Somos filhos e filhas do nosso tempo.
Se
por um lado admiramos, extasiados, suas conquistas técnicas e científicas, por
outro, notamos alguns exageros em certas exigências que, se não forem bem
ponderadas, podem nos desgastar inutilmente.
Então,
torna-se útil fazer uma pequena avaliação para analisar o que em nós está certo
e o que não está.
De
fato, somos filhos do nosso tempo, um tempo que ama — e quase adora — o
ativismo louco, que valoriza quase exclusivamente a eficiência das pessoas, que
dá valor a algumas profissões e menospreza outras, quando não as despreza; que
encobre no silêncio certos momentos da vida, por medo, na ilusão de
eliminá-los...
Esse
modo de pensar pode chegar a influenciar aqueles de nós que, ofuscados por tais
tendências, desperdiçam inutilmente as próprias energias, criando assim, na sua
vida, um desequilíbrio perigoso.
Não
podemos generalizar, mas também temos de admitir que, inclusive entre os
cristãos mais atuantes, pode existir o perigo de considerar, por exemplo, a
própria atividade tão importante, tão original, a ponto de pensar que se torne
necessário empregar quase todo o tempo disponível para preparar programas,
cartas, encontros, artigos, entrevistas, para fazer palestras, e assim por
diante.
Esse
pensamento pode prevalecer de tal forma que se chega a conceber como inúteis
até mesmo os dias dedicados ao descanso, ou considerar as doenças, que Deus
permite em vista de um objetivo de amor preciso, como um empecilho para a
própria vida.
Acontece,
então, que na hora dedicada diretamente a Deus se reza apressada ou
distraidamente, devido aos contínuos pensamentos que voltam e insistem sempre
na atividade.
Ou
ainda, acontece que não se sabe parar para comunicar as próprias experiências
espirituais aos irmãos ou às irmãs e se prefere odiar, acabando depois, na prática,
por negligenciar esta importante ajuda mútua.
Estas
e muitas outras atitudes, infelizmente, são erros em que podemos cair.
Mas,
quando a situação é essa, estamos bem longe de tender àquela perfeição à qual
somos chamados, bem longe de atingir a meta que nos propusemos nos momentos de
luz da nossa vida!
Sim,
porque todos nós somos chamados realmente à santificação e a nos tornarmos
santos segundo o Coração de Deus.
Aquele
Deus que nos ama um a um com um amor imenso e que sonhou e projetou para nós um
caminho específico a seguir e uma meta precisa a ser atingida.
Então,
é preciso recolocar-se na vida espiritual, pois o remédio para esses males
existe: é chamado de sanatotum (aquilo que cura tudo), e é tão essencial
que, só em pronunciá-lo, os santos entram em êxtase.
Ele
é: fazer o que Deus quer, a sua vontade, ou seja, obedecer a Deus, pois afinal
é este o modo de amá-lo; este ato de obedecer é tão importante que leva santa
Maria Madalena de Pazzi a dizer: "Uma gota de simples obediência vale um milhão
de vezes mais que um vaso inteiro da mais fina contemplação"[1].
E leva São Nicolau de Flüe a afirmar que a obediência é a mais alta virtude.
Devemos
ser conscientes — e este é um grande dom — de que, para cada ação que
realizamos desse modo existe uma graça especial que acompanha a "graça
santificante"[2]
, a assim chamada "graça atual". É uma ajuda para cada momento
presente, que "consiste concretamente em iluminações da inteligência e
inclinação para o bem, tanto no campo da vontade como no da sensibilidade"[3].
É uma coisa muito grande, sobre a qual talvez pouco refletimos.
Procuremos
aproveitar essa graça ao máximo; que ela não se perca, porque a cada momento em
que nós vivemos a vontade de Deus, recebemos esta graça.
Assim,
nos encontraremos com muitos dons de luz e de força a mais na alma, seremos
mais plenos de Deus.
Lembremo-nos:
é o sanatotum .
[2] A graça é uma
"participação na vida divina"; introduz-nos na intimidade da vida
trinitária. Trata-se da "graça santificante" ou
"deificante", recebida no Batismo. Em nós ela é a fonte da obra
santificadora. A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e
sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com
Deus, agir por seu amor. As "graças atuais" designam as intervenções
divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra de santificação
( Catecismo da Igreja Católica n.
1997-1999-2000);
[3] A. De Sutter, in Dizionario
di spiritualità , vol. 1, Roma 1975, p. 912.
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