"Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança..." (Ataulpho Alves)
31 agosto 2017
Dê-lhes alegria
30 agosto 2017
Seu ser
29 agosto 2017
Leitura diária
27 agosto 2017
Comunicar a graça de Deus
26 agosto 2017
Limites
A felicidade
25 agosto 2017
Ajudar no crescimento
24 agosto 2017
Alegria e otimismo
23 agosto 2017
Seja tolerante
22 agosto 2017
O que fizeste com os dons que lhe dei?
O que responderíamos a Deus, se no juízo final, frente a frente, ouvíssemos esta indagação? Muitas vezes em nossa vida usamos muito mal os dons que recebemos de Deus. Outras vezes, cobramos um preço muito alto pelo que recebemos gratuitamente.
Igino Giordani* escreveu: “- Um escritor que crê, não pode perder tempo com coisas inúteis; seus escritos devem sempre doar Cristo”.
Não seria assim com todos os dons que recebemos? Um orador em sua fala, dom gratuito de Deus, não deveria transmitir Cristo? Um músico, em suas canções não deveria fazer o mesmo? Levando em consideração que tudo provém da criação, tudo o que temos é dom de Deus. Se Dele provém, a Ele deve retornar. E como servos, devemos multiplicar nossos dons, compartilhando-os de forma a transmitir uma só mensagem: - Cristo.
Quantos dons recebemos? Dezenas, centenas. Dons, não são somente aquelas coisas que fazemos de extraordinário. São as coisas que fazemos com amor. Simples, como é a vontade de Deus para cada um. Passar manteiga no pão que será servido a alguém, poder ser um dom inestimável, se o próximo o perceber no amor. Cantar uma canção, buscar um copo d’água, escrever um livro, dar um sorriso, cuidar de um doente por anos a fio ou um simples olhar. Tudo é dom de Deus. Não importa o tamanho, a grandeza. Importa o quanto amamos.
Escrever, cantar, estudar, aconselhar ou até mesmo ouvir para mostrar o dom que temos, nada mais é que egoísmo. Ouvir, falar ou escrever para doar Cristo é dom divino. Multipliquemos então nossos dons, colocando-os a serviço. No entanto, não o façamos por nós, nem pelo quanto receberemos por pagamento. Façamos por amor. Façamos por sermos servos dignos dos dons que recebemos. Um dia Ele nos perguntará:
21 agosto 2017
Olhos fixos
19 agosto 2017
A verdade e o caminho
18 agosto 2017
Dar exemplos
17 agosto 2017
Grau de evolução
16 agosto 2017
Domine-se
15 agosto 2017
Maria Assunta
Sierre, Agosto de 1980
Festa da Assunção
Caríssimos voluntários e voluntárias
Certamente nossa Mãe Celeste, chefe e condutora nossa, que hoje festejamos no Seu glorioso mistério da Assunção ao céu, também com o corpo, lhes terá iluminado sobre a sua esplêndida e insubstituível vocação. Maria Assunta pode lhes dar toda a luz interior sobre o caminho que Ela os chama a percorrer.
Para Deus não bastou a alma de Maria no céu. Certamente a alma de Maria era a sua parte mais interessante, já que sua beleza era toda interior, mas Deus a quis consigo no fim de sua vida terrena, também com o seu corpo.
Este é o símbolo daquela parte humana que Deus criou e deve voltar a Ele, toda transformada. Este é o símbolo de todas as expressõeshumanas no mundo, da encarnação no social, na economia, na arte, na educação, na saúde, etc..., na qual vocês veem traçada, luminosamente, a sua estrada para chegar a Deus e levar com vocês, a sociedade transfigurada.
Em uma criatura humana sem corpo seria um contrassenso. Assim, a Obra de Maria com os focolarinos e sem os voluntários não seria nem de Maria, nem da Igreja.
14 agosto 2017
Abraçar Jesus abandonado
2001
Como aprender a amar Jesus Abandonado logo e com alegria quando a dor nos atinge? Chiara Lubich fala sobre isso num encontro com uma das comunidades dos Focolares no Norte da Itália.
(…) "Às vezes, na minha vida, eu consigo amar Jesus abandonado logo e com alegria. Eu o reconheço, amo e consigo ir para além da cruz. Certas vezes eu o reconheço, porém fico diante da cruz sem ultrapassá-la. Eu sei que é Ele, mas não amo verdadeiramente Jesus abandonado, porque permaneço na dor. Chiara, o que me diz para me ajudar a superar estes momentos?"
Chiara: Antes de tudo, gostaria de dizer uma coisa que talvez nem todos saibam. Eu gostaria de explicar bem esta história, isto é, que nós vemos Jesus abandonado na dor. Vocês podem dizer: “Chiara, esta é uma dor, mas não é Jesus abandonado!”.
Eu lembro sempre de Santa Teresinha do Menino Jesus que, pouco antes de morrer, tinha tido uma golfada de sangue, por causa da doença que tinha, mas ela não disse: é uma golfada de sangue; ela disse: eis o Esposo. Ela era consagrada. Tinha se casado com Jesus crucificado. Por isso disse: eis o Esposo. Então santa Teresinha inventou alguma coisa? Disse algo sentimental? Ou disse a verdade?
