24 dezembro 2021

O que significa o Natal pra você

Em um artigo do dia 25 de dezembro de 1973, publicado na edição italiana da revista Cidade Nova, o jornalista Spartaco Lucarini pergunta a catorze personagens dos mais variados ambientes: O que significa o Natal para você? Eis a resposta de Chiara Lubich

O Natal – festa do nascimento de Jesus – é, para mim, a resposta de Deus e da Igreja a uma necessidade do coração: ouvir repetir todos os anos, mediante a recordação daquele acontecimento suavíssimo, simples e abissal, que Deus me ama.
Sim, se posso realizar na minha existência as aspirações mais profundas é somente porque Deus olhou também para mim, como para todos, e fez-se homem para me dar as leis da vida que, como luz no caminho, me fazem prosseguir com segurança em direção ao destino comum.

Mas o Natal, para mim, não é só uma festividade, embora cheia de significado. É um estímulo a trabalhar para pôr de novo na sociedade em que vivo a presença de Cristo, que está onde estiverem dois ou mais reunidos no Seu nome: quase Natal espiritual todos os dias, nas casas, nas fábricas, nas escolas, nas repartições públicas…

Este dia natalício, além disso, abre-me o coração sobre toda a humanidade. O seu calor ultrapassa o mundo cristão e parece penetrar em cada ângulo da terra, sinal de que aquele Menino veio para todos. De fato, é este o seu programa: que todos sejam um.

E depois, em cada Natal pergunto-me: quantos Natais terei ainda na vida? Esta interrogação, que não tem resposta, ajuda-me a viver cada ano come se fosse o último, numa espera mais consciente do meu dia de Natal: o “dies natalis”, isto é, o dia que assinalará para mim o início da vida que não tem fim.

Chiara Lubich

08 dezembro 2021

Escolher Deus significa escolher Jesus Abandonado

Rocca di Papa, 23 de dezembro de 1983
Jesus se revelou a Chiara como crucificado e abandonado: neste texto ela descreve a origem desta inspiração tão vital para ela e para a sua Obra

(…)
De fato, se nós – estimuladas por um legítimo desejo de saber como as coisas se passaram – mas também pelo conselho da Igreja que, para salvaguardar a genuína pureza das inspirações, convida famílias religiosas e movimentos a voltarem aos tempos em que o Espírito Santo os suscitou; veremos que, ainda antes de termos as primeiras ideias sobre a técnica da unidade e aprendermos a realizar a unidade, nos foi proposto um modelo, uma imagem, uma vida: a vida daquele que verdadeiramente soube “fazer-se um” com todos os homens que existiram, que existem e que existirão; aquele que realizou a unidade, pagando-a com a cruz, com o sangue e com o seu grito; aquele que proporcionou à Igreja a sua presença, como Ressuscitado, todos os dias, até o fim do mundo. Este modelo é Jesus crucificado e abandonado.

