28 fevereiro 2019

A EVANGELIZAÇÃO DOS FILHOS


A evangelização dos filhos é, mais do que nunca, importante para os nossos filhos, para as famílias, para a comunidade eclesial e para a sociedade civil. De fato, conseguir transmitir os valores do Evangelho às novas gerações significa estabelecer hoje uma convivência mais solidária e de elevado perfil ético, e, sobretudo, criar as bases para que assim continue também no futuro.
Existem várias maneiras de transmitir o Evangelho.
Aqui, eu me limito a falar daquela que conheço, isto é, da experiência de educação evangélica das crianças que participam do Movimento dos Focolares, o qual tenho a honra de presidir.
Os Evangelhos nos revelam o quanto Jesus ama as crianças.
Lemos no Evangelho de São Marcos: «Então lhe traziam algumas crianças para que Jesus as tocasse; mas os discípulos os repreendiam» (Mc 10,13-16). E no evangelista Mateus: «Os chefes dos sacerdotes e doutores da Lei ficaram indignados, quando viram (...) as crianças gritando no templo: "Hosana ao Filho de Davi". Então eles disseram a Jesus: "Estás ouvindo o que dizem?"» (Mt 21,15-16).
Diante da agitação dos discípulos e da indignação dos sumos sacerdotes, Jesus assume outra atitude. De fato, existe uma total divergência entre o modo de Jesus de avaliar pessoas e acontecimentos e o deles. Para Jesus a "criança" é inclusive o modelo do discípulo que Ele tem em mente. Com efeito, Jesus diz: «Eu lhes garanto: se vocês não se converterem e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu» (Mt 18,3).
E o amor de Jesus pelas crianças é prontamente retribuído. Elas ficam fascinadas por Ele. A presença das crianças ao seu redor é constante na sua vida pública e, justamente porque Jesus as ama e é amado por elas, Ele torna-se o amigo e o verdadeiro "mestre" das crianças. E isso não se verificou somente há dois mil anos pelas ruas da Palestina, mas continua e continuará a se verificar ao longo dos séculos com todas as crianças do mundo.
Uma mãe recentemente me escreveu que sua filha, de cinco anos, não sabia se participava ou não de um encontro de formação sobre o Evangelho, pois esse encontro (de quatro dias) seria feito longe de Bari, a sua cidade. Teria que dormir pela primeira vez fora de casa, sem a mamãe e o papai. Sua mãe me contou: «Um dia Ângela chegou em casa decidida. Ela tinha ouvido como as crianças viviam o Evangelho "Quero fazer como elas. Me dê a mala – disse-me –, colocarei os sapatos sem laços, vestidos sem botões, porque você não irá comigo, mamãe, e não poderá me vestir..."». São experiências que podem nos fazer rir, mas a mãe dessa menina quase chorou, «porque – me escreveu – senti que Jesus tinha conquistado o coração de minha filha».
A "educação", entendida como «promover o desenvolvimento integral dos filhos no campo religioso, moral, comportamental, cultural e social», provém de diversos agentes, que muitas vezes interagem entre si. Eles são, em primeiro lugar, os pais e a família; depois, o Jardim de Infância, a Escola Fundamental, a comunidade eclesial, com os seus campos de atuação e especialistas em formação, as agremiações espontâneas, os meios de comunicação social.
Porém, gostaria de limitar esta nossa reflexão à família.
Como os pais e as famílias poderão desempenhar da melhor maneira possível a sua missão de educadores?
Em primeiro lugar, empregando ao máximo aqueles recursos pedagógicos próprios que derivam do fato de serem pais; recursos potencializados pela experiência pessoal e pelo eventual patrimônio cultural, oferecido pelo contexto social em que vivem. Trata-se do primeiro e insubstituível instrumento educativo, que todos os pais por natureza possuem.
Porém, existe também uma perspectiva mais ampla e mais elevada. Os pais cristãos acreditam que seus filhos entram na dimensão existencial como um "projeto de imortalidade". O projeto de Deus para o homem é uma vida que começa fraca e indefesa, cresce e se afirma na interação com as criaturas e a criação, supera a morte e entra na perene novidade da condição divina, para se tornar e viver como "filho de Deus"[i]. Trata-se da aventura humana de Cristo, o qual, para viver essa aventura, teve que ser "acolhido e ajudado no seu crescimento"[ii] por uma simples e pobre família, como disse João Paulo II; essa família podia ser "simples e pobre", mas certamente era possuidora daqueles recursos espirituais e humanos que faziam com que ela tivesse o ambiente adequado para a formação daquele Homem.
E cada família deve acreditar no amor de Deus, o qual junto com o dom da vida, prepara para cada filho o ambiente onde crescer e o caminho a percorrer.
Mas qual é o caminho? Nós o conhecemos: «Eu sou o caminho – disse Jesus –. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim» (Jo 14,6).
Educar um filho significa, em última análise, fazê-lo encontrar Jesus.
A frase «deixai vir a mim as criancinhas...» (Mc 10,14) é uma sublime síntese de método educativo evangélico para uma formação não só religiosa, mas integralmente humana.
Será que há dois mil anos encontrar Jesus era mais fácil? Não sei... A história da salvação caminha e Cristo continua a estar conosco, como havia prometido. E os vários modos de Ele estar presente, como prometeu, são o ponto de contato entre a família e Ele.
Gostaria de examinar brevemente dois desses modos, muito apropriados ao núcleo familiar.
Um primeiro modo de Jesus estar presente é quando vivemos aquela sua famosa e explícita declaração: «Onde dois ou mais estiverem reunidos no meu nome, ali estou eu no meio deles» (Mt 18,20). Portanto, Jesus está presente onde estivermos unidos. Segundo muitos Padres da Igreja e a tradicional interpretação do magistério, isso significa estar unidos n'Ele, na sua vontade, na prática, no amor recíproco, que é o seu mandamento[iii].
Pois bem, uma família ou um casal pode estabelecer aquela condição com a qual, segundo Orígenes, Cristo é «atraído e desafiado»[iv] a estar presente entre seus membros?
Todos constatamos que a família já é uma rede de amor, de amor humano que liga o pai à mãe; os dois aos filhos; os filhos aos pais; os filhos entre eles e ainda aos tios e avós; aos sobrinhos e netos. Se a família usufruir também do amor divino, que a vida cristã lhe oferece, daquele amor divino que foi infundido nos corações pelo Espírito Santo, então Cristo poderá estabelecer-se realmente nessa família, potencializando o amor humano, que já existe, e a graça do sacramento do matrimônio.
Os pais que se amam assim levam Jesus para casa.
E como é esse amor humano-divino, o amor evangélico? Praticamente, como se ama segundo Jesus?
Aqui é mesmo necessário fixar a nossa atenção para compreender aquela que, de certo modo, pode se chamar a arte de amar de Cristo. Ela é exigente.
É um amor que ama a todos.
É um amor que é o primeiro a amar.
É um amor que ama sempre, que nunca se acaba.
É um amor que entra na realidade do outro, que sabe fazer-se um com o outro.
Enfim, é um amor que no outro, em quem quer que seja, vê e ama Jesus, segundo as suas palavras... «A mim o fizeste» (Mt 25,40).
Se numa família os esposos se amam e amam desse modo, recomeçando sempre, sabendo morrer a si mesmos por amor ao outro, esse amor recíproco, que estabelece o Mestre em casa, atrai os filhos.
De fato, faz parte da ordem natural das coisas que os filhos tenham a tendência a imitar o comportamento dos pais.
E, se é mesmo assim, levando em consideração somente o lado humano da família, o que poderá acontecer quando os pais forem imbuídos pela graça do sacramento e pela presença mística de Jesus entre eles?
Eu tenho a grande sorte de receber cartas de muitas crianças, porque a parte juvenil do nosso Movimento, compreende também as crianças pequenas; e posso constatar a ação educadora espontânea, por assim dizer, de uma família que procura viver o amor evangélico.
«Ontem, papai me pediu para ir pegar vinho na adega – me escreveu Betty, de seis anos, de Milão –. Descendo as escadas, era escuro e tive medo. Depois, rezei para Jesus e senti que Ele estava perto de mim. Às vezes falo com Jesus. Outro dia eu estava no meu quarto fazendo o dever de casa e comecei a conversar com Ele; eu lhe disse muitas coisas e não queria mais parar de falar. Sabe, quando faço um ato de amor, sinto uma coisa bela dentro de mim, como se alguém me fizesse elogios e me agradecesse. Nesse momento, penso que esse alguém é Jesus».
Uma mãe francesa me escreveu: «Antes de colocá-los para deitar, rezo de joelhos sobre o tapete com as duas filhas maiores. Ontem à noite, Ruth – uma delas – me fez notar que Davi, o menor, continuava a brincar. "Deixe estar", eu lhe disse, "é assim que ele reza". Assim, nos recolhemos e rezamos as orações da noite. Quando abrimos de novo os olhos, Davi estava ao meu lado com as mãos postas. "Você viu, mamãe – me disse Catarina, a outra –, se nós amamos, Jesus lhe ensina as coisas"».
Outra presença de Jesus, significativa para o tema que estamos abordando, é aquela presença na sua Palavra.
Naquilo que diz respeito à nossa experiência espiritual, podemos dizer, e é o que repetimos, que «nascemos com o Evangelho nas mãos» e continuamos assim. Escolhemos uma frase para colocar em prática durante um mês na nossa vida do dia a dia. Assim, a nossa existência é "evangelizada" e imersa em Deus, presente totalmente em cada fragmento da sua Palavra.
Com essa simples técnica pedagógica da gradação e da plenitude, Deus nos fez viver uma experiência espiritual e educativa forte e em contínua expansão. É uma experiência que envolve também as nossas famílias e as famílias das comunidades que se agregam ao redor dos Focolares e que partilham a nossa mesma aventura espiritual.
E nessas famílias, assim como para os filhos pequenos parte-se em pequenos pedaços o pão cotidiano, também é preciso explicar por partes o Evangelho. De que modo? Exatamente como nós, adultos, fazemos. Escolhemos – como eu disse –, a cada mês, uma frase com o sentido completo, com um comentário aprovado pela Igreja, compreensível a todos, e procuramos vivê-la nas pequenas e grandes ocasiões do dia, quase competindo com os filhos em um santo e alegre espírito de competição. Assim, se o papai e a mamãe contarem à noite como conseguiram viver como cristãos os acontecimentos do dia, será espontâneo para os filhos fazer o mesmo, contando as suas experiências. São momentos em que responsabilidade e reciprocidade tecem de modo admirável o relacionamento familiar[v].