Podemos ver cada coisa do lado humano e do lado sobrenatural. Aconteceu isso: Jesus, vindo a esta Terra, assumiu a natureza humana, fez-se homem. Ele, sim, que se fez um. Está chegando o Natal e vamos festejar isso. Jesus se fez homem. Mas não se fez somente homem. Como dizem os padres da Igreja, ele assumiu, juntamente com a humanidade, todas as nossas falhas, os nossos defeitos, os nossos fracassos, todos os nossos pecados, para redimi-los. Jesus assumiu tudo isso. Por isso, S. Paulo diz que Jesus se fez pecado, porque carregou sobre si, não dentro... Jesus não era pecador, mas se fez pecado; se fez excomunhão, não excomungado. Jesus assumiu, com a natureza humana, todos os nossos limites. É por isso que podemos dizer, quando nos acontece uma desgraça... Por exemplo, você foi reprovada nos exames e diz: humanamente, sim, fui reprovada nos exames; tal como santa Teresinha podia dizer humanamente: é uma golfada de sangue. Porém, sobrenaturalmente aquela reprovação já está em Jesus que a assumiu, está nele, quando veio à Terra. Então você, por trás desta reprovação, deve ver o seu semblante, como costumamos dizer. É uma verdade. Santa Teresinha disse: eis o Esposo. Também você deve dizer: eis o Esposo.
É claro que, se o Esposo da nossa alma, de todos nós: focolarinos, voluntários... é Jesus abandonado, não podemos desprezá-lo. É preciso abraçá-lo; então o abraçamos, procuramos abraçá-lo. Você mesma entende que às vezes erra, porque não faz este ato de amor. Jesus abandonado não deve ser amado somente na dor. O verdadeiro Jesus abandonado, no seu aspecto completo, é Jesus abandonado que sofre: “Deus meu, por quê...?” Os teólogos dizem que parece quase que a Trindade se rompa. Não é verdade, mas Ele experimenta esta sensação como homem. Porém, Jesus diz logo depois, mesmo se se sente abandonado pelo Pai (portanto uma tragédia infinita), Ele diz (eis a sua força imensa): “Em tuas mãos, Pai, entrego... Eu me lanço em ti, apesar de me teres abandonado”. Ele se resolve.
Também nós, quando Jesus abandonado se apresenta, quando há uma dor, devemos dizer: és tu, és o Esposo da minha alma. Não importa se vocês são casados ou não nesta terra. A alma é outra coisa. E você diz: “Gosto de você; eu o amo e abraço”. E depois faça como ele: "em tuas mãos"... Dar a volta por cima. E depois – e aqui é preciso estarmos atentos –, viva o momento presente com todo o coração. E se o viver, o que acontece? Nasce a paz interior, a alegria, e o peso da dor já não existe, já não existe. Porque é que não existe mais? Porque no lugar de Jesus abandonado, que vivia em você, floresceu o Ressuscitado, e o Ressuscitado é o seu Espírito que emana os seus dons. Por isso você sente alegria, paz, força, tudo... e vice-versa, desapareceu tudo aquilo que antes...
Por isso o meu conselho é: abrace-o bem, depois viva o momento presente e vá para frente. Se chegamos até aos confins do mundo, devemos a isso, porque recomeçando, recomeçando, fizemos de cada obstáculo um trampolim. Havia o obstáculo numa dor e em vez de ficar tentando escapar... Talvez tenhamos errado mil vezes, mas naquela vez procuramos enfrentá-lo e fazer de cada obstáculo um trampolim... E então, lançar-se, lançar-se, lançar-se, e assim se chega aos confins do mundo.
13 agosto 2017
Como levar o Evangelho aos homens de hoje
dezembro de 1998
Chiara Lubich responde a um seminarista.
(…) "Perante a sociedade do nosso tempo temos muitas vezes a dúvida se estamos suficientemente preparados para levar o Evangelho aos homens e às mulheres de hoje. Como oferecer a todos a mensagem cristã, de maneira que responda realmente às exigências e aos problemas deles?"
Chiara: Em primeiro lugar é preciso pensar que as questões, que levantarão, são questões de caráter geral, que vocês conhecem pessoalmente ou através daqueles que os rodeiam. Não são questões do outro mundo.
Em todo o caso, a resposta a tudo é a Palavra de Deus. Não imaginam o que é a Palavra de Deus! É a resposta a tudo. É a resposta a tudo! De fato é Deus que nos responde através do Filho. O importante é reevangelizar-se pessoalmente, vivendo a Palavra de Vida todos os meses, mas a sério... Não só de vez em quando. É preciso ser Evangelho vivo, totalmente Palavra de Deus! Ser somente Palavra. Não ser João, Hélio, Francisco... Ser a Palavra de Deus! Ser a Palavra de Deus. A nossa alma deve assimilá-la a tal ponto que não somos outra coisa.
