31 março 2021

Os carismas: Evangelho encarnado

A IGREJA É UM JARDIM MAGNÍFICO onde floriram todas as Palavras de Deus, floresceu Jesus, Palavra de Deus, em todas as mais variadas manifestações. […]

Assim como a água se cristaliza em estrelinhas de todas as formas ao cair na terra como neve, também o Amor assumiu em Jesus a Forma por excelência, a Beleza das Belezas (“o mais belo dos Filhos dos homens”, cf. Sl 45,3). O Amor assumiu na Igreja diversas formas, que são as Ordens e as Famílias religiosas.

Na Igreja, floresceram, e florescem, todas as virtudes. Os fundadores das Ordens são determinada virtude transformada em vida e subiram ao Céu somente porque eram Palavra de Deus. Cumpriram o desígnio de Deus, que só pode ser Verbo, Palavra. […] Os fundadores são Palavras de Vida.

Todas essas Palavras formam a Igreja, outro Cristo ou um Cristo continuado, a Esposa de Cristo. É a Nova Jerusalém revestida de todas as virtudes.

CADA FUNDADOR organizou os próprios seguidores em família com as leis eternas do Evangelho, após ouvi-las ressoarem, com força nova e atual, pelo Espírito Santo em seu espírito.

ESSAS ORDENS e espiritualidades se mantêm, se vão à Fonte de onde obtêm Vida: Deus, o Evangelho inteiro, Jesus na expressão mais completa de si.

O QUE TODAS as Ordens religiosas, juntas, formam? Se tivéssemos todas elas, formariam um Evangelho; se tivéssemos todas elas, pensando na Palavra de Vida que foi o fundador delas, seriam a Palavra encarnada, e essas Palavras, reunidas, formam um Evangelho vivo.

E AINDA HOJE vemos realizarem-se os milagres dos discípulos de Jesus que abandonam tudo e o seguem: sinal de que Ele está presente na história e nos povos, como vinte séculos atrás.

30 março 2021

Uma relação esponsal

DO SACRÁRIO, Jesus me ensinava que eu devia atraí-lo a mim com o amor, como que aspirá-lo em mim, e que Ele era Palavra de Vida, e que eu, vivendo a Palavra, o teria amado como Esposa e Ele teria sido eu… Vivendo a Palavra cada momento.

CADA MOMENTO que vivo a Palavra é um beijo na Boca de Jesus, aquela Boca que só disse Palavras de Vida.

E, de Boca a boca, a Palavra passa. Ele comunica si mesmo (que é Palavra) à minha Alma. Eu sou una com Ele! E nasce Cristo em mim (cf. Ct 1,2).

TODA A MINHA VIDA deve ser apenas uma relação de amor com meu Esposo. Tudo aquilo que foge disso é vaidade. Tudo aquilo que não é a Palavra vivida é vaidade.

PARA NÓS, para cada um de nós, a Palavra de Vida é a vestimenta, a roupa nupcial da nossa alma esposa de Cristo.

A PALAVRA DE DEUS é como a roupa que vestimos todos os dias: o uniforme do cristão, que exterioriza o conteúdo evangélico do nosso ser filhos de Deus. Protege e mantém o fogo que a graça e a caridade acenderam em nós, preserva dos ímpetos excessivos dos inimigos da alma que correm pelo mundo, fora e dentro de nós, e principalmente coloca o nosso espírito em posição de conquista e não de defesa.

29 março 2021

Jesus Abandonado: Palavra totalmente explicada

JESUS ABANDONADO1 se revelara a nós como a Palavra por excelência, a Palavra totalmente explicada, a Palavra completamente aberta.

JESUS jamais foi Palavra tão viva como quando gritou lá na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mt 27,46; Mc 15,34).Lá, falou o Amor, exprimiu o Amor, o Amor que é Deus.

NAQUELA TERRÍVEL PROVAÇÃO, Jesus Abandonado viveu o Evangelho em sua completude e com a máxima profundidade. Se evidenciássemos cada exortação que Jesus fez no Evangelho, veríamos que Ele, naquele momento, viveu-as todas.

O Evangelho pede que amemos a Deus com todo o coração, a mente, as forças? Jesus Abandonado é o modelo daqueles que assim o amam. De fato, Ele ama a Deus até quando se sente abandonado por Ele. Jesus Abandonado é o modelo perfeito de todo pobre de espírito: é tão pobre que, por modo de dizer, não tem nem Deus, não o sente mais. Jesus Abandonado pode repetir em si todas as bem-aventuranças. É sobretudo ali que se mostra sumamente misericordioso, que derrama toda a sua misericórdia; que se mostra faminto e sedento de justiça. É ali que aparece perseguido misteriosamente até pelo Céu, é onde o admiramos manso e pacífico, desapegado também daquilo que possui de mais sagrado e divino.

NO ABANDONO, Jesus nos amou como a si mesmo. Reduzindo-se quase a apenas homem, fez de nós Deus. Ali era pobre, manso, misericordioso… O Evangelho diz: “Qualquer coisa que fizestes ao mais pequenino…” (cf. Mt 25,40). Jesus desceu até o fundo, para erguer o último pecador. Viveu o “Quem é fiel nas coisas mínimas…” (cf. Lc 16,10). Sempre foi fiel ao Pai, portanto, também ali, na grande provação. “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz” (Mc 8,34). Jesus Abandonado é a renúncia a si de um homem-Deus. Além do mais, tomou realmente a sua cruz. “Não vim para os justos, mas para os pecadores” (cf. Mt 9,13). Ali se vê. Com Jesus Abandonado, vivemos todo o Evangelho. Ao mesmo tempo, vivendo as Palavras individualmente, compreendemos melhor Jesus Abandonado.

QUEM DIRIGE OS OLHOS do coração para Ele, encontra… o Evangelho puro.

JESUS ABANDONADO dá-nos a possibilidade de viver todo o Evangelho.

NOSSO VIVER a Palavra é viver Jesus Abandonado.

1 Referência da Autora a Jesus no momento em que grita, na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” Esse mistério é um dos pontos-chave da Espiritualidade da Unidade. [N.d.E.]

  

28 março 2021

Código da revolução cristã

O EVANGELHO não é um livro como os outros. Onde ele finca raízes, provoca a revolução cristã, porque dita leis não só para a união da alma com Deus, mas das pessoas entre si, sejam elas amigas ou inimigas. E pede, qual imperativo supremo, a unidade de todos, o Testamento de Jesus realizado, pelo menos naquela porção da sociedade em que os cristãos que vivem a Palavra estão inseridos. E, em todos os lugares onde um deles vive, até o deserto floresce.

O EVANGELHO é portador da vida mais fascinante, acende a luz no mundo, dá sabor à nossa existência, guarda em si o princípio da resolução de todos os problemas.

SÓ É POSSÍVEL conceber uma sociedade seriamente renovada se se formarem “homens novos”, renovados pelo Evangelho. Cada um deles, então, em seu ambiente, esternará a própria fé cumprindo seus deveres, e as estruturas eficazes já existentes adquirirão novo valor, as ineficientes cairão e as que faltam germinarão.

NÃO É PRECISO ir muito longe para encontrar remédio e solução para as fumaças que empestam a atmosfera do mundo. O Evangelho é a saúde eterna, e quem até morre, em nome dele e por ele, desaparecendo, ignorado talvez por todos, inclusive em nossos dias, vive. Ele, porque amou, e perdoou, e defendeu, e não cedeu, é um vitorioso e, como tal, é acolhido nos páramos eternos.

Mas o Evangelho não há de ser apenas a norma da nossa morte. Ele deve ser o pão cotidiano da nossa vida.

O MUNDO é monótono e apagado, inclusive porque, ávido de novidades, se afoga nas notícias veiculadas todos os dias nos jornais que seduzem e decepcionam.

Talvez, se alimentássemos mais frequentemente a alma com Palavras eternas que venceram o mundo e a ele resistiram com sabedoria e ciência, nós a mergulharíamos em águas salutares, retirando-a depois, mais feliz e mais ela mesma, porque marcada de imortalidade.

É INÚTIL não admitir. Não somos cristãos como Jesus gostaria que fôssemos, a não ser em casos raros.

Se observássemos, por exemplo, as bem-aventuranças, não encontraríamos edifícios de sofrimento, mas casas onde se alçam – na medida do possível – hinos de agradecimento ao Senhor. Não encontraríamos suporte, mas “paz” nos corações e mansidão nos filhos de Deus na conquista da terra. Não encontraríamos pessoas emaranhadas nas sujeiras do mundo, mas olhos que, mesmo estando no mundo, veem a luz de Deus. Não encontraríamos pobreza, mãe de miséria espiritual, mas riqueza de Reino de Deus. Não encontraríamos ira, ódio, vingança, falta de perdão, porque todos os relacionamentos humanos seriam temperados pela misericórdia.