Nas crianças, que crescem em famílias assim, essa formação diária, com uma mentalidade segundo o Evangelho, é espontânea, e isso as levará a avaliar pessoas e situações como Jesus, com o seu modo de pensar. Aprenderão a ver na humanidade a grande família dos filhos de Deus, e a usar das coisas deste mundo com espírito puro e solidário, possuindo uma reta hierarquia de valores que as guiará sempre na vida.
É claro, chegarão também as provações para os filhos e os períodos de crise e busca; sobretudo na adolescência e no início da juventude conheceremos a sua rebeldia e contestação, mas nenhuma atitude deles, por mais grave que seja, deverá paralisar ou apagar a nossa caridade em relação a eles. A arte de amar, que Jesus nos ensinou, nos indicará como "nos fazer um" até o fim, nas várias etapas do seu crescimento; colocará nos nossos lábios as palavras justas de advertência, nos manterá sempre abertos ao diálogo e à partilha dos seus interesses. Saberemos "perder tempo" com os filhos. Saberemos criar amizade com eles e ser seus confidentes. Porém, se a rebeldia perdurar, manteremos sempre a porta de casa aberta e reconheceremos na nossa dor uma sombra da dor de Cristo crucificado, que também viveu o abandono da parte de todos, inclusive do Pai. Nós a aceitaremos, como Jesus fez, permanecendo serenos.
Nós acreditamos, porém (e muitas experiências nos confirmam isso), que todos os valores depositados neles permanecerão gravados para sempre, porque, no momento mais importante de sua vida, quando se plantam as bases da personalidade e do caráter, tiveram a grande sorte de encontrar Jesus, presente entre os pais, presente com a sua Palavra na vida deles.
É realmente verdade que as crianças sabem viver, melhor do que nós, com generosidade e totalitariedade, a Palavra de Deus.
No ano passado, tive a idéia de propor-lhes um jogo: escrever nos lados de um dado as regras da arte de amar, de que falei ainda há pouco, convidando-os a lançá-lo de manhã, quando se levantam, para escolher de que modo amar a todos aqueles que encontrariam durante o dia. Foi incrível a resposta entusiasmada e os ecos que recebi de todas as partes do mundo.
Um pai, de Gênova, me escreveu: «Eu estava lavando os pratos quando Lucas entrou na cozinha. Pegou o pano de prato e começou a enxugar. "Esteja atento em não quebrar nada", eu lhe disse meio maravilhado com a sua generosidade. E ele, todo satisfeito, me respondeu: "Quando mamãe voltar, encontrará tudo limpo. Sabe, papai, quando eu for para o Paraíso Jesus me dirá: 'Naquela vez que você ajudou seu pai, foi a mim que você ajudou'"».
Irene, Ilária e Laura, três irmãzinhas de Florença, estavam indo com a mãe fazer as compras de carro. Passam na frente da casa do avô e perguntaram se podiam ir dar-lhe um abraço. A mãe disse: «Vão vocês. Eu espero no carro!» Quando voltaram, perguntaram: «Mãezinha, por que não veio?» A mãe respondeu: «O vovô não se comportou bem comigo; assim, ele compreende que...» Ilária a interrompeu: «Mas mamãe, estamos vivendo a Palavra: amar a todos, também aos inimigos...» A mãe ficou sem palavras. Olhou para elas e sorriu: «Vocês têm razão! Esperem, que volto já». E foi saudar o vovô também.
E agora, para concluir, desejo ler ainda dois episódios sobre estas crianças educadas segundo o Evangelho. São episódios significativos, que por vezes são até engraçados.
Temos milhares de pobres no Movimento que ajudamos de um modo especial e as crianças contribuem. Eis o que Marcos me escreveu: «Querida Chiara, sou Marcos, de Cosenza. Mamãe e papai me disseram que você está fazendo algumas contas (eu estava vendo quantos pobres poderíamos ajudar) e entendi como é a situação, por isso lhe mando...». Agora ele explica uma coisa que na Itália se costuma fazer. Os pais dizem aos filhos, quando estão na idade em que caem os dentes, para colocá-los num buraquinho da parece e, durante a noite, passa um ratinho que, no lugar do dente coloca uma moedinha.
Então, Marcos me escreve: «Querida Chiara, sou Marcos, de Cosenza. Mamãe e papai me disseram que você está fazendo algumas contas para ajudar os nossos pobres e entendi como é a situação, por isso lhe mando o dinheirinho que o "ratinho" me deixou no lugar do meu primeiro dentinho que caiu. Sabe, Chiara, eu também fiz os meus cálculos: devem cair ainda 11 dentinhos... Chiara, tenho certeza de que conseguiremos a soma necessária e não teremos mais pobres no mundo!».
 A última.
Kanna é uma criança de Nagasaki, no Japão. Ela vai ao Jardim de Infância. Muitos dos seus amigos são de outras religiões, também a professora não é cristã. No final do ano, a professora saúda, uma por uma, todas as crianças da classe. Quando chega a vez de Kanna, ela lhe diz: «Eu lhe agradeço porque você nos fez conhecer Jesus. Quando você nos falava sobre Ele, sentia-se que Ele estava perto de você. Você nos ensinou as orações que aprendeu em sua casa: são belas! Hoje de manhã, vi que você deu a uma amiguinha o prêmio que você recebeu. Isso me comoveu! Eu estou para me casar, mas antes quero receber o batismo e estou me preparando, porque também eu quero acreditar em Jesus como você».
Essa é a conclusão. Peçamos a Maria, que educou o Mestre por excelência, que nos transmita um pouco da sua materna pedagogia.



