11 novembro 2020

Como a ti mesmo

      Uma das coisas que o Espírito Santo nos ensinou por intermédio do carisma da unidade foi esta: entender que aquela palavra do Evangelho — “Ama o teu próximo como a ti mesmo” — devia ser tomada ao pé da letra, sine glossa (1); ou seja, que não era uma orientação genérica. Aquele “como” significava exatamente como. Portanto, esteja eu, ou outro qualquer, numa determinada situação, é preciso que cada um viva essa situação como sendo a própria.

      Entendemos que, antes dessa descoberta, o nosso amor pelo próximo era, de longe, inferior ao amor por nós mesmos. Éramos cristãos batizados, recebíamos a Eucaristia todos os dias, mas não pensávamos absolutamente em amar o outro como a nós mesmos, quando não acontecia até mesmo de nosso amor estar concentrado unicamente em nós. Era necessário, portanto, fazer uma conversão e ocuparmo-nos do outro como de nós.

      Fizemos isso com cada próximo que encontrávamos, e nasceu daí uma revolução.

      Isso porque esse modo de agir sensibiliza, onde quer que seja posto em prática. Os outros ficam admirados e se perguntam qual a sua motivação. É quando surge a oportunidade de explicar o porquê de alguém tratar o próximo de certa maneira, de servi-lo, ajudá-lo. E muitos daqueles que perguntam sentem também o desejo de começar a viver assim, de tentá-lo.

      Então, de pessoas indiferentes umas às outras, como geralmente somos todos nós, inclusive cristãos, começamos a reviver, a nos interessar uns pelos outros, a nos amar, a nos encadear em comunidade. Assim, com apenas uma palavra do Evangelho realmente vivida, damos a ideia do que é uma Igreja viva: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, pois, como diz Paulo, “toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14).

       

          1 Do latim: sem comentários ou interpretações. [N.d.T.]

Nenhum comentário: