Humilde
como é, e de poucas palavras, amante como é da oração e do trabalho, Maria
passa grande parte de seu tempo no silêncio e na solidão. Não na solidão
desesperada e vazia de nossos tempos, na qual o homem perdido na massa urbana,
na explosão demográfica, não consegue se comunicar, permanecendo solitário, mas
na solidão como uma concha plena do Espírito Santo, no qual, se falta a
presença dos homens, há presença Deus. Deus que quer a alma toda para si: solus
cum sola.
Maria tece uma história que é um poema;
subentende a teologia e entende os mistério da encarnação, as graças e os
sacramentos, enquanto reúne e celebra todas as virtudes: a pureza até a
Imaculada Conceição, a caridade até a oferta do Filho; a sabedoria e a fé, a
piedade e a alegria, até tornar-se plena do espírito Santo. Dizendo Maria
designa-se a mãe e a advogada de todos os seres humanos.
Se, como afirma São Bernardo, temos
necessidade da mediação de Maria para chegar à mediação de Jesus, eis que Maria
nos é necessária como o ar que respiramos: ela é o “hálito” do Espírito Santo.
Ao saudar Maria, na oração com a qual
mais frequentemente a invocamos, antepomos ao mais belo nome de mulher o
atributo que lhe é mais familiar na cidade de Deus, onde, pela intercessão de
Maria, nos tornaremos concidadãos dos santos: Santa Maria, é Santa por
excelência porque mais do que qualquer outra pessoa, ela fez a vontade de Deus.
Para nós também, é vontade de Deus que nos tornemos santos, porque Ele é o
Santo.
A santidade é a subida do homem até
Deus, com as asas da redenção, e corresponde à descida de Deus até o homem, com
o prodígio da Encarnação. E a Encarnação foi possível inicialmente pela
santidade de Maria. Sua santidade é o modelo de nossa santificação, o mais
simples e familiar dos modelos, adaptado a toda pessoa, em todas asa condições.
“Santa Maria”! Invocando-a com este título e este nome, fazemos uma
síntese das maravilhas do amor de Deus: os dons do Espírito Santo, de quem ela
é esposa; o ministério de Cristo, do qual ela é a mãe; a onipotência do Pai, de
quem ele é filha; o mistério da Trindade da qual ela é a flor; as verdades do
Evangelho, das quais se fez guardiã em seu espírito, meditando-as; a
maternidade virginal da Igreja, para a qual oferece o modelo mais apropriado; e
ainda os carismas do sacerdócio, para os quais deu a vida gerando o Sacerdote;
da virgindade, da qual ela é a sua raiz
e seu coroamento; do casamento, do qual é o exemplo e a glória. Sempre santa,
sob todo e qualquer aspecto, santa. A mais próxima de Deus, a mais próxima de
nós.
“Santa Maria” era o nome da caravela com
a qual Colombo, atravessando o oceano, descobriu um novo mundo. Santa Maria é a
nave com a qual nós, desafiando as tempestades, aportamos no eterno Amor.
Se é verdade, como é verdadeiro tudo o
que a teologia demonstra, que a Virgem é a “mãe da santidade”, então,
invocando-a com familiaridade amorosa e assídua, continuada e premente,
externamos um compromisso de viver como cultores da santidade, para sermos
verdadeiros filhos Dela.
Maria segue direto pelo seu caminho: diz
honestamente o que pensa, faz o que deve. Não usa de sofismas1, como
Zacarias, que por isso fica mudo. Maria, porque é simples, enxerga o certo: vê
a Deus, que é a simplicidade absoluta; e acolhe o divino, que é a transparência.
Opõe
a beleza à fealdade; o espírito inerme às armas materiais; o sorriso ao cepo
dos condenados; a verdade às exibições de armas. Ergue a simplicidade contra a
carga imensa de complicações com as quais as pessoas vêm dificultando, quase
até ao desespero, algo tão natural como é a vida.