11 julho 2017

UM AMOR QUE UNE CÉU E TERRA

Do diário 
      13 de dezembro de 1968


      Quando algum amigo nosso, ou parente, parte para a Eternidade, dizemos que “faltou”, consideramo-lo desaparecido.

      Mas não é assim. Se raciocinarmos deste modo, que tipo de cristãos somos? E onde está a fé na Comunhão dos Santos?

      Nenhum daqueles que entram no seio de Deus está perdido, porque, se alguma coisa tinha realmente valor no irmão, que agora teve a vida transformada, mas não tirada, essa era a caridade. Sim, porque tudo passa. Com a cena deste mundo, passam até as virtudes da fé e da esperança. A caridade permanece.

      Ora, o amor que nosso irmão nos dedicava, o amor verdadeiro porque radicado em Deus, esse amor perdura. E Deus não é tão pouco generoso conosco a ponto de nos tirar o que Ele mesmo nos havia dado.

      Agora, Ele no-lo dá de outra maneira. E aquele irmão, aqueles irmãos continuam a nos amar com uma caridade que agora não sofre mais altos e baixos, mas cresce. […]

      Não, nossos irmãos não estão desaparecidos. Eles estão do lado de lá, como se tivessem saído de casa para ir a outro lugar e, por isso, não os consideraremos desaparecidos.

      Eles estão na Pátria Celeste e, por meio de Deus em quem estão, podemos continuar amando-nos mutuamente, como o Evangelho nos ensina. Então, a Comunhão dos Santos será cada vez mais uma realidade e viver essa realidade da nossa fé haverá de preparar também a nós para o grande dia, com toda a simplicidade, pois quem possui Deus como único tesouro na vida não deve temer a morte: ela é apenas a porta para uma posse maior Dele.


10 julho 2017

Um amor que seja visto

      De uma conferência telefônica 
   Rocca di Papa, 11 de maio de 1989

      Há uma palavra que Deus com certeza repete constantemente a todos nós. […] É a palavra que pronunciou quando [o Movimento] nasceu; que dirigiu a todos nós quando nos chamou, um por um, para esta nova vida e que não cessa jamais de nos lembrar, porque é nela que encontramos a nossa identidade. É por ela, vivida, que o Movimento encontra e reencontra sempre sua verdadeira natureza.

      Essa palavra é “Amai-vos uns aos outros”.

      É a vocação de todo cristão, mas, poderíamos acrescentar, particularmente nossa.

      Nestes dias, as palavras que se diziam dos primeiros cristãos fizeram-me pensar: “Vejam como se amam e estão prontos a morrer um pelo outro” [Tertuliano, Apologético, 39,7].

      Portanto, via-se que cada um estava pronto a morrer pelo outro. Talvez isso dependesse do fato de que, naqueles tempos de perseguição, não era raro o caso de alguém se oferecer para morrer em lugar do outro. Resta, contudo, o fato de que se via entre os cristãos essa medida de se amarem.

      Geralmente, não se chega a exigir de nós a morte física. Mas, é preciso estarmos prontos. Cada ato de amor mútuo nosso deve fundamentar-se nisso.

      E então, o que fazer nestes dias? 

      Aumentemos a temperatura de nossa caridade mútua. Que até mesmo um simples sorriso nosso, ou um gesto, ou um ato de amor, ou uma palavra, ou um conselho, ou um elogio, ou uma correção na devida hora, dirigidos aos irmãos, revelem a nossa prontidão em morrer por eles. Que se veja o nosso amor, não por vaidade, certamente, mas para nos garantir a arma poderosa do testemunho.

09 julho 2017

Uma lei impressa em cada coração

“Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7,12).

Amemos assim cada próximo que encontramos no correr do dia.
Imaginemos estar na sua situação e tratemo-lo como gostaríamos de ser
tratados em seu lugar.
A voz de Deus que mora dentro de nós haverá de nos sugerir a expressão de amor adequada a cada circunstância.
Ele está com fome? Estou com fome eu — pensemos. E demos a ele de comer.

Sofre injustiça? Sou eu que a sofro!

Está nas trevas e na dúvida? Sou eu que estou. E lhe digamos palavras de conforto, e dividamos com ele suas angústias, e não nos demos sossego enquanto ele não se sentir iluminado e aliviado. Nós quereríamos ser tratados assim.
É um portador de deficiência física? Quero amá-lo até quase sentir em meu corpo e em meu coração a sua deficiência, e o amor haverá de me sugerir o recurso certo para fazer que se sinta igual aos outros, aliás, com uma graça a mais, pois nós cristãos sabemos o valor do sofrimento.

E assim com todos, sem discriminação alguma.