Mas, ao contrário, o mundo é uma melancolia perene e são esquecimento os locais do choro, choro perene, e os locais dos mortos, embora vivos para a verdadeira vida.

O mundo – embora cristão – continua o que é porque os cristãos não se amam. Eles, não se amando, não põem Cristo entre eles, e Jesus não pode sussurrar às suas almas os verdadeiros valores do Evangelho, e onde não existe comunhão existe pouco cristianismo.

27 março 2021

Falar, anunciar o Evangelho

A DESCOBERTA da Palavra de Deus, tão especial, diferente das palavras humanas, luminosa, universal, tão única, que se pode traduzir em vida, injetava em nossos corações tamanho fervor divino e entusiasmo, tamanha ânsia de logo encarná-la, que não queríamos viver senão como servas dela, seguidoras fidelíssimas da Palavra, seus cálices receptores. E, assim, impregnávamo-nos de Evangelho, daquele Evangelho que, se vivido como tal, não pode deixar de esmigalhar o modo de viver meramente humano, de romper com o mundo, mas também arrastar muitos para outra vida, que dava origem à comunidade cristã e desencadeava a revolução de Cristo.

ERA O CORAÇÃO transbordante de amor por Deus das primeiras e dos primeiros focolarinos1 que fazia derramar sobre muitos o Evangelho redescoberto!

Como fazer para que seja assim também hoje, em toda a parte?

A quais próximos abrir nosso coração e de que modo, depois de tê-los amado?

A todos, a todos. Embora nem sempre se possa falar com a boca, pode-se sempre falar com o coração, chamando-os pelo nome, por exemplo, cumprimentando-os de uma determinada forma, de modo que percebam que são importantes para nós, que certamente não nos são indiferentes, que já existe um vínculo com eles, feito talvez apenas de um respeitoso silêncio. Essas palavras sem rumor, como pode ser um sorriso, se acertadas, não podem deixar de abrir uma passagem nos corações.

E, assim que a passagem se abrir em alguém, não se deve esperar, mas ocorre falar, dizer até mesmo poucas palavras… mas falar, anunciar o Evangelho.

QUANDO OS DISCÍPULOS estavam reunidos com Maria, o Espírito Santo os investiu veemente, e eles falaram palavras de vida com uma força arrebatadora e convenceram milhares de pessoas a seguir Jesus. E eles batizaram e construíram a Igreja.

Com Maria… era a presença do amor. De um amor novo.

Se entre nós, cristãos, nos amássemos como se Maria, nossa Mãe, estivesse em nosso meio, creio que teríamos uma compreensão maior da Palavra de Deus, que os sucessores dos Apóstolos pregam. E ela penetraria tão fortemente em nós e nos outros que desencadearia a revolução cristã ao nosso redor… Porque, admitamos, cochilamos demais, e estacionamos, e perdemos tempo com mil vaidades, fazendo-nos passar por cristãos, enquanto a revolução do ódio invade o mundo.

1 Membros da comunidade fundada pela Autora. [N.d.E.]

26 março 2021

Caminho de santidade

DEVEMOS TORNAR-NOS SANTOS, porque Jesus é santo. E nos tornaremos santos vivendo a Palavra. Aliás, sabemos que, quem vive a Palavra, pelo menos no momento em que a vive, já é santo. “Quem ouve a Palavra” – disse Jesus – (ou seja, quem a acolhe no próprio coração e a pratica) “já está puro” (cf. Jo 15,3).

PARA CAMINHAR, temos a Palavra de Vida, que é “lâmpada para os meus passos” – diz um salmo – e “luz para o meu caminho” (Sl 119[118],105).

É a Palavra que nos poderá levar à feliz conclusão de um bom caminho, que nos fará alcançar a santidade.

CAMINHAMOS como aqueles que não sabem aonde ir, e temos nas mãos – basta querer – o código da vida, de cada vida, que é o Evangelho.

VIVAMOS a Palavra de Deus tão radicalmente, a ponto de ela destruir nosso eu, anular nosso egoísmo, pregar-nos na cruz com Cristo, de modo que não sejamos mais nós a viver em nós, mas que em nós viva a Palavra, que é Ele.

DEUS QUER os frutos, os efeitos. É por isso que o grão de trigo morre, para produzir fruto. É por isso que a Palavra deve fazer que morramos para o nosso eu, para o nosso modo de pensar, de amar, de querer, a fim de assumirmos o modo de Cristo.

A PALAVRA DE DEUS é vida, mas esta é conquistada passando-se pela morte. É ganho, mas obtém-se perdendo. É crescimento, mas alcança-se diminuindo (cf. Mt 10,38-39).

Encaremos o risco da sua Palavra.

“POR VONTADE PRÓPRIA, Ele nos gerou por uma palavra de verdade, a fim de sermos como que as primícias dentre as suas criaturas” (Tg 1,18).

A Palavra de vida depura, e quem a vive, quem é a Palavra, já está mundificado, purificado. De fato, é transferido em Outro, está em Deus, Palavra. Está (a vida da Palavra em nós, nós, Palavra viva) regenerado, ou seja, filho de Deus.

SENHOR, percebemos que há em nós muitos defeitos. Mas temos a alegria de saber com segurança que “ser a tua Palavra viva” tira de nós toda escória, faz-nos sair renovados, momento a momento, como uma noz, da casca.

“Ser a tua Palavra” significa ser um outro, fazer a parte do Outro que vive em nós: encontrar nossa liberdade na libertação de nós mesmos, dos nossos defeitos, do nosso não-ser.

 

25 março 2021

No momento presente

SÓ É APROVEITADA com inteligência a vida de quem leva o Evangelho no coração, todos os dias de sua existência. E encontra seu supremo ideal encarnando as Palavras do Céu.

VIVENDO A PALAVRA de vida na vontade de Deus, momento por momento, sou a Palavra viva, a viva expressão do amor.

DO NOSSO DIA, valerá o que, durante ele, tivermos “assimilado” de Palavra de Deus.

SE ESCOLHEMOS DEUS como ideal [de vida] – e essa é a nossa identidade –, se o colocamos em primeiro lugar, isso requer praticamente que coloquemos em primeiro lugar em nosso coração a sua Palavra, a sua vontade. Ela deve emergir sobre tudo o mais. Diante dela, todas as outras coisas, de certo modo, devem tornar-se indiferentes, com aquela santa indiferença a que alguns santos se referem. Em nossa vida, não deve ter tanta importância, por exemplo, ser sadio ou doente, estudar ou servir, dormir ou rezar, viver ou morrer. O importante é viver a Palavra, ser Palavra viva.

O QUE É AQUELA “mola” que deveria aprumar a nossa vida, sempre “fora” demais até nas obras por Deus? É a Palavra de Deus, que deve iluminar os nossos atos, que nos arraiga sempre em Deus e nos oferece o modo de viver aqui na terra.

VIVENDO o momento presente, vivo todo o Evangelho.

Se a Escritura ensina a fazer bem as pequenas coisas, é justamente essa a característica de quem não faz outra coisa, com todo o coração, senão aquilo que Deus lhe pede no presente.

Se alguém vive no presente, Deus vive nele, e se Deus está nele, nele está a caridade. Quem vive o presente é paciente, é perseverante, é manso, é pobre de tudo, é puro, é misericordioso, porque possui o amor em sua expressão mais alta e genuína; ama realmente a Deus com todo o coração, toda a alma, todas as forças; é iluminado interiormente, é guiado pelo Espírito Santo e, portanto, não julga, não pensa mal, ama o próximo como a si mesmo, tem a força da loucura evangélica de oferecer a outra face, de caminhar duas milhas…

Muitas vezes, tem a oportunidade de dar a César o que é de César, porque em muitos momentos presentes deve viver plenamente a sua vida como cidadão… e assim por diante.

Quem vive o presente está no Cristo Verdade.

E isso sacia, sacia a alma que sempre anseia possuir tudo em cada momento de sua vida.

24 março 2021

Todo o Evangelho, Palavra por Palavra

JÁ NOTASTE que, se não tens noção do alfabeto e das poucas regras gramaticais que se aprendem no ensino fundamental, continuas a vida inteira analfabeto, sem saber ler nem escrever, embora tendo inteligência e vontade?

Do mesmo modo, se não sabemos assimilar, uma a uma, as Palavras de Vida que Jesus esculpiu no Evangelho, nós, embora “bons cristãos”, continuamos “analfabetos do Evangelho”, incapazes de escrever com a nossa vida: Cristo.

QUANTO MAIS vou em frente, mais vejo a beleza da Palavra de Vida1. É a pílula que concentra em si tudo aquilo que Jesus trouxe à terra: a mensagem evangélica.

Também hoje procurarei ser Palavra viva.

