09 junho 2025

Ser fermento de unidade

«Vocês representam milhares de pessoas que vivem sua experiência de fé e seu apostolado dentro de associações, movimentos e comunidades. Portanto, em primeiro lugar, gostaria de lhes agradecer pelo serviço de orientação e animação que realizam.
Apoiar e encorajar os irmãos no caminho cristão implica responsabilidade, compromisso, muitas vezes também dificuldades e incompreensões, mas é uma tarefa indispensável e de grande valor. A Igreja lhes é grata por todo o bem que fazem.
Os grupos aos quais vocês pertencem são muito diferentes uns dos outros, por natureza e história, e todos são importantes para a Igreja. Alguns nasceram para compartilhar um propósito apostólico, caritativo, de culto, ou para apoiar o testemunho cristão em ambientes sociais específicos. Outros, no entanto, originaram-se de uma inspiração carismática, um carisma inicial que deu vida a um movimento, a uma nova forma de espiritualidade e evangelização.
A vida cristã não se vive isoladamente, como se fosse uma aventura intelectual ou sentimental, confinada em nossa mente e no nosso coração. Ela se vive com os outros, em grupo, em comunidade, porque Cristo ressuscitado se faz presente entre os discípulos reunidos em seu nome.
Portanto, tudo na Igreja é entendido em referência à graça: a instituição existe para que a graça seja sempre oferecida, os carismas são suscitados para que essa graça seja acolhida e dê frutos.
Sem carismas, corre-se o risco de que a graça de Cristo, oferecida em abundância, não encontre o terreno fértil para recebê-la! É por isso que Deus suscita carismas, para que estes despertem nos corações o desejo de encontrar Cristo, a sede da vida divina que Ele nos oferece, numa palavra, a graça!
Graças aos carismas que deram origem aos seus movimentos e suas comunidades, muitas pessoas se aproximaram de Cristo, redescobriram a esperança na vida, descobriram a maternidade da Igreja e desejam ser ajudadas a crescer na fé, na vida comunitária, nas obras de caridade e a levar aos outros, através da evangelização, o dom recebido.
A Unidade e a Missão são dois pilares da vida da Igreja e duas prioridades no ministério petrino. Por isso, convido todas as Associações e Movimentos Eclesiais a colaborarem fiel e generosamente com o Papa, especialmente nestas duas áreas.
Ser fermento de Unidade, pois experimentam continuamente a comunhão espiritual que os une. É a comunhão que o Espírito Santo cria na Igreja. É uma unidade que tem seu fundamento em Cristo: Ele nos atrai, nos atrai a si e, assim, nos une também entre nós.
Esta unidade que vivem em grupos e comunidades, estende-se na comunhão com os Pastores da Igreja, na proximidade com outras realidades eclesiais, fazendo-os próximos das pessoas que encontram, para que os seus carismas permaneçam sempre a serviço da unidade da Igreja e sejam eles mesmos fermento de unidade, de comunhão e de fraternidade num mundo tão dilacerado pela discórdia e pela violência.
Vocês também viveram este caminho. Do encontro com o Senhor, da vida nova que invadiu o seu coração, nasceu o desejo de fazê-lo conhecido. Vocês envolveram muitas pessoas, dedicaram muito tempo, entusiasmo e energia para fazer o Evangelho conhecido nos lugares mais distantes, nos ambientes mais difíceis, suportando dificuldades e fracassos.
Mantenham sempre vivo entre vocês este impulso missionário: os Movimentos também têm hoje um papel fundamental na evangelização.
Coloquem seus talentos a serviço da missão, tanto nos lugares de primeira evangelização quanto nas paróquias e estruturas eclesiais locais, para alcançar muitos que estão distantes e, às vezes sem saber, aguardam a Palavra da vida. Mantenham sempre o Senhor Jesus no centro! Este é o essencial, e os Carismas servem a esse propósito. O Carisma é funcional ao encontro com Cristo, ao crescimento e ao amadurecimento humano e espiritual das pessoas, à edificação da Igreja».


