“Para eles não havia lugar na casa” (Lc 2,7). O Filho de Deus nasce “fora”: “Veio entre os seus, e os seus não o receberam” (Jo 1,11). Não há casa para Ele, que saiu da casa do Céu. Sua casa é o amor de Maria e de José, não feita de paredes, mas de dois corações que batem por Ele.
O anjo anuncia a alegria do nascimento do Salvador aos pastores; a casa deles é o capim do pasto e a abóbada estrelada do céu. Também eles moram “fora”; sua companhia são as ovelhas. Eles têm o privilégio exclusivo de serem os primeiros a encontrar o esperado por todo o povo, escutam palavras maravilhosas e se tornam anunciadores de uma novidade. Pela primeira vez na vida, falam a outros, que escutam o que eles contam e ficam admirados.
A natureza agora é realmente casa para os pastores; aquela criança, com sua mãe e seu pai, entrou nela, levando a paz, tornando-os construtores de relacionamentos, que nascem do fato de convergirem para ele como centro dos interesses e das expectativas. Não estão mais “fora”; são eles que convidam os outros a saírem da distância para entrarem na proximidade de um Deus que plantou sua tenda entre os homens (cf. Jo 1,14).
Mas o que significa a saída do Filho de Deus? E seu encontrar-se “fora”? Para Ele, sair é ir ao centro de si mesmo, do seu ser, que é amor. Sua casa é criar casa, esvaziar-se para acolher, privilegiar os sem-casa a fim de que eles descubram que seu amor é para eles e que eles são chamados a orientar os outros para a tenda Dele.
Não quis uma casa de paredes porque, muitas vezes, esta abriga egoísmos. Escolheu uma casa de corações, aberta, não fixa num lugar só, na procura de solidões que somente mães, pais, irmãos e irmãs são capazes de preencher.
O Filho de Deus saiu de uma família para reproduzi-la entre nós, invertendo as prioridades, os privilégios, as diferenças da sociedade. É pequeno, mas exatamente por isso derruba nossas grandezas e nos diz que nossa casa tem sentido se nela mora quem quer viver a fraternidade, dentro e fora.
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