"Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança..." (Ataulpho Alves)
04 agosto 2021
NO TREM DO TEMPO
02 agosto 2021
COMO SE FOSSE A ÚLTIMA
Sim, Jesus,
faz que eu sempre fale
como se fosse a última
palavra que profiro.
Faz que eu sempre aja
como se fosse a última
ação que faço.
Faz que eu sempre sofra
como se fosse o último
sofrimento que tenho
pra te oferecer.
Faz que eu sempre reze
como se fosse a última
possibilidade,
que aqui na terra tenho,
de conversar contigo.
#ChiaraLubich
01 agosto 2021
A CASA QUE SE CONSTRÓI AQUI
A vida é uma passagem importante: a comprovação é aqui!
31 julho 2021
COM OS PÉS NO CHÃO
“Vigiai, portanto, porque não sabeis
nem o dia nem a hora.” (Mt 25,13)
Às vezes, “Alguém” nos impele a viver constantemente no sobrenatural, isto é, na incerteza absoluta de uma situação humana qualquer (planos, viagens, saúde, o amanhã), para viver na certeza da realidade, que é viver o momento presente divinamente, sabendo e querendo o que Deus quer que se saiba e se queira naquele instante. Daí, o imperativo para a alma de “vigiar”, como Jesus mandou, pois não se sabe nem o dia nem a hora de sua chegada e, acrescente-se, de cada chegada sua.
E Ele sempre chega, a todo instante, por meio de sua vontade, que ao homem pode parecer triste ou boa, mas na realidade é Ele, é o seu Amor.
Tal estado de espírito deixa-nos a alma — por assim dizer — com os pés no chão (no chão da terra prometida do Reino dos Céus, que se pode e se deve viver já daqui) e não há perigo de cair. De cair no pecado, nem na ilusão, nem na desilusão na perturbação.
#ChiaraLubich
30 julho 2021
ONDE O SOL JAMAIS CONHECE OCASO
Todo dia passa e aqui logo anoitece.
Senhor, aceita a minha vida, todos os momentos que ainda tenho pela frente, antes que chegue a hora.
Não sei o que é, mas uma sensação de insatisfação amargura às vezes o meu instante. Talvez porque eu devesse ser toda arrebatada por ti, até a última raiz que me mantém presa não sei ainda a quê, mas que não está totalmente perdida em ti.
Este viver que é um viajar, este assentar-se ilusório na ordem que a vida promete por um instante e para o qual inadvertidamente se tende e que, tão logo alcançado, já ameaça virar tédio, talvez seja a vida.
Também Tu, até os trinta anos, embora cumprindo perfeitamente teus deveres de cada dia, olhavas mais longe, para a missão que te aguardava. E, quando saíste, foram uma corrida só aqueles três brevíssimos anos.
E Tu os passaste nas estradas reunindo discípulos, socorrendo doentes, semeando a palavra, encantando o povo. Era o movimento acelerado da Sabedoria que, crescendo em idade, edificava o Reino de Deus com celeridade crescente.
Chegaste ao patíbulo quase sem perceber. Atravessaste a passagem em poucas horas, entregando a Deus, por nós, o corpo e a alma.
Talvez esta incapacidade de capturar o presente que escapa e o fato de acabarmos sempre mergulhados no anoitecer sejam uma gota da tua vida em nós, aqui na terra.
29 julho 2021
O VERDADEIRO SENTIDO DO TEMPO
Há ocasiões na vida em que se vive o tempo sorvendo-o gota a gota. Segue-se com sacra apreensão, por exemplo, cada movimento, cada palavra, cada olhar, cada anseio de uma pessoa amada, próxima da eternidade. Valoriza-se aquele último sopro de vida porque se está diante da morte. De fato, é a eternidade que dá sentido verdadeiro ao tempo.