08 julho 2017

Um só é bom


            “Seja feita a vontade de Deus” é uma expressão que, na maior parte dos casos, os cristãos proferem nos momentos de dor, quando não há mais o que fazer e, diante do inevitável fracasso de tudo o que se pensava, se almejava e se queria, vindo à tona a fé, se aceita o que Deus estabeleceu. Mas, não é só assim que deve ser feita a vontade de Deus. No cristianismo, não existe apenas a
“resignação cristã”.
A vida do cristão é um fato que tem raízes no Céu, além de tê-las na terra.
Por sua fé, o cristão pode e deve estar sempre em contato com Alguém que conhece a sua vida e o seu destino. E este Alguém não é desta terra, mas de outro mundo; e não é um juiz desapiedado ou um soberano absoluto, que só exige o serviço. É um Pai. Alguém portanto, que é Pai porque está em relação com outros, neste caso com filhos, filhos adotados pelo Único Filho que com ele habita por toda a eternidade.
Portanto, a vida do cristão não é nem pode ser determinada somente pela sua vontade e pelas suas previsões. Infelizmente, muitos cristãos acordam pela manhã na melancolia do tédio, que o dia que desperta trará.
Lamentam-se de muitas coisas passadas, futuras e presentes, porque são eles que traçam o programa de sua vida. E este desígnio, fruto da inteligência humana e de previsões mesquinhas, não pode satisfazer plenamente o homem, ávido de infinito. Eles se substituem a Deus, ao menos no que lhes diz respeito e, como o filho pródigo, uma vez tomada à parte que lhes cabe, desperdiçam-na como querem, sem o conselho do pai, sem a integração na família.
Muito freqüentemente nós, cristãos, somos cegos que abdicamos da nossa dignidade sobrenatural, porque repetimos de fato no Pai-Nosso, quem sabe todos os dias: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”; mas não entendemos o que dizemos, nem fazemos, nós ao menos, o que imploramos.
Deus sabe e conhece o caminho que deveríamos trilhar em cada instante de nossa vida. Para cada um ele fixou uma órbita celeste em que o astro de nossa liberdade deveria girar, se ele se abandonasse a quem criou o astro.
Órbita nossa, vida nossa que não contrasta com a órbita de outrem, com o caminho de bilhões de outros seres, conosco filhos do Pai, mas se harmoniza com eles num firmamento mais esplêndido que o estelar, porque espiritual. Deus deve manobrar a nossa vida e arrastá-la numa aventura divina que nos é desconhecida, em que, espectadores e, há um tempo, atores de admiráveis desígnios de amor, damos, momento por momento, o tributo de nossa livre vontade.
            Podemos dar! Não: devemos dar! Ou, pior ainda: conformamo-nos em dar!
Ele é Pai e, portanto, é amor. É o Criador, o nosso Redentor, o Santificador. Quem melhor do que Ele conhece o nosso bem?
“Senhor, seja feita, sim, seja feita, agora e sempre, a tua vontade divina! Seja feita em mim, nos meus filhos, nos outros, nos filhos dos outros, na humanidade inteira.
Tem paciência e perdão para conosco, cegos que não compreendemos e obrigamos o Céu a permanecer fechado e a não derramar sobre a terra os seus dons, porque, olhos cerrados, dizemos com a vida que é noite e o Céu não existe.
Arrasta-nos pelo raio de tua luz, de nossa luz, aquela que o teu amor estabeleceu quando nos criaste por amor.
Força-nos a dobrar os joelhos, a cada minuto, em adoração à tua vontade, a única boa, agradável, santa, nova, rica, fascinante, fecunda; a fim de que, quando chegar a hora da dor, possamos ver também, para além dela, o teu amor infinito. Possamos, plenos de ti, possuir os teus olhos, já aqui na terra, e observar, do alto, o divino bordado que fizeste para nós e para nossos irmãos, em que tudo resulta numa trama esplêndida de amor. E que se atenue do nosso olhar, ao menos um pouco, a visão dos nós que a tua misericórdia, temperada em justiça, carinhosamente atou, lá onde a nossa cegueira rompeu a tua vontade.
Seja feita a tua vontade no mundo e a paz na terra descerá segura, pois os anjos já no-lo disseram: ‘Paz na terra aos homens que ele ama!’ (Lucas 2,14).
E, se Tu disseste que um só é bom, o Pai, uma única é a vontade boa: a do teu Pai.




07 julho 2017

UM PEQUENO CHOQUE ESPIRITUAL

Castel Gandolfo, 20 de fevereiro de 2003

      Esses dias, peguei um livro que me presentearam, que talvez vocês também conheçam. Seu título é O segredo de Madre Teresa, de Calcutá (Gaeta, 2002). Abro-o no meio, onde fala de “mística da caridade”. Leio esse capítulo e outros. Mergulho com grande interesse naquelas páginas: tudo o que se refere a essa próxima santa interessa-me pessoalmente. Durante anos, ela foi uma amiga minha preciosíssima.

      Logo me vem à mente, muito claro, o radicalismo extremo de sua vida, de sua vocação sem meias medidas, que impressiona, e quase que amedronta, mas, sobretudo, estimula-me a imitá-la naquela dedicação peculiar, radical e sem meias medidas que Deus me pede. De fato, cada carisma é uma flor maravilhosa, única, que não se repete, diferente dos outros como, aliás, madre Teresa pensava. Quando tínhamos ocasião de nos encontrar, ela me repetia: “O que eu faço você não pode fazer. O que você faz eu não posso fazer”.

      Movida por essa convicção, tomo nas mãos o nosso Estatuto, convicta de que lá encontraria a medida e o tipo de radicalismo de vida que o Senhor me pede. Abro e, logo na primeira página, tomo um pequeno choque espiritual, como que causado por uma descoberta do momento (e são quase sessenta anos que o conheço!). Trata-se da “norma das normas, a premissa de qualquer outra regra” da minha e da nossa vida: gerar – assim se expressava o Papa Paulo [VI] – e manter, primeiro e acima de tudo, inclusive nos grandes empreendimentos, inclusive nos compromissos extraordinários, inclusive nos sucessos para o Reino, manter Jesus entre nós com o amor mútuo.

      Porque, entendo logo, este é o meu e o nosso dever mais importante, especialmente hoje.


06 julho 2017

O NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS INUNDAÇÕES

Síntese (Carla C)

Via Skype de Recife – no Congresso Inundação da saúde.
Mariápolis Ginetta – 30 de julho de 2016 – 08 – 11.

·        Premissa
Cada grande carisma tem uma potencialidade não somente religiosa. O carisma de Chiara Lubich não é somente uma espiritualidade, mas contém outras dimensões; tem uma força de penetração nas realidades humanas, sobretudo na cultura, nas instituições, nas estruturas culturais.
Essa outras dimensões que nascem de um carisma tem dois autores:
- O Espírito Santo que inspira o fundador: é um dom que vem do Alto:
- O próprio fundador, que está situado na história, que vive imerso nas realidades humanas e acolhe a inspiração para responder aos desafios e às exigências da sociedade.
- Por exemplo: A EdC nasceu aqui no Brasil ao deparar-se de Chiara com as problemáticas, os desafios da sociedade brasileira e a acolhida das inspirações que vinham do Espírito Santo.