Por exemplo, perguntam: “O que você faz, João?”, ele deveria responder: “estudo”. Não. “Amo”, porque vive a Palavra de Vida: "Amar a Deus com todo o coração, com todas as forças...”. Está estudando: “O que você faz? Estuda?”, “Não. Amo”. Depois, na hora do café da manhã: “O que você está fazendo, João? Comendo?”, “Não. Amo”. Depois encontra outro: “O que você está fazendo?”, “Amo”. Ele é totalmente Palavra de Deus! Totalmente Palavra de Deus!
Desta maneira, vivendo a Palavra, fazem-se muitas experiências, maravilhosas. Incidimos nos outros; verificam-se conversões interiores; descobrimos uma liberdade nova... Então começamos a comunicá-las aos outros e, dando-as, os outros se enriquecem e, conhecendo a experiência dos outros, nos enriquecemos, porque nos ajudam.
O meu conselho é este: se eu fosse um padre, um pároco, eu escreveria numa agenda todas estas experiências mais significativas. Depois, quando chegasse o momento de fazer o sermão... Por favor, Gen's, pelo menos vocês não façam sermões! Porque os sermões fazem as pessoas dormirem!... É assim... (Aplausos)
Falo de "sermão" no sentido que hoje se dá a essa palavra: “Não venha com sermões!”; como os filhos dizem aos pais: “Não venha com sermão!”. Nesse sentido. Não façam sermões. Vocês devem fazer outra coisa: devem ser sacerdotes que comunicam Deus; isso sim!Conhecendo essas lindas experiências, transmitam, naturalmente, a mensagem cristã (o Evangelho, a epístola, etc.).pois este é um dever do sacerdote. Vocês devem fazê-lo. Porém, se o fizerem com convicção, já será bom, com certeza. Mas se além disso contarem de vez em quando uma experiência de vocês ou de alguém... “Sabem, um amigo meu...” e contam como foi, por exemplo: uma pessoa que se converteu, etc. Deste modo o Evangelho se torna atraente, muito mais claro; todos o compreendem melhor. Este é o meu conselho.
12 agosto 2017
Seja fiel
10 agosto 2017
Não permaneça preso no passado
09 agosto 2017
Viver do amor - Estímulos ecumênicos
19 de novembro de 1998
De 1º de novembro a 13 de dezembro de 1998, Chiara Lubich esteve na Alemanha. Esta viagem teve etapas significativas em Aquisgrana (Aachen), Munique, Augsburgo e Berlim, onde foi convidada a encontrar a comunidade evangélica. Propomos o seu discurso no qual ela indica a lei do amor como estrada principal para a unidade dos cristãos e para o diálogo com aqueles que creem.
(…)
O fato é que se nós, cristãos, na aurora do terceiro milênio, observarmos a nossa história de 2 mil anos e principalmente aquela do segundo milênio não podemos deixar de nos entristecer ao constatar como ela muitas vezes foi um alternar-se de incompreensões, de brigas, de lutas, que rasgaram em muitos pontos a túnica sem costuras de Cristo que é a sua Igreja. De quem é a culpa? É claro que das circunstâncias históricas, culturais, políticas, geográficas, sociais, mas também do desaparecimento entre os cristãos de um elemento unificante, típico deles: o amor. É a pura verdade.
Então, na tentativa de sanar hoje todo o mal, é necessário lembrar-se do princípio da nossa fé comum: Deus Amor, que também nos convida a amar.
Hoje é mesmo Deus Amor que, de certa forma, deve revelar-se novamente, inclusive às Igrejas que formamos.
De fato, como podemos pensar em amar os outros se não nos sentimos profundamente amados? Se não está viva em todos nós, cristãos, a certeza de que Deus nos ama?
No entanto, Deus não nos ama apenas como cristãos, mas também como Igreja. Deus ama a Igreja por tudo o que ela fez na história segundo o seu desígnio sobre ela, mas também – e este é o lado magnífico da misericórdia de Deus – Ele ama a Igreja quando lhe foi infiel, permitindo a divisão, contanto que hoje cada Igreja busque a plena comunhão com as outras Igrejas.
Foi esta consoladora convicção que motivou João Paulo II, confiando naquele que extrai o bem do mal, a responder à pergunta: "Por que o Espírito Santo permitiu todas estas divisões?", mesmo admitindo que um dos fatores pode ter sido os nossos pecados, acrescentou: "Não poderia ser também (...) que as divisões tenham sido (...) um caminho que levou e leva a Igreja a descobrir as múltiplas riquezas contidas no Evangelho de Cristo? Talvez – continua o Papa – tais riquezas não pudessem vir à luz de maneira diferente..." .
Acreditar que Deus é Amor também para a Igreja.
Mas, se Deus nos ama, nós não podemos ficar inertes diante de tamanha bondade divina. Como verdadeiros filhos devemos retribuir o seu amor e também como Igreja. Cada Igreja com o passar dos séculos de certo modo petrificou-se em si mesma pela onda de indiferença, de incompreensão, para não falar de ódio recíproco. Por isso mesmo cada uma deve ter um suplemento de amor, aliás, o povo cristão deve ser invadido por uma torrente de amor.