28 julho 2021
Obras que perduram
Se vives o presente, mas o vives bem, realizas obras que perduram, mesmo que fales só para uma pessoa, mesmo que prepares um discurso destinado a um público de uma só categoria. Pois bem, a humanidade inteira está em uma pessoa, e também em um grupo restrito, como toda a vontade de Deus está em apenas uma vontade sua. Experimentando isto, estás saciado porque abraças o infinito.
Fazer bem o que Deus quer no presente e fazer como Deus quer, segundo o seu método, a sua dialética, é, por exemplo, preparar o que deves dizer com toda a ajuda do Espírito Santo que está em ti, e depois colocá-lo à prova no fogo do amor mútuo com os irmãos, para que morra, e se decomponha, e renasça da unidade (e isto requer tanto saber “perder”, quanto humildade); é, enfim, submetê-lo à apreciação da autoridade para que seja podado. Então, aquele discurso permanece e se multiplica, e aquilo que poderia causar algum bem só a uma pessoa e depois se perder, causa e continuará causando o bem a muitos.
Essa atividade no presente traz um senso de plenitude, porque é vida de Jesus que vive em nós.
E se Jesus vive em nós, realiza obras que perduram. Se, por outro lado, não fizeste infelizmente as coisas bem, ou as fizeste pela metade, “perde-as” no Coração de Jesus com a máxima confiança, com a consciência de quem sabe que todo momento da vida é bom para morrermos (e talvez morramos com as coisas feitas de modo imperfeito), mas também com a confiança de quem sabe que o Coração de Cristo só te quer amar com fatos e, por isso, quer preencher as lacunas, esconder dos outros os teus disparates e perdoá-los, pois se assim faria uma mãe, muito mais, portanto, faria aquele Coração!
27 julho 2021
SOLIDÁRIOS COM TODOS
Às vezes — e disto frequentemente nos acusam a nós cristãos —, temos a impressão de que, vivendo a nossa fé com coerência, isto é, tendo em vista a Vida que virá e a espera da morte que será sua porta, levamos uma vida um tanto desligada da terra e dos interesses deste mundo que, muito frequentemente, representam o bem da humanidade.
A realidade é que, se vivermos sempre com a consciência profunda de que não sabemos “nem o dia, nem a hora”, é mais fácil concentrarmo-nos no hoje que nos é dado, no afã do dia, no momento presente que a Providência nos oferece para viver. Nele aceitamos e vivenciamos, com todo o nosso ser, alegrias e dores, labutas e sucessos.
É assim que se vive realmente a vida desta terra. Ao contrário, sem a perspectiva de que, mais cedo ou mais tarde, temos de partir daqui, muitas vezes levamos uma existência superficial, com um véu de ilusões, de sonhos, de alguma coisa que sempre nos prende e que talvez jamais se realize.
Além disso, este viver o presente não significa esquecer o futuro na terra ou cortar nossas asas ao fazermos projetos para o nosso bem e o dos outros, como os filhos, a família, a comunidade em que estamos inseridos, a humanidade.
Este viver o presente não significa tampouco esquecer o passado com o seu cabedal de cultura, de heroísmos, de conquistas.
Na verdade, se os cristãos forem cristãos, não podem deixar de nutrir no coração o amor por todos os homens. Esta é a sua natureza, a sua característica. Elevados à categoria de filhos de Deus, possuem o amor por excelência, o mesmo amor que Cristo tem pelo Pai: a caridade.
Por meio dela, os cristãos sentem-se inseridos na humanidade inteira, como pequenas pedras de um maravilhoso mosaico, em parte já pronto, em parte ainda não.
Amam a humanidade de ontem, como a de hoje e a de amanhã.
Aproximam-se do que ela legou com o respeito de quem sabe que se achega a alguém e a alguma coisa que lhe pertence, com a humildade de quem está convencido de que deve aprender, com a consciência de que deve transmitir este legado às gerações futuras, enriquecido com seu próprio empenho pessoal.
Se, além disso, os cristãos entenderem, no momento presente de suas vidas, que Deus quer que pensem no amanhã, farão isso com toda a dedicação, não por si mesmos, mas por amor de quem virá depois, seja conhecido, seja anônimo.