COMO NA HÓSTIA SANTA está Jesus inteiro, e também em cada fragmento dela, assim também no Evangelho está Jesus inteiro, e também em cada uma das suas Palavras.

SÃO PALAVRAS de um Deus, as suas, densas de uma força revolucionária, insuspeita. Sabendo assimilá-las em nosso espírito, geramos Cristo até mesmo espiritualmente em nosso coração.

Sim, isso é o que devemos fazer: nutrirmo-nos da Palavra de Deus e, assim como hoje todo o alimento necessário ao corpo pode ser tomado numa pílula só, do mesmo modo nos podemos nutrir de Cristo vivendo apenas uma das suas Palavras por vez. De fato, Ele está presente em cada uma delas.

Desse modo, se o que conta é o ser e não o ter – como se diz hoje – e se – podemos acrescentar – é o ser que conta mais do que o fazer, devemos estar certos de que, com a Palavra, o Ser por excelência está em nosso coração, aliás, cresce em nosso coração. É Deus Aquele que é. Será o Ser, portanto, que poderá agir em nós.

QUANDO ENSINAVA, Jesus falava com autoridade, e seus discursos são uma série de afirmações impostas pela Verdade em pessoa.

Por isso, convém “re-evangelizar-se”, assimilando-os um a um, até penetrarem no fundo da alma, como que essência dela, nova forma mentis do “homem novo” em nós.

Fazer isso é a mais profunda, íntima, segura revolução, também hoje necessária.

TODAS AS PALAVRAS de vida do Evangelho devem ser impressas pouco a pouco na alma, a ponto de não sermos mais capazes de raciocinar a não ser como Cristo.

1 Cf. aqui, Apresentação, pp. 8-9.

 

23 março 2021

Fazer uma comunidade cristã florescer

NÃO VIVÍAMOS a Palavra de Deus apenas individualmente, cada uma por conta própria. As experiências úteis, as iluminações, as graças obtidas da vivência eram postas em comum, deviam ser postas em comum, pela exigência da Espiritualidade da Unidade, que espera nos santifiquemos juntos.

Sentíamos o dever de comunicar aos outros tudo o que experimentávamos, mesmo porque éramos conscientes de que, doando, a experiência permanecia, para edificação de nossa vida interior, ao passo que, não doando, a alma lentamente ia empobrecendo.

MUDARAM todos os relacionamentos com Deus e com os irmãos e, com a Palavra e pela Palavra, floresceu uma comunidade cristã.

Pessoas que antes nem se conheciam tornaram-se irmãs, até colocarem em prática a comunhão dos bens materiais e espirituais entre si; gente até então dispersa tornou-se povo, comunidade, porção de Igreja viva.

E QUALQUER UM DENTRE NÓS, sem sutilezas e raciocínios, que acreditava em suas Palavras com o encanto de uma criança, e colocava-as em prática, usufruía desse paraíso antecipado, que é o Reino de Deus em meio a homens unidos em seu nome.

O FATO É QUE o destino da semente é morrer para dar vida à árvore, como o destino da Palavra de Deus é ser “ingerida” para dar vida a Cristo em nós e a Cristo entre nós.

ESTEJAMOS UNIDOS em nome do Senhor, vivendo a Palavra de vida que nos faz um (cf. Fl 2,16).

Pensei no enxerto das plantas, onde dois ramos descascados, ao contato das duas partes vivas, tornam-se uma coisa só.

Quando duas almas poderão consumar-se em um? Quando forem vivas, ou seja, quando estiverem descascadas do humano e, mediante a Palavra de Vida vivida, encarnada, forem Palavras vivas. Duas Palavras vivas podem consumar-se em um. Se uma não for viva, a outra não se poderá unir.

EMBORA DISTANTES, uma Luz nos ligará, imperceptível aos sentidos e desconhecida do mundo, porém, por Deus estimada mais do que qualquer outra coisa: a Palavra de Vida.

 

22 março 2021

Para ser Cristo

JÁ QUE A PALAVRA É CRISTO, ela gera Cristo em nossa alma e nas almas dos outros.

Se somos cristãos, mesmo antes de viver a Palavra, existe em nós a graça, portanto, a vida de Cristo e, com ela, temos, sem dúvida, a luz de Deus e também o amor, mas ficamos um tanto fechados, como numa crisálida. Vivendo o Evangelho, o amor desprende luz, e a luz dilata o amor. A crisálida começa a se mexer até que dela sai a borboleta. A borboleta é o pequeno Cristo que começa a ocupar lugar em nós e, depois, a crescer cada vez mais, cada vez mais… de modo a ficarmos cada vez mais plenos dele.

A COMUNHÃO com Cristo aumenta ao vivermos a sua Palavra.

SE NÃO VIVO a Palavra, parece que não vivo. Ou sou a Palavra, ou não sou, porque, se não vivo a Palavra sou eu que vivo, e eu sou nada, ao passo que, se sou a Palavra, é Jesus que vive em mim.

PODEMOS “SER” se vivemos a Palavra, se somos a Palavra viva.

De fato, as Palavras de Jesus não são meramente exortações, sugestões, orientações, diretrizes, ordens, mandamentos. Na Palavra de Jesus está presente o próprio Jesus que fala, que nos fala. Suas Palavras são Ele mesmo, o próprio Jesus.

Sendo assim, na Palavra, nós o encontramos. Acolhendo a Palavra em nosso coração, como Ele quer que seja acolhida (isto é, estando prontos a traduzi-la em vida), somos um com Ele, e Ele nasce ou cresce em nós e, assim, somos. Eis, então, o Ser.

Mas, para tanto, é preciso viver a Palavra, fazê-la nossa; anularmo-nos para sê-la, colocá-la acima de nossos pensamentos e de nossos afetos. Ela é lâmpada para nossos passos, a verdadeira companheira na “santa viagem”, que é a vida (cf. Sl 83[84], 6), pois não podemos ter nenhum companheiro melhor do que Jesus, que nela vive. Por meio dela vamo-nos evangelizando e irradiamos o Evangelho ao nosso redor.

EXPERIMENTEI que é verdade que a Palavra de Deus é uma presença de Cristo e coincide com o próprio Verbo.

Então, pensei que essa comunhão com Jesus em sua Palavra eu posso fazê-la a todo instante e, a todo instante, posso nutrir-me dele e fazer que Ele cresça em mim, como uma comunhão contínua.

Vi o Evangelho não, certamente, como um livro de consolação, em que nos refugiamos nos momentos de dor para nele encontrar uma resposta, mas como o código que encerra as leis da vida, de cada momento da vida; leis que não devem apenas ser lidas e observadas, mas “ingeridas” com a alma e que fazem de nós Cristo em cada instante!

Experimentei isso de modo tão vital a ponto de que fossem relegadas ao mínimo e ao nada todos os aspectos presentes em cada momento da vida (dolorosos, alegres, comuns, extraordinários) e a ponto de fazer que, confrontando-os entre si, eles me fossem indiferentes, para considerar importante apenas o Cristo que, com sua Palavra, os preenche e os vive.

TU ÉS ESPLÊNDIDO!

Oh, Jesus, como és Deus em teu falar.

Entretanto, quão pouco te conhecemos – repito – se não lemos o Evangelho.

O Evangelho libera luz a cada passo. Além disso, cada Palavra tua é um facho de luz incandescente, todo divino.

Vem, vem a meu coração esta noite, e eu te adorarei.

Não há outra coisa a fazer diante de tamanho esplendor e, fazendo isso, fizemos tudo. Sim, Senhor, Tu deves ser adorado. O resto, do resto cuida Tu por nós, como um irmão e uma coisa só com o Pai.


21 março 2021

Viver a Palavra

NÓS, QUANDO MUITO, meditávamos a Palavra de Deus, nela penetrávamos com a mente, dela extraíamos uma ou outra consideração e, se fôssemos fervorosos, um ou outro propósito.

Aqui [em nossa comunidade] era bem diferente. A Palavra era esmiuçada em suas mais diversas aplicações, no contato contínuo com a vida, e provocava uma transformação em cada um e no grupo. Quando a vivíamos, não era mais o eu, ou o nós, quem vivia, mas a Palavra em mim, a Palavra no grupo. E isso significava revolução cristã, com todas as suas consequências.

TODO O NOSSO EMPENHO consistia em viver o Evangelho.

A Palavra de Deus penetrava profundamente em nós a ponto de mudar a nossa mentalidade. O mesmo acontecia também com todos os que tinham algum contato conosco.

Essa nova mentalidade, que se ia formando, manifestava-se como uma verdadeira contestação divina ao modo de pensar, de querer e de agir do mundo.

E provocava em nós uma re-evangelização.

NÃO NOS BASTAVA viver a Palavra quando tínhamos oportunidade, mas nutríamo-nos dela em todos os instantes da nossa vida. É assim: como o corpo respira para viver, a alma, para viver, vivia a Palavra.