Esta realidade de Jesus Abandonado e a sua compreensão precederam, também no tempo, toda e qualquer consideração. De fato, se nós consideramos – e com razão – o dia 7 de dezembro de 1943 (data da minha consagração a Deus) como sendo o início da nossa história, devemos lembrar que no dia 24 de janeiro de 1944 Jesus Abandonado já se havia apresentado à nossa mente e ao nosso coração.
Mas vamos seguir a ordem dos acontecimentos.
Conforme fizemos, ao falar da “unidade”, também no caso de Jesus Abandonado, das primeiras ideias que tivemos sobre Ele, vamos relembrar episódios e circunstâncias e ler breves anotações que se conservaram. São acontecimentos, pensamentos já conhecidos, mas que é necessário rever também hoje para se fazer uma análise mais completa deste assunto.
Um primeiro acontecimento em que Jesus Abandonado se nos revelou, se deu na casa de Dori. Deixemos que ela mesma nos relate o fato:
«Fazíamos visitas aos pobres e, através deles, provavelmente, eu contraí uma infecção no rosto, que se encheu de feridas e os remédios não conseguiam deter a doença. Com o rosto cuidadosamente protegido, continuava a ir à missa e, aos sábados, às reuniões…
Fazia frio e era prejudicial sair naquele estado. Visto que os meus familiares me proibiam de sair, Chiara pediu a um padre Capuchinho que me trouxesse a Comunhão. Enquanto fazia a minha ação de graças, aquele o sacerdote perguntou a Chiara qual era, a seu ver, o momento em que Jesus mais sofrera durante a sua paixão. Ela respondeu ter sempre ouvido dizer que era a dor que sofreu no Horto das Oliveiras. Mas o sacerdote comentou: ‘Eu acho que foi no momento em que, pregado na cruz, Ele gritou: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’”1.
Logo que o padre saiu, tendo eu ouvido o comentário de Chiara, dirigi-me a ela, na certeza de que receberia uma explicação. Ela me disse: “Se a maior dor de Jesus foi o abandono por parte de seu Pai, nós vamos escolhê-lo como Ideal, nosso modelo, e segui-lo assim”.
Naquele momento – continua Dori – na minha mente, gravou-se a convicção de que o nosso ideal de vida era Jesus, com o rosto dilacerado que grita ao Pai. E as pobres chagas do meu rosto, que agora pareciam como que uma pequena sombra de suas dores, me davam alegria, porque me tornavam um pouco mais semelhante a Ele. Daquele dia em diante Chiara me falou muitas vezes, ou melhor, sempre, de Jesus Abandonado. Era o personagem vivo da nossa existência».

Uma escolha única e radical: “Jesus Abandonado”.

As cartas da época frisam esta atitude:
«Esquece tudo… também as coisas mais sublimes; deixa-te dominar por uma só ideia, por um só Deus, que deve penetrar em todas as fibras do teu ser: Jesus crucificado» (21.7.1945).
Outra: «Conheces a vida dos santos? Era uma só palavra: Jesus crucificado. As chagas de Cristo eram o repouso deles; o sangue de Cristo, o banho salutar de suas almas; o peito transpassado de Cristo, o precioso cofre onde eles depositavam o seu amor. Pede a Jesus crucificado, por amor do seu angustiante grito, a paixão de sua paixão. Ele deve ser tudo para ti» (21.7.1945).
Jesus Abandonado era o único livro em que se queria ler.
«Sim, é verdade, frequento a universidade, mas nenhum livro, por mais belo e profundo que seja, proporciona ao meu espírito tanta força e sobretudo tanto amor como Jesus crucificado…» (07.06.1944).
E ainda:
«Sobretudo, porém, procura instruir-te num único livro: Jesus crucificado – que todos abandonaram – que grita: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Oh!, se aquele divino rosto contraído pelos espasmos, se aqueles olhos avermelhados, mas que te fitam com bondade, esquecendo os pecados meus e teus que o reduziram a esse estado, estivessem sempre diante dos teus olhos» (30.1.1944).

E, nos anos seguintes, de tempos em tempos, se renovava esta escolha radical.
Uma carta de 1948 diz:
«…Esquecer tudo na vida: escritório, trabalho, pessoas, responsabilidades, fome, sede, descanso, até mesmo a própria alma… para possuir somente a Ele: Jesus Abandonado. Eis tudo. Amar como Ele nos amou, a ponto de experimentar por nós até o abandono do seu Pai» (14.08.1948).
Em 1949: «Tenho um só Esposo na terra: Jesus abandonado. Não tenho outro Deus senão Ele».
Só se conhecia a Ele. Não se queria conhecer senão a Ele. O Espírito repetia dentro de nós: «Não conheço senão Cristo e Cristo crucificado». O amor por Ele era exclusivo, não permitia comprometimentos.
A escolha de Deus-Amor, que tinha caracterizado o primeiro passo da nossa nova vida, determinava-se com precisão; escolher Deus significava para nós: escolher Jesus Abandonado.

