A evangelização dos filhos
é, mais do que nunca, importante para os nossos filhos, para as famílias, para
a comunidade eclesial e para a sociedade civil. De fato, conseguir transmitir
os valores do Evangelho às novas gerações significa estabelecer hoje uma
convivência mais solidária e de elevado perfil ético, e, sobretudo, criar as
bases para que assim continue também no futuro.
Existem várias maneiras de
transmitir o Evangelho.
Aqui, eu me limito a falar
daquela que conheço, isto é, da experiência de educação evangélica das crianças
que participam do Movimento dos Focolares, o qual tenho a honra de presidir.
Os Evangelhos nos revelam o
quanto Jesus ama as crianças.
Lemos no Evangelho de São
Marcos: «Então lhe traziam algumas crianças para que Jesus as tocasse; mas os
discípulos os repreendiam» (Mc 10,13-16). E no evangelista Mateus: «Os chefes
dos sacerdotes e doutores da Lei ficaram indignados, quando viram (...) as
crianças gritando no templo: "Hosana ao Filho de Davi". Então eles
disseram a Jesus: "Estás ouvindo o que dizem?"» (Mt 21,15-16).
Diante da agitação dos
discípulos e da indignação dos sumos sacerdotes, Jesus assume outra atitude. De
fato, existe uma total divergência entre o modo de Jesus de avaliar pessoas e
acontecimentos e o deles. Para Jesus a "criança" é inclusive o modelo
do discípulo que Ele tem em mente. Com efeito, Jesus diz: «Eu lhes garanto: se
vocês não se converterem e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão
no Reino do Céu» (Mt 18,3).
E o amor de Jesus pelas
crianças é prontamente retribuído. Elas ficam fascinadas por Ele. A presença
das crianças ao seu redor é constante na sua vida pública e, justamente porque
Jesus as ama e é amado por elas, Ele torna-se o amigo e o verdadeiro "mestre"
das crianças. E isso não se verificou somente há dois mil anos pelas ruas da
Palestina, mas continua e continuará a se verificar ao longo dos séculos com
todas as crianças do mundo.
Uma mãe recentemente me
escreveu que sua filha, de cinco anos, não sabia se participava ou não de um
encontro de formação sobre o Evangelho, pois esse encontro (de quatro dias)
seria feito longe de Bari, a sua cidade. Teria que dormir pela primeira vez
fora de casa, sem a mamãe e o papai. Sua mãe me contou: «Um dia Ângela chegou
em casa decidida. Ela tinha ouvido como as crianças viviam o Evangelho
"Quero fazer como elas. Me dê a mala – disse-me –, colocarei os sapatos
sem laços, vestidos sem botões, porque você não irá comigo, mamãe, e não poderá
me vestir..."». São experiências que podem nos fazer rir, mas a mãe dessa
menina quase chorou, «porque – me escreveu – senti que Jesus tinha conquistado
o coração de minha filha».
A "educação",
entendida como «promover o desenvolvimento integral dos filhos no campo
religioso, moral, comportamental, cultural e social», provém de diversos
agentes, que muitas vezes interagem entre si. Eles são, em primeiro lugar, os
pais e a família; depois, o Jardim de Infância, a Escola Fundamental, a
comunidade eclesial, com os seus campos de atuação e especialistas em formação,
as agremiações espontâneas, os meios de comunicação social.
Porém, gostaria de limitar
esta nossa reflexão à família.
Como os pais e as famílias
poderão desempenhar da melhor maneira possível a sua missão de educadores?
Em primeiro lugar,
empregando ao máximo aqueles recursos pedagógicos próprios que derivam do fato
de serem pais; recursos potencializados pela experiência pessoal e pelo
eventual patrimônio cultural, oferecido pelo contexto social em que vivem.
Trata-se do primeiro e insubstituível instrumento educativo, que todos os pais
por natureza possuem.
Porém, existe também uma
perspectiva mais ampla e mais elevada. Os pais cristãos acreditam que seus
filhos entram na dimensão existencial como um "projeto de imortalidade".
O projeto de Deus para o homem é uma vida que começa fraca e indefesa, cresce e
se afirma na interação com as criaturas e a criação, supera a morte e entra na
perene novidade da condição divina, para se tornar e viver como "filho de
Deus"[i]. Trata-se da aventura humana de Cristo, o qual,
para viver essa aventura, teve que ser "acolhido e ajudado no seu
crescimento"[ii] por uma simples e pobre família, como disse
João Paulo II; essa família podia ser "simples e pobre", mas
certamente era possuidora daqueles recursos espirituais e humanos que faziam
com que ela tivesse o ambiente adequado para a formação daquele
Homem.
