«Maria Santíssima é “Sede da Sabedoria” por ter acolhido Jesus, Sabedoria encarnada, no coração e no ventre. Com o “fiat” da anunciação ela aceitou servir a vontade divina, e a Sabedoria tomou morada em seu seio fazendo dela uma sua discípula exemplar. A Virgem foi bem-aventurada não tanto por ter amamentado o Filho de Deus, quanto, na realidade, por ter nutrido a si mesma com o leite salutar da Palavra de Deus».
(S. João Paulo II, Angelus, 4 de setembro de 1983).
«Para compreender bem este canto de louvor (o Magnificat), é preciso salientar que a beata Virgem Maria fala com base na sua experiência, tendo sido iluminada e instruída pelo Espírito Santo. Com efeito, ninguém pode entender corretamente Deus e a Sua palavra se não lhe é concedido diretamente pelo Espírito Santo. Mas, receber tal dom do Espírito Santo significa experimentá-lo, senti-lo; o Espírito Santo ensina na experiência, como numa escola, fora da qual nada se aprende a não ser palavras e tagarelices. A Santa Virgem, portanto, tendo experimentado em si mesma que Deus realiza grandes coisas nela, por quanto humilde, pobre e desprezada, o Espírito Santo lhe ensina esta grande arte comunicando a ela a sabedoria…».
(Martin Lutero, Comentário ao Magnificat, introdução).
«Nossa Senhora é Sede da Sabedoria, não porque falou, não porque foi uma doutora da Igreja, não porque esteve sentada em uma cátedra, não porque fundou universidades; é sede da sabedoria porque deu ao mundo Cristo, a Sabedoria encarnada. Realizou um fato. Da mesma forma nós: teremos a sabedoria se vivermos de maneira que Jesus esteja em nós, esteja entre nós, esteja realmente».
(Chiara Lubich, Um novo caminho, Cidade Nova, 2014, p 147)
«Maria vive não apenas de si mesma, mas de uma profundidade mais profunda. O Espírito Santo nela: dele promana não só o seu Filho, conteúdo e fruto do seu ser, dele promanam a realização e a forma de sua vida».
(Klaus Hemmerle, Brücken zum credo, p. 265)
Maria e o Deus que parece ausente
«Em 1984, com um grupo de bispos de diferentes confissões, estive na Basílica de Santa Sofia, em Istambul. Ficamos tocados por este edifício imponente, porque nele podíamos perceber de maneira tangível uma enorme presença da história da Igreja e da humanidade. Encontrávamo-nos em um edifício da antiga tradição cristã, da época na qual a cristandade estava unida, na qual a Ásia Menor era o centro do mundo cristão; mas estávamos também no lugar aonde se consumou a ruptura entre Oriente e Ocidente e rompeu-se a unidade. Nos grandes pináculos da cúpula víamos, enormes, as escritas do Alcorão, a supremacia de uma outra religião sobre a cristandade dilacerada. Precisamente diante de nós estavam alguns cartazes que diziam “Proibido rezar”. Um museu, aonde as pessoas passeavam com máquinas fotográficas e binóculos, girando daqui para lá, olhando as belezas artísticas que ali eram conservadas.
Esta ausência de religião naquele que, em outro tempo, fora um lugar sagrado, era terrível. Fomos esmagados por esta cascata de eventos: unidade originária, unidade dilacerada, diferentes religiões, nenhuma religião. Os nossos olhares vagavam desorientados em busca de auxílio quando, improvisamente… lá! Acima da cúpula cintilava, docemente e sem chamar atenção, um antigo mosaico: Maria que oferece o seu Filho. Então entendi claramente: sim, esta é a Igreja: estar, simplesmente, e a partir de si mesmos gerar Deus, aquele Deus que parece ausente.
A palavra Theotokos – mãe de Deus, aquela que gera Deus – de repente adquiriu para mim um som completamente novo. Entendi que não podemos organizar a fé no mundo; se ninguém mais quer ouvir falar de Deus, não podemos nos bater com a força e dizer “Ai de vós!”. Nós também podemos simplesmente estar, e conduzir à luz, partindo de nós mesmos, aquele Deus que parece ausente. Não podemos fabricar esse Deus, mas somente dá-lo à luz; não podemos afirmá-lo com argumentações, mas podemos ser o cálice que o contem, ser o céu, no qual, embora na despojada ostentação, Ele refulge. Compreendi assim não apenas o nosso papel nestes dias, enquanto Igreja, mas também como a Igreja subsista na figura de Maria e como Maria subsista na figura da Igreja, como ambas as figuras e as realidades sejam uma coisa só».
Klaus Hemmerle, Partire dall’unità. La Trinità e Maria, pp. 124, 125.
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