Existe um escrito muito antigo num dos nossos livros de espiritualidade que
explica também o conceito que no Movimento se tem da velhice.
Mas, aos olhos de Deus, o que será mais bonito? A criança que te fita com
olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida natureza e tão vivos, ou a
jovem que resplandece como o viço de uma flor recém-desabrochada, ou o
ancião (...) quase inapto a tudo, talvez tão-somente à espera da morte? O grã
o de trigo, tênue mais do que um fio de erva, agarrado aos grãos irmãos que
compõem a espiga, à espera de amadurecer e de desvíncular-se, só e
independente (...), é belo e cheio de esperança!
Mas é igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros por ser
melhor, para, enterrado, dar vida a outras espigas. (..) É belo, é o eleito para
as futuras gerações das messes. Mas, quando enterrado, emurchecendo,
reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre
apodrecendo, para dar vida a uma pIantinha, diferente dele. mas que a ele
deve a vida, talvez seja ainda mais belo.
Belezas diversas. Contudo, uma mais bela do que a outra.
E a última, a mais bela.
Deus verá assim as coisas?
Aquelas rugas que sulcam a fronte da velhinha; aquele caminhar recurvo e
tremulante, aquelas palavras curtas, densas de experiência e sabedoria;
aquele olhar doce de menina e mulher ao mesmo tempo, porém mais
bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não conhecemos. (...)
Penso que Deus veja assim as coisas, e que o avizinhar-se do Céu seja de
longe mais atraente do que as várias etapas do longo caminho da vida que,
no fundo, só serve para abrir aquela porta.
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