E cada família deve
acreditar no amor de Deus, o qual junto com o dom da vida, prepara para cada
filho o ambiente onde crescer e o caminho a percorrer.
Mas qual é o caminho? Nós o
conhecemos: «Eu sou o caminho – disse Jesus –. Ninguém vai ao Pai a não ser por
mim» (Jo 14,6).
Educar um filho significa,
em última análise, fazê-lo encontrar Jesus.
A frase «deixai vir a mim
as criancinhas...» (Mc 10,14) é uma sublime síntese de método educativo
evangélico para uma formação não só religiosa, mas integralmente humana.
Será que há dois mil anos
encontrar Jesus era mais fácil? Não sei... A história da salvação caminha e
Cristo continua a estar conosco, como havia prometido. E os vários modos de Ele
estar presente, como prometeu, são o ponto de contato entre a família e
Ele.
Gostaria de examinar
brevemente dois desses modos, muito apropriados ao núcleo familiar.
Um primeiro modo de Jesus estar
presente é quando vivemos aquela sua famosa e explícita declaração: «Onde dois ou mais estiverem reunidos no meu
nome, ali estou eu no meio deles» (Mt 18,20). Portanto, Jesus está presente
onde estivermos unidos. Segundo muitos Padres da Igreja e a tradicional
interpretação do magistério, isso significa estar unidos n'Ele, na sua vontade,
na prática, no amor recíproco, que é o seu mandamento[iii].
Pois bem, uma família
ou um casal pode estabelecer aquela condição com a qual, segundo Orígenes,
Cristo é «atraído e desafiado»[iv] a estar presente entre seus membros?
Todos constatamos que
a família já é uma rede de amor, de amor humano que liga o pai à mãe; os dois
aos filhos; os filhos aos pais; os filhos entre eles e ainda aos tios e avós;
aos sobrinhos e netos. Se a família usufruir também do amor divino, que a vida
cristã lhe oferece, daquele amor divino que foi infundido nos corações pelo
Espírito Santo, então Cristo poderá estabelecer-se realmente nessa família,
potencializando o amor humano, que já existe, e a graça do sacramento do
matrimônio.
Os pais que se amam
assim levam Jesus para casa.
E como é esse amor
humano-divino, o amor evangélico? Praticamente, como se ama segundo Jesus?
Aqui é mesmo necessário
fixar a nossa atenção para compreender aquela que, de certo modo, pode se
chamar a arte de amar de Cristo. Ela é exigente.
É um amor que ama a
todos.
É um amor que é o
primeiro a amar.
É um amor que ama sempre,
que nunca se acaba.
É um amor que entra na
realidade do outro, que sabe fazer-se um com o outro.
Enfim, é um amor que no
outro, em quem quer que seja, vê e ama Jesus, segundo as suas palavras...
«A mim o fizeste» (Mt 25,40).
Se numa família os esposos
se amam e amam desse modo, recomeçando sempre, sabendo morrer a si mesmos por
amor ao outro, esse amor recíproco, que estabelece o Mestre em casa, atrai os
filhos.
De fato, faz parte da ordem
natural das coisas que os filhos tenham a tendência a imitar o comportamento
dos pais.
E, se é mesmo assim,
levando em consideração somente o lado humano da família, o que poderá
acontecer quando os pais forem imbuídos pela graça do sacramento e pela
presença mística de Jesus entre eles?
Eu tenho a grande sorte de
receber cartas de muitas crianças, porque a parte juvenil do nosso Movimento,
compreende também as crianças pequenas; e posso constatar a ação educadora
espontânea, por assim dizer, de uma família que procura viver o amor
evangélico.
«Ontem, papai me pediu para
ir pegar vinho na adega – me escreveu Betty, de seis anos, de Milão –. Descendo
as escadas, era escuro e tive medo. Depois, rezei para Jesus e senti que Ele
estava perto de mim. Às vezes falo com Jesus. Outro dia eu estava no meu quarto
fazendo o dever de casa e comecei a conversar com Ele; eu lhe disse muitas
coisas e não queria mais parar de falar. Sabe, quando faço um ato de amor,
sinto uma coisa bela dentro de mim, como se alguém me fizesse elogios e me
agradecesse. Nesse momento, penso que esse alguém é Jesus».
