27 julho 2021

SOLIDÁRIOS COM TODOS

Às vezes — e disto frequentemente nos acusam a nós cristãos —, temos a impressão de que, vivendo a nossa fé com coerência, isto é, tendo em vista a Vida que virá e a espera da morte que será sua porta, levamos uma vida um tanto desligada da terra e dos interesses deste mundo que, muito frequentemente, representam o bem da humanidade.

A realidade é que, se vivermos sempre com a consciência profunda de que não sabemos “nem o dia, nem a hora”, é mais fácil concentrarmo-nos no hoje que nos é dado, no afã do dia, no momento presente que a Providência nos oferece para viver. Nele aceitamos e vivenciamos, com todo o nosso ser, alegrias e dores, labutas e sucessos.

É assim que se vive realmente a vida desta terra. Ao contrário, sem a perspectiva de que, mais cedo ou mais tarde, temos de partir daqui, muitas vezes levamos uma existência superficial, com um véu de ilusões, de sonhos, de alguma coisa que sempre nos prende e que talvez jamais se realize.

Além disso, este viver o presente não significa esquecer o futuro na terra ou cortar nossas asas ao fazermos projetos para o nosso bem e o dos outros, como os filhos, a família, a comunidade em que estamos inseridos, a humanidade.

Este viver o presente não significa tampouco esquecer o passado com o seu cabedal de cultura, de heroísmos, de conquistas.

Na verdade, se os cristãos forem cristãos, não podem deixar de nutrir no coração o amor por todos os homens. Esta é a sua natureza, a sua característica. Elevados à categoria de filhos de Deus, possuem o amor por excelência, o mesmo amor que Cristo tem pelo Pai: a caridade.

Por meio dela, os cristãos sentem-se inseridos na humanidade inteira, como pequenas pedras de um maravilhoso mosaico, em parte já pronto, em parte ainda não.

Amam a humanidade de ontem, como a de hoje e a de amanhã.

Aproximam-se do que ela legou com o respeito de quem sabe que se achega a alguém e a alguma coisa que lhe pertence, com a humildade de quem está convencido de que deve aprender, com a consciência de que deve transmitir este legado às gerações futuras, enriquecido com seu próprio empenho pessoal.

Se, além disso, os cristãos entenderem, no momento presente de suas vidas, que Deus quer que pensem no amanhã, farão isso com toda a dedicação, não por si mesmos, mas por amor de quem virá depois, seja conhecido, seja anônimo.

Sentir-se um com a humanidade passada, presente e futura, amar os outros como a si mesmo é, para o cristão, a mola poderosa que o torna apto e válido para construir hoje e planejar para o futuro uma vida melhor.

Em última análise, a perspectiva da outra Vida e o cumprimento das regras para lá chegar — regras concentradas no mandamento do amor para com todos — geram de fato não apenas regras concentradas no mandamento do amor para com todos — geram de fato não apenas cristãos perfeitos, mas homens autênticos, como a época moderna e as pressões da sociedade de hoje querem que sejam, e, principalmente, como Deus quer que eles sejam neste século.

#ChiaraLubich 

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