[i].   Cf L.Macario, L'educazione religiosa, in N.Galli (aos cuidados de), Vogliamo educare i nostri figli, Vita e Pensiero, Milão 1985, p. 272;
[ii].  João Paulo II, Angelus 26.12.1999, L'Osservatore Romano, ed. italiana, 27-28 de dezembro de 1999, p. 9;
[iii].  Cf Chiara Lubich, Scritti Spirituali/3, Tutti uno, Città Nuova 1989, p. 173;
[iv]. Commento al Cantico, 41, p.13, 94 B;
[v].  Cf. G.Milan, Disagio adolescenziale e strategie educative, Cleup Pádua 1999, pp. 56 e segs.

27 fevereiro 2019

A primeira qualidade do amor

A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.
Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta…
Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

26 fevereiro 2019

Como o Criador


      A fé no amor que Deus faculta às suas criaturas, fé típica de nós, cristãos, descobrimo-la em muitos irmãos e irmãs de outras religiões, a começar pelas abraâmicas, que afirmam a unidade do gênero humano, o zelo que Deus dispensa a toda a humanidade e a obrigação de cada criatura humana de agir como o Criador, com imensa misericórdia por todos.

      Reza um provérbio muçulmano: “Deus perdoa cem vezes, mas reserva a sua suprema misericórdia para aquele cuja piedade poupou a menor de suas criaturas”3.

      Que dizer da compaixão sem limites por todos os seres vivos que Buda ensinou, aconselhando seus primeiros discípulos: “Ó monges, deveríeis trabalhar pelo bem-estar de muitos, pela felicidade de muitos, movidos de compaixão pelo mundo, pelo bem-estar dos homens”?4

      Portanto, amar a todos. É um princípio universal. Sentido pelos seres humanos de qualquer época, e debaixo de qualquer céu.


          3 Cf. GUZZETTI, G. M. Islam in preghiera. Roma : Elle Di Ci, 1991, p. 136.
          4 Mahagga, 19.

25 fevereiro 2019

A revolução cristã

O amor por todos é fecundo demais. É experiência de tanta gente que bastaria viver apenas esse aspecto da caridade, ou seja, do amor verdadeiro, o amor de Deus, para deflagrar uma revolução ao redor, partindo do próprio bairro: a revolução cristã, aquela revolução que os primeiros cristãos levaram ao mundo de então.

24 fevereiro 2019

UMA NOVA ESTAÇÃO


(PENSAMENTOS DE IGINO GIORDANI)

29 de junho de 1948
O destino da árvore frutífera dá um pouco a imagem do homem que frutifica na sua estação fecunda. Até quando floresce, ao redor da árvore há cantos e trinos, zéfiro e sol;
e quando amadurece suas maças, a natureza inteira, orgiástica, envolve-a de calor. Depois, os agricultores retiram-se aos refeitórios, aos tinelos e aos celeiros e, após algumas palpitações de vida e cores no outono, penetra o frio silêncio, sob o céu cinzento, donde as folhas, como últimas lágrimas, caem na terra seca. E assim acontece ao homem quando superou a idade de maior rendimento. Desilusões e amizades caem, como as folhas, e o silêncio sobem de todos os lados, a paisagem se entristece e ele permanece sempre a contemplar, mudo espectador, o avanço de sua própria ruína.
Da mesma forma, como naquele frio e naquela solidão, a árvore prepara a nova primavera, concentra calor e seiva, assim o homem pode fazer daquele afastamento invernal de amigos e de forças a concentração de um vigor pleno de uma nova existência: utilizar aquele abandono dos homens para aderir a Deus, preencher aquela perda de humanidade com a graça divina. E então, dentro do silêncio agigantado pela ingratidão e avareza, sobre a velhice descamada e fria, pode encher-se do calor de Deus, ascender interiormente enquanto declina externamente: dar aos homens um fruto que não se conta na economia, mas se calcula na teologia. No inverno do homem começa a primavera de Deus.

21 de junho de 1965
O tronco torna-se sempre mais desfolhado, nu. Desaparecendo as flores, cortados os frutos (quem os comeu?...), caíram às folhas, romperam-se os ramos. Humanamente, haveria lugar para o desespero.
Divinamente, ao invés, podemos ter esperança poIs que esta diminuição é uma diminuição do homem a fim de que Deus nele cresça: sempre há compensação — há quase a teandria[1] — mas à parte de Deus cresce anelando fazer-se tudo, até que chegue o dia em que não existas mais; existe Ele, e te tomas parte d’Ele, e do nada te fazes tudo.



2 de janeiro de 1960

Com o passar dos anos, os velhos, em muitos casos, retornam á religião ou se tornam mais religiosos. Esta evolução é chamada involução, este progresso, regresso, senilidade. No entanto, é um aviso instintivo da aproximação de Deus, ou melhor, da casa.

Da árvore caem as folhas, o tronco abre os ramos para o céu; recebe água, é envolta pela névoa, ferida pelos raios; olha para o alto, não mais iludida com a folhagem, não mais iludida com aquilo que passa, já habituada, prelibando o que permanece. A minha pessoa morada de Maria, situada na sua vontade, recolhe-se, sempre mais, à morada do amor Eterno, cuja obra-prima é a Mãe.



24 de agosto de 1960

Aparece nos jornais, com freqüência, que algum velho — quase sempre aposentado — sobe ao sétimo andar e dali se jogam no vazio para pôr fim à vida. Ou, mais exatamente, à solidão que sofria, a doença dos velhos, criaturas arrancadas da massa para o isolamento, do rumor para o silêncio.

É uma solução lógica, embora errada.

A velhice é uma reviravolta critica, decisiva: a fase de preparação para o encontro com o Tudo, com o Eterno, com a Beleza: o encontro com o calor da juventude que não morre. É um período de evolução que chamam involução; de progresso que chamam regresso; de juventude do espírito que chamam senilidade.

O mal-estar físico e moral denota a inquietude diante da proximidade de Deus. Nessa idade avançada, a existência humana aparece como uma árvore no inverno. Ao cair das folhas, o tronco abre os ramos nus e secos para o céu e recebe água, nuvens e raios sem nenhum amparo. Mas, livre do ornamento do verde, olha direto para o alto, não mais iludido pela folhagem nem por aquilo que, florescendo de repente, cresce e morre.

E habitua-se a conversar com o céu, a sondar as nuvens, explorar as estrelas, percebendo, aos poucos, um mundo novo sem rumores e aparências.



