Às Escolas dos focolarinos e das focolarinas
Loppiano, 24 de maio de 1985
Chiara, você disse no “collegamento” para contarmos todos os dias os atos de amor a Jesus Abandonado e oferecê-los a Ele à noite. Você nos disse que a sua experiência foi um pouco extraordinária. Pode nos dizer mais alguma coisa?
Sim, mais alguma coisa, pois eu também fiz realmente algumas experiências; fazem-se sempre, a vida é experiência. Estes são os principais pontos que experimentei.
Antes de tudo: uma liberdade nova. Já a tinha antes, mas agora é nova, porque o fato de refinar bem o amor a Jesus Abandonado nos mínimos particulares, este desapegar-se de tudo, das menores coisas (não sei: você está rezando, por exemplo, e lhe passa um pensamento. Fora! É já um ato de amor. Lembra-se de um problema: não!, porque agora está rezando, deve estar ali todo concentrado com Deus), me fez sentir, experimentar, provar, o que é a liberdade justamente dos filhos…, não estar presa a nada, estar presa somente a Deus. Isto.
Depois, me dá a sensação de que posso ter sempre o Ressuscitado vivo dentro de mim, vigiando naturalmente, devo ficar atenta. E portanto, que tudo é possível, tudo possível. Todos os esplêndidos dons de que falamos antes, aquelas ações, são todas possíveis. Não há limites que impeçam a nossa alma de amar Deus.
Ainda outra experiência: tive realmente a certeza de poder amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças, porque amamos Deus, se fazemos a Sua vontade, se estamos inteiramente lá na Sua vontade, inteiros ali. É preciso deixar-se comer por Deus, mas sem ser um pão duro, devemos ser um pão macio – estar completamente ali – que Deus possa comer.
Ora, fazendo a Sua vontade… Por exemplo, estou escrevendo, entra alguém e naquele momento é vontade de Deus escutá-la, lhe dar atenção. Então me desapegar do trabalho. Em outro momento talvez seja vontade de Deus trabalhar e dizer-lhe que aguarde um momento. Estes contínuos atos de amor, que me desprendem de tudo para fazer somente a vontade de Deus, me dão a possibilidade de amar Deus com todo o coração, toda a mente e todas as forças. E isto é uma grande coisa, porque se diz: “como fazer para amar a Deus com todo o coração? Ponho o coração em tudo!, como fazer para amar a Deus?” É fazer a Sua vontade no momento presente que é uma enorme sabedoria!
Depois, compreendi um pouco aquela bem-aventurança: “Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor”. Penso muitas vezes na morte, toda a vida pensei na morte. Foi sempre uma grande lição para mim e para vocês, para todos nós. Mas seria preciso morrer já mortos, seria preciso morrer já mortos; desapegados de tudo, tendo só Deus dentro.
Quantas vezes dizíamos quando éramos pequenos: “nós não queremos possuir nada, somente o coração para te amar!”
Abraçando deste modo Jesus Abandonado, somos mesmo assim. E depois, o que é que vocês possuem? A casa, as coisas, as pessoas? Mas não! Você está tão concentrado em amar somente a vontade de Deus e em se desapegar, em podar todo o resto, que sente um amor total por Ele. Porém, este amor por Deus, total, faz com que você esteja morta a si mesma e, portanto, amanhã quando se apresentar também à morte, será pedido a você o quê? Nada, porque já terá deixado tudo. E então ali sentirá a bem-aventurança dos mortos que morrem no Senhor. Você não terá nada a perder. É preciso chegar a morrer sem ter nada a perder. Um pouco como a nossa Luminosa (1), era mesmo assim, não tinha nada a perder, já tinha perdido tudo. Estava preparada, estava pronta, por isso também a sua passagem desta para a outra vida foi uma maravilha, foi… uma campeã. Ela sim, que tinha alcançado a… Era uma atleta, ela sim. Por isso disse: “Agora já não posso recomeçar”, porque lhe faltava o fôlego, já não conseguia respirar, e então disse: “continuem vocês”, foi uma das suas últimas palavras: “vão vocês para a frente”. A ânsia de seguir no caminho de Deus, já não o podendo fazer ela,… sentia porém a unidade do Corpo conosco e por isso dizia: “continuem vocês”. Depois, outra coisa que experimentei foi a seguinte: que muitas vezes sou atraída por Jesus Abandonado como o “nada” absoluto, o “nada” absoluto, que perdeu até mesmo Deus por Deus; o nada, o nada, este “nada” de que fala muitas vezes são João da Cruz, este desapego de tudo aquilo que ele chama de “apetites” também espirituais, isto é, as coisas a que podemos nos apegar. Experimentei – como dizer?… – a alegria, a liberdade do “nada”, do “nada”, o esquecimento de tudo. “Tu, morta ao mundo por total esquecimento”, dizia Foco falando da focolarina, “tu, morta ao mundo por total esquecimento”, por total… Tudo, estamos no meio do mundo, entramos em diálogo com todos, e estamos no esquecimento, quer dizer, no “nada” de tudo porque se recorda, isto é, volta ao coração (re-cordar, eu traduzo assim), coloca-se no coração somente Deus; você tem somente Deus dentro de si. Depois, mais uma coisa. Sim, é verdade, vai tudo no esquecimento, tudo… E justamente, como há este “nada”, este vazio, este “nada”, resta Ele, ele somente, só Ele. E portanto esta vida aqui é como a outra. E creio que, com esta nossa vida, com estes atos de amor que fazemos deste modo, acho que Jesus fica contentíssimo; sinto isto dentro de mim, que fica contentíssimo! Eu lhe pedi muitas vezes que me indicasse o caminho para me santificar com vocês, depressa, com estas cinquenta mil pessoas que seguem o “collegamento”, e tenho a impressão de que Nossa Senhora me revelou qual era: é Jesus Abandonado, contínuos atos de amor, é Jesus Abandonado, é o caminho, o diretíssimo, o rapidíssimo. Mas que trens japoneses, que nada! Aqui se vai muito mais depressa, super depressa! Chega-se super depressa!
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1 Margarida Bavosi (Luminosa), focolarina que partiu para o Céu no dia 7 de março de 1985.
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