A caridade é uma virtude importantíssima, é tudo. Portanto, convém, desde já, empenharmo-nos em vivê-la um pouco melhor. Para tanto, é preciso saber quais as coisas que a fazem especial.
Diz um pensador: “Amar é bom; saber amar é tudo”2. Sim, saber amar, porque o amor cristão é uma arte, e é preciso conhecer essa arte.
Um grande psicólogo de nosso tempo disse: “Muito raramente, a nossa civilização procura aprender a arte de amar e, apesar da busca desesperada de amor, todo o resto é considerado mais importante: sucesso, prestígio, dinheiro, poder. Gastamos quase toda a nossa energia para alcançar esses objetivos e não reservamos nenhuma para conhecer a arte de amar”3.
A verdadeira arte de amar emerge por inteiro do Evangelho de Crist o. Colocá-la em prática é o primeiro e imprescindível passo a ser dado para que se desencadeie a revolução pacífica, mas tão incisiva e radical, que muda tudo. Ela atinge não apenas o campo espiritual, mas também o humano, renovando cada sua expressão: cultural, filosófica, política, econômica, educativa, científica etc. É esse o segredo da revolução que possibilitou aos primeiros cristãos invadirem o mundo então conhecido.
Arte que exige empenho, arte com fortes exigências…
É uma arte que pretende que se vá além do horizonte restrito do amor simplesmente natural, muitas vezes dirigido quase unicamente à família e aos amigos. Aqui, o amor deve ser orientado a todos, ao simpático e ao antipático, ao bonito e ao feio, ao conterrâneo e ao estrangeiro, de minha religião ou de outra, de minha cultura ou de outra, amigo, ou adversário, ou inimigo que seja. É preciso amar a todos como o Pai celeste que manda Sol e chuva sobre bons e maus.
É um amor que estimula a amar primeiro, sempre, sem esperar ser amado. Como fez Jesus Cristo, o qual deu a vida por nós, quando ainda éramos “maus” e, portanto, não amávamos.
É um amor que considera o outro como a si mesmo, que vê a si mesmo no outro. Dizia Gandhi: “Tu e eu somos uma só coisa. Não te posso fazer mal, sem me ferir”4.
Esse amor não é feito apenas de palavras ou de sentimento, é amor concreto. Exige que nos “façamos um” com os outros, que “vivamos”, de certo modo, o outro em seus sofrimentos, em suas alegrias, em suas necessidades, para entendê-lo e poder ajudá-lo com eficácia.
Essa arte pretende que amemos Jesus na pessoa amada. De fato, embora esse amor seja dirigido a determinado homem, a uma mulher em especial, Cristo considera como feito a si tudo o que a eles se fez de bom e de ruim. Ele disse e repetiu, falando da cena grandiosa do juízo final: “Foi a mim que o fizestes… Foi a mim que o fizestes” (cf. Mt 25,40).
Vivida por muitas pessoas, essa arte de amar leva ao amor mútuo: na família, no trabalho, nos grupos e no campo social. Amor recíproco, pérola do Evangelho, Mandamento Novo de Cristo, que constrói a unidade.
São essas as características do amor verdadeiro. São as exigências que o tornam especial e que inferimos do Evangelho.
#CHIARALUBICH
1 SANTO AGOSTINHO. Commento alla prima epistola de san Giovanni, 5, 7. Nuova Biblioteca Agostiniana, XXIV/2. 3. ed. Roma : Città Nuova, 2004, p. 1.735.
2 CHATEAUBRIAND, F.-R. In: Aforismi e citazioni cristiane. Casale Monferrato : Piemme, 1994, p. 17.
3 Fromm, E. A arte de amar. São Paulo : Martins Fontes, 2000, p. 18.
4 Apud MÜHS, W. Palavras do coração. 3. ed. São Paulo : Cidade Nova, 2006, p. 121