#ChiaraLubich 

06 dezembro 2021

Entrevista a Chiara de Josè Maria Poirier

Rocca di Papa, 19 de fevereiro de 1998

Jornalista: […] A primeira pergunta toca o tema do diálogo inter-religioso. Diálogo que o Movimento propõe e abriu com pessoas de várias convicções religiosas e tradições. 

Chiara: O fato é este: Jesus, vindo à Terra, redimiu toda a humanidade, todos os homens. Ele constituiu a Igreja. Porém, a sua redenção abraçou todos. Por isso, todos, se tiverem reta intenção, […] teriam a possibilidade de se salvar. Estamos muito conscientes disso. Portanto, nos aproximamos dessas pessoas de outras religiões, sabendo que amanhã poderão ir para o Paraíso e nós, talvez, não.
Portanto, a atitude que temos – e este é o ponto importante para nós -, é aquela de amá-los como Cristo os amou e amá-los sem discriminação alguma, dando-lhes tudo aquilo que o amor nos leva a doar. Justamente porque os amamos, fizemos uma grandíssima descoberta. Quase todas as grandes religiões: o budismo, o hinduísmo, o hebraísmo, o islamismo possuem uma fórmula que é tipicamente cristã, porque é uma frase do Evangelho: “Não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fosse feito a você; faça aos outros o que gostaria que fosse feito a você”. Todos possuem esta frase que é chamada a “regra de ouro”, porque é de todas as escrituras e de todas essas religiões.

Então, o que fazemos? Nós vivemos o nosso amor sobrenatural, que é uma participação do mesmo amor de Deus, da vida trinitária… Eles nos encontram com o amor que possuem, que não é simplesmente, não sei, a não-violência, mas é uma atitude positiva de amor. […] Nestes encontros nós criamos uma fraternidade que não é a unidade em Cristo, como aquela que pode… existir na Igreja ou entre os cristãos, mas é a fraternidade universal instaurada pelo amor. […]

Jornalista: Na sua opinião, por que o carisma da unidade teve toda essa incidência no mundo, em muitos países e em pessoas de diversas condições sociais e culturais?
Chiara: Porque é Deus o Ideal e Ele tem a ver com todos. É pai de todos, de todas as culturas, de todas as religiões, de todas as nações, de todas as vocações, de ambos os sexos.

Jornalista: O que significou para a senhora, na sua vida pessoal, o carisma da unidade?
Chiara: Tenho que dizer assim, pois nasceu há 53 anos. É um caminho. Procurei assimilá-lo cada vez mais, mais, mais, assim como era capaz. Errando, recomeçando, recomeçando, errando, indo em frente, fazendo progressos. Significou o meu caminho para Deus.

Jornalista: Gostaria de perguntar, Chiara, sobre dois temas centrais da espiritualidade do Movimento dos Focolares: Jesus no meio, a presença de Jesus no meio da comunidade, e o mistério de Jesus abandonado, Cristo na cruz. 
Chiara: Jesus no meio é a realização de uma frase do Evangelho onde Jesus diz que, quando duas ou mais pessoas se unem no seu nome, que significa no seu amor. Ele está ali presente. Mas foi dito também de outro modo: “Onde existe a caridade e o amor ali está Deus”, diz um canto do… e esta é a realização. Portanto, é algo grande, isto é, ter entre nós, talvez na família, no escritório, até no parlamento a presença de Cristo entre nós. Ele nos ajuda, Ele nos guia, Ele nos ilumina. 
Jesus abandonado é a expressão da maior dor que Jesus sofreu na Terra, quando no vértice da cruz gritou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Pode-se explicar pelo fato de que Ele se cobriu de todos os pecados do mundo, os quais tinham separado os homens de Deus e entre eles. Ele assumiu toda a separação e por isso gritou: “Meu Deus, por que me abandonaste?” como se Ele fosse a voz da humanidade que está separada de Deus. Encontramos nele a solução para recompor a unidade nas diversas partes do mundo, em todas as situações.