Sentir-se um com a humanidade passada, presente e futura, amar os outros como a si mesmo é, para o cristão, a mola poderosa que o torna apto e válido para construir hoje e planejar para o futuro uma vida melhor.
26 julho 2021
COMO TORNAR-SE SANTO?
Sucede, frequentemente, de as almas serem atraídas pela ideia da santidade. Talvez seja mesmo a graça de Deus que nelas opera, suscitando tal desejo.
A consideração do valor de um santo, a influência de sua personalidade em sua época, a revolução ampla e contínua que ele leva ao mundo são, amiúde, os combustíveis primeiros para a chama deste anseio.
Mas, às vezes, a alma assim tão docemente atormentada, encontra-se diante dos santos como diante de uma vala intransponível, ou de uma muralha impossível de derrubar.
“O que fazer para ser santo?”, pergunta-se.
“Qual a medida, o sistema, os meios, o caminho?”
“Se eu soubesse que basta a penitência, flagelar-me-ia da manhã à noite. Se viesse a saber que é preciso rezar, dia e noite rezaria. Se fosse suficiente a pregação, percorreria cidades e aldeias, sem me dar trégua, anunciando a todos a palavra de Deus. Mas eu não sei, não conheço o caminho.”
Cada santo tem uma fisionomia sua, e eles se distinguem uns dos outros, como as mais variadas flores de um jardim.
Mas, talvez haja um caminho, bom para todos.
Talvez não seja preciso ir em busca da própria estrada, nem traçar um plano, nem fazer projetos, mas mergulhar no momento que passa para cumprir, naquele instante, a vontade de Quem se disse “Caminho” (cf. Jo 14,6) por excelência. O momento passado já não existe; o momento futuro talvez jamais o tenhamos em nossas mãos. O certo é que podemos amar a Deus no momento presente que nos é dado. A santidade constrói-se no tempo.
Ninguém conhece a sua própria, nem muitas vezes a dos outros, enquanto está em vida. Somente quando a alma completou o seu percurso, deu a sua prova, é que revela ao mundo o desígnio de Deus sobre ela.
#ChiaraLubich
25 julho 2021
O PÃO DE CADA DIA
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”
(Mt 6,11)
Hoje. Tu queres mesmo que vivamos a teu modo, Senhor!
Mas quem, no mundo, quem vive o hoje e só para o hoje, entregue ao futuro como os passarinhos livres, para os quais Tu provês o que comer e vestir?
Viver para o hoje simplifica, mas também aterroriza o nosso ser humano, que preferiria entregar-se a um amanhã seguro. No entanto, o amanhã poderia não existir… e Tu, Senhor, nos queres vigilantes, pois nos chamarás a ti numa hora e num dia para nós desconhecidos, e não podes contradizer-te.
24 julho 2021
FAZER DA TERRA UM CÉU
Uma experiência que ajuda muitíssimo é “calar fundo” na vontade de Deus do momento presente para fazer apenas essa vontade.
Em tempos tão frenéticos nos quais só existem barulhos, só máquinas, só tecnologia, o importante, para estar realmente em Deus, embora em meio a tantas coisas, é calar fundo em sua vontade.
23 julho 2021
SEJA FEITA A TUA VONTADE
Quem ama pouco a Deus, mas de certo modo o teme, dá à frase “Seja feita a vontade de Deus” só o tom da resignação. Quem, ao contrário, ama a Deus verdadeira e sinceramente, compreende que não poderia fazer nada de melhor e mais excelso. De fato, o que pode haver de mais grandioso do que seguir um Pai assim, que nos conduz momento por momento, falando por meio de mil vozes, como as circunstâncias, as lições, os deveres, as inspirações, as dores, os acontecimentos e os preceitos, notas todas de uma melodia composta no Céu e executada na harpa suave da alma amante de Deus?
