09 setembro 2023

Meditação e experiências

Evangelho vivo: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque obterão misericórdia” (Mt 5,7)


O misericordioso é aquele que é capaz de perdoar aos outros e muitas vezes a si mesmo também. Entretanto, a misericórdia não é apenas uma disposição interior, mas é o caminho que nos une a Deus. Seu imenso amor por nós não é um sentimento, mas uma ação; o ato pelo qual cada um de nós ‘renasce’.

Viver em paz

Não era a primeira vez que eu tinha notado sinais de que alguém havia mexido em minhas terras. Eu nunca tinha tido inimigos e meu pai tinha me ensinado a construir boas relações, mas desta vez eu queria ver as coisas com clareza. Pedi ajuda a Nossa Senhora e uma noite entrei no pomar com outro agricultor. Como eu havia suposto, a uma certa hora vi meu vizinho chegar com dois filhos, armado com caixas de frutas. O plano era fotografá-los em flagrante: perplexos com os flashes, os três saíram imediatamente, deixando a fruta colhida no chão. No dia seguinte, à noite, a esposa do vizinho pediu a minha esposa o favor de destruir as fotos e não apresentar queixa contra seu marido. Como combinado, minha esposa respondeu: ‘Não sei de que fotos você está falando, meu marido está fora há dois dias’. A partir daquele dia, as coisas mudaram: uma gentileza incomum e prontidão para ajudar na colheita… Durante uma pausa no dia, o vizinho admitiu que tinha vindo para pegar algumas maçãs “para provar” e tinha visto flashes. Eu respondi: “Há algum tempo vêm acontecendo coisas estranhas na aldeia. Mas o importante para nós é viver em paz”. (V.S.E. – Itália)

Uma verdadeira mudança

Com a aposentadoria, refiz minha vida: um fracasso total! Não sou casada por causa da oposição de meus pais à minha escolha de um bom rapaz, mas que não era da nossa mesma “posição”. Com meus irmãos e irmãs, as relações quase foram canceladas por causa da herança injustamente dividida, de acordo com eles. Posso me considerar rica, mas criei um grande vazio dentro de mim e ao meu redor! Um dia, eu estava hospitalizada, quando uma sobrinha, que tinha vindo me visitar, proferiu uma frase que não me deixou em paz: “Tia, seu problema é que você está possuída pelo mal. Cada sinal de bondade desapareceu em você”. Quando recebi alta, procurei um padre para confiar o que me estava angustiando. Depois de me ouvir, pareceu-lhe que de alguma forma eu queria me vingar da vida, da família, de todos, e ele me incitou a pensar mais nos outros: celebrar os aniversários dos parentes com presentes, pedir notícias aos vizinhos, escrever aos ex-alunos… pequenos gestos, mas eram passos em direção à luz. Quando me sinto desesperada, ponho em prática essa sugestão. É difícil, mas eu sinto que algo está mudando. (G.I. – Espanha)

Amigas na doença

Durante o período em que minha mãe esteve no hospital, eu conheci sua colega de quarto, Klari. Mesmo estágio do câncer, mesmo ritmo de quimioterapia. Elas tinham se tornado amigas, mas algo as dividia: como uma jovem mulher, Klari tinha sido uma ativista comunista e não aceitava a fé católica professada por minha mãe. Eles não discutiam e sentia-se que nenhuma das duas abandonaram suas crenças. Entretanto, minha mãe estava sempre disponível para ajudar a Klari, que não tinha parentes, e nos envolveu na família para suas necessidades: pequenas necessidades, alguma papelada para fazer, telefonar para os amigos. Quando a condição de saúde em ambas piorou, notei uma aceitação diferente da doença: em minha mãe, que estava sempre atenta à amiga, uma grande paz brilhava; Klari, por outro lado, era impaciente e agressiva. Mas antes de entrar em coma, ela agradeceu a minha mãe pela maneira como havia estado ao seu lado. Assim, ela tornou-se realmente uma pessoa de nossa família. (P.F.H. – Alemanha)

Por Maria Grazia Berretta
(extraído de O Evangelho do Dia, Città Nuova, ano VIII, nº.2, novembro-dezembro de 2022)

22 Novembro 2022
O misericordioso é aquele que é capaz de perdoar aos outros e muitas vezes a si mesmo também. Entretanto, a misericórdia não é apenas uma disposição interior, mas é o caminho que nos une a Deus. Seu imenso amor por nós não é um sentimento, mas uma ação; o ato pelo qual cada um de nós ‘renasce’.

