10 maio 2017

Uma graça a mais

 Somos filhos e filhas do nosso tempo.
Se por um lado admiramos, extasiados, suas conquistas técnicas e científicas, por outro, notamos alguns exageros em certas exigências que, se não forem bem ponderadas, podem nos desgastar inutilmente.
Então, torna-se útil fazer uma pequena avaliação para analisar o que em nós está certo e o que não está.
De fato, somos filhos do nosso tempo, um tempo que ama — e quase adora — o ativismo louco, que valoriza quase exclusivamente a eficiência das pessoas, que dá valor a algumas profissões e menospreza outras, quando não as despreza; que encobre no silêncio certos momentos da vida, por medo, na ilusão de eliminá-los...
Esse modo de pensar pode chegar a influenciar aqueles de nós que, ofuscados por tais tendências, desperdiçam inutilmente as próprias energias, criando assim, na sua vida, um desequilíbrio perigoso.
Não podemos generalizar, mas também temos de admitir que, inclusive entre os cristãos mais atuantes, pode existir o perigo de considerar, por exemplo, a própria atividade tão importante, tão original, a ponto de pensar que se torne necessário empregar quase todo o tempo disponível para preparar programas, cartas, encontros, artigos, entrevistas, para fazer palestras, e assim por diante.
Esse pensamento pode prevalecer de tal forma que se chega a conceber como inúteis até mesmo os dias dedicados ao descanso, ou considerar as doenças, que Deus permite em vista de um objetivo de amor preciso, como um empecilho para a própria vida.
Acontece, então, que na hora dedicada diretamente a Deus se reza apressada ou distraidamente, devido aos contínuos pensamentos que voltam e insistem sempre na atividade.
Ou ainda, acontece que não se sabe parar para comunicar as próprias experiências espirituais aos irmãos ou às irmãs e se prefere odiar, acabando depois, na prática, por negligenciar esta importante ajuda mútua.
Estas e muitas outras atitudes, infelizmente, são erros em que podemos cair.
Mas, quando a situação é essa, estamos bem longe de tender àquela perfeição à qual somos chamados, bem longe de atingir a meta que nos propusemos nos momentos de luz da nossa vida!
Sim, porque todos nós somos chamados realmente à santificação e a nos tornarmos santos segundo o Coração de Deus.
Aquele Deus que nos ama um a um com um amor imenso e que sonhou e projetou para nós um caminho específico a seguir e uma meta precisa a ser atingida.
Então, é preciso recolocar-se na vida espiritual, pois o remédio para esses males existe: é chamado de sanatotum (aquilo que cura tudo), e é tão essencial que, só em pronunciá-lo, os santos entram em êxtase.
Ele é: fazer o que Deus quer, a sua vontade, ou seja, obedecer a Deus, pois afinal é este o modo de amá-lo; este ato de obedecer é tão importante que leva santa Maria Madalena de Pazzi a dizer: "Uma gota de simples obediência vale um milhão de vezes mais que um vaso inteiro da mais fina contemplação"[1]. E leva São Nicolau de Flüe a afirmar que a obediência é a mais alta virtude.
Devemos ser conscientes — e este é um grande dom — de que, para cada ação que realizamos desse modo existe uma graça especial que acompanha a "graça santificante"[2] , a assim chamada "graça atual". É uma ajuda para cada momento presente, que "consiste concretamente em iluminações da inteligência e inclinação para o bem, tanto no campo da vontade como no da sensibilidade"[3]. É uma coisa muito grande, sobre a qual talvez pouco refletimos.
Procuremos aproveitar essa graça ao máximo; que ela não se perca, porque a cada momento em que nós vivemos a vontade de Deus, recebemos esta graça.
Assim, nos encontraremos com muitos dons de luz e de força a mais na alma, seremos mais plenos de Deus.
Lembremo-nos: é o sanatotum .



[1] W. Mühs, Per amore del regno , Cinisello Balsamo, 1999, p. 103;
[2] A graça é uma "participação na vida divina"; introduz-nos na intimidade da vida trinitária. Trata-se da "graça santificante" ou "deificante", recebida no Batismo. Em nós ela é a fonte da obra santificadora. A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. As "graças atuais" designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra de santificação ( Catecismo da Igreja Católica n. 1997-1999-2000);
[3] A. De Sutter, in Dizionario di spiritualità , vol. 1, Roma 1975, p. 912.

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