Deus, que ama a cada um e a todos com amor infinito, preparou para cada pessoa uma aventura divina, variada e alternada de sagrado e profano, de trágico e nostálgico, de festa e de luto: quadro fantástico que conheceremos melhor do lado de lá, quando os nossos olhos se abrirem na “luz da glória”.
#ChiaraLubich
22 julho 2021
FINCAR RAÍZES EM DEUS
Muitas vezes não vivemos a vida, nós sobrevoamos a vida.
Dá, Senhor, que nos enraizemos em ti, cada momento, fincando raízes na tua divina vontade de cada instante. Possuídos por ela, somos possuídos de ti: isto é o que vale.
#ChiaraLubich
21 julho 2021
TEMPO QUE FICA
“Como o tempo passa depressa!”, dizemos perplexos, vendo a velocidade dos dias. “Como o tempo fica!”, deveria dizer a minha alma, se estivesse consciente de que cada hora, cada instante é gasto inteiramente em cumprir a tua vontade.
20 julho 2021
TRABALHO A DOIS
Grande sabedoria é passar o tempo de que dispomos, vivendo com perfeição a vontade de Deus, no momento presente.
Mas, às vezes, somos assaltados por pensamentos tão obsessivos, relacionados ao passado, ao futuro, ou ao presente, mas ligados a lugares, circunstâncias ou pessoas, a quem não nos podemos dedicar diretamente, que custa um sacrifício enorme manejar o leme da barca de nossa vida, mantendo a rota no que Deus quer de nós, naquele momento presente.
Então, para viver perfeitamente bem, é necessária uma vontade, uma decisão, mas sobretudo uma confiança em Deus que pode alcançar o heroísmo.
“Não posso fazer nada naquele caso, nada por aquele ente querido, que corre risco ou está doente, nada naquela situação intricada…
Pois bem, farei o que Deus quer de mim neste momento: estudar direito, varrer direito, rezar direito, cuidar direito dos meus filhos…
E Deus se ocupará de desemaranhar aquela meada, de confortar quem sofre e de resolver aquele imprevisto.”
É um trabalho feito a dois em perfeita comunhão, que exige de nós uma grande fé no amor de Deus por seus filhos e que, pelo nosso modo de agir, dá ao próprio Deus a possibilidade de confiar em nós.
Esta confiança recíproca opera milagres.
O que vai acontecer é que, aonde nós não conseguimos chegar, Outro realmente conseguiu, e fez muitíssimo melhor do que nós.
O ato de confiança heróico será premiado; nossa vida, limitada a um campo só, ganhará nova dimensão; sentir-nos-emos em contato com o infinito, pelo qual ansiamos, e a fé, revigorando-se, fortalecerá em nós a caridade, o amor.
Não lembraremos mais o que a solidão significa. Saltará mais evidente, mesmo porque já experimentada, a realidade de que somos de fato filhos de um Deus Pai que tudo pode.
#ChiaraLubich
19 julho 2021
ONDE ESTÁ A FELICIDADE
Fazer a vontade de Deus é o ato mais inteligente e frutuoso que o homem pode cumprir.
O homem se realiza a si mesmo na comunhão com Deus, dizendo “sim” a Ele em cada momento de sua vida, correspondendo ao sim que Deus proferiu ao criá-lo, por amor.
18 julho 2021
O BILHETE DE INGRESSO
Viver com perfeição a vontade de Deus no presente é encontrar o caminho da própria santificação.
De fato, nem todos podem consagrar-se a Deus, nem todos podem praticar penitências pesadas, jejuns, vigílias; nem todos podem dedicar horas e horas à oração.
Mas, ao contrário, todos podem fazer a vontade de Deus. Fazer a vontade de Deus é o bilhete de ingresso das multidões à santidade.
#ChiaraLubich
17 julho 2021
NÃO TER PENSAMENTOS
Porque somos filhos de Deus, devemos ter a mente livre, “despreocupada”. Os filhos de Deus não têm preocupações, pensamentos. Só quando não tivermos pensamentos (isto é, quando formos desapegados do nosso modo de pensar), nossa mente estará aberta por inteiro e receberá a constante Luz de Deus. E será um canal.
