Rocca di Papa, 29 de
dezembro de 1974
Deus é amor! Deus é amor!
Foi esta a idéia e a
convicção que se manifestou no nosso último Congresso.
Deus é amor! Esta palavra
ressoou no mundo inteiro nas Mariápolis realizadas, em numerosos congressos no
mundo, em várias reuniões.
Deus é amor! Um número
incalculável de pessoas de todas as idades se converteram e entraram na nossa
revolução combatendo em todos os campos, onde quer que viva e trabalhe um
grupo, uma comunidade do Movimento.
"Deus é amor" foi
o grito de uma das Gen de Pelotas, no sul do Brasil, depois que o ônibus em que
viajavam caiu num precipício e 6 delas morreram. Esse grito passou de boca em
boca em meio ao mar de sangue, entre as Gen feridas no acidente, demonstrando
que o amor nessas Gen é mais forte do que a morte.
Naquele momento elas
acreditaram heroicamente no amor de Deus.
No último Congresso,
falando-lhes de Deus Amor, apresentei-lhes algumas fontes onde podemos nos
plenificar de Deus, pois os Gen querem e devem ser jovens "divinos".
Hoje eu gostaria de falar um
pouco mais sobre uma dessas fontes, muito importante para a nossa vida.
Vocês querem, Gen, ser
revolucionários em todos os sentidos e render o máximo para a causa que
escolhemos: derrubar o reino do mal, do demônio – digamos claramente – e restaurar
no mundo o reino do amor?
Vocês querem, Gen, impregnar
suas mentes e seu próprio ser de uma filosofia que não passa, para terem luz na
luta, argumentos na discussão, palavras persuasivas que influenciem as massas?
Apeguem-se, de uma vez para
sempre, à Palavra de Deus. Ela é a Palavra que vem do Alto e, portanto, tem a
potência do alto: é espírito, é vida. As palavras que vêm da terra, pertencem à
terra e têm o destino da terra.
Neste momento
importantíssimo eu gostaria que um anjo tomasse o meu lugar para lhes explicar
o que é a Palavra de Deus.
Estou certa de que vocês nem
sequer o imaginam. Um dia eu tive a felicidade de descobri-lo e mais tarde em
Santo Agostinho encontrei a confirmação. Essa frase de Jesus: «As palavras que
Tu, Pai, me deste, eu as dei a eles», «as palavras que Tu, Pai, me deste, eu as
dei a eles» é comentada assim por Agostinho: «Tudo aquilo que o Pai deu ao
Filho ele o fez no ato de gerá-lo... De que outro modo o Pai teria podido dar
ao seu Filho alguma palavra, dado que no Verbo Deus disse tudo de maneira inefável?»[1]
A Palavra de Deus, portanto,
cada Palavra de Deus é uma presença do próprio Verbo, do próprio Deus.
Imaginem agora a atitude que
cada um de nós é chamado a ter em relação a elas.
Antes de tudo, a Palavra de
Deus deve ser amada, conhecida e é por isso que nós, durante um certo período,
tomamos uma delas em consideração e procuramos entender o seu verdadeiro
significado.
Depois deve ser vivida.
Aqui está o nó da questão. A
Palavra de Deus nada produz em nós, se não a vivemos. Se a vivermos, fará
milagres. Ela substitui o nosso modo de pensar, de querer e de agir em todas as
circunstâncias da vida; de modo que, vivendo a Palavra, não somos nós que
vivemos, mas Cristo em nós. Esta já é uma revolução.
Depois, visto que é
inconcebível para nós um cristianismo individual, devemos comunicar entre nós
as experiências da Palavra porque não queremos tanto a perfeição, a
santificação, a realização do indivíduo, mas sim da comunidade.
Esta comunhão é de grande
vantagem tanto para aquele que ouve quanto para aquele que fala pois somente
doando é que se possui realmente.
A Palavra de Deus deve ser
vivida. Isso é repetido de todos os modos pelos Padres da Igreja. Com efeito, o
anúncio da Palavra sem o testemunho, sem a vida, escandalizava os pagãos assim
como escandaliza agora os não cristãos e os leva a criticar a religião, como
antigamente levava as pessoas a blasfemar ao invés de se converter. Com efeito,
Jesus diz que é necessário antes fazer e depois ensinar.