Jornalista: O que a senhora entende dizer por uma espiritualidade coletiva?
Chiara: Entendo dizer que não se vai para Deus sozinho, mas junto com outros. A nossa espiritualidade se baseia no amor e de modo especial também no amor recíproco, que é o mandamento típico de Jesus. Ele disse que é seu, que é novo. Naturalmente, no amor recíproco somos pelo menos dois, porque é preciso… Existe a reciprocidade. Portanto, não é um caminho que percorremos sozinhos, mas um caminho percorrido juntos.

Jornalista: Como almejar, Chiara, a unidade, respeitando as várias culturas?

Chiara: É preciso saber respeitar, mas é o amor que ilumina, que faz compreender o outro, aliás, que faz com que cada um se torne rico do patrimônio do outro. Portanto, é um enriquecimento. Nós dizemos que é preciso se tornar homens mundo, no sentido de contatar todas as pessoas, procurando enriquecer-nos da riqueza do outro e, naturalmente, comunicando também a riqueza que temos dentro de nós, mas não existem obstáculos para quem ama. […]

Jornalista: Em que base se apoia o diálogo entre pessoas de diferentes culturas e diferentes crenças religiosas?
Chiara: Nós temos um diálogo com pessoas de diferentes religiões, inclusive sem fé, porque vemos que, embora não acreditem em Deus, no sobrenatural, acreditam em certos valores. Visto que Jesus é o homem Deus, existe uma parte humana e uma parte divina na única pessoa do Cristo, também todos os valores puramente humanos têm um significado no cristianismo e nós sentimos que, se podemos lhes oferecer o nosso espírito, a nossa espiritualidade, que se concentra ainda numa palavra que é amor, eles podem nos oferecer realmente a experiência de terem vivido, de terem apreciado, de terem trabalhado por muitos valores: a solidariedade, a paz, a unidade, a liberdade, certas vezes, assim.

Jornalista: Gostaria de perguntar à senhora, que é uma personalidade da vida espiritual: qual é o sentido da dor na vida do homem?Chiara: A dor tem um grande sentido, um grande sentido. A cruz é o equilíbrio da humanidade. Se não tivermos a cruz, esvoaçamos como as borboletas que não sabem onde pousar; ao passo que a dor dá sentido à nossa vida. Não só, mas é o caminho direto para ter a união com Deus. Quem sofre, ao se recolher, encontra, em geral, a união com Deus e a união com Deus é a base para poder viver como cristão, para poder viver também como ser humano.

Jornalista: Como almejar, Chiara, a unidade, respeitando as várias culturas?
Chiara: É exatamente o que eu disse antes: é preciso respeitar os outros; é preciso amar os outros. Deixar que o outro seja aquilo que é. Para isso, nós devemos viver o não-ser para conseguirmos entrar neles. Alguém disse que é preciso entrar na pele do outro. Um escritor diz que é preciso entrar na pele do outro para compreender as coisas como ele as compreende. Então… assim existe a unidade, porque nós nos fazemos um com o outro e ele se faz um conosco, mesmo na diversidade… De certo modo, é como entre as Pessoas da Santíssima Trindade que são muito diferentes: o Padre não é o Filho, o Filho não é o Pai, um e outro não são o Espírito Santo, mesmo assim são um, porque todas as Pessoas são amor. […]