Amor pelas outras Igrejas e amor recíproco entre as Igrejas, que leva cada uma a tornar-se uma dádiva para as outras. Assim podemos prever, na Igreja do futuro, que uma e somente uma será a verdade, mas expressa de várias maneiras, observada de vários ângulos, embelezada por muitas interpretações.
Não é verdade que uma Igreja ou outra deverá "morrer" (como se pode temer). Cada uma deverá renascer nova na unidade. E viver nessa Igreja em plena comunhão será algo maravilhoso, fascinante como um milagre, que despertará a atenção e o interesse do mundo inteiro.
O amor recíproco, porém, é realmente evangélico e plenamente válido se for praticado segundo a medida pedida por Jesus: "Amai-vos uns aos outros – Ele disse –, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos próprios amigos."(Cf Jo 15,13). Mas de que modo Jesus morreu? Ele, na sua paixão e morte, não sofreu somente no momento da agonia no horto, da flagelação, da coroação de espinhos, da crucifixão, mas também experimentou uma dor atroz, que exprimiu no grito: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27, 46); esse sofrimento, como afirmaram teólogos e místicos, foi a sua provação mais aguda, a sua escuridão mais tenebrosa.
Ora, parece que hoje, para edificar plenamente a comunhão no amor recíproco, é importante contemplar sobretudo aquela dor de Jesus e espelhar-se nela. E se entende. Se a missão de Jesus era tirar o pecado do mundo e eliminar a divisão dos homens separados de Deus e, por conseqüência, desunidos entre eles, o único modo para realizá-la era experimentando em si uma abissal separação entre Jesus, que é Deus, e Deus, sentindo-se abandonado pelo Pai.
Jesus, porém, voltando a abandonar-se no Pai - "Em tuas mãos entrego o meu espírito" - (Lc 23, 46), superou essa imensa dor e reconduziu assim os homens ao Pai e à aceitação recíproca. Se é assim, não será difícil ver que é Ele, exatamente Ele, a estrela mais radiante que deve iluminar o caminho ecumênico; a pérola que temos que encontrar para entrar no Reino.
Creio que o trabalho ecumênico será fecundo em proporção a quanto, quem a ele se dedicar, reconhecer em Jesus Crucificado e Abandonado, que volta a abandonar-se no Pai, a chave para compreender toda e qualquer falta de unidade e recompô-la. Um ecumenismo eficaz será atuado por corações tocados por Jesus Crucificado e Abandonado, que não fogem dele, mas o compreendem, o amam, o escolhem e sabem reconhecer o seu semblante divino em cada falta de unidade com que se deparam e recebem dele a luz e a força para não parar diante do trauma, na fenda da divisão. Por isso vão adiante e encontram sempre uma solução, a melhor possível.
O amor recíproco leva também a atuar a unidade. Jesus, antes de ser pregado na cruz, antes de sofrer o abandono do Pai, tinha feito uma longa oração pela unidade: "Para que todos sejam um" (cf. Jo 17, 21). E a unidade vivida tem um efeito que é também, por assim dizer, um elemento chave para um ecumenismo vivo. Trata-se da presença de Jesus entre várias pessoas que formam uma comunidade. "Onde dois ou três – disse Jesus – estiverem unidos no meu nome, ali estou eu no meio deles" (Mt 18, 20).
Já pensamos nisto? Já o experimentamos? Jesus entre um católico e um evangélico que se amam, Jesus entre um anglicano e um ortodoxo, entre uma armênia e uma reformada. Jesus! Quanta paz desde já! Quanta luz para um reto caminho ecumênico! Jesus em meio é um dom que ainda por cima torna menos dolorosa a espera do momento em que todos juntos o receberemos sob as espécies eucarísticas.
É necessário ainda um grande amor pelo Espírito Santo, Amor feito Pessoa. Jesus doou o Espírito Santo a nós, quando expirou na cruz, e invadiu com ele a Igreja nascente no dia de Pentecostes. É o Espírito Santo que une as Pessoas da Santíssima Trindade e o Espírito Santo é o vínculo entre os membros do Corpo místico de Cristo.
Na caminhada para a reconciliação entre nós, cristãos, será necessário pelo menos não esquecer Maria, que um Concílio comum, aquele de Éfeso, proclamou Mãe de Deus, a Teotókos. Maria justamente por ser mãe pode fazer muito pela unidade.
Esta é a experiência que eu desejava partilhar com todos.
Sei, também por experiência que, se todos nós vivermos assim, os frutos serão excepcionais. Mas, como intuímos, veremos sobretudo um efeito especial: vivendo juntos estes diferentes aspectos do nosso cristianismo, veremos que se formará desde já um único povo cristão, que será – ao lado de tudo o que fazem as outras forças suscitadas pelo Espírito Santo neste tempo ecumênico – um fermento para a plena comunhão entre as Igrejas. Será, de certa forma, a atuação de outro diálogo, articulado ao da caridade – como na época de Atenágoras –, ao teológico e ao da oração, chamado: o diálogo da vida, o diálogo do povo, do povo de Deus. Eu vi a atuação deste diálogo. Eu vi a realidade deste povo de Deus em caminho.
