas.
Diante de qualquer sofrimento, grande ou pequeno, diante das contradições e dos problemas insolúveis, experimentemos penetrar em nós mesmos e olhar de frente o absurdo, a injustiça, a dor inocente, a humilhação, a alienação, o desespero...
Reconheceremos neles um dos tantos semblantes do Homem das Dores. É o encontro com Ele, que de "Pessoa Divina" se tornou indivíduo sem relacionamentos; com Ele, "o Deus do homem contemporâneo", que transforma o nada em ser, a dor em amor. Será o nosso "sim", o nosso gesto de amor e de acolhimento a Ele que começará a despedaçar o nosso individualismo, fazendo-nos "homens novos", capazes de curar e revitalizar, com o amor, as situações mais desesperadoras.
06 junho 2019
Qualquer de vós, que não renunciar
“Qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).
“Qualquer”. Portanto, as palavras de Jesus são dirigidas a todos os cristãos.
“Tudo”. É o que pede a todos, para serem cristãos.
Não podemos ser apegados nem mesmo à nossa alma (que é uma de nossas posses), mas devemos desapegar-nos de tudo.
E aqui Jesus Abandonado é Mestre universal.
04 junho 2019
Há quem faça as coisa por amor
Há quem faça as coisas “por amor”. Há quem faça as coisas procurando “ser o Amor”. Quem faz as coisas “por amor”, pode fazê-las bem; mas pensando, por exemplo, em prestar um grande serviço a um irmão, digamos doente, pode aborrecê-lo com seu falatório, com seus conselhos, com suas ajudas, com uma caridade pouco sensata e pesada. Ele terá um mérito, mas o outro, um peso. Tudo isso porque é preciso “ser o Amor”. O nosso destino é como o dos astros: se giram, existem, se não giram, inexistem. Nós existimos — entendendo-se que vive em nós não a nossa vida, mas a de Deus — se não cessamos um instante de amar. O amor nos abriga em Deus, e Deus é o Amor. Mas o Amor, que é Deus, é luz, e com a luz vemos se o modo como nos aproximamos e servimos o irmão está em conformidade com o Coração de Deus, está como o irmão gostaria, como ele sonharia se tivesse a seu lado não nós, mas Jesus.
Escutar Maria
02 junho 2019
As palavras de um pai
As palavras de um pai são sempre valiosas, pois é preciso acreditar em quem fala com amor. Mas, se um pai dita as últimas palavras antes de deixar a terra, elas ficam gravadas na alma dos filhos, e valem por todas as outras juntas: são o testamento. O amor paterno é nada diante do amor de um Deus. Também Jesus, o Deus humanado, falou. Também Ele deixou um testamento: “Que sejam um… que todos sejam um” (Jo 17,11.21). Quem orienta a própria vida para a unidade, centrou o coração de Deus. No mundo, somos todos irmãos, mas cada um passa pelo outro ignorando-o. E isso acontece mesmo entre cristãos batizados. A Comunhão dos Santos existe, o Corpo Místico existe. Mas, esse Corpo é como uma rede de galerias escuras. A energia para iluminá-las existe; em muitos é a vida da graça. Mas Jesus não queria só isto quando se dirigiu ao Pai, invocando. Queria um Céu na terra: a unidade de todos com Deus e entre si, isto é, a rede de galerias iluminada; a presença de Jesus em cada relação com os outros, além da sua presença na alma de cada um. Este é o seu testamento, o desejo mais precioso de Deus que por nós deu a vida.
No amor, o que vale é amar
No amor, o que vale é amar. Assim é nesta terra. O amor — falo do amor sobrenatural, que não exclui o natural — é uma coisa muito simples e muito complexa. Exige a tua parte e conta com a parte do outro. Se tentares viver de amor, verás que, nesta terra, convém que faças a tua parte. A outra, nunca sabes se virá, nem é necessário que venha. Às vezes, ficarás decepcionado, porém jamais perderás a coragem, se te convenceres de que, no amor, o que vale é amar. E amar a Jesus no irmão, a Jesus que sempre a ti retorna, talvez por outros caminhos. Ele deixa a tua alma como aço contra as intempéries do mundo, e a liquefaz no amor por todos os que te rodeiam, contanto que tenhas presente que, no amor, o que vale é amar.