23 de junho de 1958

Ao observar, cheio de pena, o cair das folhas (ilusão de fama, poder e amizade) da árvore da minha vida, neste outono que caminha para o inverno, percebo, melhor, que a solidão, sempre mais profunda e densa, que me rodeia é causada para efetuar um encontro amoroso mais intenso com Deus: a alma encontra finalmente tempo e conforto para estar com o Esposo. Chamam — esta — solidão, de aproximação da morte, mas é um encaminhamento para a vida. Agora, finalmente, posso deixar a minha alma escutar o Espírito Santo, conviver com os anjos e bem-aventurados, unir-se a Cristo, unir-se a Deus. E Deus é a vida. Antes, inúmeras distrações e interrupções impediam a passagem do espírito divino, que é a Vida; agora, a união, aos poucos, torna-se constante. Aprendo e preparo a vida do paraíso.

Sempre quis atingir Deus porque sempre tive fome de vida. No entanto, mesmo ao aproximar-me d’Ele, como válvulas, intercalava os meus estudos, as minhas amizades, os meus hábitos. Freqüentemente comprazia-me neles, parava diante das criaturas e dos fantasmas, sacrificava o essencial ao acessório, o divino ao humano.





15 de novembro de 1957

Estou chegando ao outono da vida: os últimos frutos foram colhidos e consumidos, as últimas folhas levadas pelas ondas frias do vento. Bem sei que a juventude interior resiste fortificada pelas provações. A carência de afetos e contentamentos vindos dos homens a temperaram e quase a aguçaram, proa que avança rumo ao mistério. De tal maneira que a flor fecha-se ao anoitecer da vida para reabrir-se na eternidade.



6 de dezembro de 1957

Se a existência física é uma combustão, façamos do nosso corpo um turíbulo onde se versa, sem trégua, o incenso da oração. Assim, por um outro aspecto, é a união do humano e do divino, do corpo e do espírito; sempre uma projeção da unidade, do Homem-Deus. Todo ato de caridade derramado sobre aquelas brasas há de acender uma chama. Toda dor que nos for oferecida produzirá cinza e será uma consumação, como a chama do altar, se todo o amor, o sofrimento — o sofrimento transformado em amor

— for destinado para onde a gravitação o transporta: ao Amor Eterno. A química torna-se suporte da mística. Dá-se à natureza a possibilidade de libertar-se, abre-se a sua boca à oração. Também a matéria e as células foram criadas para voltar ao Criador.



26 de fevereiro de 1957

Têm razão quando comparam o ciclo da existência com o ciclo das estações. Ela é como a árvore que cresce, floresce e frutifica enquanto entre seus ramos, os pássaros fazem seus ninhos. Depois vem a má estação, os trabalhos e o tempo, e desfolha os ramos e os resseca: até que o divino podador os poda. Poda e reduz a planta ao essencial: a uma cruz.





15 de novembro de 1957

Caem as folhas e os frutos, e nas ervas secas do chão floresce outra primavera. Na solidão dilatada pelo próximo inverno, Deus aparece, aproxima-se, e com Ele, o relacionamento se torna mais íntimo e imediato. Na medida em que perdemos na economia humana, adquirimos na economia divina. As criaturas se distanciam para que eu me enlace ao Criador. Não encontro amor para encontrar o Amor.

A estação findará, findará também a ação com a reação dos homens, quando, finalmente, estiver com Deus. Nele não há mais história, que é um registro do tempo, quase uma crônica fúnebre. Na eternidade, a vida é pura e plena porque se desenvolve em unidade com Deus. E Deus está além do tempo com suas estações, frutos e folhas.

Vista assim, a existência é uma árvore que cresce para o céu a fim de florescer na eternidade. Estações e tragédias, desilusões e sofrimentos são podas. A árvore cresce sob uma amarga chuva (água e sol, o pranto) para mondar-se, até tornar-se pura haste elevada da terra ao céu.

A vida não é senão um processo de amadurecimento pela purificação que a dor traz. Quando amadurece, é Deus quem colhe o fruto, transplantando a árvore ao paraíso.



24 de junho de 1960

O amor é a linfa que faz a flor crescer. No homem, alimenta a liberdade; a vida no amor revela-se como um desenvolvimento na liberdade: processo de libertação. Somos de tal maneira ligados aos nossos limites, como galhos ao tronco, que quando estes aos poucos, vão sendo podados, parece-nos uma perda, mas na verdade é um ganho.

(Diário de Fogo Igino Giordani, 1980)



1.         Teandria, no seu sentido original, diz respeito à “natureza humano-divina de Jesus”: no texto:
             o “humano no divino”. (n.d.t.)

20 fevereiro 2019

De fora

ESTEJA certo de que a felicidade de sua vida não pode vir de fora. Você só poderá encontrar a felicidade quando souber fazê-la nascer dentro de seu coração, quando aprender a ajudar a todos indistintamente, com suas ações, suas palavras e seus pensamentos. Pense positivamente, desculpando a todos, e sentirá a maior felicidade de sua vida na alegria de viver bem.

19 fevereiro 2019

Ao alcance de todos

Nos dias de hoje, não basta banir a guerra.
A paz requer que se supere a categoria de inimigo, qualquer que seja o inimigo.
Aliás, ela exige que se ame o inimigo.
Isso os discípulos de Cristo podem fazer.
Mas, como o amor pulsa no íntimo de cada coração humano, isso também as pessoas que não possuem uma fé religiosa podem fazer, talvez a título de filantropia, de solidariedade, de não-violência.
Igual àqueles que, sendo de outros credos, são chamados por sua religião a pôr em ação o respeito e o amor ao próximo.