·        Como Chiara deu vida às Inundações = diálogo com a cultura.
Nasceu aqui no Brasil em 1998. Importante levar em consideração o contexto para entender o valor desse nascimento. Chiara tinha estado um mês na Argentina onde veio em relevo com grande visibilidade o aspecto cultural e inter-religioso, através dos vários reconhecimentos públicos e, sobretudo por meio dos grandes meios de comunicação: mais de 90 jornais e revistas representadas na entrevista coletiva. Por 4 vezes a TV nacional mandou em onda uma mensagem de Chiara por ocasião das festividades da Páscoa. Chiara sentiu uma grande alegria pelo que estava acontecendo. Para os argentinos uma verdadeira guinada, abria-se uma nova página.
No Brasil outros eventos públicos. Chiara adoece, outros dão continuidade no parlamento e na Universidade Católica de Pernambuco. Naquela ocasião Chiara escreve uma carta a todo o Movimento. Uma carta que passou para a história. É fundação das Inundações.
·        Nascem para responder a uma exigência manifestada através de pessoas que tinham se distanciado do Movimento e feito carreira na sua própria profissão, mas com o Ideal estampado dentro delas. A exigência de permear com a luz do Ideal o mundo das profissões, das disciplinas, o mundo da cultura, dando dignidade científica, através da relação entre Ciência e Sabedoria, entre a Ciência e a luz do Carisma.
Chiara estava chamando a dar um outro passo, abrir um outro diálogo: com o mundo da cultura. Uma fronteira nova.
Trata-se de elaborar à luz do carisma, da espiritualidade, conceitos novos, uma nova doutrina.
·        Não partindo do nada mas do
o   Conhecer bem a herança doutrinal, histórica do âmbito no qual cada um está imerso. É a base sobre a qual trabalhar.
·        Trata-se de reler a própria disciplina com os olhos do carisma, entrar na disciplina, descobrindo e colocando em luz os valores que já existem. Renovar, completar.
·        Conhecimento e vida. Duas palavras chaves da Inundação da cultura.
O que Chiara entendia era uma elaboração de pensamento, ideias, conceitos que incidam na vida; a realidade, as ações e as mesmas ações por sua vez influem sobre o pensamento.

·        Por que é um diálogo?
Porque é um percurso, um caminho que se faz juntos com as pessoas daquele determinado mundo, não do Movimento, que mostram um interesse, com as quais se construiu um relacionamento.

·        Requisitos para trabalhar nas Inundações
o   Paixão, sentir uma vocação na vocação porque exige muito trabalho, sofrimento, constância, continuidade, diligência.
o   Ter uma bagagem cultural
o   Conhecer e viver o Ideal
o   Levar adiante tudo com Jesus no meio. Esta é a novidade das Inundações. Desde que conhecemos o Ideal certamente procuramos fazer com que penetrasse nos nossos ambientes profissionais, mas Jesus no meio nos dá uma luz, uma força que não a temos sozinhos. Ainda: Aquilo que testemunha essa novidade é Jesus em meio. Isto é fundamental.

·        Relação entre as Inundações e Sophia (resposta a uma pergunta).
Chiara não deu vida a sinônimos. Entre as duas realidades deve existir sinergia, assim como com Humanidade Nova e outras realidades da Obra. Mas cada uma tem uma precisa identidade.
·        Sophia é uma universidade. É um trabalho acadêmico de construção do pensamento com dentro o programa da Universidade.
·        O diálogo com a cultura possui um horizonte mais amplo. Sai da academia, vai procurar o diálogo com os mais distantes.

ü Exemplo: a experiência do socialOne – elaborado durante anos, o amor "ágape", transformado em conceito social, em paradigma capaz de analisar e promover as relações sociais.
Depois se abriu o diálogo, com sucesso, com vários sociólogos, entre os quais se encontra um dos maiores em nível internacional.

·        As Inundações possuem essa vocação: abrir as portas, entrar no vasto mundo da cultura.
           



05 julho 2017

Coração da humanidade

Narra a Escritura que bastaram à Serpente poucas palavras para induzir a mulher ao pecado e a ele arrastar, atrás dela, o gênero humano.

“Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal” (Gn 3,4-5). E ela acreditou.

O fenômeno de então repete-se de quando em quando com tonalidade diversas, mas, de qualquer modo, tem em comum o lisonjear e transferir o gênio feminino – sempre dedicado e, portanto mais propenso às coisas grandes, até mesmo no erro – para um plano diferente do seu.

Também hoje, na balbúrdia de mil vozes que exaltam ora uma, ora outra deformação do pensamento, uma tendência infiltrou-se e avançou muito: conceber e fazer a mulher entender – tendo na base o dolo – que “serás como o homem”.

Procura-se exaltá-la para depois precipitá-la no abismo do absurdo, após tê-la defraudado daquilo que realmente constituía a sua beleza.

A mulher não precisa dar ouvido a essas vozes desafinadas para cantar aquilo que o criador nela imprimiu e que é insubstituível.

Houve uma vez respeitabilíssima, a do papa Pio XII, o qual, além dos sobrenaturais, aliava em si a idade do sábio e um entendimento secreto e profundo com Nossa Senhora. Ele, lapidarmente, definiu a mulher – e creio que ninguém no mundo jamais tenha chegado a tanto – como “obra-prima da criação”.

Basta isto para dizer o amor de Deus para com o sexo feminino.
Mas a mulher será uma obra-prima se realmente for mulher.
Em seu ser - mulher está a certeza de cada atributo seu.

A mulher é meiga, a mulher tem o coração palpitante de religiosidade, talvez porque, mais do que o homem tem o sentido e a constância no sacrifício, na dor, na qual, em última análise, o Evangelho se concentra como último passo para o amor.    

Como mãe, e mãe santa, ela é o instrumento primeiro, benéfico, insubstituível, não só de ensinamento retos, mas de união entre os corações dos filhos que, para compor uma sociedade eficaz e produtiva, sã e saneadora, amanhã, de nada melhor precisarão do que perpetuar nela a união fraterna, base de toda paz duradoura. 

