24 maio 2018

Diário de Chiara


VERAO EM VALTOURNANCHE E A ALA DI STURA


19 de julho de 1964
No dia 12 morreu Eletto[1] O nosso coração petrificado pela dor não consegue ainda conceber este fato. Cada obra da Obra necessita de uma pedra angular, e Eletto é a primeira pedra de Loppiano[2]. Digo isso repetindo uma frase de muitas pessoas. Somente Deus sabe o verdadeiro sentido deste novo mistério que tocou primeiro a ele, e depois, a nós com toda a Obra. E verdade que é preciso acreditar no amor; qualquer outro raciocínio pode ser falso. Eletto era tão bom, tão sólido, tão humilde, que pertencia mais a Deus do que a nós, e Ele, talvez por isso mesmo, o tenha tomado para si. Agora está com Jesus, a quem amou, com Maria e com os nossos que — esperemos — estão no paraíso. De último de todos, como se sentia, tornou-se o primeiro, que todos observam.
Meu Deus, que abismo misterioso é esta vida e esta morte, que cada um de nós tem que enfrentar Concede-nos viver no amor para poder morrer no amor
Eletto fez, como último gesto, um ato de amor[3]. Tinha se acostumado a isto, pois nestes momentos, pelo contrário, não se pensa senão em si mesmo.
Eletto nosso, reze agora no céu por nós, que rezamos por você. Estamos certos de que Deus, amando-o, acolheu a você no melhor momento. Você o amou na sua vida, não tinha outra coisa senão Ele e Maria.
Agora você chegou onde também nós deveremos chegar Abre a estrada para nós, Eletto, junto com os outros focolarinos, e prepara para nós o lugar Seja nosso advogado junto à Maria e peça, insistentemente, a Ela que nos permita morrer antes de ofender a Jesus, mesmo se minimamente, e peça a Ela, que nos torne santos para sua glória.
E você, que vê do Céu aquilo que tem valor, como já se acostumou por aqui, ajude-nos a não sair da estrada e a nos mantermos na caridade, como você fez.
Dois sentimentos se alojaram em nós: um que não dá valor a nada do que fazemos pois... Eletto não está mais conosco! Um outro que nos leva a acreditar que também, neste gesto, Deus tenha sido Amor para ele e para nós, e que nos impulsiona a prosseguir pelo caminho do Ideal mais do que antes. O segundo é o correto. O primeiro paralisa e, portanto, não é verdadeiro.
Então, coragem! Partamos novamente deste túmulo azul[4], como se fosse diante de um outro apelo do Senhor:
“tudo desmoronava”. Não existe nada a não ser Deus e aqueles que já chegaram a Ele.
Também os meninos que Eletto acompanhava tiveram a sua grande cruz. Esperemos que desta dor nasça algo para eles, para a glória de Deus no seio da Obra, e para a beleza da Igreja. Além de tudo, Eletto não teria desejado nada melhor.

(Diário de viagem 1964-65, 1985, pp. 74-75)



1.             O focolarino Vincenzo Eletto Folonari, licenciado em teologia. morreu num
      acidente no lago de Bracciano, próximo a Roma;

2.             Em 1964 tiveram início, na localidade de Loppiano, em Incisa Valdarno (Florença), os 
      trabalhos para a construção da Mariápolis permanente. Trata-se de uma cidadezinha com 
      todas as vocações da Obra que demonstra continuamente o que os encontros Mariápolis
            que são temporários - constroem a cada vez;

3.             Antes de desaparecer no lago. por um repentino mal-estar, advertiu o rapaz que estava no
            passeio com ele e que tinha permanecido só no barco, para que se dirigisse rapidamente para
            a margem (isto sem sequer demonstrar a gravidade do que estava acontecendo com ele,
           como contou o próprio rapaz, que somente mais tarde percebeu o fato). Cf. Giordani, 1.
           Vincenzo Folonari. Roma: Cittá Nuova, I965;

 4.         Refere-se ao lago Bracciano, onde Eletto morreu.

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