31 março 2016

A velhice

Existe um escrito muito antigo num dos nossos livros de espiritualidade que 
explica também o conceito que no Movimento se tem da velhice. 
Mas, aos olhos de Deus, o que será mais bonito? A criança que te fita com  
olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida natureza e tão vivos, ou a 
jovem que resplandece como o viço de uma flor recém-desabrochada, ou o 
ancião (...) quase inapto a tudo, talvez tão-somente à espera da morte? O grã
o de trigo, tênue mais do que um fio de erva, agarrado aos grãos irmãos que 
compõem a espiga, à espera de amadurecer e de desvíncular-se, só e 
independente (...), é belo e cheio de esperança!  
Mas é igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros por ser 
melhor, para, enterrado, dar vida a outras espigas. (..) É belo, é o eleito para 
as futuras gerações das messes. Mas, quando enterrado, emurchecendo,  
reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre 
apodrecendo, para dar vida a uma pIantinha, diferente dele. mas que a ele 
deve a vida, talvez seja ainda mais belo. 
Belezas diversas. Contudo, uma mais bela do que a outra. 
E a última, a mais bela. 
Deus verá assim as coisas? 
Aquelas rugas que sulcam a fronte da velhinha; aquele caminhar recurvo e 
tremulante, aquelas palavras curtas, densas de experiência e sabedoria; 
aquele olhar doce de menina e mulher ao mesmo tempo, porém mais 
bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não conhecemos. (...) 
Penso que Deus veja assim as coisas, e que o avizinhar-se do Céu seja de 
longe mais atraente do que as várias etapas do longo caminho da vida que, 
no fundo, só serve para abrir aquela porta.


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