Trento, 8 de junho de 2001
(De um discurso de Chiara ao Conselho Municipal de Trento)
Chiara Lubich coloca a Fraternidade como horizonte «que possibilita pensar em um bem comum de todos os homens, isto é, pensar na humanidade inteira em termos políticos». Disso provém a resposta à questão, que não admite equívocos ou subterfúgios. Com a aproximação do sétimo aniversário do falecimento de Chiara Lubich que, neste ano, será celebrado aprofundando a incidência do seu pensamento na ótica da dimensão política, propomos este trecho para reflexão.
E, finalmente, mais uma pergunta que toca o fundamento mesmo da política: o que nos faz cidadãos? Este é um pensamento que nos leva às origens da reflexão política, que nasce justamente como reflexão sobre a cidade. Aristóteles assevera que o laço político que mantém juntos os cidadãos é a amizade política, uma forma de amizade que ele chama também de “concórdia”.
Ela exige de cada cidadão a capacidade de renunciar a uma vantagem imediata e de trabalhar para obtê-la somente junto a todos os outros. A amizade política, portanto, para Aristóteles, cria um “corpo” político que ultrapassa a esfera da utilidade material, e alcança a dimensão do “bem”. A política, de fato, é uma atividade ética, que exige de todos viver com justiça. É o que diz Aristóteles. Mas ele continua ainda ligado a uma concepção limitada da amizade, e, portanto, da cidadania, reservada aos gregos e aos livres, negada aos “bárbaros” e aos escravos.
Depois dele, na história humana, é com Jesus que a realidade da amizade dá um salto de qualidade, porque, para Ele, pelo dom que nos deu de sua vida, nós, simples filhos dos homens, podemos nos chamar filhos de Deus, todos filhos de um Pai e, portanto, irmãos entre nós no sentido pleno. Por isso, Jesus pôde dizer: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas eu vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu vos dei a conhecer» (Jo 15,15).
A amizade com Jesus, a filiação com Deus Pai, o saber as suas coisas mostram uma paridade na liberdade – com Deus, por participação em sua vida, e entre os homens – radicalmente nova na história.
Assim, foi introduzida na cultura humana – de quem crê e de quem não crê – a ideia da dignidade absoluta de todos os seres humanos, por terem a possibilidade de ser irmãos, confirmando aquilo que está inscrito no DNA de cada um.
Desse modo, a humanidade é vista como comunidade universal.
Assim a fraternidade possibilita pensar em um bem comum de todos os homens, isto é, pensar na humanidade inteira em termos políticos.
E nessa perspectiva que – é óbvio – podem ser enfrentados também os desafios que a globalização traz hoje ao bojo de nossas cidades.
É a fraternidade que nos realiza plenamente como cidadãos, da nossa cidade e do mundo.
(De Chiara Lubich, Ideal e Luz)
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