Assim, devemos ser sem vontade (vontade nossa no sentido possessivo da palavra), para ter a capacidade da vontade de Deus.
E sem memória, para lembrar apenas o momento presente e viver “extáticos” (fora de nós).
16 julho 2021
NAS MÃOS DE DEUS
Muitas vezes, tantas preocupações nos atormentam, ao considerarmos o que poderá acontecer. Mas “a cada dia basta o seu afã” (cf. Mt 6,34): vira-se amanhã a página para a preocupação de amanhã.
Não há nunca motivo para nos perturbarmos, porque tudo está nas mãos de Deus, e Ele não permitirá que aconteça nada que não seja a sua vontade, que é sempre para o nosso bem.
#ChiaraLubich
15 julho 2021
Exame
Quando vivemos o momento presente de modo perfeito, cada ato nosso, embora pequeno, reveste-se de solenidade e, à noite, fica na memória como uma doce lembrança de um ato concluído com perfeição. Por outro lado, aquilo que sentimos ter feito com imperfeição seja depositado na misericórdia de Deus, para que Ele o repare.
Com esta visão da vida, o exame de consciência à noite certamente fica mais fácil em todos os detalhes. Ele passa a ter uma importância enorme, como importante é o exame no ocaso da vida terrena e, sob certo aspecto, até maior. É que, depois deste último, não haverá mais remédio, ao passo que depois de cada exame do dia, há a possibilidade — se Deus no-la dá — de continuar vivendo e refazer o exame na noite seguinte com melhor resultado, aceitando e tirando proveito também da dor de todas as imperfeições dos dias passados.
#ChiaraLubich
14 julho 2021
PARA A META FINAL
Quando temos um compromisso, só ficamos plenamente tranquilos se estivermos bem preparados.
Isso passa a ideia de que até o tremendo compromisso da partida final desta vida perderia a sua gravidade se estivéssemos preparados para ela.
Como? Quando estamos próximo de quem está à beira da morte, o amor sempre nos leva a dar este conselho: viva o momento presente. Assim fazendo, cada coisa parece possível e suportável, como dizia santa Teresa do Menino Jesus, e preparamo-nos para a nova vontade de Deus do melhor modo.
E então, por que não agirmos assim desde já? Não será esta, talvez, a melhor preparação que pode destruir qualquer temor em nós? Comecemos, portanto, desde agora e não esmoreçamos nunca em viver o presente até depararmos aquele momento do qual depende a eternidade.
13 julho 2021
A CADA DIA BASTA O SEU AFÃ
O Senhor, que nunca faz economia, quando se trata de medir a dor, afirma: “A cada dia basta o seu afã”.
12 julho 2021
AVENTURA DIVINA
Hoje, muitos homens traçam sozinhos o seu programa de vida, mas é sempre um programa monótono e apenas terreno.
Programar cumprir não a própria vontade, mas a de Deus no decurso da vida, é preparar-se para fazer de nossa existência uma maravilhosa aventura divina.
11 julho 2021
Ele é o caminho
Jamais entenderemos bastante o valor de viver o momento presente (cf. Mt 6,34). Talvez nos pudesse dizer alguma coisa o fato de os famosos mestres da alma aconselharem os agonizantes a viverem o momento presente.
Acontece que, se eu vivo o presente, Deus está comigo em sua vontade para mim naquele momento e em sua graça atual. Se não vivo, Deus não está comigo, nem eu estou com Ele.
Muitas vezes, afanamo-nos em busca de caminhos para chegarmos a Ele, para sermos melhores, para nos tornarmos santos.
Mas para que procurar caminhos se o Caminho é Ele (cf. Jo 14,6), e Ele, Eterno Presente, está lá, à espera de poder colaborar conosco em cada momento da vida que nos é dada, para agir conosco e em nós, e nos fazer realizar obras dignas de filhos de Deus?