[Trechos do discurso do Papa Leão XIV aos Responsáveis dos Movimentos e Comunidades Eclesiais reunidos em Roma, Junho de 2025. Texto e fotos: Vaticannews]

23 maio 2025

O amor fraterno nos une


Evangelho vivido: “Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, estimando-vos reciprocamente” (Rm 12,10)

Nestas palavras de São Paulo, a fraternidade é um chamado ao bem, à vida que vem do batismo, e esta consanguinidade no amor nos permite olhar para a existência do outro como um precioso dom para nós. A nota Eu estava no terceiro ano do ensino médio e tinha uma prova oral de física, bem importante. Comecei a estudar com empenho, certa de que no dia seguinte iria ser interrogada (eu era a única da turma que ainda não tinha a nota do fim do semestre). Pouco depois, a minha irmãzinha veio me pedir ajuda para o seu estudo. Eu logo quis recusar, mas depois lembrei o que São Paulo recomenda: alegrar-se com quem se alegra, chorar com quem chora. Então comecei a estudar com a minha irmã. Precisou a tarde inteira para que ela se sentisse preparada e assim eu tive tempo só de abrir o meu livro de física. No dia seguinte fui para a escola tremendo um pouco, mas convicta de que Deus iria intervir de alguma maneira. O professor entrou e começou a fazer as perguntas a outros meus colegas. No final da aula perguntei porque ele não tinha me chamado. Ele olhou o registro e me disse: “Mas você já tem a nota, e é uma boa nota”. Eu sabia que não tinha feito a prova oral, mas ele tinha dado a nota por algo que eu havia dito anteriormente, durante as aulas. (S. T. – Itália) Como enfrentar o dia Um homem, cadeirante, estava pedindo esmola perto dos carrinhos do supermercado. Na saída eu me aproximei dele e, depois de ter conversado um pouco, disse que ele poderia escolher, das minhas compras, aquilo que precisava. Ficou feliz, pegou alguma coisa e logo começou a comer. Quando me despedi dele senti uma alegria que depois me ajudou a enfrentar os desafios do dia, que tinha começado já bem pesado. Por aquele simples fato eu percebi que fazer um ato de amor concreto é um bom início de dia. Comecei a fazer assim, vencendo muitos hábitos e surpreendendo não apenas o meu marido, mas principalmente os filhos que não se dão conta das coisas que recebem porque pensam ter esse direito. Uma noite, a notícia de um tio que estava gravemente doente criou um grande silêncio na família. O nosso filho mais velho, que está na universidade, perguntou o que poderíamos fazer por ele. Quem respondeu foi a filha menor: “Devemos fazer como a mamãe, que coloca amor em tudo o que faz. Só assim vamos descobrir o que nosso tio precisa”. (L. D. F. – Hungria) Adele “Bipolaridade”. Não podia imaginar que Adele, minha querida colega de colégio, tivesse uma doença tão séria. Foi a mãe dela que me explicou. Depois de um período no hospital, nos dias em que estava instável, ela mesma não entendia o que lhe estava acontecendo. Os remédios deviam ter um efeito equilibrado e isso exigia tempo. Mas o meu afeto e estima por ela não mudaram. Fiquei surpresa no dia em que me pediu para rezarmos o terço. Parecia que na oração a sua concentração fosse perfeita. Desde aquele dia começamos a ler livros de espiritualidade, ou histórias que tivessem um conteúdo positivo. Eu tinha a impressão que minha amiga entendesse tudo mais profundamente do que eu. Quando falávamos de certos assuntos, eu via nela um altruísmo sem limites. Entramos juntas em um grupo de voluntariado para ajudar pessoas pobres. Adele readquiriu vida, equilíbrio, coragem. Sabia estar próxima de quem precisava, mais do que ninguém. A experiência com ela me fez ver, com mais evidência, que a verdadeira realização da pessoa está na caridade. (P. A. M. – Itália)

Aos cuidados de Maria Grazia Berretta

(retirado de “Il Vangelo del Giorno”, Città Nuova, ano IX – n.1° maio-junho 2023)

20 março 2025

O amor supera a pobreza

Jun 8, 2014

Marco Tecilla, focolarino do início do Movimento, conta os primeiros passos da comunidade de Trento. Unidas pela descoberta do espírito evangélico, as pessoas estavam dispostas até a colocar os próprios bens em comunhão, para aliviar os sofrimentos do pós-guerra.