17 fevereiro 2019

Sem limites

Amemos o irmão. Os irmãos são a nossa grande oportunidade. Não percamos nenhuma, ao longo de todo o dia. Amemos aqueles a quem costumamos dirigir nosso cuidado pelo fato de os vermos fisicamente ao nosso lado. Amemos aqueles que talvez não estejam à nossa vista . Por exemplo, aqueles de quem falamos ou se fala, aqueles de quem nos lembramos ou por quem rezamos, aqueles de quem temos alguma notícia no jornal ou na televisão, aqueles que nos escrevem ou a quem escrevemos, aqueles a quem se destina o trabalho que nos ocupa dia após dia… Amemos os vivos e aqueles que já não estão mais na terra.

16 fevereiro 2019

Um por vez

Precisamos dilatar o coração segundo a medida do Coração de Jesus. Quanta labuta! Mas é a única necessária. Isso feito, tudo feito. Trata-se de amar a cada um que de nós se achega, como Deus o ama. E, dado que estamos no tempo, amemos ao próximo um por vez, sem guardar no coração resquícios de afeto pelo irmão encontrado um minuto antes. Afinal, é o mesmo Jesus que amamos em todos. Mas, se o resquício fica é porque amamos o irmão de antes por nós mesmos ou por ele… não por Jesus. E aí está o problema. Nossa obra mais importante é manter a castidade de Deus, ou seja, manter no coração o amor, como Jesus ama. Portanto, para ser puro, não é preciso tolher o coração e nele reprimir o amor. É preciso dilatá-lo segundo a medida do Coração de Jesus e amar a todos. Como basta uma hóstia santa entre os bilhões de hóstias na Terra para nos alimentarmos de Deus, basta um irmão — aquele que a vontade de Deus nos põe ao lado — para comungarmos com a humanidade, que é Jesus místico. E comungar com o irmão é o segundo mandamento, aquele que vem imediatamente após o amor a Deus e como expressão dele.

15 fevereiro 2019

Descobrir a luz do outro

O mundo está cheio da Luz Divina! Procure percebê-la e sentir em si as irradiações benéficas, que se derramam sobre todas as criaturas, aproveitando ao máximo o conforto que isto lhe trará ao espírito. Olhe tudo com olhos de bondade e alegria! Busque descobrir a luz que brilha dentro de você e dentro de todas as criaturas, embora, muitas vezes, esteja ela recoberta por grossa camada de defeitos!

13 fevereiro 2019

Fora os julgamentos

Na qualidade de cristãos, somos chamados a contribuir para o “ut omnes”. Então, antes de mais nada, reavivemos a nossa fé em que cada homem é chamado à unidade, porque Deus ama a todos. E não arranjemos desculpas como: “aquele lá nunca vai entender”; “aquele outro é pequeno demais para compreender”; “aquele ali é parente meu e o conheço bem, é apegado às coisas da terra”; “este aqui acredita no espiritismo”; “aquele acolá é de uma outra religião”; “este é velho demais para mudar”… Não! Fora todos esses julgamentos! Deus ama a todos e por todos espera.

12 fevereiro 2019

Amor divino e amor humano

O amor sobrenatural, sendo participação do mesmo amor que está em Deus, que é Deus, difere do amor humano de maneiras infinitas, mas é principalmente diferente porque o amor humano faz distinções, é parcial, ama determinados irmãos como, por exemplo, os irmãos de sangue, ou os que são cultos, ricos, bonitos, respeitados, sadios, jovens…; ou os que são de determinada raça ou classe social, mas não ama — ao menos não desse modo — os outros. O amor divino, ao contrário, ama a todos, é universal.

A primeira qualidade do amor


      A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.

      Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, muçulmano ou hinduísta…

      Valendo-nos de uma linguagem bastante conhecida hoje, podemos dizer que o amor não conhece “nenhuma forma de discriminação”.

10 fevereiro 2019

A caridade

Amar. Deus convoca todos os cristãos a amar. É porque, no cristianismo, o amor é tudo. Santo Agostinho, mestre da caridade, diz em tom muito forte: “Só o amor diferencia os filhos de Deus… Se todos fizessem o sinal da cruz (que é um ato religioso), se todos dissessem amém e cantassem o aleluia (ou seja, se praticassem as liturgias, que são muito importantes, mas só fizessem isso…); se todos recebessem o batismo e entrassem nas igrejas, se mandassem erguer as paredes das basílicas, permaneceria o fato de que só a caridade distingue os filhos de Deus… Quem possui a caridade nasceu de Deus, quem não a possui não nasceu de Deus. Eis o grande critério de discernimento. Se tu tivesses tudo, mas te faltasse essa única coisa, de nada serviria o que tens. Se não tens outras coisas, mas possuis essa, cumpriste a lei…”

Dentro do seu coração

ESTEJA certo de que a felicidade de sua vida não pode vir de fora. Você só poderá encontrar a felicidade quando souber fazê-la nascer dentro de seu coração, quando aprender a ajudar a todos indistintamente, com suas ações, suas palavras e seus pensamentos. Pense positivamente, desculpando a todos, e sentirá a maior felicidade de sua vida na alegria de viver bem.