Quando eu estive em Londres, na minha frente estavam 2 mil pessoas de várias Igrejas. Todas viviam como expliquei: Deus Amor, amá-lo, amar-nos, ter Cristo entre nós, superar as dificuldades e os traumas com o amor a Jesus Crucificado e Abandonado. E nos sentimos um único povo. Do meu lado estava uma anglicana. Eu disse: "Quem nos separará da caridade" entre mim e aquela anglicana que vive como eu? Ninguém poderá tirar a presença de Cristo entre nós.
Será a atuação de outro diálogo, que é mais do que nunca urgente e oportuno, se é verdade, como a história ensina, que pouca coisa é garantida no campo ecumênico sem a participação do povo. Em certos Concílios tomou-se a decisão de unir as Igrejas, mas tudo fracassou porque o povo não estava ao corrente, o povo não estava interessado. Esse diálogo revelará com maior evidência e valorizará o imenso patrimônio comum entre os cristãos, constituído pelo batismo, pela Bíblia, pelos primeiros Concílios, pelos Padres da Igreja.
Queremos ver este povo, que já está despontando aqui e ali.
Mas por que nesta estupenda igreja nós, cristãos, não nos unimos, baseados nestas ideias, realizando isso: entramos aqui como membros de Igrejas diferentes e saímos como um único povo cristão, prontos a morrer uns pelos outros?
Este é um fruto maravilhoso! Acho que a Santíssima Trindade está nos olhando, e vê realizado entre as diferentes Igrejas este seu modo de viver: uma Igreja pela outra, uma Igreja como dádiva para a outra, duas Igrejas que ninguém mais conseguirá separar, porque foram unidas por Cristo no nosso meio. Tenhamos Jesus no nosso meio. Ele é a esperança do mundo. É ele que fecunda o nosso ecumenismo. É ele que nos fará ver milagres neste campo. É inútil que digam que o ecumenismo está se arrastando. Com Jesus vencemos o mundo!
Além disso, se nós cristãos, nos amarmos assim, teremos uma ajuda a mais para compreendermos as sementes do Verbo nas outras religiões. Existe algo da luz do Verbo também nas outras religiões, algo da luz da verdade também nas outras religiões. E esta descoberta poderá suscitar entre nós e os seus membros uma aproximação e compreensão maiores, de certa forma poderemos estabelecer com eles o amor recíproco.
O amor cristão ajuda também o diálogo com aqueles que não creem, porque possuem muitos valores na alma, os quais Jesus aprecia porque ele também é homem.
Se agirmos assim, poderemos contribuir para o diálogo entre os povos e para a unidade entre o homem e a natureza porque "a criação espera a revelação dos filhos de Deus" (Rm 8, 19), dos filhos que amam.
Esforcemo-nos desde já para viver como Jesus quer.
Antes o doutor Kruse nos disse que o Evangelho é simples. Isso é verdade!/ Mas como é exigente: amar a todos, ser os primeiros a amar, amar os outros como a si, ver Jesus em todos, amar o amigo e o inimigo, amar o alemão e o italiano, amar o budista e o católico, amar a todos!
Experimentemos! Seremos felizes! Esta é a nossa experiência.
Vivamos assim. Na verdade, nada é mais urgente no mundo do que uma potente corrente de amor, se almejamos aquela civilização do amor, que o terceiro milênio espera de nós.
Obrigada pela atenção que me dispensaram. Que Jesus esteja entre nós.
Poder curador
07 agosto 2017
Jesus Abandonado ressuscitado, presente em todos os sofrimentos
18 de dezembro de 1980
Uma descoberta sempre nova que Chiara Lubich fez durante toda a sua existência: Jesus no seu abandono conheceu e viveu o sofrimento humano em todas as suas expressões, sem exceção. Encontrando-o, se experimenta também a Vida e a ressurreição. Eli Folonari lê este trecho escrito por Chiara no seu diário durante uma conexão telefônica coletiva feita e Zurique, no dia 18 de dezembro de 1980.
«Estou descobrindo que Jesus Abandonado está realmente presente em todos os sofrimentos.
Ofereci a Jesus os meus limites por causa da falta de saúde e percebi rapidamente que o meu Esposo, Jesus abandonado, é o Limite: é como se mais longe não pudesse ir.
Eu soube que as pessoas do nosso Movimento, vítimas do terremoto, viveram a experiência de que "tudo desmorona." Jesus abandonado é o "tudo desmorona"; Ele teve até mesmo a sensação de que a sua união com o Pai desmoronasse.
Eu devo caminhar contra a corrente. Jesus abandonado não foi aquele que enfrentou a corrente mais esmagadora quando, sentindo-se abandonado por Deus, se abandonou a Ele?
Devo perder tudo. Não foi Jesus abandonado quem também perdeu - por assim dizer - Deus por Deus?
Antes de morrer, gostaria de escrever todos os seus nomes para que, aqueles que me seguirem, encontrem Nele a vida e a ressurreição.»1
1Cf Diário do dia 18 de dezembro de 1980.