Uma mãe francesa me
escreveu: «Antes de colocá-los para deitar, rezo de joelhos sobre o tapete com
as duas filhas maiores. Ontem à noite, Ruth – uma delas – me fez notar que
Davi, o menor, continuava a brincar. "Deixe estar", eu lhe disse,
"é assim que ele reza". Assim, nos recolhemos e rezamos as orações da
noite. Quando abrimos de novo os olhos, Davi estava ao meu lado com as mãos
postas. "Você viu, mamãe – me disse Catarina, a outra –, se nós amamos,
Jesus lhe ensina as coisas"».
Outra presença de Jesus,
significativa para o tema que estamos abordando, é aquela presença na sua
Palavra.
Naquilo que diz respeito à
nossa experiência espiritual, podemos dizer, e é o que repetimos, que «nascemos
com o Evangelho nas mãos» e continuamos assim. Escolhemos uma frase para colocar
em prática durante um mês na nossa vida do dia a dia. Assim, a nossa existência
é "evangelizada" e imersa em Deus, presente totalmente em cada
fragmento da sua Palavra.
Com essa simples técnica
pedagógica da gradação e da plenitude, Deus nos fez viver uma experiência
espiritual e educativa forte e em contínua expansão. É uma experiência que
envolve também as nossas famílias e as famílias das comunidades que se agregam
ao redor dos Focolares e que partilham a nossa mesma aventura espiritual.
E nessas famílias, assim
como para os filhos pequenos parte-se em pequenos pedaços o pão cotidiano,
também é preciso explicar por partes o Evangelho. De que modo?
Exatamente como nós, adultos, fazemos. Escolhemos a cada mês, uma frase com o sentido
completo, com um comentário aprovado pela Igreja, compreensível a todos, e
procuramos vivê-la nas pequenas e grandes ocasiões do dia, quase competindo com
os filhos em um santo e alegre espírito de competição. Assim, se o papai e a
mamãe contarem à noite como conseguiram viver como cristãos os acontecimentos
do dia, será espontâneo para os filhos fazer o mesmo, contando as suas
experiências. São momentos em que responsabilidade e reciprocidade
tecem de modo admirável o relacionamento familiar[v].
Nas crianças, que crescem
em famílias assim, essa formação diária, com uma mentalidade segundo o
Evangelho, é espontânea, e isso as levará a avaliar pessoas e situações como
Jesus, com o seu modo de pensar. Aprenderão a ver na humanidade a grande
família dos filhos de Deus, e a usar das coisas deste mundo com espírito puro e
solidário, possuindo uma reta hierarquia de valores que as guiará sempre na
vida.
É claro, chegarão também as provações para os filhos
e os períodos de crise e busca; sobretudo na adolescência conheceremos
a sua rebeldia e contestação, mas nenhuma atitude deles, por mais grave que
seja, deverá paralisar ou apagar a nossa caridade em relação a eles. A arte de
amar, que Jesus nos ensinou, nos indicará como "nos fazer um" até o
fim, nas várias etapas do seu crescimento; colocará nos nossos lábios as
palavras justas de advertência, nos manterá sempre abertos ao diálogo e à
partilha dos seus interesses. Saberemos "perder tempo" com os filhos.
Saberemos criar amizade com eles e ser seus confidentes. Porém, se a rebeldia
perdurar, manteremos sempre a porta de casa aberta e reconheceremos na nossa
dor uma sombra da dor de Cristo crucificado, que também viveu o abandono da
parte de todos, inclusive do Pai. Nós a aceitaremos, como Jesus fez,
permanecendo serenos.
Nós acreditamos, porém (e
muitas experiências nos confirmam isso), que todos os valores depositados neles
permanecerão gravados para sempre, porque, no momento mais importante de sua
vida, quando se plantam as bases da personalidade e do caráter, tiveram a
grande sorte de encontrar Jesus, presente entre os pais, presente com a sua
Palavra na vida deles.
É realmente verdade que as
crianças sabem viver, melhor do que nós, com generosidade e totalitariedade, a
Palavra de Deus.
No ano passado, tive a
idéia de propor-lhes um jogo: escrever nos lados de um dado as regras da arte
de amar, de que falei ainda há pouco, convidando-os a lançá-lo de manhã,
quando se levantam, para escolher de que modo amar a todos aqueles que encontrariam
durante o dia. Foi incrível a resposta entusiasmada e os ecos que recebi de
todas as partes do mundo.