A Palavra de Deus deve ser
vivida momento por momento, a cada momento. Diz Santo Ambrósio: «A nossa mente
permaneça sempre com Ele... Jamais se desprenda da sua palavra»[2]. Não devemos deixar espaço
na nossa vida espiritual para nenhuma outra coisa que não seja a Palavra de
Deus.
E isso significa entrar
constantemente em comunhão com a Palavra.
Existe um fato muito
importante que nos leva a amar apaixonadamente a Palavra de Deus e a
revestir-nos dela como se fosse o nosso distintivo e a nossa couraça. Trata-se
de um fato um pouco esquecido hoje, mas que nós, Gen, devemos fazê-lo brilhar
em toda a sua beleza.
Vocês sabem, Gen, que
importância tinha a Palavra de Deus para os primeiros cristãos? Muitas vezes
ela era colocada no mesmo plano da Eucaristia.
Os cristãos dos primeiros
séculos nutriam-se tanto de uma como da outra com o mesmo amor. Entre outras
coisas diziam: «Nós comemos a sua carne e bebemos o seu sangue na divina
Eucaristia, mas também na leitura das Escrituras». Ou então: «Esta leitura é
como a consumação do Cordeiro Pascal». Ou ainda: «Meu refúgio é o Evangelho,
que é para mim como a carne de Cristo». E o sapiente Orígenes escreve que a
Palavra que nutre as almas é uma espécie de corpo, do qual o Filho de Deus
também se revestiu.
Se é assim, quantas vezes
por dia desejaríamos comungar a Palavra de vida? O maior número possível.
Os efeitos que produz a
Palavra de Deus são admiráveis.
E isso é lógico: ela é
Palavra única, universal, feita para todos, que produz aquilo que diz, quando
encontra o terreno adequado.
Um dos efeitos é este: faz
viver. Quem freqüenta um ambiente do Movimento, onde a Palavra é vivida
como deve ser vivida, isto é, pelos indivíduos e pela comunidade, tem logo a
impressão de que ali se vive. E isso se percebe pela luz inconfundível que
emana da fisionomia das pessoas que o recebem, pelos seus gestos, pela prontidão
em servir.
Outro efeito: a Palavra torna-nos livres. Sim, porque acima de
todos os nossos pensamentos, dos nossos afetos, da nossa vontade, de todas as
circunstâncias, está a Palavra, que é a única coisa que realmente nos
interessa, porque é Cristo.
A Palavra (outro efeito) atrai
o ódio do mundo. E foi o sentimento que notamos até mesmo em pessoas bem
próximas de nós, quando começamos esta aventura. Mas o ódio do mundo é herança
do cristão.
Em compensação a Palavra
produz a santidade. E nós já vimos membros da primeira, segunda e terceira
geração morrerem como santos. Podemos repetir como o Cura d'Ars: «No nosso
cemitério (que para nós é grande quanto o mundo) dormem santos». Produz a
santidade, porque Jesus disse: «Santifica-os na verdade. A tua Palavra é a verdade»[3]. Portanto, santifica-os com
a tua palavra.
Outro efeito: a Palavra
produz alegria. Diz Santo Ambrósio: «Uma pessoa atenta à Palavra de Deus saberá
manter inalterada a alegria de uma reta consciência »[4].
E ainda a Palavra produz obras. Quem pode fazer florescer as obras
que já se desenvolvem em várias partes do mundo com a contribuição sobretudo da
primeira e da segunda geração, a não ser pessoas que vivem o Evangelho? Sem o
Evangelho estas obras não existiriam.
E uma coisa interessante,
quem vive a Palavra obtém tudo; Jesus afirma: «Se permanecerdes em mim e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado»[5].
A Palavra vivida faz crescer
na alma a árvore da vida interior; a Palavra vivida é também garantia de vida
eterna: «Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observa a minha palavra não
verá a morte eternamente»[6].
