A vida dos santos é única, embora muito variada. Tendo-se doado a Deus, são cumulados de cuidados especiais por Ele, que, sumo artista e Amor supremo, neles realiza obras-primas divinas. Espíritos angélicos e olhos de santos sabem compreendê-los, ou a inteligência iluminada por uma graça singular de quem, na Igreja, deve julgá-los. Geralmente, são invisíveis aos outros em seu íntimo ser; incompreendidos porque, no santo, vive mais Deus que o homem, e só os puros de coração veem a Deus. A vida do santo é feita de abismos e de vértices: abismos abismais, noites negras como o inferno, túneis escuros, onde a alma, invadida por uma luz absolutamente superior, é encandeada numa obscura contemplação e submergida num mar de angústia, ou quase de desespero, pela constatação manifesta do próprio nada e da própria miséria. O santo passa meses, anos, tendo como único anelo morrer no seio de Deus, de quem se sente, às vezes, irremediavelmente separado. A vida é uma morte atroz e o sono, um alívio, uma trégua, como que uma carícia para a alma coberta de chagas. Passa um longo tempo em que o santo grita, invocando o perdão, a salvação, ele, que nada mais tem no coração senão Deus, o seu Deus… Mais tarde, depois de longa tribulação num crisol que se assemelha ao purgatório, a alma do santo é lentamente conduzida por seu divino Artífice a uma vida serena, plena, luminosa, produtiva e resistente a qualquer impacto. Mas, agora, não é mais ela quem vive; nela vive glorioso e forte, louvado e escutado, o Criador e o Senhor de todo coração humano. É quando floresce no santo um vigor divino, desconhecido e inaudito, que sintetiza em seu espírito as virtudes mais contrastantes: a mansidão e a força, a misericórdia e a justiça, a simplicidade e a prudência. Goza da vida em Deus e oferece ao seu Senhor “sacrifícios de aclamação” (Sl 27[26],6), com uma alegria que o mundo desconhece, e se vê forçado a dizer que sonho algum se compara à divina e fantástica — porque amorosa — harmoniosíssima e frutuosíssima Vida que ele possui. E Deus dele se serve para suas grandes obras, que adornam e compõem a Cidade celeste, a Igreja, destinada a ir para Deus, como bela e digna Esposa de Cristo, seu fundador. Ao homem é dada uma vida só; seria conveniente cada um recolocá-la nas mãos Daquele que lha deu. Este seria — no homem racional e livre — o maior ato de inteligência e o modo de manter e dilatar, no plano divino, a própria liberdade. Seria a deificação de seu mísero ser, em nome Daquele que disse: “Vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo” (Sl 82[81],6).
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