09 fevereiro 2019

Vida trinitária

No Movimento, desde os primórdios tínhamos entendido que a fidelidade ao amor mútuo, vivido segundo o modelo de Jesus crucificado e abandonado (eis aí o “como”! 3 ), desembocaria na unidade segundo a vida da Santíssima Trindade. “Sabe até que ponto nos devemos amar? ” — perguntamo-nos um dia, sem que, até então, tivéssemos conhecido o Testamento de Jesus — “Até nos consumarmos em um.” Como Deus, que, sendo Amor, é Trino e Uno. É exatamente “a lei do Céu” — escrevi eu então — “que Jesus trouxe à terra. É a vida da Santíssima Trindade que nós devemos procurar imitar, amando-nos entre nós, com a graça de Deus, como as pessoas da Santíssima Trindade se amam entre si”. E o dinamismo da vida intratrinitária é o mútuo e incondicional dom de si, é a total e eterna comunhão (“Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu” [Jo 17,10]) entre Pai e Filho no Espírito. Portanto, percebemos que Deus imprimira no relacionamento entre os homens uma realidade análoga. “Senti” — escrevíamos ainda — “que fui criada como um dom para quem me estava próximo e quem me estava próximo foi criado por Deus como um dom para mim. Como o Pai na Trindade está todo para o Filho e o Filho está todo para o Pai.” E “a relação entre nós é o Espírito Santo, a mesma relação que existe entre as Pessoas da Trindade”.

1 Do latim: antes de tudo. [N.d.T.]
2 A Autora, aqui, traz à lembrança o começo do Movimento dos Focolares e o nascimento da Espiritualidade da Unidade. [N.d.E.]
3 “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).

07 fevereiro 2019

Política para o povo

Se a política é suja, deve ser limpa, não deserta

Reflexão política de Igino Giordani relatada por Gennaro Piccolo, referente do centro homônimo de Andria

A política é feita para o povo e não o povo para a política. É um meio, não é um fim. Primeiro a moral, primeiro o homem, primeiro a comunidade, depois o partido, depois as mesas do programa, depois as teorias do governo. A política é - no sentido cristão mais digno - uma jovem, e não deve se tornar amante: não deve ser abusada, nem dominada ou mesmo dogmada. Aqui está sua função e sua dignidade: ser serviço social, caridade em progresso; a primeira forma de caridade da pátria.

A notícia relata o eco do sentimento generalizado de mal-estar para partidos e para a política. Também sabemos algo sobre nós mesmos ouvindo o que eles nos dizem e lendo o que eles escrevem para nós. Parece a muitos que a política é uma atividade inferior e equívoca a ser deixada nas mãos de desonestos e eles não entendem que se a honestidade se afasta da política, seu campo é invadido por desonestos; e a política traz consigo toda a nossa vida, do físico ao moral; e uma política de desonestidade leva à guerra, à ruptura financeira, à ruína da riqueza pública e privada, à negligência, ao desprezo à religião, à adulteração das famílias. Se a política é suja, em suma, deve ser limpa: não deserta.

Agora, o tráfico de carne humana, levando ao tráfego dignidade humana, não há liberdade se cada um de nós não recuperar a consciência do seu valor - seu imenso valor - e é com ele na política, determinada a não ser nem de trânsito, nem absorver, mas trabalhar com sua própria cabeça, com sua própria personalidade, defendendo suas razões morais. Defender estes, então, também defende suas razões profissionais, as mesmas razões fiscais: porque o taxismo nasce onde você não pode mais ver o homem para ajudar, mas o mamífero a ser quebrado.

Ele sabe como permanecer na política, como cidadãos, e não como servos. A partir desta posição a democracia nasce. Essa consciência dos próprios valores pode transformar-se em orgulho, isto é, voltar-se para um estímulo antissocial de exploração e dominação: poderia derrubar. Mas, portanto, entre esses valores, muito primeiro, a caridade tem que ser colocada, que é o sentimento de obrigações que é dado aos irmãos. Sem isso, todo valor é desvalorizado; toda conquista é derrubada e o tempo é desperdiçado.

CENTRO IGINO GIORDANI

Paciência

TENHA firmeza em suas atitudes e persistência em seu ideal. Mas seja paciente, não pretendendo que tudo lhe chegue de imediato. Há tempo para tudo. E tudo o que é seu virá às suas mãos, no momento oportuno. Saiba esperar o momento exato em que receberá os benefícios que pleiteia. Aguarde com paciência que os frutos amadureçam para que possa apreciar devidamente sua doçura.

06 fevereiro 2019

Jamais quebrar

Quando a unidade com os irmãos se torna difícil, é preciso nunca romper, mas dobrar-se, até que o amor faça o milagre de serem todos um só coração e uma só alma.

Onde dois ou três estão unidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”!
Jesus no meio! É o Paraíso na terra. E vale a pena permanecer com esforço na caridade recíproca, para experimentar desde já um pouco de Paraíso!

Aquele que vivem no mundo, unidos no nome de Jesus, é como se vivessem em clausura, porque Ele faz desaparecer o mundo exterior e ressalta as belezas do mundo interior.

Nada é pequeno daquilo que é feito por amor.

Um dos caminhos mais diretos para se chegar a Deus é o irmão.

O equilíbrio do amor cristão consiste em amar cada próximo que se encontra ao nosso lado e trabalhar pela comunidade inteira da Igreja e da humanidade, no lugar em que vivemos.

Devemos ver-nos como Deus nos vê, não para nos criticarmos e nos condenarmos, mas para termos misericórdia uns para com os outros e nos ajudarmos.

Falemos sempre de qualquer pessoa como se ela estivesse presente.