Jornalista: A senhora é cristã e católica. Alguma vez e conduzida por Deus, encontrou no diálogo profundo com outras religiões certas riquezas que não conhecia ou todas evocavam algo que já havia na senhora?
Chiara: Não, não, encontrei coisas que não conhecia, mas simplesmente porque às vezes nós pensamos, […] também nos séculos passados, que já descobrimos [todo] o cristianismo. Na verdade, nós o descobrimos só até certo ponto; nos próximos séculos ele será descoberto num nível ainda mais profundo, ainda mais profundo, ainda mais profundo. Certas pessoas, em certas religiões chegaram… simplesmente com a religião delas, mas também com a ajuda do Espírito Santo, chegaram a profundidades, em certos particulares, que nós ainda não atingimos. Um dia descobriremos que são as ‘sementes do Verbo’, isto é, também ali existem princípios da verdade, presenças do Verbo de Deus que nós ainda não descobrimos. Não sei, para dar um exemplo. Estive na Tailândia. Encontrei lá uma tal sabedoria, uma tal ascética, um tal desapego de si mesmos, que é difícil encontrar aqui. Assim.

Jornalista: Obrigado, Chiara.  

05 dezembro 2021

A história dos balõezinhos

Geralmente, no dia da Epifania, as crianças recebem presentes. E quem se lembra do Menino Jesus? Um acontecimento verdadeiro, narrado por Chiara Lubich às crianças da Mariápolis permanente Internacional de Loppiano (Itália). 

(…) Vou lhes contar uma história verdadeira que aconteceu durante o Natal. Em uma cidade chamada Vicenza – é uma história verdadeira – (…) havia um pároco, um sacerdote que tinha chegado há pouco tempo naquela paróquia. Ele ensinou aos meninos e meninas a arte de amar. (…) 

(…) O Natal se aproximava e então o padre disse para essas crianças: “Olhem, o Natal está chegando. Seria bom que vocês fizessem muitos, muitos atos de amor para o Menino Jesus. As crianças responderam: “Está bem!” e começaram a fazer muitos atos de amor. Na véspera do Natal, antes que o Menino Jesus nascesse, o padre deixou a manjedoura vazia porque o Menino Jesus ainda não tinha nascido. Naquela noite, o padre viu os meninos trazerem um pacote grande, grande, deste tamanho, com muitos rolinhos amarelos dentro dele. Eram 277. 277 atos de amor. E o que o padre fez? Pegou todos esses rolinhos, colocou-os dentro de um saco – ele encheu um saco deste tamanho – e o colocou na manjedoura. Ele disse: “Quando o Menino Jesus nascer, os atos de amor de vocês vão servir de colchão e travesseiro para ele”. As crianças ficaram muito felizes! 

Chegou o Natal. Quando estava perto das 10:30, 11:00 horas, o padre disse: “E agora, o que vamos fazer com estes atos de amor? Sabem o que podemos fazer? Vamos amarrá-los como se fossem muitos pacotinhos e prender os pacotinhos em balões. Vamos fazer dois grupos de balões. Um grupo de balões aqui e outro grupo, ali. Amarramos os pacotinhos de atos de amor nos balões e, depois, vamos soltá-los. Eles vão subir para o céu, para Jesus.” Todas as crianças ajudaram. Precisava comprar os balões, amarrar os pacotinhos nos balões e depois soltá-los. O padre ajudou-os e soltaram esses balões, que voaram para o céu. As crianças estavam contentes. Ficaram olhando, olhando, e os balões iam ficando cada vez menores, cada vez menores até que desapareceram. Pensaram: “Será que estouraram?” Um deles disse: “Talvez!” Ao invés, não. Subiram bem alto, bem alto e chegou o vento. O que o vento fez? Jogou os balõezinhos pra lá, pra cá, depois para frente, para trás, pra cá e pra lá. Durante uma hora, duas, três, quatro, cinco horas, o vento, soprando, levou os balões sempre mais para cima. Seis, sete, oito, nove horas. Às nove da noite – vocês devem saber que o padre colocou, junto com os atos de amor, o seu número de telefone -, em outra cidade, chamada Reggio Emilia, que fica a 200 Km da outra cidade (200 Km é muito longe, é como daqui a Roma), nesta cidade chamada Reggio Emilia, havia uma casa rodeada por um lindo jardim. Neste jardim, estavam seis crianças que não conheciam a arte de amar. Eram seis crianças como as outras, que estavam brincando do lado de fora, no jardim. Elas estavam tristes.