ENTENDEMOS que o mundo precisa de uma terapia de… Evangelho, porque só a Boa-Nova pode dar novamente a ele a vida que lhe falta. Por isso é que vivemos a Palavra de vida… Encarnamo-la em nós até sermos aquela Palavra viva.

Bastaria uma Palavra para nos santificarmos, para sermos outro Jesus.

Pelo tempo afora, vivemos muitas Palavras da Sagrada Escritura, de modo que elas continuam sendo patrimônio indelével de nossa alma.

Nossa tarefa é viver a Palavra no momento presente da nossa vida.

Todos podemos vivê-la, qualquer que seja a vocação, qualquer que seja a idade, o sexo, a condição em que estejamos, porque Jesus é Luz para todo homem que vem a este mundo.

Com esse método simples, re-evangelizamos as nossas almas e, com elas, o mundo…

AQUELE QUE OUVE a palavra de Deus e a põe em prática é como a casa sobre a rocha.

Só os cristãos que põem em prática a Palavra de Deus saberão alcançar a vitória em tempos de perseguição. Poderão vir ventos e tempestades, mas eles não se abalarão.

 

20 março 2021

Cada Palavra é Amor

NO COMEÇO do nosso novo caminho, o Senhor fizera-nos intuir o valor do amor, ao preparar em nós o terreno para ler o Evangelho. Já o havia feito, mas agora, na leitura do Evangelho, punha em evidência máxima as Palavras que dizem respeito ao amor e impelia-nos com força a vivê-las.

Portanto, podia-se dizer também de nós o que se dizia dos primeiros cristãos: o amor de caridade (amor a Deus e ao próximo) era a primeira coisa que um membro da comunidade aprendia a viver (cf. 1Jo 2,7).

VIVENDO UMA PALAVRA, depois outra, e mais outra, tínhamos constatado que, pondo em prática qualquer Palavra de Deus, no final, os efeitos eram idênticos. Por exemplo, vivendo a Palavra: “Bem-aventurados os puros de coração…” (Mt 5,8), ou, “Bem-aventurados os pobres em espírito…” (Mt 5,3), ou, “Bem-aventurados os mansos…” (Mt 5,4), ou, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39), ou, “Não faças a ninguém o que não queres que te façam” (Tb 4,15), chegávamos à mesma conclusão, obtínhamos os mesmos efeitos.

O fato é que cada Palavra, embora sendo expressa em termos humanos e diferentes, é Palavra de Deus. Mas, como Deus é Amor, cada Palavra é caridade. Acreditamos ter descoberto, naquela época, sob cada Palavra, a caridade.

E, quando uma dessas Palavras caía em nossa alma, tínhamos a impressão de que se transformava em fogo, em chamas, transformava-se em amor. Podíamos afirmar que a nossa vida interior era toda amor.

SE PENETRAS no Evangelho – e esta é uma bela aventura para ti – te encontras, de repente, como se estivesses na crista de uma montanha. Portanto, já no alto, já em Deus, mesmo se, olhando para o lado, percebes que a montanha não é uma montanha, mas uma cadeia de montanhas, e a vida para ti é caminhar pelo divisor de águas até o fim.

Cada Palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna.

VIVAMOS A PALAVRA, que é o Amor Verdadeiro e o Verdadeiro Amor.

 

19 março 2021

A Palavra contém Deus

JESUS É EXTRAORDINÁRIO! Pouco o conhecemos, se não lemos o Evangelho com amor.

Muitas vezes, fizemos dele uma imagem nossa, a partir de alguma piedade tradicional medíocre. Mas, no Evangelho, Ele aparece como é: é Deus. Revela-se continuamente: Deus. Um Deus… que fala, que se cansa, que caminha, que tem discípulos… Um Deus-Homem!

AS PALAVRAS DE JESUS!

Deve ter sido a sua maior… arte, se assim se pode dizer. O Verbo que fala com palavras humanas. Que conteúdo, que timbre, que voz, que intensidade!

Haveremos de reouvi-las no Paraíso. Ele me falará, Ele nos falará. Isso será o Céu amanhã, logo.

O EVANGELHO na Igreja é Jesus histórico explicado: a Revelação.

AS EXPRESSÕES do Evangelho de João “a tua palavra”, “as palavras que me comunicaste”, “que saí de junto de ti” e “que me enviaste” (cf. Jo 17), de certo modo são sinônimas, ou melhor, as palavras que Jesus disse aos apóstolos são o próprio Verbo gerado pelo Pai, ou melhor, estão todas no Verbo gerado.

Essa interpretação me dá certa embriaguez espiritual porque, se assim é, a Palavra de Deus que nós vivemos, a qual comungamos, é justamente Jesus. Por isso, se vivemos a Palavra o dia inteiro, estamos em comunhão contínua.

QUE ABISMOS as Palavras de Deus encerram! Elas contêm o próprio Deus.

CADA PALAVRA de Vida é Jesus.

EM CADA PALAVRA está toda a Palavra, do mesmo modo que, na Palavra, está cada Palavra.

 

18 março 2021

A “chave” do Evangelho

ABRINDO COM AMOR o Evangelho, ou, em todo caso, o Novo Testamento, durante as longas horas de permanência nos abrigos antiaéreos, vieram à tona aquelas Palavras que falam mais explicitamente de amor: “Uma só coisa é necessária” (Lc 10,42); “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19); “Amai os vossos inimigos” (Mt 5,44); “Amai-vos uns aos outros” (Jo 15,17); “Acima de tudo cultivai, com todo o ardor, o amor mútuo” (1Pd 4,8).

Pareceram-nos Palavras de uma potência revolucionária, de uma vitalidade desconhecida, as únicas capazes de mudar radicalmente a vida – inclusive a nossa, de cristãos dessa época.

ACHAMOS que era luminosíssima a Palavra do Testamento de Jesus: “Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34), que, aliás, corresponde – e amplia – àquela do Testamento feito ao Pai: “Para que sejam um. […] Eu neles e tu em mim para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17,21.23).

Nós a atuamos do modo como a compreendemos e a vimos como síntese de todo o Evangelho, uma síntese tão completa a ponto de ter como resultado o que de melhor se pode esperar: a plenitude da vida da Igreja, do Corpo Místico, em que os membros vivem tanto a vida de Jesus a ponto de serem outros Jesus.

QUEM NOS IMPELIU a escolher justamente o mandamento do amor mútuo e quem colocou em nosso coração uma fé tão grande no Evangelho? O Espírito Santo. Foi Ele. A Ele, nosso agradecimento para sempre.

ENTENDÍAMOS o Testamento de Jesus com uma compreensão que só podia ser iluminada por uma graça especial. Tendo penetrado nele – como Deus quis e na medida que Ele quis –, foi-nos mais fácil depois entender o restante do Evangelho.

De fato, muitas vezes dávamos este exemplo: imaginem o Evangelho como uma planície, um terreno onde estão escritas todas as Palavras; e lá no fim, o Testamento de Cristo, que sintetiza todas elas. O Senhor, ensinando-nos a unidade, à qual todas as verdades evangélicas se ligam, como que perfurou o terreno, para fazer-nos penetrar no Evangelho e entender o resto dele por dentro, captando-o na raiz de cada Palavra, no seu sentido mais verdadeiro.

QUEM VIVE a unidade vê o Evangelho com o olho de Deus e nele penetra mais ou menos em profundidade, dependendo da experiência, ou seja, da santidade armazenada em sua vida de unidade, e da intensidade com que vive o momento presente.

 

17 março 2021

Na escola do Mestre

EU TINHA sede da verdade, daí o estudo da filosofia. Aliás, mais do que isso. Como tantos outros jovens, buscava a verdade e acreditava que a encontraria no estudo. Entretanto, veio-me uma das grandes ideias do começo da nossa “divina aventura”, comunicada de imediato às minhas companheiras: “Para que procurar a verdade, quando ela vive encarnada em Jesus, homem-Deus? Se a verdade nos atrai, larguemos tudo, busquemos Jesus e sigamo-lo.

Assim fizemos.

Tomamos o Evangelho e o lemos, palavra por palavra. E o achamos completamente novo. Dele emanava Sabedoria a cada passo. Cada Palavra de Jesus era um facho de luz incandescente, todo divino!

Aquela pareceu-me ser a resposta para a minha busca anterior.

AS PALAVRAS de Jesus no Evangelho são únicas, fascinantes, lapidares, podem ser traduzidas em vida, são luz para todo homem que vem a este mundo e, portanto, universais.

Vivendo-as, tudo muda: o relacionamento com Deus, com as pessoas próximas, com os inimigos.

