TERCEIRA IDADE, FONTE PARA UM MUNDO UNIDO
Porém, pode nascer uma pergunta: envelhecer e vivenciar os anos da terceira idade é algo positivo?
Minha mãe, que partiu para o céu aos 94 anos, afirmava que a ela foi concedida uma vida longa, porque havia cuidado de seus pais de modo intenso e um pouco especial, no lugar de sua irmã que não podia. Ela me repetia aquilo que Deus nos comandou na Antiga Lei e que depois Jesus reafirmou: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias sobre aterra” (cf. Mt 15,5; Dt 5,16).
Portanto! devemos pensar que se Deus dá uma vida longa como prêmio a um comportamento tão admirável para com os pais, significa que envelhecer é um bem.
E é verdade, simplesmente porque vivemos uma única vez e, se a vida é uma dádiva, quanto mais longa ela for, maior será o dom.
Todavia, por vezes, a vontade de Deus pode nos reservar uma vida breve. Porém, se nela alcançarmos a sabedoria do coração, será considerada longa. Foi o que aconteceu com Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu pouco mais de vinte anos. Ela, porém, já havia vivido bastante, porque chegou à meta: embora fosse “pequena”, inclusive pela infância espiritual que a animava, já era madura pela sabedoria do coração.
Uma longa vida serve para desenvolver no espírito humano a sapiência, a sabedoria, a experiência para si e para muitos.
Meu pai dizia sempre: “Com o tempo muitas coisas se ajustam”. Ele não teria podido externar essa sua sábia convicção, se não tivesse tido tempo na vida: morreu aos 74 anos.
Eu conheci muitas pessoas idosas e duas delas me marcaram mais: Igino Giordani, de quem se falará neste congresso, e o Patriarca Ecumênico Atenágoras I.
Encontrei-me com Atenágoras umas dez vezes para importantes colóquios que envolviam a Igreja, o ecumenismo e o nosso Movimento. Todavia o que mais me impressionava era a sua pessoa. O interessante é que ninguém percebia que ele era ancião, por mais que o demonstrasse a sua longa barba branca.
Era possuidor de um carisma e já este fato proporciona uma juventude perene. E era sábio, um sábio na mente e no coração, porque também o seu coração ardia pelos ideais que o consumiam, tal como aquele de celebrar um dia juntamente com o Santo Padre, no único Cálice. Ele parecia e era realmente um profeta.
Graças a Deus existem estes exemplos que renovam a estima pela vida do homem e da mulher em idade avançada! Este é um hábito generalizado no Oriente, que no Ocidente se perdeu. prejudicando a sua civilização.
Na Ásia e também na África os idosos não são apenas respeitados, mas venerados, ouvidos, obedecidos, porque — todos reconhecem — possuem a sabedoria.
Porém, nos questionamos, para que serve a vida de uma pessoa idosa, se ela é reduzida a bem pouco no seu período terminal?
É preciso lembrar que a vida do homem não se limita ao tempo que ele transcorre aqui na terra. Ela continua e pode atingir a alegria do paraíso, se Deus o considerar pronto e purificado de suas culpas.
Por isso, ao invés de enfrentar essa invenção da misericórdia de Deus, que é o purgatório, quase sempre muito doloroso, é melhor começar a descontá-lo já daqui (pois é mais fácil e tem mais valor), suportando as penas que normalmente a velhice acarreta até o momento do encontro com o Pai.
Logicamente, precisamos ter fé para raciocinar assim.
Mas o que a fé nos diz é verdade.
Às vezes também me perguntam como foi que cheguei aos 77 anos e por que as minhas atividades em vez de diminuírem foram aumentando.
A minha resposta é esta: depende do estilo de vida que, com a ajuda de Deus, procurei e procuro impor a mim mesma. E a vida evangélica, seguir os mandamentos e os conselhos de Jesus, cujo peso é sempre leve e suave (cf. Mt 11,30).
Motivados assim a tristeza, as angústias, os problemas não nos fazem sucumbir. São Pedro, já velhinho, recomenda aos anciãos, pastores do rebanho, que lancem toda e qualquer preocupação em Deus, porque Ele cuida de nós (cf. Pd 5,7) e isso nos dá alívio pois passamos para um Outro os nossos pesos.
Pode parecer incrível, mas é exatamente assumindo o princípio de São Paulo: “Não conheço senão Cristo e Cristo crucificado” (cf. 1 Cor 2,2), ou seja, preferindo o sofrimento e o esforço para viver a virtude a todo o resto, que encontramos a plenitude da vida. Porque só quem se lança nos braços da cruz é que encontra o amor e o amor é a alegria.
(Mensagem de Chiara ao Congresso Internacional do Movimento Humanidade Nova, Rimini (Itália), 18 de abril de 1997).