A mulher deve ladear o marido em uma posição aparentemente secundária, mas é como a sombra de uma escultura que lhe confere relevo e vida. Através dela, se for realmente mulher, depois esposa, e depois mãe, o homem conhecerá o seu limite ao lado de um anjo que lhe mostrará com a maternidade o que sabe operar o Senhor, o Criador, o Dispensador de todo bem.

Em tempos como os atuais, saturados de ateísmo e de aniquilamento do espírito, a mulher, com o seu natural instinto para Deus, com sua perene vocação para o amor, com sua perspicácia nas coisas e nos fatos, pela qual dá àquelas e a estes sabor e sentido, tem uma missão de primeira grandeza na renovação e recuperação da sociedade.

E por realiza-la. Homens e mulheres, quando crianças, são criados e instruídos em seu regaço.

Dela muito se espera hoje para a renovação da sociedade. Esta carência de Deus, este descaso que d’Ele se faz, esta luta aberta contra Ela, pode transformar-se amanhã numa expectativa, permitida pelo Céu, de uma grande época, triunfo de Deus, onde Ele, Majestade infinita, estará na boca de todos, no coração de todos, inspirador das mais belas artes, mentor nas mais altas descobertas, veia de poesia eterna, acorde de um canto novo.

Após o temporal vem a bonança e quiçá o arco-íris.
Esta aridez forçada, este ter privado o homem do elemento vital e vivificador, faz esperar e talvez prever um tempo não longínquo, em que a glória de Deus haverá de fulgir e os homens dirão uns aos outros com consolação e no pranto: “Onde estão os tempos em que Deus era esquecido ou até mesmo era proibido falar d’Ele?” E acrescentar-se-á: “Tinha razão Pio XII quando, olhando para o futuro, previa uma nova primavera”.

Se as mulheres tiverem feito sua parte, poderão dizer: “Quando a mulher é outra Maria, quer dizer, virgem, mãe, esposa, pranto, paraíso, mas sobretudo “portadora de Deus”, pode fazer muito por todos, porque a mulher, se é mulher, é o coração da humanidade”.

03 julho 2017

Estude a sua personalidade

Estude sua própria personalidade.

De nada nos valerá o conhecimento de todas as ciências do mundo, de tudo o que está fora de nós, se não conhecermos a nós mesmos.

Estude sua alma, que é seu verdadeiro eu, que se reflete em sua personalidade exterior. Nosso corpo é projeção de nossa alma.

Conheça a si mesmo, para viver uma vida consciente e feliz.

Hora própria

Tudo tem sua hora própria.

"O próprio céu tem horário para as trevas e para a luz".

Aprenda com a natureza! Se em certas horas precisamos receber, não se esqueça de que, noutras horas, temos obrigação de dar.

Ajude, pois, mas sem querer substituir-se a quem você ajuda.

Cada um precisa caminhar com seus próprios pés, para aprender a viver.

Saiba distinguir o momento oportuno de dar e receber.

01 julho 2017

Caminho de santidade

DEVEMOS TORNAR-NOS SANTOS, porque Jesus é santo. E nos tornaremos santos vivendo a Palavra. Aliás, sabemos que, quem vive a Palavra, pelo menos no momento em que a vive, já é santo. “Quem ouve a Palavra” – disse Jesus – (ou seja, quem a acolhe no próprio coração e a pratica) “já está puro” (cf. Jo 15,3).
      PARA CAMINHAR, temos a Palavra de Vida, que é “lâmpada para os meus passos” – diz um salmo – e “luz para o meu caminho” (Sl 119[118],105).
      É a Palavra que nos poderá levar à feliz conclusão de um bom caminho, que nos fará alcançar a santidade.
      CAMINHAMOS como aqueles que não sabem aonde ir, e temos nas mãos – basta querer – o código da vida, de cada vida, que é o Evangelho.
      VIVAMOS a Palavra de Deus tão radicalmente, a ponto de ela destruir nosso eu, anular nosso egoísmo, pregar-nos na cruz com Cristo, de modo que não sejamos mais nós a viver em nós, mas que em nós viva a Palavra, que é Ele.
      DEUS QUER os frutos, os efeitos. É por isso que o grão de trigo morre, para produzir fruto. É por isso que a Palavra deve fazer que morramos para o nosso eu, para o nosso modo de pensar, de amar, de querer, a fim de assumirmos o modo de Cristo.
      A PALAVRA DE DEUS é vida, mas esta é conquistada passando-se pela morte. É ganho, mas obtém-se perdendo. É crescimento, mas alcança-se diminuindo (cf. Mt 10,38-39).
      Encaremos o risco da sua Palavra.
      “POR VONTADE PRÓPRIA, Ele nos gerou por uma palavra de verdade, a fim de sermos como que as primícias dentre as suas criaturas” (Tg 1,18).
      A Palavra de vida depura, e quem a vive, quem é a Palavra, já está mundificado, purificado. De fato, é transferido em Outro, está em Deus, Palavra. Está (a vida da Palavra em nós, nós, Palavra viva) regenerado, ou seja, filho de Deus.
      SENHOR, percebemos que há em nós muitos defeitos. Mas temos a alegria de saber com segurança que “ser a tua Palavra viva” tira de nós toda escória, faz-nos sair renovados, momento a momento, como uma noz, da casca.

      “Ser a tua Palavra” significa ser um outro, fazer a parte do Outro que vive em nós: encontrar nossa liberdade na libertação de nós mesmos, dos nossos defeitos, do nosso não-ser.

30 junho 2017

Cada relacionamento seja caridade

É preciso traduzir em caridade, transformar em caridade, os diversos contatos que mantemos com o próximo durante o dia.

Do momento em que nos levantamos de manhã, até à noite quando vamos dormir, cada relacionamento com os outros deve ser caridade. Na igreja, em casa, no escritório, na escola, na rua, devemos encontrar as várias ocasiões para viver a caridade.