06 agosto 2017
O coração arde quando Jesus está entre nós
Caminhar com o Ressuscitado. É a experiência dos discípulos de Emaús, a mesma que Chiara Lubich evoca neste trecho publicado nos anos 60, pouco depois de uma viagem à Terra Santa. A presença viva e ativa de Jesus entre os seus discípulos, sempre se repete entre aqueles que estão reunidos em seu nome. É a descoberta que este texto nos convida a fazer ainda hoje, especialmente na preparação para a Páscoa.
(...) Alguns anos atrás, fomos à Terra Santa e realmente vivemos uma experiência única. Tivemos a graça de experimentar, em vários lugares, emoções particularmente profundas. Uma dessas foi exatamente em Emaús. Fomos até lá numa tarde ensolarada; havia um por do sol dourado e, ao aproximar-nos daquele lugar santo, quando descemos do carro para caminhar ao longo do mesmo caminho que provavelmente Jesus percorreu, nos lembramos daquilo que muitos anos antes ali acontecera.
Jesus havia morrido há três dias e no terceiro dia tinha ressuscitado. Dois discípulos, deixando Jerusalém, iam para Emaús, uma aldeia que dista cerca de 12 km da cidade.
Enquanto conversavam, viram chegar e aproximar-se deles um homem: "De que estais falando pelo caminho? - perguntou-lhes. E eles responderam: "És tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que aconteceu nestes dias? ... A tudo aquilo que diz respeito a Jesus, o Nazareno, que foi profeta poderoso em obras e palavras ..." E Jesus: "Estultos e obtusos de coração... Não era necessário que o Cristo suportasse estes sofrimentos...?". E explicou-lhes as Escrituras. Ao chegarem a Emaús, Jesus fez menção de seguir adiante. Os outros, porém, insistiram: "Fica conosco, pois já é tarde". Jesus entrou e, ao partir o pão, o reconheceram; mas ele desapareceu. Disseram então um ao outro: "Não sentias abrasar-se o coração enquanto ele estava conosco?»1
Talvez nada melhor do que estas palavras explique a experiência de viver com Jesus em nosso meio, feita por nós, focolarinas, desde o início. Jesus é sempre Jesus e quando está presente – ainda que só espiritualmente – explica as Escrituras e faz arder no peito a sua caridade: a vida. Faz-nos dizer com infinita saudade, depois de tê-lo conhecido: «Fica conosco, Senhor, pois já é tarde»2; sem Ti é noite negra.(...)
(De Todos Um in Escritos Espirituais/3)
1Cf. Lc 24, 15-32.
2 Cf. Lc 24, 29.
A unidade nos albores dos Focolares
28 de março de 1982
Nesta palestra, feita em Amsterdã no dia 28 de março de 1982, Chiara Lubich aprofunda um ponto fundamental da sua espiritualidade: a unidade, efeito visível e testemunho vivo do amor recíproco, inseparavelmente ligada à presença do Ressuscitado na comunidade.
«O que é a unidade? Ah, é algo maravilhoso! Porque a unidade, aquela que Jesus pensa, quando diz: “amai-vos...” a ponto de morrer, também prontos a morrer um pelo outro, aquela unidade em virtude da qual Jesus diz: “Onde dois ou três estão reunidos, eu estou ali”, não é uma mistura de pessoas, não é um grupo de pessoas, Jesus está ali e este é o fato. A unidade manifesta, traz Jesus. Eu me lembro, encontrei algumas cartas dos primeiros tempos do Movimento, quando começávamos a viver assim e a experimentar a presença de Cristo entre nós. Era incrível! Porque nós nunca tínhamos experimentado isso antes; o nosso cristianismo era muito individual.
Vejam o que estava escrito ali, por exemplo:«
“Oh, a unidade, a unidade, que divina beleza! Quem terá a ousadia de falar dela? É inefável! Nós a sentimos, a vemos, regozijamo-nos com ela, mas é inefável. Todos se alegram com a sua presença, todos sofrem com a sua ausência. É paz, gáudio, amor, ardor, clima de heroísmo e de suma generosidade. É Jesus entre nós!”
Como se explica esta realidade?
Vejam, Jesus ressuscitado disse uma frase fabulosa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”. (cf Mt 28, 20). Ele disse que estará conosco todos os dias Mas onde está? Certamente, na Igreja, porque a Igreja é o corpo de Cristo; e de maneira especial com aqueles que anunciam o Evangelho, porque Jesus lhes disse; nós sabemos que Jesus, por exemplo, está especialmente presente na Eucaristia, está ali; Jesus está na sua Igreja e também na sua Palavra, por exemplo, as palavras de Jesus não são como as nossas, são uma presença de Jesus e nós, nutrindo-nos delas, nos nutrimos de Jesus. Jesus está com os sucessores dos Apóstolos, com os bispos. Está neles, fala através deles; Jesus está nos pobres por exemplo. Disse que está nos pobres, onde ele se esconde. Está em todos aqueles que sofrem. Mas Jesus disse também: “Onde dois ou três estão reunidos”, na comunidade, ele também está ali.