Naquele local tinha tido uma festa das bruxas e elas não tinham gostado. Por isso estavam muito tristes. A um certo momento, mesmo sendo de noite, levantaram os olhos e viram cair no chão os balõezinhos junto com os pacotes. Quando essas crianças viram cair do céu esses pacotinhos, fizeram uma grande festa! Que festa das bruxas que nada! Foi uma festa. Foi o Menino Jesus que mandou esses balões! E olhem que chegaram por milagre porque, se passasse um avião, estourava todos eles. Ou então, se os barbantes dos balões fossem grossos e entrassem no motor do avião, dizem que seria perigoso para o avião. Mas não, não encontraram nenhum avião. Foi por isso que conseguiram chegar ali. As crianças chamaram logo os pais: “Papai, mamãe, vejam o que aconteceu! Esses balões choveram do céu e olhem o que têm dentro!”

Então o pai e a mãe saíram (talvez estivessem ali também os avós) e viram esses pacotinhos, esses rolinhos amarelos. Eles os abriram e começam a ler. Um deles abriu um dos rolinhos e leu: “Pedi desculpas à minha amiga por amor a Jesus”. Outro rolinho: “Eu te ofereço os esforços que fiz hoje de manhã para levantar-me para ser coroinha”. Um outro: “Fiz um favor mesmo se me custou muito”. E ainda outro: “Sempre peço perdão a Deus quando o meu avô diz coisas feias”. Depois, outro: “Nesta semana, ajudei os meus pais a prepararem a mesa, a carregarem a cesta de compras, a varrerem e limparem o chão”. Este fez muitas coisas. Escutem essa aqui: “Enxuguei os talheres sem que minha mãe pedisse e também a ajudei a fazer a limpeza”. É outro ato de amor. E um outro: “Quando o meu irmão Sebastião não quer dormir, eu o pego e o levo para a minha cama ou para a cama dos meus pais, eu o faço dormir cantando canções ou contando histórias”. Um outro: “Na piscina, emprestei a minha touca ao meu irmãozinho que estava sem.” Esperem que ainda tem um outro. Trouxe somente alguns porque eram 277, eram muitos. Escutem esse aqui: “Descasquei as tangerinas para o meu avô porque vi que ele estava com dor nas mãos e amarrei os sapatos da minha prima Alessia porque vovó estava com dor nas costas”. Esse aqui prestava atenção em tudo, não é? Um outro ainda, é o último: “Escutei o conselho do dado: ser os primeiros a amar. Fui me confessar mas tinha muitas crianças. Eu deixei que passassem na minha frente e a minha mãe nem ficou sabendo de nada.”

Aqui estão alguns exemplos dessas crianças.

Então, o que foi que elas fizeram com esses rolinhos? Levaram-nos – como eu disse – aos pais e os pais, viram que, no meio dos rolinhos, tinha o número de telefone da pessoa que os havia mandado, que era o padre. E daí, o que foi que eles fizeram? Eram nove horas da noite e telefonaram para o padre. O padre atendeu. Eles falaram: “O senhor é o padre fulano de tal?” “Sim, sim, sou eu.” “Chegaram até aqui esses atos de amor das suas crianças, o que devo fazer com eles?” E então combinaram que as crianças levassem para a escola os 277 atos de amor, falassem com a catequista e juntos escreveram para as crianças de Vicenza. Também estas crianças de Reggio Emilia quiseram aprender a fazer atos de amor. 