Um pai, de Gênova, me
escreveu: «Eu estava lavando os pratos quando Lucas entrou na cozinha. Pegou o
pano de prato e começou a enxugar. "Esteja atento em não quebrar
nada", eu lhe disse meio maravilhado com a sua generosidade. E ele, todo
satisfeito, me respondeu: "Quando mamãe voltar, encontrará tudo limpo.
Sabe, papai, quando eu for para o Paraíso Jesus me dirá: 'Naquela vez que você
ajudou seu pai, foi a mim que você ajudou'"».
Irene, Ilária e Laura, três irmãzinhas de Florença,
estavam indo com a mãe fazer as compras de carro. Passam na frente da casa do
avô e perguntaram se podiam ir dar-lhe um abraço. A mãe disse: «Vão vocês. Eu
espero no carro!» Quando voltaram, perguntaram: «Mãezinha, por que não veio?» A
mãe respondeu: «O vovô não se comportou bem comigo; assim, ele compreende
que...» Ilária a interrompeu: «Mas mamãe, estamos vivendo a Palavra: amar a
todos, também aos inimigos...» A mãe ficou sem palavras. Olhou para elas e
sorriu: «Vocês têm razão! Esperem, que volto já». E foi saudar o vovô também.
E agora, para concluir, desejo ler ainda dois
episódios sobre estas crianças educadas segundo o Evangelho. São episódios
significativos, que por vezes são até engraçados.
Temos milhares de pobres no Movimento que ajudamos
de um modo especial e as crianças contribuem. Eis o que Marcos me escreveu:
«Querida Chiara, sou Marcos, de Cosenza. Mamãe e papai me disseram que você
está fazendo algumas contas (eu estava vendo quantos pobres poderíamos ajudar)
e entendi como é a situação, por isso lhe mando...». Agora ele explica uma
coisa que na Itália se costuma fazer. Os pais dizem aos filhos, quando estão na
idade em que caem os dentes, para colocá-los num buraquinho da parece e,
durante a noite, passa um ratinho que, no lugar do dente coloca uma moedinha.
Então, Marcos me escreve: «Querida Chiara, sou
Marcos, de Cosenza. Mamãe e papai me disseram que você está fazendo algumas
contas para ajudar os nossos pobres e entendi como é a situação, por isso lhe
mando o dinheirinho que o "ratinho" me deixou no lugar do meu
primeiro dentinho que caiu. Sabe, Chiara, eu também fiz os meus cálculos: devem
cair ainda 11 dentinhos... Chiara, tenho certeza de que conseguiremos a soma
necessária e não teremos mais pobres no mundo!».
A última.
Kanna é uma criança de Nagasaki, no Japão. Ela vai
ao Jardim de Infância. Muitos dos seus amigos são de outras religiões, também a
professora não é cristã. No final do ano, a professora saúda, uma por uma,
todas as crianças da classe. Quando chega a vez de Kanna, ela lhe diz: «Eu lhe
agradeço porque você nos fez conhecer Jesus. Quando você nos falava sobre Ele,
sentia-se que Ele estava perto de você. Você nos ensinou as orações que
aprendeu em sua casa: são belas! Hoje de manhã, vi que você deu a uma amiguinha
o prêmio que você recebeu. Isso me comoveu! Eu estou para me casar, mas antes
quero receber o batismo e estou me preparando, porque também eu quero acreditar
em Jesus como você».
Essa é a conclusão. Peçamos
a Maria, que educou o Mestre por excelência, que nos transmita um pouco da sua
materna pedagogia.
[i]. Cf L.Macario, L'educazione religiosa,
in N.Galli (aos cuidados de), Vogliamo educare i nostri figli, Vita e
Pensiero, Milão 1985, p. 272;
[ii]. João Paulo II, Angelus 26.12.1999, L'Osservatore
Romano, ed. italiana, 27-28 de dezembro de 1999, p. 9;
[iii]. Cf Chiara Lubich, Scritti Spirituali/3, Tutti
uno, Città Nuova 1989, p. 173;
[iv]. Commento al Cantico, 41, p.13, 94 B;
[v]. Cf. G.Milan, Disagio adolescenziale e
strategie educative, Cleup Pádua 1999, pp. 56 e segs.
Nenhum comentário:
Postar um comentário