Aquelas palavras põem todos os valores no devido lugar e fazem preterir tudo o mais, até mesmo o pai, a mãe, os irmãos, o próprio trabalho… para colocar Deus em primeiro lugar no coração do homem.

Por essa razão, essas palavras contêm promessas extraordinárias: o cêntuplo nesta vida e a vida eterna.

O MOVIMENTO dos Focolares nasceu de poucas pessoas. Nos primeiríssimos tempos, foi dado um nome àquele grupo: escola, aliás, “escola fogo”.

Mas era uma escola muito original. Não eram os livros, as aulas, os estudos que faziam dela uma escola. Não. Aquele grupo era uma escola porque havia um Mestre. Era Aquele que vivia entre os alunos unidos em seu nome. Era Jesus.

Como Jesus era o Mestre, suas aulas eram especiais e nada tinham a ver com as aulas dos maiores mestres da terra. Quem vivia em nosso meio era Deus e, portanto, Ele saberia responder a todas as perguntas que os homens de todos os tempos fariam.

Para pôr-se como nosso Mestre e ensinar-nos a Verdade, Deus nos pediu o sacrifício de toda a verdade que os homens nos podiam dar. Deu-nos a força para colocar todos os livros dos demais mestres no sótão.

SOMOS TODOS chamados a “deixar de lado” os livros, a fazer isso ao menos espiritualmente, para entender de modo verdadeiro, vital e divino o livro de Deus: o Evangelho, a Bíblia, que é o código de nossa nova existência. Mas não é suficiente dar esse passo só uma vez. É preciso repeti-lo sempre em nosso coração, mesmo que devamos tomar nas mãos justamente os livros.

Esse ato, o de “preterir” os livros para conhecer a verdade, é fundamental. De fato, especialmente hoje, o mundo precisa não tanto de pessoas cultas, mas de sábios, de gente cheia do Espírito Santo, de homens realmente evangélicos, sobre quem Jesus possa repetir: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).

QUEM nos iluminou as frases do Evangelho, a ponto de nos fazer vê-lo completamente novo, revolucionário, cheio de vida? Jesus em nosso meio.

NÃO TEMOS outro livro fora do Evangelho, não temos outra ciência, outra arte.

Ali, está a vida!

Quem a encontra, não morre.

QUÃO SIMPLES, e antigo, e sempre novo, é o Evangelho!

16 março 2021

Renascer através do amor

«Caros amigos, Como sabemos, o tempo da Quaresma pede a todos os cristãos uma conversão. Portanto, pede também a nós a conversão. Mas qual a conversão típica que nós, membros do Movimento dos Focolares, devemos estar sempre prontos a realizar, principalmente durante a Quaresma? É o nosso "convergir" para Deus, voltar-nos para Ele. E isso nós realizamos concretamente, do modo mais adequado, quando nos voltamos para o próximo e o consideramos o caminho que nos conduz a Deus. Vocês sabem como, frequentemente, temos falado sobre o próximo e o amor que devemos ter para com ele. No entanto, toda vez que lançamos luzes sobre este caminho, sempre encontramos algo de novo para nós. Alguns dias atrás isto aconteceu também comigo. Fazendo meditação com o Missal, deparei-me com o maravilhoso trecho do Juízo Final. Jesus, que virá para nos julgar, nos dirá: “[...] tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber [...] ” (Mt 25,35). Lendo essas palavras fiquei impressionada, como se lesse aquela frase pela primeira vez. Descobri mais uma vez que, no exame final, Jesus não me perguntará sobre isso ou aquilo que eu deveria ter feito. Ele fará convergir tudo no amor ao próximo. E, como alguém que inicia agora a sua caminhada em direção a Deus, comecei a amar a todos, a todos aqueles com quem tenho algum contato durante o dia. E acreditem, tive a impressão de nascer novamente! Percebi que a minha alma, antes de tudo, tem fome de amor, fome de amar, e que no amor para com todos encontra realmente o seu alimento, a sua vida. Na verdade, muito antes eu já me esforçava por fazer muitos atos de amor, mas agora me dou conta, alguns deles eram, de fato, expressão de uma espiritualidade muito individual, uma espiritualidade que se alimenta de penitências. E apesar de nossa boa vontade, para nós, que somos chamados ao amor, essas penitências podem se constituir num motivo de fechamento em nós mesmos. E agora, neste esforço renovado de amar a todos, posso ainda realizar atos de amor durante o dia, mas todos eles direcionados aos irmãos, nos quais vemos e amamos Jesus. E só assim poderei experimentar a plenitude da alegria. Meus amigos, todos nós somos chamados a realizar continuamente em nós mesmos esta conversão. Todos devemos experimentar essa espécie de renascimento, essa plenitude de vida. Por isso, procuremos ao máximo transformar em caridade para com o próximo todas as expressões da nossa existência. É nosso dever cuidar da casa? Não o façamos só por motivos humanos, mas sim porque é Jesus quem está presente nos irmãos a serem amados, vestidos, saciados e servidos. Devemos fazer qualquer outro trabalho? Lembremo-nos de que Jesus está presente em toda pessoa, individualmente, e também nas comunidades, às quais nós levamos a nossa contribuição. Devemos rezar? Rezemos sempre, seja por nós mesmos, seja pelos outros, usando aquele "nós" que Jesus nos ensinou no Pai Nosso. Estamos sofrendo? Ofereçamos o nosso sofrimento pelos irmãos. É vontade de Deus entrar em contato com alguém? Que exista sempre a intenção de, naquela ocasião, escutar a Jesus, de aconselhar a Ele, de instruí-lo, de consolá-lo, em síntese, de amar a Jesus. Devemos repousar, alimentar-nos, divertir-nos? Que todas essas ações realizem a intenção de retomar forças para servir melhor o irmão. Enfim, façamos tudo em função do próximo. E ainda que essa atitude de alma, que nos leva a viver projetados para fora de nós mesmos, seja fonte de grande alegria – falei antes de renascimento – tenhamos a certeza de que existirá sempre a dificuldade para sair de nós mesmos e viver o outro. Nessas dificuldades teremos então a possibilidade de amar Jesus Abandonado, na prática das virtudes da paciência, da benevolência, da humildade, da generosidade, da pobreza, da pureza, virtudes que estão implícitas na caridade. Coragem, caros amigos! Devemos nos santificar sim, mas percorrendo o nosso caminho, que é o caminho do amor, ou melhor, do amor radical, que deve ser vivido, antes de tudo, entre nós, para tornar-se recíproco e depois estender-se a todos. Então, a fim de que se verifique em nós essa nova conversão, nos próximos dias lembremo-nos destas palavras: "Renascer através do Amor"».


(Chiara Lubich, Rocca di Papa, 20 de março de 1986)

15 março 2021

Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra …


Roma, 25 de agosto de 1981

Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles. (Mt 18,19-20)

A meu ver, esta é uma das frases de Jesus que fazem exultar o coração. Quantas necessidades existem na vida, quantos desejos lícitos e bons que você não sabe como realizar, que não pode satisfazer!
Você está profundamente convencido de que somente uma intervenção do Alto, uma graça do Céu, poderia proporcionar-lhe o que você almeja com todo o seu ser. E então, com esplêndida clareza, com uma certeza adamantina, você ouve o próprio Jesus lhe repetir as palavras promissoras e cheias de esperança:

Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.

Você deve ter lido no Evangelho que Jesus várias vezes recomenda a oração e ensina o que devemos fazer para sermos atendidos. No entanto, esta oração que hoje estamos considerando é realmente original. Ela exige várias pessoas, uma comunidade, para se obter uma resposta do Céu. Ela diz: “Se dois de vós”.
Dois. É o número mínimo capaz de formar uma comunidade. Logo, Jesus considera importante não tanto a quantidade de fiéis, mas o fato de eles serem uma pluralidade.
Também no judaísmo é notório, com talvez você saiba, que Deus estima a oração da coletividade; mas Jesus diz uma coisa nova: “Se dois de vós estiverem de acordo”. Quer que sejam mais de uma pessoa, porém quer que estejam unidas; coloca em relevo a sua unanimidade: Ele quer que sejam uma só voz.
É preciso que se coloquem de acordo quanto ao pedido a ser feito, certamente; mas esta solicitação deve basear-se sobretudo numa concórdia dos corações. Jesus afirma, na prática, que a condição para se obter aquilo que se pede é o amor mútuo entre as pessoas.

Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.

Você poderá perguntar: “Mas por que as orações feitas em unidade têm maior aceitação junto ao Pai?”
Talvez pelo motivo de que são mais purificadas. De fato, com frequência a oração acaba reduzindo-se a uma série de súplicas egoístas que mais lembram pedintes perante um rei, do que filhos diante de um pai.
Enquanto que, tudo o que se pede juntamente com outras pessoas é certamente menos contaminado por um interesse particular. Em contato com os outros somos mais levados a sentir também as suas necessidades e a compartilhá-las.
Não só: também é mais fácil que duas ou três pessoas consigam entender melhor o que pedir ao Pai.
Se quisermos, pois, que a nossa oração seja atendida, convém nos atermos exatamente ao que diz Jesus, isto é :

 Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.

