Já dissemos outras vezes que o núcleo fundamental da espiritualidade da unidade, característica do Movimento dos Focolares, é o amor, em especial, o amor recíproco.
Mas o amor recíproco é, antes de tudo, o mandamento de Jesus por excelência, como ele mesmo disse:
"Eis o meu Mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei ".
Assim Jesus propôs um modelo desse amor "como Eu vos amei ", o modelo que é ele mesmo.
Depois acrescentando "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos ", determinou a medida que deve ter nosso amor. A sua mesma medida: dar a vida.
É por isso que no Movimento se busca ter essa medida no amor, procurando estar sempre prontos a morrer uns pelos outros. Naturalmente não nos é pedida a vida em cada momento, mas esta prontidão deve constituir a base de cada ato nosso de amor aos irmãos.
O que representa, portanto, o amor recíproco no Movimento?
É o seu distintivo, assim como era para os primeiros cristãos. Eles não se distinguiam das outras pessoas pelos grandes empreendimentos, pelas obras grandiosas, pelos profundos estudos, pela eloqüência brilhante, nem mesmo pelos milagres.
Eles se distinguiam pelo amor recíproco. Essa era a realidade. "Vede como se amam - diziam os pagãos - e como estão prontos a dar a vida uns pelos outros ".
É assim também que procuramos fazer - com a graça de Deus - no nosso Movimento; é este o nosso esforço.
Desde o início o Espírito Santo acentuou de tal forma a necessidade da recíproca caridade, para poder chamar-se cristãs, que as primeiras focolarinas fizeram um pacto. Olhando-se umas às outras, disseram: "Eu estou pronta a morrer por você... Eu por você..."E todas por cada uma. Esse foi como um alicerce para a construção desse Movimento.
O amor recíproco é tão importante que sempre tivemos em grande consideração a frase de São Pedro: "Antes de tudo mantenham entre vocês a mútua e contínua caridade ".
"Antes de tudo". Esta é a base que vem antes de qualquer atividade nossa: dos estudos, do trabalho, da oração... Não podemos fazer nada se não tivermos assegurada a mútua e contínua caridade; nem trabalhar, nem dormir, nem comer, nem mesmo rezar... Esta é a plataforma de tudo, o resto se constrói sobre isso.
Pode ser que vocês já tenham escutado uma oração que diz assim: "Tu nos deste o teu Espírito para fazer de todas as nações um só povo novo que tem por Estatuto o preceito do amor ".
Esta frase impressionou-nos profundamente pois constatamos, mais uma vez, como o "Estatuto do Povo de Deus " e, portanto, de toda a Igreja, é o Mandamento do Amor. E relacionamos este Estatuto com o da nossa Obra de Maria, no qual está escrito que a regra básica, a norma na qual todas as outras normas têm valor e sem a qual nada tem sentido (nem a oração, nem o apostolado, nem o dar os próprios bens) é Jesus no meio, efeito do amor recíproco.
E causou-nos grande alegria constatar como o Espírito Santo agiu em relação a nós. Como somos, por assim dizer, um "pequeno povo de Deus " - pois participam da Obra de Maria jovens, adultos, crianças, pessoas de todas as vocações - o Espírito Santo não podia deixar de nos dar por Estatuto, o mesmo Estatuto do "grande Povo de Deus ", isto é: o amor recíproco. Esta é a característica da nossa vida, o nosso típico modo de ser, válido para todos os membros do Movimento.
Então, a primeira conclusão a que chegamos é esta: a única coisa que temos para fazer é viver o mandamento do amor recíproco. O resto vem como conseqüência, porque o amor ilumina todos os outros nossos deveres. Experimentemos viver assim o dia inteiro! É uma experiência que merece ser feita.
Pois, fazendo a experiência constatamos que a atuação do Mandamento Novo de Jesus é que dá o " brilho ", o "esmalte" o "último retoque" à nossa vida cristã, à comunidade dos seguidores de Jesus. Porém, muitas vezes, falta este "brilho " nas comunidades cristãs, porque o amor recíproco não vem em evidência.
Sem dúvida, a freqüente falta de atuação do Mandamento Novo de Jesus por parte daqueles que deveriam vivê-lo, deve-se a muitos obstáculos que se apresentam. Um deles, por exemplo, é o amor próprio; muitas vezes olhamos somente para nós mesmos e não pensamos no próximo: a nossa preocupação não é "amar ".
Ou então, somos vaidosos, apegamo-nos às nossas idéias, queremos salvar as aparências, a fama, a boa reputação, procuramos satisfação humanas e espirituais... E nos esquecemos de colocar em prática o Mandamento do amor recíproco. O que devemos fazer; então, para deixar caminho livre ao amor, ao amor recíproco?
A segunda conclusão à qual podemos chegar é esta:
Nós sabemos que o caminho pelo qual nos conduz a vivência da espiritualidade da unidade é eminentemente positivo. O nosso empenho, portanto, não é tanto "tirar" os nossos defeitos, mas "acrescentar" algo na nossa vida, acrescentar amor.
