23 outubro 2016

Buscar as coisas do alto

A luz para nossa caminhada diária é sempre a Palavra de Vida. E a Palavra que nos ilumina neste mês é clara e fascinante: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto” (Cl 3,1).
Paulo sabe que, mesmo na nossa condição de batizados, e, portanto, de ressuscitados com Jesus, nossa atual presença no mundo nos expõe a mil perigos, tentações e dificuldades que podem nos fazer desviar ou sucumbir. Por isso ele nos exorta a buscar as “coisas do alto”.
O que são as “coisas do alto”? São aqueles valores que Jesus trouxe a terra e pelos quais podemos identificar seus discípulos: o amor, a concórdia, a paz, o perdão, a retidão, a pureza, a honestidade, a justiça etc. São todas aquelas virtudes e riquezas que o Evangelho nos oferece. Com elas e por meio delas, os cristãos conseguem se manter na realidade de estar “ressuscitados com Cristo”; se tornam imunes à influência do mundo, à concupiscência da carne, ao demônio. Para nós, a maneira de “procurar as coisas do alto” é viver o Evangelho conforme a nossa espiritualidade.
De que maneira? Um modo prático que experimentei com sucesso é motivar todas as inúmeras ações do nosso dia com um dos aspectos da nossa espiritualidade, com um de seus pontos fundamentais.
Ao nos relacionarmos com os irmãos, por exemplo, ou trabalharmos em alguma obra em favor deles, pensemos no dever de “nos fazer um” com todos, ou assumamos o compromisso de amá-lo como amamos a nós mesmos, descobrindo neles a presença de Jesus. Na vida de comunidade, com pessoas que vivem o mesmo ideal, procuremos recordar qual deve ser a medida do nosso amor recíproco: estarmos prontos a morrer uns pêlos outros; ou lembremos aquele dever que para nós há de preceder todos os outros: estabelecer a presença de Jesus no meio de nós.
Se tivermos dificuldades ou sofrimentos, obstáculos e contrariedades, pensemos em Jesus Abandonado, para abraçá-lo. Em outras situações, poderá ser luz para nós a Palavra de vida do mês, ou o propósito de fazer a vontade de Deus no momento presente; ou ainda a realidade de sermos uma outra Maria ou de escutarmos a voz do Espírito Santo. E assim por diante.
Tudo o que fazemos, isto é, a nossa vida inteira, deve ser iluminada pelo nosso Ideal. Assim, mesmo vivendo em meio ao mundo, mantemos o coração ancorado ao céu, “procurando as coisas do alto”.
Assim poderemos evitar o que chamamos “apegos”, nos quais necessariamente cairemos se não tivermos o coração fixo em Deus e nos seus ensinamentos. Podem ser apegos às coisas, às criaturas, a nós mesmos; às nossas idéias, à saúde, ao próprio tempo, ao repouso, ao estudo, ao trabalho, aos nossos parentes, às nossas consolações ou satisfações. Tudo coisas que não são Deus e que, por isso, não podem ocupara o primeiro lugar nos nossos corações que tendem à perfeição.
Ao lermos a vida ou o pensamento dos santos, veremos que eles combateram todos os apegos, pois viveram o “renuncie a si mesmo” (cf. Lc. 9, 23) de Jesus, condição para todo o qualquer progresso espiritual.
João da Cruz afirma: “Quem procura o próprio gozo nas coisas, não se mantém vazio para que Deus o plenifique de suas inefáveis delícias, e por isso, no mesmo estado em que vai até Deus, ele retorna, pois, tendo as mãos cheias, não pode receber o que Deus lhe dá”.
Também nós precisamos combater os apegos, antes de tudo prevenindo-nos com a atitude positiva própria da nossa espiritualidade. Se a vivermos, se dermos uma motivação ideal a cada ação nossa, Deus será colocado em seu lugar. E se em algum momento encontramos no nosso coração alguma coisa ou alguém no lugar de Deus, temos que nos desapegar imediatamente.
Então, esforcemo-nos por ter o coração livre, para que Deus possa plenificá-lo com as coisas do alto.  E façamos isto, iluminando cada ação nossa com o Ideal e desprendendo-nos de tudo o que não é Deus.
Todas essas coisas são úteis para a nossa santificação, santificação que devemos alcançar a todo custo nesta vida. Aqui na terra temos a possibilidade de alcançá-la, depois não temos mais.

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