Viver em paz

Não era a primeira vez que eu tinha notado sinais de que alguém havia mexido em minhas terras. Eu nunca tinha tido inimigos e meu pai tinha me ensinado a construir boas relações, mas desta vez eu queria ver as coisas com clareza. Pedi ajuda a Nossa Senhora e uma noite entrei no pomar com outro agricultor. Como eu havia suposto, a uma certa hora vi meu vizinho chegar com dois filhos, armado com caixas de frutas. O plano era fotografá-los em flagrante: perplexos com os flashes, os três saíram imediatamente, deixando a fruta colhida no chão. No dia seguinte, à noite, a esposa do vizinho pediu a minha esposa o favor de destruir as fotos e não apresentar queixa contra seu marido. Como combinado, minha esposa respondeu: ‘Não sei de que fotos você está falando, meu marido está fora há dois dias’. A partir daquele dia, as coisas mudaram: uma gentileza incomum e prontidão para ajudar na colheita… Durante uma pausa no dia, o vizinho admitiu que tinha vindo para pegar algumas maçãs “para provar” e tinha visto flashes. Eu respondi: “Há algum tempo vêm acontecendo coisas estranhas na aldeia. Mas o importante para nós é viver em paz”. (V.S.E. – Itália)

Uma verdadeira mudança

Com a aposentadoria, refiz minha vida: um fracasso total! Não sou casada por causa da oposição de meus pais à minha escolha de um bom rapaz, mas que não era da nossa mesma “posição”. Com meus irmãos e irmãs, as relações quase foram canceladas por causa da herança injustamente dividida, de acordo com eles. Posso me considerar rica, mas criei um grande vazio dentro de mim e ao meu redor! Um dia, eu estava hospitalizada, quando uma sobrinha, que tinha vindo me visitar, proferiu uma frase que não me deixou em paz: “Tia, seu problema é que você está possuída pelo mal. Cada sinal de bondade desapareceu em você”. Quando recebi alta, procurei um padre para confiar o que me estava angustiando. Depois de me ouvir, pareceu-lhe que de alguma forma eu queria me vingar da vida, da família, de todos, e ele me incitou a pensar mais nos outros: celebrar os aniversários dos parentes com presentes, pedir notícias aos vizinhos, escrever aos ex-alunos… pequenos gestos, mas eram passos em direção à luz. Quando me sinto desesperada, ponho em prática essa sugestão. É difícil, mas eu sinto que algo está mudando. (G.I. – Espanha)

Amigas na doença

Durante o período em que minha mãe esteve no hospital, eu conheci sua colega de quarto, Klari. Mesmo estágio do câncer, mesmo ritmo de quimioterapia. Elas tinham se tornado amigas, mas algo as dividia: como uma jovem mulher, Klari tinha sido uma ativista comunista e não aceitava a fé católica professada por minha mãe. Eles não discutiam e sentia-se que nenhuma das duas abandonaram suas crenças. Entretanto, minha mãe estava sempre disponível para ajudar a Klari, que não tinha parentes, e nos envolveu na família para suas necessidades: pequenas necessidades, alguma papelada para fazer, telefonar para os amigos. Quando a condição de saúde em ambas piorou, notei uma aceitação diferente da doença: em minha mãe, que estava sempre atenta à amiga, uma grande paz brilhava; Klari, por outro lado, era impaciente e agressiva. Mas antes de entrar em coma, ela agradeceu a minha mãe pela maneira como havia estado ao seu lado. Assim, ela tornou-se realmente uma pessoa de nossa família. (P.F.H. – Alemanha)

Por Maria Grazia Berretta
(extraído de O Evangelho do Dia, Città Nuova, ano VIII, nº.2, novembro-dezembro de 2022)

22 Novembro 2022



Nós temos que Lembrar sempre as pessoas que construíram a Obra de Maria aqui no Brasil.



Uma vida de fidelidade


Darci Rodrigues é o exemplo de alguém que, de forma ‘mariana’, pôde passar sua vida em prol da causa da unidade.