O próprio Jesus nos diz qual é o segredo da eficácia dessa oração. Resume-se naquele “reunidos em meu nome”. Quando estamos unidos dessa maneira, temos a Sua presença entre nós e tudo o que pedirmos com Ele será mais fácil de ser obtido.
Com efeito, é o próprio Jesus, presente onde o amor recíproco une os corações, que conosco pede as graças ao Pai. E será possível imaginar que o Pai deixe de atender a Jesus? O Pai e Cristo são uma coisa só.
Não acha esplêndido tudo isso? Não lhe dá certeza? Não lhe inspira confiança?

Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.

A essa altura, certamente você gostaria de saber o que Jesus deseja que você peça.
Ele próprio o afirma claramente: “qualquer coisa”. Não existe, portanto, nenhum limite.
Então, coloque também esse tipo de oração no programa de sua vida. Talvez a sua família, você mesmo, os seus amigos, as associações de que faz parte, a sua pátria, o mundo que o rodeia deixem de receber inúmeras ajudas porque você não as pediu.
Coloque-se de acordo com seus parentes e amigos, com quem o compreende ou compartilha os seus ideais e – depois de terem-se disposto a se amarem como manda o Evangelho, estando unidos até merecerem a presença de Jesus entre vocês – peçam.
Peçam o mais que puderem: peçam durante a assembleia litúrgica; peçam na igreja; peçam em qualquer lugar; peçam antes de tomar decisões; peçam qualquer coisa.
E, sobretudo, não façam com que Jesus fique decepcionado com o pouco caso de vocês, depois de Ele ter-lhes oferecido tantas possibilidades.
As pessoas haverão de sorrir mais, os doentes terão mais esperança; as crianças crescerão mais protegidas, os lares serão mais harmoniosos; os grandes problemas poderão ser enfrentados até mesmo no aconchego das casas… E vocês conquistarão o Paraíso, porque a oração pelas necessidades dos vivos e dos mortos também é uma daquelas obras de misericórdia sobre as quais deveremos prestar contas no exame final.

14 março 2021

Uma espirirualidade ecumênica

O carisma de Chiara Lubich para a unidade dos cristãos. Entrevista a Lesley Ellison, anglicana, a primeira focolarina não católica que seguiu Chiara.

Viver juntos o Evangelho, Palavra de Deus; amar o irmão como fez Jesus, até ao ponto de dar a própria vida pelo próximo; viver pela unidade entre os que acreditam em Cristo, independente da Igreja a qual pertençam e para além de todas as divisões. É nestas dimensões que se desdobra o potencial ecumênico do carisma da unidade de Chiara Lubich. “Uma espiritualidade completamente ecumênica” é como a define o cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, no prefácio do livro “Uma Espiritualidade para a Unidade dos Cristãos. Pensamentos Escolhidos”, publicado pela Editora Città Nuova, que reúne alguns discursos e respostas dadas no âmbito ecumênico pela fundadora do Movimento dos Focolares, 100 anos após o seu nascimento. A introdução é da Presidente dos Focolares, Maria Voce, e a palavra final oferecida pelo então Secretário Geral do Conselho Ecumênico das Igrejas, Reverendo Olav F. Tveit, atual Presidente da Conferência dos Bispos Luteranos na Noruega.

Lesley Ellison, anglicana, foi a primeira focolarina não católica que seguiu a mesma estrada de Chiara:

A sua experiência preparou o caminho para muitas outras pessoas. Você nunca teve alguma hesitação?
“Cresci em uma família protestante com preconceitos contra os católicos e, naquela época, em Liverpool as duas comunidades estavam separadas. Como Chiara, eu também queria dar a minha vida a Deus. Quando a ouvi pela primeira vez, em 1967, na Cantuária, eu já estava freqüentando as focolarinas em Liverpool há um ano, e procurávamos viver o Evangelho, mas eu não sabia que elas eram católicas. E também não conhecia a comunidade das pessoas ao redor do focolare. Quando percebi que eram todos católicos, fiquei chateada, mas na Cantuária, ouvindo Chiara, entendi que Deus ama a todos, e “todos” inclui também os católicos! Senti que tinha que dar um passo dentro de mim e deixar de lado meus preconceitos. Quando chegamos em Liverpool, um casal católico me ofereceu uma carona para casa. Era inaudito. “Mas eu sou protestante”, disse. “Tudo bem! Nós nos amamos!”, reponderam-me. Foi a minha primeira experiência ecumênica”.

Quando foi que você sentiu que a Espiritualidade da unidade poderia ser sua?
“Em 1967 fui visitar a cidadela de Loppiano, na Itália. Durante a visita, houve uma missa católica, mas eu, uma anglicana, não pude receber a Eucaristia. Esta fratura entre as nossas Igrejas me pareceu absurda, tão dolorosa que por dentro gritei a Jesus: “O que posso fazer”? E eu pensei tê-lo ouvido dizer: “Dê-me sua vida pela unidade”.

A vivência do Evangelho foi o caminho que Chiara Lubich indicou para a unidade. Como anglicana, por que esta proposta lhe tocou?
“Minha formação como jovem anglicana ensinava-me a “ouvir, ler, considerar, aprender e digerir interiormente” a palavra de Deus. Portanto, a ideia de “viver o Evangelho”, que ouvi pela primeira vez no Focolare, foi uma novidade absoluta e deu à minha vida cristã uma nova dimensão comunitária”.

Jesus nos pede para nos amarmos uns aos outros como Ele fez, até ao ponto de darmos a vida pelo outro. O que isso significa para você em seus relacionamentos com pessoas de outras Igrejas?
“Na palavra ‘como’, encontro todo o carisma de Chiara, Jesus crucificado e abandonado, que é Vida”. Foi essa a maneira como o próprio Deus quis dialogar com a humanidade, e é o modelo que Ele nos oferece para qualquer diálogo entre nós e com Ele. Para mim, dar a vida significa acolher o outro, escutar, deixar de lado os pensamentos e os julgamentos. Mas também oferecer os meus pensamentos com desprendimento. Foi o que Chiara fez comigo e com cada pessoa que ela conheceu. E é assim que tentamos viver as relações entre nós no Movimento dos Focolares.


13 março 2021

A MISERICÓRDIA

03/10/2005

“Para que serviria ser infinitamente misericordioso?”

 Castel Gandolfo, 3 de outubro de 2005 (de um discurso preparado para os focolarinos, lido por Natalia Dallapiccola em 24 de outubro de 2005) Para este Jubileu especial desejado pelo papa Francisco, o comentário feito por Chiara Lubich em 2005 em duas cartas suas dos anos quarenta, desvenda uma confiança ilimitada em Deus que é Perdão. Um fruto de Jesus abandonado, que não ressaltamos muito, mas que também está presente nas cartinhas de Chiara dos primeiros tempos, é uma fé firme na misericórdia de Deus, a certeza do perdão dos próprios pecados. São significativas estas breves linhas: «Acredita, acredita no Amor: se Ele deu tudo por ti, já perdoou tudo no instante em que Ele viu em ti o arrependimento. Nada de escrúpulos. Não acreditas que Jesus é capaz de perdoar-te depois que foi abandonado na cruz para o teu bem?» (11 de janeiro de 1945) «Eu sei: cairás. Também eu caio com frequência e sempre. Mas quando volto o olhar para Ele, e o vejo incapaz de vingar-se, porque está pregado na Cruz por um excesso de Amor, eu me deixo acariciar pela sua Infinita Misericórdia e sei que só ela deve triunfar em mim.

Para que serviria ser infinitamente misericordioso? Para quê?
Se não fosse pelos nossos pecados?» (agosto de 1945). Mais significativo ainda é o trecho da seguinte carta. É endereçada a duas religiosas de Rovereto. O assunto é a união com Jesus e o meio indicado para alcançá-la, paradoxalmente, é único e inesperado: os nossos pecados. Essa carta é uma clara demonstração de que, na nova vida que se iniciava, não tínhamos nenhuma confiança em nós mesmos. Não nos detínhamos nos nossos pecados, nem nos nossos eventuais méritos. Aliás, nos repugnavam todas as formas de fechamento em nós mesmos, inclusive espiritual. O carisma nos impelia a amar, a “viver fora de nós” e a nos apoiar unicamente em Jesus, com plena confiança nele. Ainda que expressa com palavras diferentes, essa atitude de total abandono em Deus, é uma vivência límpida do que disse São Paulo em relação à justificação pela fé. Só o amor de Deus revelado em Jesus crucificado e abandonado é que nos salva. Ele se alegra conosco, quando nos colocamos completamente em suas mãos.