A Palavra, a Palavra... Eu
não terminaria nunca. É divino demais o tema que me propus explicar para
esgotá-lo em tão pouco tempo.
Mas não quero terminar
assim. Queridos Gen, existe um fruto da Palavra de Deus que a meu ver supera
todos os outros quanto à beleza.
Existe uma frase de Jesus no
Evangelho que faz pensar muito. Quando os apóstolos se aproximam de Jesus e lhe
dizem que sua mãe e seus irmãos estão à sua espera, ele responde: «Minha mãe e
meus irmãos são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a colocam em prática»[7].
Existe, portanto, uma
possibilidade de ser de certo modo "mãe de Jesus"? Sim, ele mesmo o
disse. Nós podemos dar vida a Cristo nas almas assim como uma mãe dá a vida. Na
nossa alma, mediante a Palavra, e nas outras almas. E podemos fazê-lo justamente
através da Palavra. De fato, a Palavra de Deus não é como as outras. Ela tem o
poder, não só de ser ouvida, mas de produzir aquilo que diz.
E já que a Palavra é Cristo, gera Cristo. A Igreja
é gerada pelos missionários, por exemplo, exatamente através do anúncio da
Palavra. E por sua vez a Igreja (também nós estamos na Igreja) é mãe e gera as
almas pela Palavra que doa e pelo batismo. O mesmo podemos dizer do nosso
Movimento Gen. Ele foi gerado pela Palavra que Jesus semeou no nosso coração e
o Movimento Gen por sua vez é mãe de muitos jovens, porque os gera, depositando
no coração deles a Palavra.
Caríssimos Gen, eis o poder
divino da Palavra.
O que pode haver de melhor?
Vocês são jovens! E já podem
ser mães e pais de muitas outras pessoas jovens e adultas! Semeiem nelas a
Palavra, vivida antes por vocês.
Hoje no mundo muitos semeiam
palavras. Mas não tenhamos medo. Eu penso como São Jerônimo: «A pregação do
Evangelho é a menor entre todas as doutrinas filosóficas. Contudo, ao ser
semeada em bom terreno, torna-se uma árvore, enquanto os sistemas dos
filósofos, os seus livros, o esplendor da sua eloquência não mostram nada de
vivo, mas todos se enfraquecem, flácidos e podres, como hortaliças e ervas que
secam e morrem»[8].
Avante, então, com a Palavra
que não morre Gen, creio que já lhes disseram mas eu repito. Morro de medo
quando saio, porque vocês, correndo, cheios de energia, ultrapassam o portão e
pode acontecer uma desgraça como aconteceu com quatro religiosas que foram
atropeladas e uma delas morreu. Por favor, não ultrapassem o portão.
O programa dos próximos dias
prevê que vocês vejam videoteipes de outros temas que eu fiz sobre a Palavra de
Deus, os quais aprofundam o mesmo assunto. Vocês vão ouvir coisas repetidas,
mas não faz mal. O importante é que aprendam o que é a Palavra de Deus. No
momento em que aprenderem isso, então terei realizado a minha missão, pois sei
que vocês estarão sempre em contato com uma presença de Deus. Comungando
continuamente a Palavra, é como se comungassem o corpo de Cristo.
Volto a dizer que ouvirão certas coisas
repetidas, pois para fazer este tema eu escolhi as partes melhores dos outros
temas, se bem que tudo seja muito interessante.
Acabei de saber que
prepararam uma canção. Vamos ouvi-la?
Até logo, Gen; viram que sol
esplêndido Deus mandou para vocês? Fora parece primavera. É sinal da presença
de vocês aqui.
[1]. Santo Agostinho. Em: «Commento al Vangelo di San Giovanni», Discorso CVI, ed. Cittá Nuova, pág. 417;
[2]. Santo Ambrósio. Em: De Abraham, li. II, 22 PL 14, 488 A;
[3].Jo
17, 17;
[4]. Idem;
[5]. Jo 15, 7;
[6]. Jo 8, 51;
[7]. Lc 8, 21;
[8]. São Jerônimo. Em: Matth., PL XXVI, 93 A-C.
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