Se é de provações que precisamos, se é de angústias, e de dores, e de mortificações, e de agonias que sentimos exigência para quebrar este tranquilo e enfadonho viver humano, para moderar a correria na corrente comum do mundo e ascender aos píncaros límpidos do divino, Ele saberá apresentar-se, no presente, nas circunstâncias dolorosas e inevitáveis da vida, nas leis perenes e imutáveis da Igreja, que repete com Cristo de mil maneiras: “Renuncia-te a ti mesmo, e toma a tua cruz” (cf. Mt 16,24).
Enfim, a vida seria simples. Nós é que a complicamos.
Bastaria inserirmo-nos bem no presente com todas as suas alegrias, os seus imprevistos, as suas labutas e os compromissos obrigatórios, e tudo fluiria por si, como se fôssemos levados por um possante foguete rumo à eternidade ditosa.
#ChiaraLubich
10 julho 2021
NÃO O TANTO, MAS O COMO
Para o cristão, não vale o tanto que faz, mas o como faz.
Nem Jesus histórico mudou o mundo. Aliás, deu a impressão, às vezes, de ter fracassado. O importante é cumprir aquele plano que Deus tem para nós, nem mais, mas certamente nem menos.
Trabalhemos em nosso lugar, adorando a sua vontade, que nos força não só ao momento presente no tempo, mas a um único detalhe da obra que devemos realizar no mundo.
O certo é que, estando desunidos entre nós, como tantos pedacinhos separados, teremos a impressão de realizar bem pouco. Mas se estamos unidos, o que um faz é visto em função de quanto fazem os outros. Então, cada ato parecerá adquirir dimensão e fôlego, não digo universal — o universo é pequeno diante do Céu —, mas celestial.
Amemos, pois, aquele sorriso a ser dado, aquele trabalho a ser feito, aquele carro a ser dirigido, aquele almoço a ser preparado, aquela atividade a ser organizada, aquela lágrima a ser derramada por Cristo no irmão que sofre, aquele instrumento musical a ser tocado, aquele artigo ou carta a ser escrita, aquele evento feliz a ser compartilhado com alegria, aquela roupa a ser lavada…
09 julho 2021
EM CRISTO VERDADE
“Quem é fiel nas coisas mínimas,
é fiel também no muito.”
(Lc 16,10)
Se a Escritura ensina a fazer bem as pequenas coisas, esta é mesmo a característica de quem, com todo o coração, não faz outra coisa senão o que Deus lhe pede no presente.
Se alguém vive o presente, Deus vive nele, e se Deus está nele, nele está a caridade. Quem vive o presente é paciente, é perseverante, é meigo, é pobre de tudo, é puro, é misericordioso, porque possui o amor na sua expressão mais alta e genuína; ama realmente a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças; é iluminado interiormente; é guiado pelo Espírito Santo e, por conseguinte, não julga, não faz mau juízo, ama o próximo como a si mesmo, tem a força da “loucura” evangélica de “oferecer a outra face” e de “caminhar duas milhas” (cf. Mt 5,39.41).
Encontra-se, muitas vezes, na situação de “dar a César o que é de César” (cf. Mt 22,21), pois deverá viver plenamente a sua vida de cidadão em muitas ocasiões. E assim por diante. Afinal de contas, se quem vive o momento presente está no Caminho e na Vida, está também em Cristo Verdade.
E isto sacia a alma, que sempre anseia por tudo possuir em cada instante de sua existência.
Chiara Lubich
08 julho 2021
SE VIVEMOS O PRESENTE
É vivendo o presente que podemos cumprir bem todos os nossos deveres.
É vivendo o presente que as cruzes se tornam suportáveis.
É vivendo o presente que podemos captar as inspirações de Deus, os impulsos da sua graça que chegam no presente.
É vivendo o presente que podemos construir, com resultados, a nossa santidade. São Francisco de Sales dizia: “Cada momento vem repleto de uma ordem e se imerge na eternidade, para dessa ordem fixar aquilo que dela fizemos”.