E para manter perfeito, íntegro e constante o nosso amor recíproco, é necessário de nossa parte um esforço constante em viver para o outro, ou como nós dizemos, "viver fora de nós mesmos ".
Por exemplo, surge dentro de mim um pensamento de orgulho? Digo a mim mesma: "deixo de lado este pensamento", e coloco-me à disposição para amar quem estiver mais próximo, ao meu lado. Tenho vontade de comprar algo, algum objeto que é desnecessário, supérfluo? Procuro vencer este desejo. Somos levados a assistir certos programas de televisão, ou ler certos livros, revistas, que nada constróem? Deixemos isso de lado e lancemo-nos a amar quem necessita de nós...
Fazendo assim, o dia inteiro, o amor ocupará cada vez mais espaço na nossa vida e quando estivermos diante de cada pessoa, será mais espontâneo interessar-me concretamente por eles... Se entre nós fizermos assim, o amor recíproco se tornará mais forte e será sempre mais a nossa característica, o nosso modo de viver...
O Mandamento Novo vivido dessa forma produz ainda efeitos extraordinários
Primeiramente, percebemos um salto de qualidade na nossa vida espiritual: experimentamos os dons do Espirito Santo, uma luz nova que nos ajuda a ver os acontecimentos em Deus, provamos uma alegria que nunca experimentamos antes. Sentimos a paz, a paciência para com todos, abrem-se novos horizontes e nos tornamos mais generosos.
Ao mesmo tempo, este amor recíproco, testemunha Cristo ao mundo. Muitas vezes, nós nos encontramos num mundo descristianizado, sem Deus, e a nossa maneira característica de testemunhá-lo é justamente o amor recíproco "Nisto reconhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros ".
O amor recíproco é também um amor que conquista o mundo para Cristo. Jesus disse: "Que todos sejam um (mediante o amor) para que o mundo creia ". E o mundo realmente crê quando vê o testemunho do amor recíproco.
Outra conseqüência muito importante da vivência do amor recíproco é que nos leva a colocar em comum os bens materiais e espirituais.
Pratica-se a comunhão dos bens materiais desde o início do Movimento e recentemente, de forma mais explicita ainda.
Podemos dizer que a comunhão de bens já existente é como um sinal profético, pois mesmo se ainda acontece em pequena escala já pode mostrar ao mundo como ele seria se os homens fossem unidos.
Quando os bens, que atualmente são causa de divisões entre pessoas e países, puderem ser partilhados, muitos dos atuais problemas estarão resolvidos.
Para atuar o Mandamento Novo coloca-se em comum não só os bens materiais, como também os bens espirituais. As belas experiências que a nova vida comporta, são comunicadas por amor, como as experiências da Palavra de Vida.
Colocando em comum os bens espirituais, para a edificação mútua, contribui-se para a santificação do outro como para a própria. E o amor leva a santificar-nos todos juntos.
Lembrando o que dissemos no início, a característica essencial dos primeiros cristãos, o modo como eram reconhecidos pelos pagãos era justamente: "Vede como se amam e estão prontos a morrer uns pelos outros ".
Isto talvez dependia também do fato de que, naqueles tempos de perseguição, não era raro o caso de alguém se oferecer para morrer no lugar do outro. Todavia, permanece o fato que esta medida de amor entre os primeiros cristãos era visível, eram reconhecidos justamente por isto.
Será que nós também podemos ser reconhecidos hoje por este mesmo amor recíproco, por este amor que se vê, e que existia entre os primeiros cristãos?
Vamos "elevar o termômetro " da nossa caridade recíproca de modo que mesmo um simples sorriso, um gesto, uma palavra, um conselho, um elogio e até uma correção, dirigidos aos irmãos, revelem a nossa disposição de estar prontos a morrer por eles. Que nosso amor seja visível.
Em nossa Obra tudo é animado pelo amor recíproco.
Não podemos fazer nada se antes não existir esse amor, que traz a presença de Jesus no nosso meio. Todas as nossas atividades, também as Mariápolis, as Jornadas, os diversos encontros como este, apoiam-se sobre esses pilares.
O nosso Movimento quer levar ao mundo, antes de tudo com o seu exemplo, o amor recíproco de forma que se realize a unidade. Mesmo porque o seu primeiro objetivo é contribuir para a realização do "Que todos sejam um".
E foi através desse amor recíproco vivido, que esse ideal se estendeu sobre toda a terra, de irmão a irmão, de todas as nações, idades, condições sociais, crenças religiosas. E ainda hoje continua a difundir-se sempre mais intensamente, para chegar à nossa meta, que é a unidade.
Por isso, queremos partir daqui com um desafio dirigido a cada um e a todos: vamos fazer a experiência de viver entre nós o amor recíproco, este "amor que se vê " e que se irradia ao nosso redor.
Vamos viver assim, ser assim, amar assim, a cada dia. E à noite nos encontraremos transformados e com um novo entusiasmo pela maravilhosa e divina vida que Deus nos deu. E veremos, pouco a pouco, também o mundo ao nosso redor, se transformar.