«Irmãzinhas minhas, para lhes falar sobre isso (sobre a união com Jesus) gostaria que estivessem aqui ao meu lado, porque gostaria de ver e sentir o quanto essas palavras penetram profundamente na alma de vocês. Mas Jesus assim o deseja e que assim seja. É Ele quem faz tudo. Se quisermos nos unir a Jesus (único objetivo da nossa vida, sobretudo da nossa, porque nos consagramos totalmente a Jesus) o único modo é: oferecer-lhe os nossos pecados. É preciso remover da alma qualquer pensamento. E acreditar que Jesus é atraído por nós somente em virtude da exposição humilde, confiante e cheia de amor dos nossos pecados. De fato, nós, no que nos concerne, nada mais temos e produzimos que misérias. Mas Ele, por sua vez, tem uma única qualidade para nós: a Misericórdia. A nossa alma pode se unir a Ele somente oferecendo-lhe como um presente, como único presente, não as próprias virtudes, mas os próprios pecados! Porque a alma que ama conhece os gostos do Amado e sabe que Jesus, se veio à Terra, se tornou-se homem, se algo anseia no mais profundo do seu Coração Humano e Divino, é somente: Ser o Salvador. Ser Médico. Nada mais Ele deseja! “Fogo vim trazer sobre a Terra e o que eu quero senão que se acenda?” Ele trouxe um Fogo devorador e nada mais deseja que devorar misérias, encontrar misérias para consumir! “Oh! Meu Jesus, tu sabes quanto sou incapaz! Mas podes realizar o milagre: conquista esses dois corações para que compreendam profundamente a tua Misericórdia! Sei que o peso da tua Misericórdia, desconhecida, oprime o teu Coração, porque tens para os homens uma Riqueza infinita, que a todos poderia santificar e ninguém sabe usufruir para a tua Glória! Jesus, Jesus: faze, faze desses dois corações dois Cireneus que te ajudem a carregar o peso da tua Misericórdia e passem pelo mundo distribuindo-a de mãos cheias a todos os corações, de modo que todos, tocados pelo teu Imenso Amor, saibam qual é o Caminho para chegar a Ti, suma Felicidade!”

Irmãzinhas minhas: procurem com frequência Jesus, sempre. A Ele, que vive em seus corações, confessem os seus pecados a cada momento. Recolham cada imperfeição, cada sentimento imperfeito, cada fruto da humanidade que trazem dentro de si. E ofereçam tudo a Ele! Com humildade (= conscientes e certas de que nada mais possuem para lhe dar). Com amor (= com o espírito voltado para o Amado: certas de que Ele olha para vocês com muito mais amor quanto mais confessarem a Ele as sutilezas do mal que cometeram, dando golpes mais refinados ao amor-próprio). Com confiança (= certíssimas de que nada mais Ele deseja do que “ser Salvador”, que aproveitar o seu Sangue, que santificá-las! Para que serviria a sua Misericórdia, se não encontrasse misérias? Jesus, Misericórdia, nada mais deseja que misérias!) Acreditemos. É a Fé na sua Misericórdia que devemos acender em nós. É a prática dessa Fé, atuada a cada instante, que devemos deixar se manifestar em nós. Portanto, unamo-nos a Deus assim: com confiança (acredito, conheço, sei e ajo segundo a minha fé na sua Misericórdia). por meio das nossas misérias (recolhidas a cada instante e oferecidas com humildade, confiança e amor). Então, quanta Graça descerá do Céu! Jesus abrirá assim o seu Lado Santo transpassado e derramará a chuva do milagre! Ele vai nos lapidar e, no lugar de cada miséria, deixará uma Chama de Amor por Ele. Assim o é!» (3 de outubro de 1946).

12 março 2021

Como entender a própria estrada



Florença, 17 de setembro de 2000

Como fazer para “adivinhar” qual é a nossa estrada? Uma resposta de Chiara Lubich.

“Quero corresponder com todo o meu ser ao amor que Deus tem por mim. Ainda não sei bem qual será a minha estrada. Como fazer para escolher Deus todos os dias de modo radical e total?”

Chiara: Você faz duas perguntas. Na primeira diz: «O que fazer para entender qual é a minha estrada?» Praticamente diz que não sabe que estrada tomar, ou seja, se soubesse seria melhor.

Para saber qual é a nossa vocação, aquela justa, que a vontade de Deus pensou para nós, antes de tudo precisamos rezar. Se você pretende realmente seguir a vontade de Deus, se tornará um operário de Jesus, daqueles operários a quem Jesus se refere ao dizer que a messe é grande mas os operários são poucos: «Rezem», portanto.
Quem ainda não sabe qual é a própria vocação e deseja entender, deve rezar e pedir a Jesus: «Abra os meus olhos, que eu compreenda; abra o meu coração, que eu ouça!» E depois? Amar. É preciso amar.
É obrigatório amar para poder compreender a própria vocação. Deus não fala no meio do barulho, na confusão, no vazio. Deus fala no amor.
Depois, você quer saber como ser, dia após dia, mais radical e doar-se completamente. É preciso treinamento, exercício.
Hoje de manhã, lendo esta pergunta, pensei nos esportes mais artísticos, por exemplo, a patinação no gelo.
Os concorrentes fazem evoluções maravilhosas. É lindo ver! De vez em quando alguém cai, naturalmente. Porém, não fica no chão, desanimado. Logo se levanta e continua. E os pontos se somam. A queda não arruína tudo, pelo contrário!
Assim também nós devemos fazer: recomeçar sempre, treinamento, treinamento, recomeçar sempre, como se nada fosse. Treinamento, treinamento.
De  tanto treinar, no início você vai corresponder ao amor de Deus, não sei, três vezes no dia, depois 6 vezes, depois 60 e depois o dia inteiro.
Mas é preciso treinamento, treinamento.

11 março 2021

A pobreza e a humildade

Mas como adquiri-las, como conquistá-las sem ter de esperar pelas tem­pestades espirituais? […] É preciso “viver o outro” […] e isto pressupõe o não voltar-se para si mesmo, pressupõe uma total pobreza e humildade. […] Diante de cada próximo, coloquemo-nos na ati­tude de acolher perfeitamente em nós a sua vida. […] E uma vez que falamos de irmãos, perguntemo-nos: A quem devemos amar primeiro? Quem devemos amar mais? A quem dar preferência?


Na nossa vida escolhemos Jesus Abandonado. Prefiramos aquelas pessoas que, pelas suas condições ou pela situação em que se encontram, nos lembram a fisionomia de Jesus Abandonado: Quantos, embora católicos, vivem longe da Igreja; e também todos aqueles que, de várias maneiras, estão de certa forma distantes da verdade que é Cristo, e também os que não professam fé alguma.

Voltemos nossa atenção es­pecialmente para todos estes.

Precisamos cuidar daqueles que nos foram con­fiados, com cartas, visitas e telefonemas? Comecemos pelas pessoas que, de certa forma, estão mais distantes de nós.

Reavivemos, então, o amor aos irmãos “fazen­do-nos um” com eles, a ponto de viver a sua vida, se podemos dizer assim.

Comecemos pelos que percebemos estar mais distantes do nosso modo evangélico de pensar e viver. […] Jesus Abandonado nos espera lá. É lá o nosso lugar.

10 março 2021

É lá o lugar

A escolha mais radical na vida de Chiara Lubich foi amar Jesus sobretudo na sua maior dor: o seu abandono na cruz. Mas amar ‘Jesus Abandonado” significa, portanto, amar acima de tudo aquele próximo que sentimos estar mais “distante” de nós.

“Todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder em juízo”1. […] Voltamos ao tema do amor ao irmão. É útil, é necessário, é importante para nós reconsiderá-lo. O objetivo geral [do nosso Movimento] é a perfeição da caridade. Amor ao irmão! Amor cada vez mais sentido, profundo, aperfei­çoado, lapidado.

Às vezes parece difícil dobrar o nosso coração a um amor mais refinado do que aquele que já nutrimos pelos nossos irmãos. Nosso coração ainda é um pouco de pedra, nosso amor é rude, superficial, apressado.

Por quê? Porque ainda temos o coração ocupa­do pelo nosso eu, em dar importância a nós próprios. Mesmo sem percebermos, somos egoístas e soberbos.

Constatamos isso quando sofremos uma dura prova espiritual (daquelas que, como um terremoto, parecem arrancar tudo com a raiz, tendo como efeito desprender-nos de nós mesmos, de nossas coisas, humilhar-nos, destruir o nosso orgulho), quando sofremos uma dura prova espiritual, experimentamos um amor mais compreensivo, mais profundo, mais fácil, mais espontâneo pelos nossos irmãos.