Portanto, vivamos o presente! Com perfeição! No entardecer de cada dia, e no entardecer da vida, nós nos encontraremos com as mãos cheias de boas obras realizadas e de atos de amor oferecidos.
Chiara Lubich
07 julho 2021
A unidade e a política
06 julho 2021
Como dialogar?
A experiência do Movimento dos Focolares no âmbito do diálogo inter-religioso. Extraído do discurso de Chiara Lubich por ocasião da entrega do prêmio “Civilização do Amor”.
Excelências, Senhor Presidente da Câmara [Prefeito], autoridades religiosas e civis, Senhoras, Senhores e amigos
Em primeiro lugar agradeço o Prémio que me conferiram. Agradou-me muito pelo facto de ser intitulado à “Civilização do Amor”. Este termo faz-nos logo pensar que o Fórum Internacional está em sintonia com o Movimento dos Focolares, que eu, juntamente com outras pessoas – como ouviram -, represento, e que é apenas um instrumento na Igreja para irradiar por todo o lado o amor de Cristo.
Neste ambiente é habitual o diálogo e, sobretudo, o diálogo inter-religioso.
É uma empresa impossível?
Não, pelo contrário. É uma ação mais que necessária e atual.
De fato, hoje, o mundo, a humanidade caminha – e em parte sem o saber – para um objetivo sublime e indispensável: a união de todos os homens numa única família, a realização da fraternidade universal.
Apesar dos conflitos do mundo contemporâneo (entre o Norte e o Sul, por exemplo, e noutras partes do globo) e dos fenómenos de racismo e de integralismo [integrismo] que se verificam, além de outros males de agora, o nosso planeta parece tender para a unidade.
Demonstra-o o Espírito de Deus no âmbito cristão, impelindo à unificação das Igrejas, após séculos de indiferença ou de luta. Na Igreja Católica, o Concílio Vaticano II exprimiu essa tendência com a abertura ao diálogo não só entre as Igrejas, mas também com as outras Religiões e com os homens de boa vontade. Também o revelam o Concílio Ecuménico das Igrejas e outras entidades e Movimentos que surgiram com uma finalidade ecuménica. Atestam-no a “Conferência Mundial das Religiões para a Paz” e outras instituições, criadas com o fim de promover uma possível união, talvez em nome de objetivos específicos como a paz, entre fiéis de religiões diferentes. Testemunharam-no até ideologias sociais, atualmente decaídas, que pretendiam resolver os problemas segundo uma visão global do mundo. Dizem-no organismos e organizações internacionais, europeias, etc.
Sim, o mundo tende para a unidade.
E é esta tendência que nós, já que somos conscientes dela, devemos ressaltar com uma fé renovada e com a nossa ação.
Portanto: diálogo, dialogar.
Mas como?
Permitam que comunique algumas ideias, fruto da nossa experiência, ao concluir o programa desta tarde.
Como praticar o diálogo de maneira que a sua verdadeira intenção não seja mal-entendida e consiga dispor o maior número possível de pessoas numa atitude de compreensão recíproca, de auxílio mútuo, de solidariedade; numa abertura fraterna a qualquer próximo, seja ele quem for, de qualquer povo, cultura, raça ou língua?
Primeiro que tudo creio que é necessário conhecer.
Está escrito: “Conhecer a religião dos outros implica entrar na pele deles, ver o mundo com os seus olhos, penetrar no que significa para eles ser hinduísta, muçulmano, hebreu, budista”.
Mas como “entrar na pele dos outros”? Isso só é possível mediante o amor, o verdadeiro amor.
Todos sabem o que é o amor. Explicou-o com a Sua vida Jesus, que, sendo Deus, se fez homem e, na cruz, se fez cada um de nós: pecado, para nos remir a nós, pecadores.
Amar significa, então (e testemunharam-no as experiências que acabámos de ouvir), “fazer-se um” com os outros.