«No coração de Chiara Lubich havia um sonho» – diz Marco Tecilla, que entrou para a história do Movimento como o “primeiro” focolarino. Tem diante de si uma plateia de algumas centenas de pessoas provenientes de 50 países, que representam as comunidades locais dos Focolares espalhadas no mundo. É espontâneo olhar para a vida da cidade de Trento, onde o carisma da unidade deu os primeiros passos, para encontrar uma luz para os nossos dias. «Olhando da sua janela de onde podia ver toda a Trento, Chiara sentiu o desejo de resolver o problema social daquela cidade. Mas não tinha forças para tanto. Então, em dezembro de 1947, convocou-nos na sala Cardeal Massaia para comunicar-nos alguma coisa. Ela tinha notado que na nossa comunidade havia pessoas que eram constrangidas a viver com grandes restrições econômicas. E para ela isto era inconcebível. Nas comunidades cristãs de Jerusalém, nos primeiros tempos da Igreja – como contam os Atos dos Apóstolos – “tudo era colocado em comum e entre eles não havia necessitados”, porque o Evangelho era vivido completamente. Deste modo, Chiara decidiu falar-nos da comunhão dos bens e lançou entre nós, que formávamos esta primeira comunidade trentina, este desafio. Semelhante e diferente daquele dos primeiros cristãos». Portanto, cada um deveria vender todos os seus bens? «Não. Embora tendo o mesmo objetivo da primeira comunidade cristã, naquela primeira comunidade de Trento não se pedia que cada um vendesse o que possuía e o levasse à comunidade, mas que cada um doasse tudo aquilo que possuísse e do qual pudesse se privar sem causar dano a si ou à família». Como funcionava esta forma de caridade “organizada”? «Cada um levava à comunidade aquilo que tinha a mais, principalmente em dinheiro, e comprometia-se a doar uma quantia fixa, estabelecida pessoalmente, todos os meses. O doador e a quantia prometida eram secretos. Com o dinheiro recebido, uma focolarina encarregada pela própria Chiara, ajudava mensalmente e secretamente, as famílias pobres da comunidade, regulando esta delicada tarefa com toda a caridade e discrição. O objetivo era chegar ao ponto de que entre nós ninguém passasse dificuldades econômicas, mas que todos tivessem o necessário para viver. O resultado da soma obtida e do empenho mensal foi surpreendente e já no primeiro mês conseguimos ajudar trinta famílias». O que é que Chiara pensava a este respeito? «Olhando para a realidade do nosso mundo ela dizia: “Parece uma coisa impossível que, nos dias de hoje, o mundo seja tão ávido e egoísta… e no entanto é assim. Diante destes episódios, comovidos e agradecidos, gritemos: A Caridade é Deus! E Deus é o Onipotente. No espírito de caridade e de unidade (que não é dar uma simples esmola, mas a entrega total de si à vontade de Deus) todos deveriam encontrar alguma coisa para doar. Mas, antes de pedir alguma coisa, é preciso formar os corações, porque – ao contrário dos primeiros cristãos – paira entre todos um forte espírito mundano e reina a desunião e a indiferença. Somente uma formação evangélica sólida e profunda pode manter viva uma sociedade ideal de caridade fraterna. Isto certamente acontecerá entre nós, porque estando todos unidos, Cristo está presente entre nós, e aquilo que Ele constrói, permanece”. Aquilo que vinha muito em relevo nos primeiros tempos do Movimento dos Focolares era a importância de viver o Evangelho». Esta experiência da comunhão dos bens não parou na primeira comunidade de Trento, mas continuou nos anos, tanto nas escolhas de vida dos membros dos Focolares, como nas ações concretas (como as “redes do fagotto”) onde os bens são colocados em circulação numa forma de permuta, com uma forte dose de solidariedade e justiça social.