14 agosto 2017

Abraçar Jesus abandonado

2001

Como aprender a amar Jesus Abandonado logo e com alegria quando a dor nos atinge? Chiara Lubich fala sobre isso num encontro com uma das comunidades dos Focolares no Norte da Itália.

(…) "Às vezes, na minha vida, eu consigo amar Jesus abandonado logo e com alegria. Eu o reconheço, amo e consigo ir para além da cruz. Certas vezes eu o reconheço, porém fico diante da cruz sem  ultrapassá-la. Eu sei que é Ele, mas não amo verdadeiramente Jesus abandonado, porque permaneço na dor. Chiara, o que me diz para me ajudar a superar estes momentos?"

Chiara: Antes de tudo, gostaria de dizer uma coisa que talvez nem todos saibam. Eu gostaria de explicar bem esta história, isto é, que nós vemos Jesus abandonado na dor. Vocês podem dizer: “Chiara, esta é uma dor, mas não é Jesus abandonado!”.
Eu lembro sempre de Santa Teresinha do Menino Jesus que, pouco antes de morrer, tinha tido uma golfada de sangue, por causa da doença que tinha, mas ela não disse: é uma golfada de sangue; ela disse: eis o Esposo. Ela era consagrada. Tinha se casado com Jesus crucificado. Por isso disse: eis o Esposo. Então santa Teresinha inventou alguma coisa? Disse algo sentimental? Ou disse a verdade?

Podemos ver cada coisa do lado humano e do lado sobrenatural. Aconteceu isso: Jesus, vindo a esta Terra, assumiu a natureza humana, fez-se homem. Ele, sim, que se fez um. Está chegando o Natal e vamos festejar isso. Jesus se fez homem. Mas não se fez somente homem. Como dizem os padres da Igreja, ele assumiu, juntamente com a humanidade, todas as nossas falhas, os nossos defeitos, os nossos fracassos, todos os nossos pecados, para redimi-los. Jesus  assumiu tudo isso. Por isso, S. Paulo diz que Jesus se fez pecado, porque carregou sobre si, não dentro... Jesus não era pecador, mas se fez pecado; se fez excomunhão, não excomungado. Jesus assumiu, com a natureza humana, todos os nossos limites. É por isso que podemos dizer, quando nos acontece uma desgraça... Por exemplo, você foi reprovada nos exames e diz: humanamente, sim, fui reprovada nos exames; tal como santa Teresinha podia dizer humanamente: é uma golfada de sangue. Porém, sobrenaturalmente aquela reprovação já está em Jesus que a assumiu, está nele, quando veio à Terra. Então você, por trás desta reprovação, deve ver o seu semblante, como costumamos dizer. É uma verdade. Santa Teresinha disse: eis o Esposo. Também você deve dizer: eis o Esposo.

É claro que, se o Esposo da nossa alma, de todos nós: focolarinos, voluntários... é Jesus abandonado, não podemos desprezá-lo. É preciso abraçá-lo; então o abraçamos, procuramos abraçá-lo. Você mesma entende que às vezes erra, porque não faz este ato de amor. Jesus abandonado não deve ser amado somente na dor. O verdadeiro Jesus abandonado, no seu aspecto completo, é Jesus abandonado que sofre: “Deus meu, por quê...?” Os teólogos dizem que parece quase que a Trindade se rompa. Não é verdade, mas Ele experimenta esta sensação como homem. Porém, Jesus diz logo depois, mesmo se se sente abandonado pelo Pai (portanto uma tragédia infinita), Ele diz (eis a sua força imensa): “Em tuas mãos, Pai, entrego... Eu me lanço em ti, apesar de me teres abandonado”. Ele se resolve.

Também nós, quando Jesus abandonado se apresenta, quando há uma dor, devemos dizer: és tu, és o Esposo da minha alma. Não importa se vocês são casados ou não nesta terra. A alma é outra coisa. E você diz: “Gosto de você; eu o amo e abraço”. E depois faça como ele: "em tuas mãos"... Dar a volta por cima. E depois – e aqui é preciso estarmos atentos –, viva o momento presente com todo o coração. E se o viver, o que acontece? Nasce a paz interior, a alegria, e o peso da dor já não existe, já não existe. Porque é que não existe mais? Porque no lugar de Jesus abandonado, que vivia em você, floresceu o Ressuscitado, e o Ressuscitado é o seu Espírito que emana os seus dons. Por isso você sente alegria, paz, força, tudo... e vice-versa, desapareceu tudo aquilo que antes...

Por isso o meu conselho é: abrace-o bem, depois viva o momento presente e vá para frente. Se chegamos até aos confins do mundo, devemos a isso, porque recomeçando, recomeçando, fizemos de cada obstáculo um trampolim. Havia o obstáculo numa dor e em vez de ficar tentando escapar... Talvez tenhamos errado mil vezes, mas naquela vez procuramos enfrentá-lo e fazer de cada obstáculo um trampolim... E então, lançar-se, lançar-se, lançar-se, e assim se chega aos confins do mundo.     

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