01 janeiro 2017

Jesus no meio

Caríssimos,

Hoje refletiremos um pouco sobre aquele ponto que, de modo abreviado, definimos: "Jesus no meio". Sim, Jesus no meio, é efeito da unidade. Não é um mandamento, uma exortação, ou um conceito, uma normativa, mas é Ele, Jesus, uma Pessoa, que vive espiritualmente entre aqueles que estão unidos, pelo amor, no seu Nome.
Hoje em dia e no mundo em que vivemos temos contatos freqüentes com pessoas retas e boas, que não sentem, porém, a necessidade de ter uma fé. Certas até teriam esse desejo, mas submersas em um mundo que deveria ser cristão e muitas vezes não é, não têm a força para dar o passo e esperam, enfileirando-se com aquelas que se definem "em busca".
Esperam quem?
Talvez inconscientemente esperam encontrar-se um dia com Jesus.
É nessa ocasião, sobretudo frente a pessoas assim, que comprovamos a extrema atualidade, oportunidade e urgência da nossa espiritualidade e do ponto em questão: Jesus no nosso meio, o Ressuscitado.
Ele atesta, demonstra que não é uma realidade somente do passado, mas é Aquele que, mantendo a sua promessa: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20), está presente, vivo, luminoso, cheio de amor, também hoje entre os irmãos.
Gerar a presença de Jesus no nosso meio é um nosso grande dever. Isso é possível se atuarmos os seus mandamentos, que se resumem no Mandamento Novo vivido segundo o modelo de Jesus Abandonado.
Viver, porém, os seus mandamentos, como Jesus disse, é carregar um peso leve e suave (cf. Mt 11, 30). Sem dúvida, é um peso que humilha o nosso "homem velho", mas não é pesado, aliás, é leve. É mesmo assim.
Mas pode ser sempre assim?
Geralmente sim. A condição é sermos dois ou mais unidos no seu Nome.
E quando estivermos sozinhos? Ou se os outros não compreendem o nosso amor?
Nós sabemos que, abraçando Jesus Abandonado em tais circunstâncias, conseguimos estar de pé, na paz e também na alegria, e podemos trabalhar, rezar, estudar, viver com a plenitude no coração.
No entanto, podemos vivenciar momentos em que nos parece difícil definir leve e suave o peso do Senhor.
Em certos períodos, por exemplo, podemos perder a saúde e isso influencia também o espírito, fazendo-nos fechar em nós mesmos, tornando-nos quase incapazes de nos relacionarmos com os irmãos.
Ou vivemos momentos em que temos que guardar certos segredos que nos preocupam, os quais desejaríamos comunicar para desabafar, mas não podemos. São relativos a nós mesmos - como provações interiores - ou a outras pessoas, tal como fatos tristes e delicados que nos foram confiados em segredo.
Ou chegam períodos em que somos alvo de tentações que podemos comunicar somente ao confessor. Ou são mortes repentinas, acidentes imprevistos que nos abalam profundamente e nos parece difícil que alguém compreenda. Ou aparecem os sintomas de uma doença, que pensamos ser mortal... Ou... ou...
São circunstâncias dolorosas permitidas por Deus para esculpir a nossa alma com o instrumento do qual, no cristianismo, não se pode prescindir e que Jesus também experimentou: a cruz.
Como devemos nos comportar em meio a tais dificuldades?
Tentando nos alegrar, pelo menos com a vontade, por sermos um pouco semelhante a Ele, abandonado, lançando cada preocupação no coração do Pai (cf. 1 Pd 5, 7). Permanecendo numa estável atitude de oferta, ajudados pela graça do momento, que não faltará, enquanto Deus não restituir plenamente a serenidade à nossa alma provada.
Recordando-nos, porém, que devemos amar sempre os irmãos como pudermos e quanto pudermos, abrindo-nos com eles pelos menos de modo vago, dizendo por exemplo: "Estou passando por uma provação...". Comunicá-lo por amor para que não falte a comunhão. A abertura é também o melhor tonificante em cada situação.
Assim, Jesus entre nós, se não deixarmos de gerá-lo - como dizia Paulo VI[1] -, nos fará vir à tona também nesses momentos e nos demonstrará que, sempre e de qualquer forma, o seu peso pode ser leve e suave.
Neste ano, em que aprofundaremos a realidade de Jesus no meio, façamos de tudo para tê-lo sempre entre nós.
Será um exercício útil para demonstrar que Ele pode estar presente entre nós ao longo de toda a nossa vida.                                                                                              



[1].         Insegnamenti di Paolo VI, Poliglota Vaticana, 1965, II, pág. 1072-1074.

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