Aos habitantes da Mariápolis Renata
Loppiano, 30 de maio de 1984 – resp. n.2
Muitas vezes nos damos conta de que a nossa escolha de Jesus abandonado se mistura com a alegria e com a consolação que provêm dele. O que você nos diria para nos ajudar a escolher realmente só a Ele?
Olhem, neste caso é tudo questão de hábito e para habituar-se, como fazem os que praticam esportes para o qual precisam de muito, muito treino, aqui é preciso treino e, neste caso, realmente os atletas, servem para nós de grande exemplo. Devemos treinar muito a estar sempre prontos a desejar com todo o nosso ser Jesus abandonado, ou seja, o máximo da dor, assim todas as outras dores estão incluídas. Depois, quando chega alguma pequena dor, demonstremos a Ele: "Ah, sim, agora é o momento oportuno, agora sim". Ou quando chegam as alegrias, aceitá-las porque devemos ser simples, aceitar as alegrias, mas dentro, talvez por um momento, dizer a Jesus: "Agora tu me mandas esta alegria, te agradeço, estou feliz. Todavia lembra-te que eu prefiro a dor, porque tu a preferiste na cruz e também eu a prefiro". É isto que devemos fazer.
Porém, a certa altura, como em toda a nossa vida de ascese, (mostro-lhes algumas perspectivas também para o futuro e assim vocês se entusiasmam a ir para a frente...), a certa altura a vida se simplifica, se simplifica de verdade e se reduz a uma única coisa: a voz interior dentro de nós, a voz de Deus se torna tão forte, forte, forte, cada vez mais forte, que momento após momento somos guiados por esta voz, esta voz que não se ouve com os ouvidos, mas que se escuta com a alma.
Então é Ele mesmo que nos explica. Chegam grandes alegrias, grandes consolações, pois bem, ele nos diz: "Está bem – nos diz –, aceita-as como são, com simplicidade, oferece-as a Deus - como se diz - com holocaustos de júbilo". Chegam grandes dores, por exemplo, doenças, e a voz nos diz: "Eis-me aqui", como dizia a Pina1 (lembram-se?) quando sentia o mal avançar pela perna; ela dizia: "É o reino de Deus que avança", porque aumentava o preço do reino de Deus e portanto avançava o reino de Deus. Chegam perseguições? Ah, Jesus dentro nós diz logo: "Odiaram a mim, odiarão também a vós". É inútil querer ver-se livre delas e ter sempre a aprovação de todos; chegarão as perseguições. Do mesmo modo outras dores que chegam. A vida é cada vez mais simples, ... basta obedecer à Sua voz dentro.
Contudo o meu conselho, e o conselho de todos os mestres de espírito, é: renovar constantemente a nossa consagração a Jesus crucificado, a ele abandonado. Por quê? Porque todos ainda temos que passar pela grande provação. Eu escrevi no meu diário... Escrevo sempre aquilo que devo fazer durante o dia, de manhã procuro organizar o dia, porém ainda não escrevi: "hoje deverei morrer" porque não sei quando será, nem sequer escrevi o anúncio da morte: "Talvez hoje uma doença me avise de que morrerei em breve", porque é uma vontade que não depende de mim, que vem de Deus e não de mim. Portanto é preciso estar prontos, estar preparados para esta grande provação, pela qual todos temos ainda que passar. Então convém de vez em quando declarar-lhe que nós escolhemos o caminho difícil, a estrada estreita, que não escolhemos a estrada larga, porque deste modo não iremos para o Paraíso, levados para o alto, como aconteceu com Nossa Senhora, é impossível, somos pequenos demais, pobres demais.
Então façamos assim.
1 Pina De Vettori, focolarina dos primeiros tempos, que partiu para o Céu no dia 5 de dezembro de 1983.
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