Quando se conheceu a dor em todos os seus matizes mais atrozes, nas mais variadas angústias, e se ergueram as mãos a Deus em mudas e lancinantes súplicas, em abafados gritos de ajuda; quando se bebeu o fundo do cálice e, durante dias e anos, se ofereceu a Deus a própria cruz, incorporada à sua, que a valoriza divinamente, então Deus tem piedade de nós e nos acolhe em sua união. É o momento em que, depois de ter experimentado o valor sem par da dor, de ter acreditado na economia da cruz e de ter visto os seus efeitos benéficos, Deus mostra, de modo mais alto e novo, algo que vale mais ainda do que a dor. É o amor aos outros, em forma de misericórdia, amor que faz abrir os braços e o coração aos infelizes, aos mendigos, aos martirizados da vida, aos pecadores arrependidos. Amor que sabe acolher o próximo desencaminhado, seja ele amigo, irmão ou desconhecido, e o perdoa infinitas vezes. Amor que faz mais festa a um pecador que volta do que a mil justos, e empresta a Deus inteligência e bens para que Ele possa demonstrar ao filho pródigo a felicidade pelo seu retorno. Amor que não mede e não será medido. É uma caridade que floresce mais abundante, mais universal, mais concreta do que aquela que a alma antes possuía. De fato, ela sente nascerem dentro de si sentimentos parecidos com os de Jesus, percebe aflorarem-lhe aos lábios, para todos os que encontra, as divinas palavras: “Tenho compaixão da multidão” (cf. Mt 15,32). E, com os muitos pecadores que dela se aproximam, pois é um pouco imagem de Cristo, entabula colóquios semelhantes aos que Jesus teve um dia com Madalena, com a samaritana, com a adúltera. A misericórdia é a última expressão da caridade, aquela que a remata. E a caridade supera a dor, porque a dor só existe nesta vida, enquanto o amor perdura na outra. Deus prefere a misericórdia ao sacrifício.
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