É nossa tarefa ensinar, instruir, governar, dar de comer, vestir, acudir os familiares, servir os clientes, despachar? Devemos fazer tudo isso por Jesus nos irmãos, sem descuidar de ninguém, aliás, sendo os primeiros a amar a todos.

É uma ginástica, ao longo do dia, mas vale a pena, porque, assim, progredimos no amor de Deus.


29 junho 2017

Cada Palavra é amor

NO COMEÇO do nosso novo caminho, o Senhor fizera-nos intuir o valor do amor, ao preparar em nós o terreno para ler o Evangelho. Já o havia feito, mas agora, na leitura do Evangelho, punha em evidência máxima as Palavras que dizem respeito ao amor e impelia-nos com força a vivê-las.
      Portanto, podia-se dizer também de nós o que se dizia dos primeiros cristãos: o amor de caridade (amor a Deus e ao próximo) era a primeira coisa que um membro da comunidade aprendia a viver (cf. 1Jo 2,7).
      VIVENDO UMA PALAVRA, depois outra, e mais outra, tínhamos constatado que, pondo em prática qualquer Palavra de Deus, no final, os efeitos eram idênticos. Por exemplo, vivendo a Palavra: “Bem-aventurados os puros de coração…” (Mt 5,8), ou, “Bem-aventurados os pobres em espírito…” (Mt 5,3), ou, “Bem-aventurados os mansos…” (Mt 5,4), ou, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39), ou, “Não faças a ninguém o que não queres que te façam” (Tb 4,15), chegávamos à mesma conclusão, obtínhamos os mesmos efeitos.
      O fato é que cada Palavra, embora sendo expressa em termos humanos e diferentes, é Palavra de Deus. Mas, como Deus é Amor, cada Palavra é caridade. Acreditamos ter descoberto, naquela época, sob cada Palavra, a caridade.
      E, quando uma dessas Palavras caía em nossa alma, tínhamos a impressão de que se transformava em fogo, em chamas, transformava-se em amor. Podíamos afirmar que a nossa vida interior era todo amor.
      SE PENETRAS no Evangelho – e esta é uma bela aventura para ti – te encontras, de repente, como se estivesses na crista de uma montanha. Portanto, já no alto, já em Deus, mesmo se, olhando para o lado, percebes que a montanha não é uma montanha, mas uma cadeia de montanhas, e a vida para ti é caminhar pelo divisor de águas até o fim.
      Cada Palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna.
      VIVAMOS A PALAVRA, que é o Amor Verdadeiro e o Verdadeiro Amor.


28 junho 2017

Cada momento tem a sua cruz

Pode-se notar, vivendo o presente, que — se o vivermos bem — é sempre possível pôr em prática as palavras de Cristo: “Toma a tua cruz”.
Quase todo momento tem a sua cruz: pequenas, insignificantes ou grandes dores espirituais ou físicas que acompanham a nossa vida no presente. É preciso “carregar” estas cruzes; não procurar esquecê-las, refugiando-se numa vida descomprometida.

E mesmo quando tudo falasse de saúde e alegria, é aconselhável, embora reconhecidos a Deus, viver desapegados e não nos voltarmos avidamente para os dons, esquecendo-nos do Doador e ficando depois tristes, com o vazio na alma.

27 junho 2017

A quem buscais?

Budapeste, 6 de abril 2003


«A quem buscais?»[1]
«Diálogo do povo»