Fonte: Centro Chiara Lubich

03 dezembro 2021

NO TREM DO TEMPO

Nos primeiros tempos do Movimento, podíamos morrer a qualquer momento, porque não estávamos bem protegidas contra os bombardeios. Então, ao nos perguntarmos: quando é que devemos amar a Deus fazendo a sua vontade?, logo entendemos: agora, já, porque não sabemos se haverá um depois.
O único tempo que nos pertencia era o momento presente. O passado já era passado; o futuro, não sabíamos se chegaria a existir. Dizíamos então: o passado não existe mais; coloquemo-lo na misericórdia de Deus. O futuro não existe ainda. Vivendo o presente, viveremos bem também o futuro, quando este se tornar presente.
Como é insensato — dizíamos — viver pensando no passado, que não retorna, ou no futuro, que talvez nunca venha a existir e que é imprevisível!
Citávamos o exemplo do trem. Assim como um viajante, para chegar ao seu destino, não fica caminhando para frente e para trás no trem, mas permanece sentado no seu lugar, da mesma forma nós devemos permanecer fixos no presente. O trem do tempo vai por si.
E, presente após presente, chegaríamos ao momento do qual depende a eternidade. Amando a vontade de Deus no presente com todo o coração, toda a alma, todas as forças, poderíamos cumprir, por toda a nossa vida, o mandamento de amar a Deus com todo o coração, toda a alma, todas as forças.

01 dezembro 2021

Renovar a doação a Deus


Com a sua consagração a Deus no dia 7 de dezembro de 1943, Chiara Lubich que, na época, tinha 23 anos, deu origem ao Movimento dos Focolares. 60 anos depois, ela recordou este momento em uma conexão telefônica, convidando todas as pessoas que fazem parte do Movimento a renovar a própria doação a Deus.

[…] E hoje, com um olhar retrospectivo, conseguimos compreender qual significado podia nos revelar o Movimento, várias décadas atrás, naquele 7 de dezembro de 1943, ano em que nasceu. Essa retrospectiva afirma que um carisma do Espírito Santo, uma nova luz desceu naqueles dias à Terra, e ela, na mente de Deus, deveria saciar a aridez deste mundo com a água da Sabedoria, aquecê-lo com o amor divino e, assim, dar vida a um povo novo, alimentado pelo Evangelho. […] Ele decidiu chamar a mim, uma jovem qualquer. Por essa razão, consagrei-me a Ele, pronunciei o meu “sim” a Deus, seguido imediatamente por muitos outros “sim” de moças e rapazes.

Aquele dia fala de luz e de doação de criaturas a Deus, como instrumentos que se colocam em suas mãos para realizar os seus objetivos. Luz e doação da própria vida a Deus, duas palavras extremamente úteis naquele período de desorientação geral, de ódio recíproco, de guerra. Tempo de trevas, em que Deus parecia não estar presente no mundo com o seu amor, com a sua paz e a sua orientação, e parecia que ninguém se interessasse por Ele.

Luz e doação da própria vida a Deus, duas palavras que ainda hoje o Céu quer nos repetir; neste momento em que, no nosso planeta, prolongam-se muitas guerras e, principalmente (como realidade mais terrível de todas), em que surgiu o terrorismo.

Luz que significa Verbo, Palavra, Evangelho, ainda muito pouco conhecido e muito pouco vivido.

Essas doações a Deus, hoje, são mais do que nunca necessárias e oportunas, uma vez que, pelas causas que inspiram o terrorismo, homens e mulheres estão dispostos a dar a vida. Pois bem, qual deve ser a nossa atitude de cristãos, que seguimos um Deus que foi crucificado e abandonado, para que nasça um mundo novo, para nos doar a salvação e a Vida que não terá ocaso? […]

Retomemos a caminhada em direção ao mundo que espera, acima de tudo como Evangelhos vivos, para poder mergulhá-lo na Luz.

Podemos fazer isso continuando a viver a vontade de Deus no momento presente […],  sem esquecer de viver a “Palavra de Vida”, extraída da Escritura, que nos é proposta a cada mês. […]

E, como se nascêssemos outra vez, renovemos a nossa doação completa a Deus, na forma escolhida por Ele para cada um de nós. Assim, também o presente e o futuro que Deus nos doará, serão do seu agrado.

Chiara LUBICH