Eu percebi que o mundo hoje, que não acredita ou que acredita num modo diferente, é muito sensível a esta presença de Jesus. “Nisso conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes” (Jo 13,35). É uma forma importante para testemunhar Cristo hoje, porque, vejam, o que faz a unidade? Foi o que disse Paulo VI numa paróquia de Roma. A unidade gera Cristo no nosso meio. A unidade o exprime, o manifesta, o revela. Jesus não é uma realidade de vinte séculos atrás. Está na sua Igreja agora e repete para nós as suas palavras. Jesus é atual e a unidade é muito bonita por isso, pois o mostra. Tanto que Jesus disse: “Que sejam um para que o mundo creia”.
É assim. Por isso, o Movimento tentou, em todos esses anos, conservar viva esta presença de Jesus, do Ressuscitado entre nós. E nós atribuímos à sua presença esta difusão universal do Movimento. Foi ele que abriu caminho, que testemunhou o cristianismo.
Então, o que devemos fazer, que conclusão tirar desse dia?
Nestes dias eu tive a oportunidade de ter contato com muitos holandeses e admirei uma coisa que não encontro em outras nações: no coração desses holandeses vejo o amor que sentem pela Holanda e um grande amor pela sua Igreja. Então, o que faremos? É preciso que este amor se torne concreto. Vamos colocar a presença de Jesus ressuscitado nas nossas famílias, nas paróquias, em toda a parte, vivendo o amor recíproco, que era o segredo dos primeiros cristãos. E se o Ressuscitado está presente, qual é a consequência? Uma nova primavera e tudo ressurge. É o que desejo para vocês.
E quais serão os frutos desta presença de Jesus? Os mesmos que nós constatamos quando começamos o Movimento: uma grande alegria, paz, os frutos do Espírito. Os meus votos são estes: sair daqui tendo em seus corações um único desejo: “eu farei de tudo para que o Ressuscitado esteja no nosso meio!»
05 agosto 2017
Jesus Abandonado expressão culminante da misericórdia do Pai
É Jesus Cristo quem revela o verdadeiro rosto de Deus (cf. MV 1), quem é para todos nós imagem do Pai, sua expressão, seu esplendor, sua beleza, beleza do seu amor (cf. Jo 14,8-9). Mas até que ponto chegou Jesus a nos amar? Até morrer por nós. De fato, a cruz é o modo mais profundo de a Divindade se debruçar sobre a humanidade (cf. DM 8). No cumprimento do mistério pascal, Jesus vence a dor, o pecado, a morte, e transforma tudo em misericórdia (cf. Rm 5,20) Deus se fez homem para amar – afirma Chiara Lubich – não só com o Amor, mas também com a Dor: assumiu sobre Si “todas as dores do mundo, todas as faltas de unidade do universo e as fez: Amor, Deus!” Ele, cobrindo-Se dos nossos pecados, traduz a dor em amor, traduz a miséria em Misericórdia”. Numa cartinha datada de 1945, Chiara confidencia: “Também eu caio com frequência e sempre. Mas quando levanto o olhar para Ele, e o vejo incapaz de vingar-se, porque está pregado na Cruz por um excesso de Amor, eu me deixo acariciar pela sua Infinita Misericórdia e sei que só ela deve triunfar em mim. Para que serviria ser Ele infinitamente misericordioso? Para quê? Se não fosse pelos nossos pecados?” E num impulso vital, que revela a sua escolha original e a sua consagração a Deus no seu abandono, Chiara exclama: “Quisera testemunhar ao mundo que Jesus Abandonado preencheu todo vazio, iluminou toda treva, acompanhou toda solidão, anulou toda dor, cancelou todo pecado”.
04 agosto 2017
Recordando Fátima
Rome, 1958
Era o mês de setembro de 1955, quando uma oportunidade verdadeiramente excepcional nos possibilitou conhecer a Irmã Lúcia de Fátima, a menina, já adulta, que viu Nossa Senhora.
Viajamos de avião voando sobre a Itália, a França, a Espanha, que admiramos durante a noite, como uma joia colocada em uma veste escura, a bela Madri, multicor.
Finalmente, tarde da noite, aterrissamos em Lisboa.
Na manhã seguinte, nos apresentamos ao Arcebispo para as necessárias autorizações e, em seguida, à Nunciatura e, em um dia ensolarado, com um céu límpido, um grande carro preto nos levou em poucas horas para Coimbra. Lembramos pouco dessa viagem tão amada, entre os dias 8 de setembro, nascimento de Maria, e 12, dia em que se comemora o nome de Maria. Talvez porque o coração estava sempre lá na Cova da Iria, onde Nossa Senhora deu a sua mensagem para o mundo, ou ao lado do túmulo de Francisco e Jacinta, que está subindo à honra dos altares, ou mais ainda perto de Irmã Lúcia, que realmente encontraríamos.
“Desta vez - dissemos - temos a alegria de visitar um instrumento de que Deus se serviu. Embora as revelações de Fátima não sejam de fé, neste caso não há dúvida. Roma confirmou as aparições e as palavras de três crianças suscitaram na Igreja uma riqueza maravilhosa, uma novíssima devoção. E até mesmo o Papa Pio XII consagrou o mundo e a Rússia ao Coração Imaculado de Maria”.