         Caríssimos, uma saudação, do fundo do coração, a todos vocês, jovens, reunidos neste encontro ecumênico.
Como vocês devem saber, no âmbito da Jornada de hoje, intitulada: «A quem buscais?», eu fui convidada a oferecer-lhes uma experiência singular de um povo, que encontrou realmente o que procurava; um povo que está surgindo em várias partes do mundo, composto por fiéis de 350 Igrejas diferentes. Todos esses cristãos são animados por um modo específico de viver, por uma espiritualidade chamada da "unidade", que alguns consideram ecumênica e que é um dom do Espírito Santo. A "espiritualidade da unidade" que, tendo florescido num Movimento (o Movimento dos Focolares) agora é patrimônio universal porque, por exemplo, João Paulo II já a propôs a toda Igreja católica sob o nome de "espiritualidade de comunhão".
Os principais pontos em que se fundamentam emergiram do Evangelho. Quem a vive, pode tornar-se um instrumento que colabora na realização do testamento de Jesus: «Pai, que todos sejam um» (cf Jo 17,21), isto é, a unidade, e com ela a fraternidade universal; unidade e fraternidade universal, tão necessárias também no nosso tempo. De fato, como vocês sabem, hoje mais do que nunca, com os ameaçadores ventos de guerra e o terrorismo, que realmente aterroriza, o nosso mundo precisa de coesão e de solidariedade. A guerra divide os homens, aliás, os massacra; e o terrorismo produz imensos danos, por rancor ou vingança, causados sobretudo pelo desequilíbrio que existe no mundo entre países ricos e países pobres. Portanto, mais do que nunca é necessário almejar a unidade e suscitar em toda a parte a fraternidade que pode gerar partilha, inclusive de bens.
Como é possível promover no mundo a fraternidade, para que ela faça da humanidade uma única família? Isso é possível, se descobrirmos quem é Deus.
Nós, cristãos, acreditamos em Deus, sabemos que ele existe, mas Deus, embora o vejamos perfeitíssimo, onisciente e todo-poderoso, muitas vezes é imaginado por nós muito distante, inacessível e por isso não temos um relacionamento com ele.
São João Evangelista nos diz quem é Deus: «Deus é amor» (1 Jo 4,8) e por isso é Pai nosso e de todos. Essa afirmação, bem compreendida, muda radicalmente as coisas. De fato, se Deus é Amor e é Pai, ele está muito perto de nós, de mim, de você, de vocês. Ele segue cada passo que vocês dão. Ele se esconde por trás de todas as circunstâncias da vida de vocês, alegres, tristes ou indiferentes. Conhece tudo de vocês e de nós. Por exemplo, é o que diz a seguinte frase de Jesus: «Também os cabelos da vossa cabeça estão contados» (Lc 12,7), contados pelo seu amor, pelo amor de um Pai. Portanto, devemos estar certos de que ele nos ama. Mas não basta: devemos colocar Deus no primeiro lugar do nosso coração, antes de nós mesmos, antes das nossas coisas, antes dos nossos sonhos, antes dos nossos parentes. Jesus disse claramente: «Quem ama o pai e a mãe mais do que a mim não é digno de mim» (Mt 10,37).
E nasce outra pergunta: se Deus é Amor, é nosso Pai, qual deve ser a nossa atitude em relação a Ele? É óbvio: se ele é Pai de todos nós, devemos nos comportar como seus filhos e irmãos entre nós; no fundo, devemos viver aquele amor que é a síntese do Evangelho, isto é, tudo aquilo que o Céu exige de nós.
O nosso amor para com o próximo, porém, não deve ser um amor comum, uma simples amizade ou só filantropia, mas aquele amor verdadeiro que foi derramado nos nossos corações, pelo Espírito Santo, desde o batismo, e é o mesmo amor que vive em Deus. Esse amor tem qualidades especiais.
Agora, peço uma atenção particular, a todos vocês, jovens,!
Esse amor não é limitado, como o amor humano, dirigido quase que exclusivamente aos parentes e aos amigos. Ele é endereçado a todos: ao simpático e ao antipático, ao da nossa pátria e ao estrangeiro, da minha e de outra Igreja, da minha e de outra religião, amigo ou inimigo.
É um amor que impele a ser os primeiros a amar, a tomar sempre a iniciativa, sem esperar ser amado, como seria humano desejar.
Um amor, ainda, não feito de palavras ou de sentimentos. Sabendo sofrer com quem sofre, alegrar-se com quem se alegra, ajudar a todos concretamente.
Um amor que, embora dirigido a um homem ou a uma mulher, deseja amar Jesus neles, aquele Jesus que considera feito a si o bem ou o mal que se faz aos próximos (cf Mt 25,40.45), como nos será dito no dia do Juízo Universal.
E ainda, se somos vários a viver este amor, estabelecemos então o amor recíproco, realiza-se o mandamento de Jesus que diz: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo 13,34). Amai-vos reciprocamente é – pode dizer quem o viveu – o Paraíso na Terra. É mesmo assim.
Caríssimos jovens, voltando para as nossas famílias ou comunidades, na escola ou no escritório, tentemos amar a todos desse modo, senão não somos autênticos cristãos. Ao passo que este amor, vivido, pode suscitar no mundo uma revolução, em nós e ao nosso redor: é a revolução cristã.
Este amor, porém, nem sempre é fácil. Dificuldades próprias ou dos outros muitas vezes o abalam e isso causa sofrimento. O que fazer? Parar na dor? Não. O sofrimento tem, para o cristão um nome: chama-se cruz. E Jesus nos disse como nos devemos comportar com as cruzes: «Quem quer vir após mim, (...) tome a sua cruz todo dia (...)» (Lc 9,23). É preciso tomar a cruz, não arrastá-la. É preciso empunhá-la como uma arma, aceitá-la, ir em frente e continuar a amar.
Vamos nos deter um pouco para compreender e acolher no coração uma maravilhosa conseqüência do amor recíproco vivido. Se nós vivermos assim, acontecerá um fato extraordinário: florescerá entre nós a presença espiritual de Jesus no meio. Ele prometeu: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (isso quer dizer: no meu amor), eu estou no meio deles» (Mt 18,20).
Jesus conosco! Vocês já pensaram nisso? Já experimentaram? Talvez não! Pois bem, eu lhes asseguro que, quem viveu assim, experimentou no seu coração um amor novíssimo, uma força nova, luz, alegria, coragem, ardor, e são todos efeitos da sua presença. E se ele está presente, tudo é possível!
Caríssimos jovens, no início eu lhes prometi contar a experiência de um povo novo. Pois bem, é a espiritualidade, o modo de viver, de que tenho falado até agora, que suscitou esta realidade.
Alguns anos depois do nascimento do Movimento dos Focolares na Igreja católica, a espiritualidade da unidade, vivida, teve o grande privilégio de despertar o interesse, tocar e impressionar, sob um aspecto ou outro, fiéis de Igrejas diferentes. Os evangélicos luteranos, por exemplo, em contato conosco, católicos, ficaram admirados, porque não só se falava, mas se vivia com grande intensidade o Evangelho. Eles nos pediram para ajudá-los a difundir esta vida em suas paróquias e comunidades. Os anglicanos, na Inglaterra, foram atraídos pela idéia e pela praxe da unidade e nos convidaram a fazer o mesmo. Os ortodoxos ficaram interessados pelo fato de que sublinhamos a vida e o amor. E os reformados, gostaram da idéia de Jesus em meio, que tanto desejam em seus pequenos grupos. Aos metodistas agradou a tensão à santidade que esta espiritualidade suscita.
E, embora fossem cristãos de Igrejas diferentes, todos foram irmanados por este estilo de vida. Agora, aderem ao Movimento, como já disse, fiéis de 350 Igrejas ou Comunidades eclesiais! E a nossa vida em comum sempre foi abençoada e encorajada pelas autoridades católicas, mas também por autoridades das outras Igrejas. Os efeitos desse modo de viver nas várias Igrejas são os mesmos: conversões a Deus, novas vocações, renovação nas paróquias, nas comunidades, recomposição dos matrimônios, unidade entre as gerações, etc.
Com todos esses irmãos e irmãs das diversas Igrejas, conhecendo-nos e amando-nos, descobrimos também, como que pela primeira vez, quantas grandes riquezas já tínhamos em comum: em primeiro lugar, o batismo, depois o Antigo e o Novo Testamento, os dogmas dos primeiros Concílios, o Credo, os padres da Igreja gregos e latinos, os mártires e outras coisas, como a vida da graça, por exemplo, a fé, a esperança, a caridade, e muitos outros dons do Espírito Santo.
Antes vivíamos quase como se este patrimônio não existisse, agora nos damos conta de que tudo isso, junto com a nova espiritualidade que temos em comum, nas faz sentir de alguma forma "todos um". De fato, apesar de termos que trabalhar muito para recompor a unidade visível entre as nossas Igrejas, sentimos que já formamos "um povo cristão" de leigos, sacerdotes, religiosos, pastores, bispos.
Esta espiritualidade da unidade, ainda, é de luz no caminho para a plena comunhão visível, porque Jesus, se assim desejarmos e se o amarmos, pode estar presente espiritualmente, pelo batismo, entre católicos e evangélicos, assim como entre reformados e ortodoxos, entre metodistas e armênios, entre todos. Este é um vínculo tão forte que nos faz dizer: ninguém poderá nos separar, porque é Cristo mesmo que nos une, nos une naquilo que chamamos "diálogo do povo". Aliás, esperamos que outras formas de diálogo, como aquele da caridade, que era muito vivo, por exemplo, entre Paulo VI e Atenágoras, o diálogo da oração, que é vivido de modo especial na Semana de Oração pela Unidade dos cristãos, além do diálogo teológico, possam ser potencializados por este diálogo: Jesus em meio a pessoas que se amam, pode iluminar sempre.
Caríssimos jovens, o tempo em que vivemos pede a todos nós que façamos todo o esforço e realizar no mundo a fraternidade universal e pede a cada um de nós para recompor a unidade da Igreja, dilacerada há séculos. Deus deseja isso e repete e grita também com as presentes circunstâncias dolorosas que ele permite[2].
Eu mencionei, no início, os ventos de guerra e o terrorismo difundido no nosso planeta. Acreditem: nem tudo é culpa dos terroristas, se estamos vivendo um momento de tamanha emergência. E nem se deve unicamente ao fato de que as nações mais ricas não tenham ajudado e não ajudem outras nações em grande e extrema pobreza, suscitando pensamento de vingança; se bem que ambos os fatores sejam certamente as causas mais graves pelas quais a humanidade sofre hoje. Contudo, há mais alguma coisa: a culpa também é nossa.
Nós sabemos que os cristãos são muito numerosos no mundo. De fato, as estatísticas de 2003 indicam que os católicos atualmente no mundo são 61 milhões. Quantos seremos todos juntos? Um número enorme! Mesmo assim, como vocês sabem, em setembro de 2001, logo depois do atentado às Torres Gêmeas, houve alguém, no mundo hostil a nós, que qualificou os cristãos até de "ateus" e de "infiéis": uma mentira cósmica, certamente, com um fundo de verdade. Jesus, de fato, nos disse que o mundo nos teria reconhecido como seus discípulos e, por nosso intermédio, iria reconhecer a ele como o verdadeiro Deus, graças ao amor recíproco. «Nisso conhecerão que sois meus discípulos, se tiverem amor uns pelos outros» (Jo 13,35). Mas a unidade, como sabem, não foi mantida por nós e ainda não existe plenamente.
Que testemunho de Cristo, da sua verdade e do seu amor, nós demos e podemos dar? Infelizmente, já não somos como os primeiros cristãos, que eram um só coração e uma só alma e, portanto, tinham todos os bens em comum!
Então, o que fazer? Penso que só nos resta formular no coração um sincero propósito: começar amando – como eu disse – a todos, sendo os primeiros, amando concretamente, reconhecendo Jesus em todos, e amando-nos reciprocamente, a fim de que ele esteja presente entre nós, e ele saberá, com certeza, repetir o milagre dos primeiros cristãos.
Coragem, portanto, caríssimos jovens, coragem! Jesus disse: «Eu venci o mundo!» Se nos propusermos a amar, ele nos dará a vitória.