Disto podemos deduzir que a pobreza e a hu­mildade estão na base da caridade.



09 março 2021

O irmão

Unidade com os irmãos para alcançar a unidade com Deus

Rimini, 1º de maio de 2000

Chiara Lubich  ao Congresso Mundial da Renovação Carismática Católica.
Um desafio muito atual: a união com Deus! Chiara Lubich fala sobre esse assunto num Congresso Mundial da Renovação  Carismática Católica – Rimini, 1° de maio de 2000. O Espírito Santo delineou fortemente o caminho típico do carisma da unidade: o irmão, “de certa forma, um sacramento”. Amando o irmão o dia inteiro, encontramos Deus e amando a Deus, encontramos o irmão. Sobressai a fisionomia de Maria, a Mãe cheia de amor… 

O carisma que o Espírito Santo nos doou, que sintetiza a nossa espiritualidade, pode ser  expresso com uma única palavra: “unidade”, unidade com Deus e unidade com os irmãos; e especificadamente, como nosso caminho típico: unidade com os irmãos para alcançar a unidade com Deus. O Espírito Santo, de fato, nos revelou um caminho plenamente evangélico para nos unirmos a Deus. Nós o buscamos e o encontramos através do irmão, amando o irmão. Somente assim temos a segurança da união com Deus; somente assim o descobrimos vivo e palpitante no nosso coração quando nos recolhemos com ele. Esta é uma experiência que todos sempre fizeram desde que o Movimento nasceu, também as crianças. Amávamos os irmãos o dia inteiro, um por vez, esforçando-nos para nos fazermos um com eles, e à noite sentíamos no coração a união com Deus.

Um escrito em forma de oração, ressalta esta realidade:

“Quando a unidade com os irmãos é completa, quando brota nova e com maior plenitude das dificuldades – como a noite que se dissipa em dia -, muitas vezes, eu te encontro, ó Senhor.  Tu me convidas, me atrais, suave mas decididamente, para a tua divina presença.

Então, só Tu reinas dentro e fora de mim… A alma se encontra submersa como que em um delicioso néctar e o coração parece ter-se tornado o cálice que o contém. A alma é toda um cântico silencioso, de ti somente conhecido: uma melodia que te alcança, porque emana de ti e de ti se compõe.”

Para nós o irmão é aquele sacramento que, por assim dizer, nos conduz até Deus. Se para as religiosas de clausura as grades, o véu, o silêncio fomentam a união com Deus, para nós o irmão é a estrada que nos conduz até ele. E quanto mais amamos o irmão tanto mais aprofundamos a união com Deus. E quanto mais amamos a Deus tanto mais aprofundamos a união com o irmão. É como uma planta: quanto mais a raiz se aprofunda  no terreno tanto mais o caule se eleva para o alto.

Constatamos que esta união com Deus experimentada pode chegar, com o passar do tempo, a permear todas as ações, a estar na base de tudo. Temos a impressão de que esta estrada agrada a Deus de modo especial. O Papa não disse que o caminho da Igreja é o homem?

A união com Deus cresce e se desenvolve com múltiplas graças. Podem ser inspirações particulares ou impulsos divinos que agem sobre a nossa vontade, provocando conversões sempre novas  – nos nossos encontros, por exemplo – ou particulares consolações e iluminações, como tiveram os santos. Santo Inácio, em Manresa, recebeu iluminações sobre a Santíssima Trindade, a criação, e assim por diante.  

Tudo isso é um patrimônio espiritual bastante delicado, é a presença do Reino de Deus dentro de nós e que só podemos perceber com os sentidos da alma. Um patrimônio muito útil, aliás, indispensável, para quem vive num mundo secularizado, materialista, que nos ajuda a “não ser do mundo”, e a viver como cristãos autênticos também neste terceiro milênio.

E enfim, para dar o devido lugar à oração, no Movimento, que também se chama “Obra de Maria”, temos que ter sempre diante de nós a Mãe, Maria. 

Como podemos imaginar Maria? Como a Bíblia a descreve? Como a sua imagem foi pintada, cantada, esculpida pelos artistas de todos os tempos? Não como uma pessoa extrovertida, agitada, impetuosa, sempre com pressa, atenta unicamente ao que se passa no mundo exterior. Mas como uma criatura plena de amor para com todos, imbuída de mística beleza que revela, com a sua presença, um imenso tesouro escondido em seu coração: Deus.

É assim que também nós, com a graça de Deus, desejamos ser. 


08 março 2021

Quem é o próximo?

Amar a todos. E, para chegar a isso, amar o próximo.

Mas, quem é o próximo? Já sabemos. Não devemos procurá-lo longe: o próximo é o irmão que passa ao nosso lado, no momento presente da vida.

Para ser cristão, é necessário amar esse próximo agora. Portanto, não um amor platônico, não um amor ideal, mas um amor operoso.

É preciso amar, não de maneira abstrata e futura, mas de modo concreto e presente, agora. 

07 março 2021

Todos candidatos à unidade

A fraternidade universal liberta-nos de todas as escravidões, porque somos escravos das divisões entre pobres e ricos, entre gerações — pais e filhos —, entre brancos e negros, entre raças, entre nacionalidades. Somos escravos, criticamo-nos, erguemos obstáculos entre nós, criamos barreiras.

Não! É necessário desvincularmo-nos de todas as escravidões e vermos em todos os homens, em todos os homens mesmo, possíveis candidatos à unidade com Deus e à unidade entre si.

06 março 2021

Abrir o coração de par em par

É preciso abrir o coração de par em par, transpor todos os obstáculos e abraçar a fraternidade universal: eu vivo pela fraternidade universal!

Se somos todos irmãos, devemos amar a todos. Devemos amar a todos. Parece uma coisinha de nada… Mas é uma revolução!

05 março 2021

Fraternidade universal

Acima de todas as coisas, a alma deve sempre dirigir o olhar para o único Pai de tantos filhos. Depois, ver todas as criaturas como filhas do único Pai.

Com o pensamento e com o afeto do coração, ultrapassar sempre todos os limites interpostos pela vida simplesmente humana e tender, constantemente e por hábito adquirido, à fraternidade universal num único Pai: Deus.

Jesus, nosso modelo, ensinou-nos apenas duas coisas que são uma só: sermos filhos de um único Pai e sermos irmãos uns dos outros.

04 março 2021

Amor divino e amor humano

O amor sobrenatural, sendo participação do mesmo amor que está em Deus, que é Deus, difere do amor humano de maneiras infinitas, mas é principalmente diferente porque o amor humano faz distinções, é parcial, ama determinados irmãos como, por exemplo, os irmãos de sangue, ou os que são cultos, ricos, bonitos, respeitados, sadios, jovens…; ou os que são de determinada raça ou classe social, mas não ama — ao menos não desse modo — os outros.

O amor divino, ao contrário, ama a todos, é universal.

03 março 2021

A primeira qualidade do amor

A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.

Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta…

Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

02 março 2021

A caridade

Amar. Deus convoca todos os cristãos a amar. É porque, no cristianismo, o amor é tudo.

Santo Agostinho, mestre da caridade, diz em tom muito forte:

“Só o amor diferencia os filhos de Deus…

Se todos fizessem o sinal da cruz (que é um ato religioso), se todos dissessem amém e cantassem o aleluia (ou seja, se praticassem as liturgias, que são muito importantes, mas só fizessem isso…); se todos recebessem o batismo e entrassem nas igrejas, se mandassem erguer as paredes das basílicas, permaneceria o fato de que só a caridade distingue os filhos de Deus…

Quem possui a caridade nasceu de Deus, quem não a possui não nasceu de Deus. Eis o grande critério de discernimento.

Se tu tivesses tudo, mas te faltasse essa única coisa, de nada serviria o que tens. Se não tens outras coisas, mas possuis essa, cumpriste a lei…”

01 março 2021

Jesus Abandonado, o Redentor

No abandono, Jesus é a figura mais autêntica, mais genuína, mais plena, mais expressa do Redentor. Aqui a redenção tem o seu ápice.

Diz Pasquale Foresi:

Jesus Abandonado é o símbolo, é o sinal, é a indicação precisa dessa redenção. Mesmo que a redenção se tenha processado em todas as dores espirituais e físicas de Jesus, a dor maior, a que simboliza toda a redenção, teve lugar no momento em que Ele sentiu a separação do Pai. Naquele instante Ele reuniu a humanidade ao Pai.

Portanto, pode-se ver em Jesus Abandonado a dor típica com a qual se consumou a redenção do gênero humano. (Foresi, 1988, pp. 56-57)

No Horto, Jesus se preparava para cumprir a redenção. A sua ressurreição é fruto de sua morte física, mas sobretudo espiritual.

No abandono Jesus é, em ato, o Redentor; é o Mediador: tendo-se feito nada, une os filhos ao Pai.