04 fevereiro 2019

Se estamos unidos, Jesus está entre nós

Se estamos unidos, Jesus está entre nós. E isso vale! Vale mais do que qualquer outro tesouro que nosso coração possa ter: mais do que a mãe, o pai, os irmãos, os filhos. Vale mais do que a casa, o trabalho, os bens; mais do que as obras de arte de uma grande cidade como Roma; mais do que os nossos afazeres, mais do que a natureza que nos circunda, com as flores e os campos, o mar e as estrelas; vale mais do que a nossa própria alma. Foi Ele que, inspirando os seus santos com suas verdades eternas, marcou época em cada época. Essa é também a sua hora: não a de um santo, mas Dele, Dele entre nós, Dele vivendo em nós, que edificamos — em unidade de amor — o seu Corpo Místico. Mas, é preciso dilatar o Cristo, fazê-lo crescer em outros membros; tornarmo-nos, como Ele, portadores de fogo, que dissolva todo o humano no divino, que é a caridade em ato. Fazer de todos um e em todos o Um! Vivamos, então, a vida que Ele nos dá momento por momento. É mandamento fundamental a caridade fraterna. Ante omnia… 1 (cf. 1Pd 4,8). Por isso, tem valor tudo o que é expressão de sincero e fraterno amor. Nada do que fazemos tem valor, se nisso não há sentimento de amor pelos irmãos; pois Deus é Pai e tem no coração, sempre e unicamente, os filhos.

Tão-somente nos amarmos

Vivamos em profundidade o amor mútuo, aperfei-çoando-o a cada dia, de modo a criar um clima tal que possamos declarar esse amor sempre, em cada instante. Mas seria ótimo que o vivêssemos de uma maneira especial: como se não tivéssemos nada mais a fazer. Pois o restante vem por si: o amor ilumina e ilumina bem cada outra incumbência nossa. Portanto, não pensar em outra coisa. Pensar tão-somente em nos amarmos uns aos outros. Tentemos viver assim o dia inteiro. É uma experiência que deve ser feita. À noite, sentir-nos-emos transformados. Talvez cansados, mas com um novo entusiasmo pela maravilhosa vida divina que Deus nos deu. E um ardor no coração que abrasará, literalmente.

03 fevereiro 2019

Existe amor e amor


      Procurando amar a Deus e aos irmãos, compreendi que nós cristãos somos realmente o que devemos ser se amamos, ou seja, se não pensamos em nós mesmos, mas em Deus, em sua vontade, que é principalmente esta: que amemos o próximo.

      Deus nos pede isto: para sermos, para sermos de fato o que devemos ser, para nos “realizarmos” como cristãos, devemos “não ser”, devemos viver fora de nós, viver, por modo de dizer, “extáticos”. Viver não a nossa vontade, mas a de Deus. Viver o irmão. Então, somos realmente o que devemos ser.

      Eu também procurei viver desse modo, procurei amar. Mas percebi que existe amor e amor.

      Percebi que ter certa compreensão dos outros, interessar-se um pouco por seus sofrimentos, procurar carregar, de algum modo, seus problemas, enfim, amar mais ou menos, não basta para ser como Jesus quer. Deus pede um amor, atos de amor que, ao menos na intenção e na determinação, tenham a medida do seu amor: “Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34).

      Portanto, é necessário estarmos sempre prontos a morrer pelo irmão. E tudo o que fizermos, momento por momento, para demonstrar-lhe concretamente nosso amor, deve ser animado, sustentado, por essa vontade, por essa determinação.

      Só um amor assim agrada a Jesus. Não um amor qualquer, não um verniz de amor, mas um amor tão grande a ponto de pôr nossa vida em jogo.

      Amando dessa maneira, vivemos completamente “fora de nós”, abdicamos inteiramente de nós mesmos. E se somos mais de um agindo assim, podemos esperar abdicar em favor do Ressuscitado, que poderá viver entre nós. De fato, Ele não se faz presente de modo total onde existe apenas um pouco de amor, mas onde estamos unidos em seu nome, ou seja, unidos Nele, de acordo com sua vontade, que é amar como Ele amou.

02 fevereiro 2019

Martírio branco

O amor mútuo, como Jesus o pede, implica um verdadeiro martírio. De fato, Ele pede que nos amemos a ponto de estarmos prontos a morrer um pelo outro. Isso é martírio, um martírio branco, se assim preferirmos, mas verdadeiro, porque pede a vida. É um martírio diário, ou melhor, um martírio de momento por momento. Talvez, apesar de toda a nossa boa vontade, não o tenhamos vivido exatamente assim. Mas somente desse modo somos verdadeiros cristãos, alcançamos a perfeição, justamente como os mártires. E, com ela, alcançamos a união com Deus, a presença plena de Cristo em nós.

01 fevereiro 2019

As exigências Dele

Nem sempre se exige de nós dar a vida pelos outros a ponto de imolá-la totalmente, como fez Jesus. Mas, para amar realmente o próximo, temos de viver bem todas as pequenas ou grandes “mortes” que a mútua caridade exige: esquecermo-nos de nós mesmos, desapegarmo-nos das coisas, dos nossos pensamentos, dos nossos interesses, para estarmos inteiramente projetados nos outros — “fazer-se um” com quem sofre e, com isso, a dor do outro diminui, ou “fazer-se um” com quem se alegra, e a alegria se multiplica. Isso é verdadeiramente morrer. “Viver para os outros”, “viver os outros”, acarreta a abdicação de si mesmo, a morte espiritual de si. Quando, então, começamos a amar os outros assim e, dessa forma, somos, por nossa vez, também amados, experimentamos passar de um plano da vida do espírito para um plano superior; notamos um salto na vida interior. Conhecemos, de maneira nova, os dons do Espírito: uma alegria jamais sentida, uma paz, uma benevolência, uma magnanimidade… Adquirimos uma nova luz, que ajuda a ver cada acontecimento em Deus. E ainda, o amor mútuo testemunha Cristo ao mundo. Foi Jesus quem disse: “Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). Como sabemos, é o início da revolução cristã, aquela revolução que os primeiros cristãos irradiaram em todo o mundo então conhecido, motivo que fez Tertuliano dizer: “Nascemos ontem e invadimos o mundo”