[1].            (Jo 18,7)
[2].            A guerra no Iraque (n.d.t.);

26 junho 2017

A RESSURREIÇÃO E O COSMO

Falando ainda da ressurreição, no Movimento às vezes se apresenta este singular modo de pensar a respeito do hábitat do homem, isto é, o cosmo.
Jesus que morre e ressuscita é certamente a causa verdadeira da transformação também do cosmo. Mas, dado que São Paulo nos revelou que nós, homens, completamos a paixão de Cristo e que a natureza anseia pela revelação dos filhos de Deus, pode ser também que Jesus espere a contribuição dos homens, cristificados pela Eucaristia, para realizar a renovação do cosmo.
Se a Eucaristia é causa da ressurreição do homem, não será possível que o corpo do homem, divinizado pela Eucaristia, está destinado a corromper-se debaixo da terra para ajudar a realizar a ressurreição do cosmo? Portanto, poderíamos dizer que em força do pão eucarístico o homem se torna “Eucaristia” para o universo, no sentido de que é, com Cristo, germe de transfiguração do universo.
A terra nos comeria, portanto, como nós comemos a Eucaristia, não para nos transformar em terra, mas a terra em «céus novos e terra nova».
É um nosso pensamento.
No Movimento cuidamos com dedicação dos lugares onde foram depositados os corpos de seus membros, destinados à Ressurreição. As Palavras de Vida, que iluminaram as suas existências, são inscritas nas suas sepulturas. E as pessoas do Movimento, visitando o cemitério e lendo-as, se edificam.
Queremos ainda que os nossos cemitérios sejam belos como jardins. Assim, também as sepulturas “falam”. Sabemos de alguém que, passando de uma a uma, e vendo nelas o amor que continua, a certa altura chorou.
O cosmo vai perdurar, sofrerá uma transformação, mas vai durar (...). Portanto, esta deve ser a nossa visão desde já: as galáxias, o crepúsculo, as flores, os pinheiros, os prados, o céu devem ser admirados com a idéia de que tudo isso permanecerá. Inclusive todas as obras do homem permanecerão, ainda mais se foram feitas por amor, pois assim já estão purificadas, se foram feitas por Jesus dentro de nós e entre nós. E as coisas feitas por Jesus perduram.
E como será o Paraíso? Será como a terra, porém transformada: não se sabe se acontecerá uma espécie de catástrofe, que vai originar uma nova terra e céus novos, ou se sofrerá apenas uma transformação. Temos a propensão de pensar numa transformação desta mesma terra, destes mesmos céus. É o que pensamos.
Estas idéias nos fazem valorizar também a ecologia que no Movimento é muito considerada. Temos que conservar bem a terra, por respeito, dado que também ela tem um papel no futuro.


