Abrindo
a Sagrada Escritura e lendo no Antigo Testamento a descrição que Deus faz de
alguns animais, percebemos que poeta algum ou pintor conseguiu cantá-los ou
pintá-los de modo tão vivo e esplêndido. Era preciso o olho de Quem os criou
para inspirar tais descrições majestosas. O nosso talvez não esteja educado
para ver o belo, ou só vê o belo de um certo setor da vida humana, e da
natureza, porque não educamos a alma.
A
moça do campo, embora sempre em contato com a natureza rica dos sinais de Deus,
veste-se nas cores mais excêntricas quando vai à cidade, numa desarmonia que
fere a vista. Para ela, o belo é isto e as melhores obras de arte não valem
muito, se não nada, porque não as entende.
Mas, aos olhos de Deus, o que será mais
bonito? A criança que te fita com olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida
natureza e tão vivos, ou a jovem que resplandece como o viço de uma flor
recém desabrochada, ou o ancião encarquilhado e encanecido, já alquebrado, quase
inapto a tudo, talvez tão-somente à espera da morte?
O grão
de trigo, tão promissor, quando, tênue mais do que um fio de erva, agarrado aos
grãos irmãos, envolvendo e compondo a espiga, espera amadurecer e
desvincular-se, só e independente, na mão do agricultor ou no seio da terra, é
belo e cheio de esperança!
Mas é
igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros, por ser melhor,
para, enterrado, dar vida a outras espigas, ele que, a esta altura, traz a
vida. E belo, é o eleito para as futuras gerações das messes.
Mas, quando enterrado, emurchecendo,
reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre
apodrecendo, para dar vida a uma plantinha, diferente dele, mas que dele contém
a vida, talvez seja mais belo ainda.
Belezas
diversas. Contudo, uma mais bela do que a outra. E a última, a mais bela.
Deus verá assim as coisas?
Aquelas rugas que sulcam a fronte da
velhinha; aquele caminhar recurvo e tremulante, aquelas palavras curtas, densas
de experiência e sabedoria; aquele doce olhar de menina e mulher ao mesmo
tempo, porém mais bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não
conhecemos. E o grão de trigo que, apagando-se, está prestes a se acender para
uma nova vida, diversa da de antes, em novos céus.
Penso que assim Deus veja as coisas,
e que o avizinhar-se do Céu seja de longe mais atraente do que as várias etapas
do longo caminho da vida que, no fundo, só serve para abrir aquela porta.
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