É o que afirma o apóstolo São Paulo, que se fez tudo para todos, fraco com os fracos, sofredor com os que sofriam (cf. 1 Cor 9, 22), que “se fez o outro”, os outros.
É com o amor até ao ponto de nos fazermos um com os outros que os podemos compreender, e isso é essencial no diálogo.
Quando nos fazemos um com o outro, ele abre-se, revela-se, exprime-se como é e comunica algo que faz parte do seu ser hebreu, muçulmano, budista ou cristão. Faz brilhar ao nosso espírito qualquer coisa das suas imensas e impensadas riquezas.
Porém o diálogo é um dom recíproco e também nós, cristãos, devemos saber dar, no momento oportuno (isto é: quando for desejado), qualquer coisa da nossa fé.
Mas… Há um “mas”!
A nossa experiência diz-nos que o testemunho da nossa fé só é plenamente compreendido quando se baseia no testemunho da vida.
Jesus começou por agir e só depois é que ensinou.
Também nós: não podemos anunciar o Evangelho se não formos, pelo menos de certa forma, um Evangelho vivo.
E o conceito, a Palavra, que resume o Evangelho é uma frase dita por Jesus no Seu testamento: “Que sejam uma coisa só” (Jo 17, 21). É, portanto, a palavra: “unidade”, que, segundo o Papa Paulo VI, é a síntese do Evangelho.
Devemos, pois, para sermos verdadeiros cristãos, “ser uma coisa só” entre nós. E “uma coisa só” mediante o amor recíproco.
Então os outros, vendo o nosso amor recíproco, e só se o virem, reconhecerão que somos discípulos de Cristo e compreenderão as Suas palavras.
Dizia-me recentemente um monge budista: “Na nossa terra não se compreende o cristianismo, porque o conhecemos só nos livros. Aqui (estava em Loppiano, na cidadela dos Focolares onde se procura viver o Evangelho)… Aqui compreendi-o”. E entendeu que Deus existe, que a religião é amor, que o Crucifixo, tão antipático aos budistas, é pura expressão de amor.
É com o testemunho da vida que o diálogo decola e, depois, voa. Porquê? Porque, amando, temos mais facilmente a luz do Espírito, que nos ensina a descobrir na religião do outro as verdades nela existentes, porque Deus escolheu um povo nos tempos antigos, mas não esqueceu os outros povos e semeou neles algumas verdades.
Por exemplo: quase todas as religiões conhecem – e já foi repetido aqui – a famosa “regra de ouro”: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt 7, 12). Da mesma forma, em muitas religiões dá-se importância ao cumprimento da vontade de um Ser superior. Além disso, muitos dos mandamentos da Lei se encontram também noutras religiões: não matar, não roubar, não dizer mentiras, não se deixar levar pela concupiscência…
Há, pois, muitas coisas que devemos viver e que podemos viver juntos, para voltar a dar relevo, força e vigor às verdades e às leis morais.
E é vivendo juntos verdades ou imperativos comuns, e comunicando uns aos outros no diálogo as experiências que fazemos, que a amizade entre nós se vai tornando cada vez mais compacta e, com ela, nascem propósitos e atos de solidariedade, de paz, de justiça para conosco e para com os outros.
Para mais nós – hebreus, cristãos e muçulmanos – temos em comum nada mais nada menos que a fé no mesmo e único Deus e, embora com ênfases diferentes, todos nós O consideramos nosso Pai.
Então é nosso dever fazer de tudo para nos comportarmos como Seus filhos e como irmãos entre nós!
Agradeço mais uma vez a Sua Excelência e a todos os organizadores deste Fórum Internacional esta tarde que passei aqui.
Ciente de que cada um de nós trabalha no respectivo campo pelos mesmos fins, peço que me deixem assegurar-lhes as minhas orações e as do Movimento dos Focolares pelo progresso da “Civilização do Amor”, tal como peço as orações dos senhores pelo nosso Movimento.