25 junho 2017

A SAÚDE DA OBRA: SER UMA ÚNICA FAMÍLIA

No nosso Movimento se pensa que todos nós, que tivemos a graça de receber do Espírito Santo um carisma, que é como um sangue novo e comum que nos liga, somos e permaneceremos sempre uma única família, da qual alguns membros já partiram; uma família sempre à espera de reunir-se.
Concordamos, de fato, com o que escreveu padre Alberione, fundador dos paulinos:

Congregavit nos in unum Christi amor. Um único amor reuniu os nossos corações ao redor do Coração de Jesus Cristo. Assim acontece em cada Instituto secular, em cada família religiosa, que não se desfaz com a morte; portanto a Congregação pode ter membros na Igreja celeste gloriosa, outros em purificação, outros na Igreja peregrina. Todos com um único vínculo:
O amor (...)

Continua padre Alberione:

Os nossos irmãos da Igreja gloriosa ajudam os irmã os em purificação e os irmãos da Igreja peregrina. Os irmãos em purificação dão glória aos irmãos da Igreja gloriosa, enquanto rezam pelos irmãos da Igreja peregrina e esperam ajuda de ambos. Os irmãos da Igreja peregrina fazem sufrágios pelos irmãos em purificação e pedem ajuda aos irmãos da Igreja celeste gloriosa e em purificação. (...)

A frase seguinte é belíssima:

A Congregação se consolida — isto é, o nosso Movimento — se consolida e aperfeiçoa com a morte.

Pois esses aderentes já não podem deixar de amar. Quem estiver no Paraíso e no Purgatório não pode deixar de amar. Estão fixos na graça de Deus. Por isso, o nosso Movimento se consolida com a morte e não se enfraquece, como poderíamos pensar. Ele se consolida.

Ele se consolida e aperfeiçoa com a morte. Como irmãos em diversas condições, mas ainda unidos pelo mesmo fim: glória a Deus, paz aos homens»[1]

Escrevi no dia 25 de dezembro de 1973 aos focolarinos este trecho muito atual:

Se hoje eu tivesse que deixar esta terra e me fosse pedida uma palavra, como última que exprimisse o nosso Ideal, eu lhes diria (certa de que seria entendida no sentido mais exato):
“Sejam uma família”.
Existe entre vocês quem sofre em virtude de provações espirituais ou morais? Compreendam-no como e mais do que uma mãe! Iluminem-no com a palavra e com o exemplo. Não lhe deixem faltar, pelo contrário, aumentem ao redor dele o aconchego da família. Existe entre vocês quem sofre fisicamente? Seja o irmão predileto. Sofram com ele. Procurem entender profundamente as suas dores. Façamno participar dos frutos do apostolado de vocês para que saiba que mais do que os outros foi ele que contribuiu para isso.
Alguém está morrendo? Imaginem estar no lugar dele e façam o que gostariam que fosse feito a vocês até o último instante.
Existe alguém que se regozija por uma conquista ou por qualquer outra razão? Alegrem-se com ele, para que a sua consolação não seja diminuída e a alma não se feche, mas a alegria seja de todos.
Existe alguém que parte? Não o deixem partir sem lhe terem preenchido o coração de uma única herança: o sentido da família, para que o leve para onde está destinado.
Não anteponham jamais qualquer atividade de qualquer tipo, nem espiritual (por exemplo, orações e missa), nem apostólica ao espírito de família com aqueles irmãos com quem vocês vivem.
E por onde andarem para levar o Ideal de Cristo, para expandir a imensa família da Obra de Maria, não farão nada melhor do que procurar criar com discrição, com prudência, mas com decisão, o espírito de família. Este é um espírito humilde, deseja o bem dos outros, não se envaidece... (...), é a verdadeira caridade, completa.
Enfim, se eu tivesse que deixá-los, praticamente deixaria que Jesus em mim lhes repetisse:
“Amai-vos uns aos outros... para que todos sejam um”.

[1] Tiago Alberione. A tesse di esercizi spiriluali. Capo IX - Istruzione IX.

24 junho 2017

A felicidade

Talvez nunca como nestes últimos tempos sentimos a alegria de viver. E
uma alegria pura jamais experimentada e nasce do fato de que: conseguimos
encontrar!
Podemos até repetir uma frase que é a aspiração mais sincera de toda a
humanidade: encontramos a felicidade.
É preciso, porém, experimentar esta felicidade, para compreender o que ela
Esta alegria puríssima só pode ser Deus. Aquele Deus que encontramos a
cada instante, perdendo tudo no momento presente para sermos só a Sua
vontade viva.
Creio que é um estado da alma, talvez um pequeno degrau alcançado, do
qual, invocando o Senhor, com a esperança exclusivamente n’Ele, pedimos para
não descer mais.
Não, porque esta felicidade em nós, coincide com a glória de Deus, com a
extrínseca glória que a nossa alma pobre, porém tão amada por Deus, pode
oferecer-lhe.
Encontramos verdadeiramente a pérola preciosa pela qual vale a pena
vender tudo, perder tudo.
É Deus, o único que nos restará, daqui a pouco, ao passarmos para a
eternidade, onde a nossa Mãe nos espera, sem dúvida contente de nos ter
servido de “caminho” com a sua “desolação”.