Desde o primeiro momento em que Darci Rodrigues, uma focolarina brasileira, faleceu em 10 de fevereiro, e nas horas que se seguiram ao seu funeral, as redes sociais foram inundadas de expressões de gratidão. Ela era uma figura conhecida tanto no Brasil quanto no exterior pelos muitos cargos que ocupou no Movimento dos Focolares, o que lhe permitiu cultivar um número infinito de relações.

“Uma vida tão ocupada e exigente como a dela nunca a impediu de manter uma normalidade saudável e – de acordo com muitos – uma grande profundidade espiritual.” Saad Zogheib Sobrinho, focolarino brasileiro, escreveu sobre ela. Um comentário que parece resumir os pensamentos de muitas pessoas que com ela viveram.

Darci conheceu o carisma de Chiara Lubich quando ela ainda era muito jovem, em 1963, durante uma “Mariápolis”, reunião que durou vários dias na cidade de Garanhuns, no estado de Pernambuco.

“Foi uma experiência muito forte, fiquei fascinada, especialmente porque vi o Evangelho vivido”, disse Darci, relatando seu primeiro contato com os Focolares.

Naquela época, ela era estudante de História na Universidade do Recife, “um ambiente impregnado de idéias marxistas e de fortes críticas à Igreja”, conta. Por isso, seu encontro com Deus e sua adesão ao carisma da Unidade foram tão intensos que ela decidiu se consagrar e se tornar uma focolarina.

Após esta decisão, Darci deixou seu noivo, a família e os estudos para frequentar a escola de formação de focolarinos na Itália de 1964 a 1966. No seu retorno ao Brasil, ela começou a trabalhar intensamente a serviço dos Focolares.

De Belo Horizonte, ela se mudou para a periferia do que hoje é Vargem Grande Paulista, perto de São Paulo, para contribuir na fundação da Mariápolis Araceli (hoje Mariápolis Ginetta), um dos três centros do Movimento dos Focolares no Brasil. De lá foi para São Paulo, onde trabalhou por 20 anos à frente do Movimento na região, que naquela época incluía vários estados brasileiros no sudeste e centro-oeste do país.

Em 2002, foi eleita conselheira do Movimento para o Brasil. Mais tarde, após a morte da fundadora, Chiara Lubich, em 2008, foi reeleita conselheira e nomeada pela então presidente dos Focolares, Maria Voce, como delegada central, com um papel importante na governança do Movimento em nível internacional.

“Às vezes eu tinha que lidar com questões difíceis, mas sempre senti muita paz nesses momentos e uma ajuda especial do Espírito Santo. Muitas vezes eu tinha uma idéia já preparada, mas a certa altura Jesus me fez entender, através de alguém, que ele queria algo mais, talvez o oposto do que eu pensava. Era importante para mim confiar na presença de Jesus entre nós, não apenas no meu próprio bom senso”, diz ela.

Em maio de 2012, ela foi diagnosticada com uma doença pulmonar grave. “Depois de alguns exames”, conta, “o diagnóstico foi muito sério: o médico me disse que eu tinha que me armar com muita coragem para lutar e perseverar. Dentro de mim tinha a forte convicção de que nada acontece por acaso e que Deus tem um plano amoroso para cada um de nós”.

O tratamento teve um resultado surpreendente, para o espanto dos médicos. Deste período de tratamento, sua secretária na época, Gloria Campagnaro, diz: “A vida continuou com a solenidade e a paz de sempre, entre terapias, caminhadas recomendadas pelo médico e trabalho para o Movimento, com horas reduzidas; uma vida que trouxe fecundidade e unidade”.

Em maio de 2020, a doença retornou repentinamente. Novas hospitalizações chegaram, até que, num estado de saúde irreversível, Darci viveu seus últimos momentos cercada pelo afeto e orações de toda a comunidade do Movimento dos Focolares. Em um vídeo gravado durante este período, antes do Natal, ela reafirmou a convicção que a guiou ao longo de sua vida: “Temos Jesus em nosso meio”.

“Ela deixa uma lição exemplar de como viver plenamente um ideal de unidade e fraternidade que a humanidade tanto precisa”, disse Luiza Erundina, deputada Federal, ao saber de sua morte. Nas muitas expressões de gratidão pelo dom da vida da Darci, há referências comuns à serenidade e à alegria acolhedora que ela transmitiu a todos ao longo de sua vida, onde quer que ela estivesse. Em uma única palavra, uma presença mariana.

Luís Henrique Marques
Chefe de redação da revista Cidade Nova