Em Coimbra, fomos ao convento onde a Irmã Lúcia vive em clausura.
Fomos levados para uma sala de estar. Um padre nos alertou para não fazer perguntas à freira, porque era obrigada a não responder.
Abriu-se uma cortina além do outro lado da grade e, finalmente, apareceram duas freiras: a superiora e Irmã Lúcia.
De baixa estatura, com um rosto arredondado, olhos grandes negros, uma fisionomia espanhola, lembrava um pouco a pequena Lúcia do filme americano “Nossa Senhora de Fátima”.
Sorria de modo bondoso, sem nenhuma ostentação, com a simplicidade de uma criança. Para removê-la do embaraço de seu silêncio, começamos a falar.
Falamos sobre o nosso desejo de difundir o espírito cristão da unidade, reavivando a mútua caridade entre os homens, solução maravilhosa aos muitos problemas que afligem a sociedade e os indivíduos.
Descrevemos os efeitos positivos nas almas, pela atualidade deste espírito baseado no testamento de Jesus, “que todos sejam um”, que atrai pequenos e grandes, sábios e entendidos e ignorantes, ricos e pobres. Irmã Lúcia ouviu com atenção e interesse, especialmente em determinados momentos. No final da entrevista, nos cumprimentou como uma irmã mais nova, prometeu rezar por nós, pelo nosso trabalho, e nos acompanhou com o olhar até desaparecermos.
E este encontro está vivo ainda hoje como naquele dia. Ela não podia falar, mas não foi capaz de conter o seu interesse pela nossa história. Não sabemos o que ela pensava quando nos ouvia de modo especial. Só sabemos que em Fátima, Nossa Senhora quis a consagração ao seu Coração Imaculado que um dia, conhecido somente por Deus, finalmente triunfará.
(da: Pensieri, Città Nuova, Roma 1961, pp.111-113)
03 agosto 2017
Quero-te bem
Quero-te bem,
não porque aprendi a falar-te assim,
não porque o coração
me sugere essa palavra,
não tanto porque a fé
me faz crer que és amor,
tampouco somente porque
morreste por mim.
Quero-te bem
porque entraste em minha vida
mais do que o ar em meus pulmões,
mais do que o sangue em minhas veias.
Entraste onde ninguém podia entrar,
quando ninguém me podia ajudar,
toda vez que ninguém
me podia consolar.
Todo dia te falei.
Toda hora te olhei
e em teu semblante
li a resposta,
em tuas palavras, a explicação,
em teu amor, a solução.
Quero-te bem
porque por tantos anos
viveste comigo
e eu vivi de ti.
Bebi em tua lei
e não me apercebera.
Dela me nutri,
me fortalei,
me restabeleci,
mas era ignara
como a criança que bebe da mãe
e nem sabe ainda chamá-la
com esse doce nome.
Dá que eu te seja grata
— ao menos um pouco —
no tempo que me resta,
por este amor
que derramaste sobre mim,
e me obrigou a dizer-te:
Quero-te bem.
02 agosto 2017
Foi assim que te encontrei
Roma, 1957
Neste escrito de 1957, Chiara Lubich nos concede o dom de uma “pérola preciosa”. Ela nos revela o porquê de uma vida, concentrada numa palavra só com infinitas tonalidades: “amor”.
Senhor, quando se fala em amor, talvez os homens pensem numa coisa sempre igual.
No entanto, quão vário é o amor!
Lembro-me de que, ao te encontrar, não tinha a preocupação de te amar. Talvez porque eras Tu que me havias encontrado, e Tu mesmo cuidavas de cumular o meu coração. Lembro-me de que, às vezes, eu era uma chama só, embora o fardo de minha humanidade me incomodasse, e eu tivesse a impressão de arrastar um peso. Então, já desde então, por graça tua, compreendia um pouco quem eu era e quem eras Tu, e eu via aquela chama como um presente teu.
Depois me apontaste um caminho para te encontrar. E me dizias: “Sob a cruz, por trás de cada cruz, aí estou Eu. Abraça-a e me encontrarás”.
Disseste-me isso tantas vezes, e não me lembro das argumentações que alegavas. Só sei que me convenceste.
Então, com a chegada inesperada de cada dor, eu pensava em ti, e te dizia o meu sim com a vontade… Mas a cruz permanecia: a escuridão que angustiava a alma, o suplício que a dilacerava ou outras coisas… tantas quantas são as cruzes da vida!
Mais tarde, porém, Tu me ensinaste a te amar no próximo e, então, ao encontrar a dor, não me detinha nela, mas, tendo-a aceitado, dava atenção a quem estava ao meu lado, esquecida de mim. E após alguns instantes, voltando a mim, constatava que minha dor desvanecera.
Foi assim por anos e anos, uma ginástica contínua da cruz, ascese do amor. Tantas provações vieram, Tu bem sabes. Tu, que contas os cabelos da minha cabeça, as catalogaste em teu coração.
Agora o amor é outro: não é só vontade.
Eu sabia que Deus é Amor, mas não o imaginava assim.
Ideal e Luz, Editoras Cidade Nova e Brasiliense, São Paulo 2003, p. 96-97